VIM PARA SERVIR-29º TC-B

VIM PARA SERVIR

29º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ano B

17/10/2021

Dia das Missões

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Isaías 53,10-11

Salmo Responsorial 32(33)R- Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois em vós, nós esperamos.

2ª Leitura: Hebreus 4,14-16

Evangelho Marcos 10,35-45 (ou 42-45)

35 Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que te vamos pedir”. 36 Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” 37 Responderam: “Permite que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!” 38 Jesus lhes disse: “Não sabeis o que estais pedindo. Podeis beber o cálice que eu vou beber? Ou ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?” 39 Responderam: “Podemos”. Jesus então lhes disse: “Sim, do cálice que eu vou beber, bebereis, com o batismo com que eu vou ser batizado, sereis batizados. 40 Mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim; é para aqueles para quem foi preparado”. 41 Quando os outros dez ouviram isso, ficaram zangados com Tiago e João. 42 Jesus então os chamou e disse: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. 43 Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, 44 e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. 45 Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

Tiago e João se aproximam de Jesus com um pedido que revela a ambição não somente deles, mas também dos outros discípulos. Eles pedem para ocupar lugar de honra junto a Ele. Tiago e João não pensam em seguir Jesus, pensam em se sentar nos primeiros lugares.

A indignação dos outros dez revela que também os outros alimentavam o mesmo sonho ambicioso do lugar de honra. Todos buscam o poder, a honra e o privilégio.

A resposta – mais ainda –, a postura de Jesus é clara: “Não deve ser assim”, é preciso fazer exatamente o oposto: quem quiser ser grande, seja o servo; quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Trata-se não só de um ensinamento teórico, mas do sentido que Jesus deu à sua própria vida: o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos.

Jesus não ambiciona o poder, não se arroga honrarias, não busca o próprio interesse. Sua vida é “servir” e “dar a vida”. Por isso Ele é o primeiro.

Seguir Jesus significa estar disposto a gastar a vida a serviço dos outros.


Somos também filhos de Zebedeu

Jesus viu claramente que o perigo mais grave que ameaçava a sua nova comunidade era a tentação do poder. Não há dúvida de que isso é o que causa o maior prejuízo a todos, o que mais nos desumaniza, o que mais nos divide e o que, por isso mesmo, torna praticamente impossível a convivência em paz, sem agressões e sem violência. Por essa razão, Jesus não tolerou, de maneira alguma, as pequenas ou grandes ambições das quais os apóstolos deram sinais evidentes. Ele viu que tinha de cortar pela raiz, inclusive brotos à primeira vista insignificantes, as rivalidades e as pretensões de poder de uns sobre outros, por mais que tais pretensões aparecessem camufladas com as melhores intenções.

Por isso, Jesus não quis se relacionar com as pessoas e com os discípulos com base na superioridade ou no poder, mas na exemplaridade. Mais ainda, não só nunca quis agir como superior que se impõe com poder, mas também viu em semelhante comportamento uma conduta radicalmente inaceitável.

Marcos é o evangelista que se mostra mais duro frente ao que qualifica como “cegueira e surdez” dos discípulos para ver e entender a mensagem de Jesus. A contraposição com as atitudes do Mestre se põe às claras, de um modo especial, nos chamados “anúncios da paixão”. Enquanto Jesus apresenta seu caminho como “entrega” até o extremo, os discípulos são flagrados quando discutem entre si questões de poder ou de “quem é mais importante” dentro do grupo.

Sabemos que a busca de poder, em todos os níveis, é tão antiga como a humanidade. Também no reduzido grupo de Jesus, que sempre denunciou isso com força, aflorou um conflito interno por esse motivo. O poder, em qualquer de suas formas e intensidades, constitui uma das tentações mais fortes para o ser humano. Que tem o poder que tanto seduz e se converte em objeto prioritário de desejo?

O motivo é simples: nasce da necessidade do ego de auto-afirmar-se. E a ele se vinculam sensações (mesmo que ilusórias) de segurança e de liberdade. Com efeito, acredita-se que, ao ter mais poder, alguém se sentirá mais seguro e poderá fazer o que lhe apeteça. Se temos em conta que a busca de tais “ideais” constitui a essência mesma do ego, ser-nos-á fácil advertir que o poder apareça como uma das tentações mais intensas.

Onde se enraíza a armadilha? Como em qualquer outro caso, na mentira. Tudo o que nos afasta da verdade que somos produz necessariamente confusão e sofrimento. Ou, em outras palavras, sempre que experimentamos confusão e sofrimento é sinal de que estamos desconectados (afastados) da verdade que somos.

O ego prepotente se afirma na comparação, confrontando-se com os outros e marcando sua imaginária superioridade. O poder lhe promete uma posição de superioridade e inclusive de domínio. A partir de sua pretensão de que a realidade responda a seus desejos, crê encontrar no poder a posição privilegiada para conseguir tudo o que se propõe. O ego inflado, como vazio que é, tem fome de segurança. Assim nasce sua necessidade compulsiva de apegar-se a tudo aquilo que pode lhe sustentar: posses, bens, títulos, imagem... Pois bem, o poder promete conferir-lhe uma sensação de força e de superioridade, fazendo-o crer que está acima de todos.

Isso é o que o poder promete. Mas a realidade é bem diferente: o que realmente produz é divisão e enfrentamento. E é aqui onde se faz clara a sabedoria de Jesus, constatando como funciona o exercício do poder, prevenindo de sua armadilha (“não deve ser assim entre vós”) e partilhando seu próprio caminho de serviço. O poder nunca é mediação de salvação. E o poder que mais desumaniza é o “poder religioso”, pois alimenta diferentes medos nas pessoas. Sabemos que o poder corrói os relacionamentos, criando um ambiente carregado de tensão e desconfiança. Sem níveis básicos de confiança as instituições desmoronam.

O seguimento de Jesus não passa pelo caminho do acúmulo de poder, mas pelas trilhas despojadas do serviço até a entrega da própria vida. A busca do poder é o programa do “ego inflado”, que terminará em frustração; o espírito de serviço brota do nosso ser mais original e, por isso, mais nos humaniza, pois reforça os vínculos entre as pessoas, alimenta a circularidade de vida e não a pirâmide hierárquica.

A distinção entre poder e autoridade talvez possa nos iluminar e permite compreender o necessário ministério dos diferentes responsáveis na comunidade de Jesus. Toda comunidade precisa de uma mínima organização. Mas os responsáveis por ela não devem comportar-se como aqueles que governam neste mundo, que se aproveitam de sua posição e tratam os outros como subordinados. Pelo contrário, na comunidade de Jesus, todos devem atuar como servidores e serem exemplos para os demais. Neste “ser exemplo” está a diferença entre poder e autoridade.

Autoridade procede de autor. Tem autoridade aquele que tem capacidade, crédito, estimação, verdade, apreço, reputação; tem autoridade quem ativa a autoria e a autonomia no outro.

Poder, por sua vez, tem a ver com potestade, força, poderio, dominação, mando. Enquanto a autoridade tem capacidade de atração e convencimento, o poder se impõe a partir de fora e pela força. No exercício da autoridade o centro é o outro; no poder, pelo contrário, é o próprio ego que se faz centro e manipulador.

Para os seguidores de Jesus a autoridade não funciona como poder, mas como serviço. Jesus tinha muita autoridade, mas se negou a utilizar o poder. Surpreendeu a seus contemporâneos “porque lhes ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1,22).

Nos Evangelhos, a “autoridade” de Jesus nunca é entendida como ação de domínio ou de imposição que violenta as pessoas. A “exousia” de Jesus é autoridade para perdoar, para curar, para ensinar...; tal ensinamento não era imposição doutrinal e normativa dos letrados que oprimiam as pessoas com cargas religiosas insuportáveis.

O contraste era evidente: os dirigentes religiosos tinham “poder”, mas não tinham “autoridade” diante das pessoas. No caso de Jesus, a situação era exatamente o inverso: não tinha “poder” sobre o povo, mas gozava de uma enorme “autoridade”, que seduzia, atraía e entusiasmava as pessoas.

A autoridade de Jesus nascia da experiência de sua filiação divina, e não de titulações. Era uma autoridade competente, a daquele que vai adiante expondo sua vida, e não o poder “daqueles que carregam as pessoas com fardos insuportáveis e, nem com um só dedo, não tocam nesses fardos” (Lc 11,46).

Jesus tinha “autoridade” porque era alguém que se definiu, sabia o que queria, tinha uma causa em seu coração, não abria mão de alguns valores fundamentais, tinha clareza onde queria chegar...; só Ele era capaz de mover as pessoas, de fazer seguidores e não meros obedientes às suas ordens.

Para meditar na oração:

Liderar com autoridade implica espírito de confiança, tratar o outro com bondade, ouvir atentamente, ter verdadeiro respeito para com os talentos do outro, ter real interesse por ajudar o outro para que tenha êxito, confiar responsabilidade, manter acesa a chama do sonho para que cada um possa tirar o melhor de si mesmo a favor da comunidade, sintonizar com os princípios profundos e permanentes da vida, expressar consideração, elogio e reconhecimento pela atuação do outro... Enfim, liderar a serviço dos outros nos livra das algemas do ego e da concentração em nós mesmos, destruindo a alegria de viver.

Não somos “filhos(as) de Zebedeu”; somos “companheiros(as) de Jesus” e amigos(as) entre nós, e compreendemos que só esse companheirismo energiza nossos esforços e potencializa nossas iniciativas.

- Que há em mim de busca de poder, mesmo que seja em minhas relações mais próximas; que há em mim de serviço gratuito?

São grandes, ainda que não saibam

Nunca vem o seu nome nos jornais. Ninguém lhes cede a passagem em lugar algum. Não têm títulos nem contas correntes invejáveis, mas são grandes. Não possuem muitas riquezas, mas têm algo que não se pode comprar com dinheiro: bondade, capacidade de acolhimento, ternura e compaixão para com o necessitado.

Homens e mulheres comuns, pessoas vulgares que ninguém valoriza, mas que passam a vida colocando amor e afeição à sua volta. Pessoas simples e boas que só sabem viver dando uma mão e fazendo o bem. Pessoas que não conhecem o orgulho nem têm grandes pretensões. Homens e mulheres que se encontram no momento oportuno, quando se precisa de uma palavra de ânimo, de um olhar cordial, da mão próxima.

Pais simples e bons que disponibilizam tempo para escutar os seus filhos pequenos, responder às suas infinitas perguntas, desfrutar com os seus jogos e a descobrir de novo junto deles o melhor da vida. Mães incansáveis que enchem a casa de calor e alegria. Mulheres que não têm preço, pois sabem dar aos seus filhos o que mais necessitam para enfrentar-se confiadamente o seu futuro. Esposos que vão amadurecendo o seu amor dia a dia, aprendendo a ceder, cuidando generosamente da felicidade do outro, perdoando-se mutuamente nos mil pequenos atritos da vida.

Estas pessoas desconhecidas são as que tornam o mundo mais habitável e a vida mais humana. Eles põe um ar limpo e respirável na nossa sociedade. Deles, disse Jesus, que são grandes porque vivem ao serviço dos outros. Eles próprios não o sabem, mas graças às suas vidas, abrem caminho nas nossas ruas e casas, a energia mais antiga e genuína: a energia do amor.

No deserto deste mundo, por vezes tão inóspito, onde só parece crescer a rivalidade e o confronto, eles são pequenos oásis em que brotam a amizade, a confiança e a ajuda mútua. Não se perdem em discursos e teorias. O seu é amar em silêncio e prestar ajuda a quem o necessite.

É possível que ninguém lhes agradeça nunca nada. Provavelmente não se lhes farão grandes homenagens. Mas estes homens e mulheres são grandes porque são humanos. Aí está a sua grandeza. Eles são os melhores seguidores de Jesus, pois vivem fazendo um mundo mais digno, como Ele. Sem o saber, estão abrindo caminhos ao reino de Deus.

Marcos 10,35-45 – Reflexão

Frei Carlos Mesters

SITUANDO

O evangelho de hoje traz o terceiro anúncio da paixão e, novamente, como nas vezes anteriores, mostra a incoerência dos discípulos (cf. Mc 8,31-33 e Mc 9,30-37). Enquanto Jesus insistia no serviço e na doação entregando sua vida, eles continuavam discutindo os primeiros lugares no Reino, um à direita e outro à esquerda do trono. Ao que tudo indica, os discípulos continuavam cegos! Sinal de que a ideologia dominante da época tinha penetrado profundamente na mentalidade deles. Apesar da convivência de vários anos com Jesus, eles ainda não tinham renovado sua maneira de ver as coisas. Olhavam para Jesus com o olhar antigo. Queriam uma retribuição pelo fato de seguir a Jesus.

* Marcos 10,32-34: O terceiro anúncio da paixão

Eles estão a caminho de Jerusalém. Jesus vai à frente. Ele tem pressa. Sabe que vão matá-lo. O profeta Isaías já o tinha anunciado (Is 50,4-6; 53,1-10). Sua morte não é fruto de um destino cego ou de um plano já preestabelecido, mas é consequência do compromisso assumido com a missão que recebeu do Pai junto aos excluídos do seu tempo. Por isso, Jesus alerta os discípulos sobre a tortura e a morte que ele vai enfrentar lá em Jerusalém. Pois o discípulo deve seguir o mestre, mesmo que for para sofrer com ele. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Não entendem o que está acontecendo. O sofrimento não combinava com a ideia que eles tinham do messias.

* Marcos 10,35-37: O pedido pelo primeiro lugar

Os discípulos não só não entendem, mas continuam com suas ambições pessoais. Tiago e João pedem um lugar na glória do Reino, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Querem passar na frente de Pedro! Não entenderam a proposta de Jesus. Estavam preocupados só com os próprios interesses. Isto reflete a briga e as tensões que existiam nas comunidades, no tempo de Marcos, e que existem até hoje nas nossas comunidades. No evangelho de Mateus é a mãe de Tiago e João que faz o pedido pelos filhos (Mt 20,20). Provavelmente, diante da situação difícil de pobreza e desemprego crescente daquela época, a mãe intercede pelos filhos e tenta garantir um emprego para eles na vinda do Reino de que Jesus falava tanto.

* Marcos 10,38-40: A resposta de Jesus

Jesus reage com firmeza: “Vocês não sabem o que estão pedindo!” E pergunta se eles são capazes de beber o cálice que ele, Jesus, vai beber, e se estão dispostos a receber o batismo que ele vai receber. É o cálice do sofrimento, o batismo de sangue! Jesus quer saber se eles, em vez do lugar de honra, aceitam entregar a vida até à morte. Os dois respondem: “Podemos!” Parece uma resposta da boca para fora, pois, poucos dias depois, abandonaram Jesus e o deixaram sozinho na hora do sofrimento (Mc 14,50). Eles não têm muita consciência crítica, nem percebem sua realidade pessoal. Quanto ao lugar de honra no Reino ao lado de Jesus, quem o dá é o Pai. O que ele, Jesus, tem para oferecer é o cálice e o batismo, o sofrimento e a cruz.

* Marcos 10,41-44: Entre vocês não seja assim

Neste final da sua instrução sobre a Cruz, Jesus fala, novamente, sobre o exercício do poder (Mc 9,33-35). Naquele tempo, os que detinham o poder no império romano não prestavam conta ao povo. Agiam conforme bem entendiam (Mc 6,17-29). O império romano controlava o mundo e o mantinha submisso pela força das armas e, assim, através de tributos, taxas e impostos, conseguia concentrar a riqueza dos povos na mão de poucos lá em Roma. A sociedade era caracterizada pelo exercício repressivo e abusivo do poder. Jesus tem outra proposta. Ele diz: “Entre vocês não deve ser assim! Quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos!” Ele traz ensinamentos contra os privilégios e contra a rivalidade. Inverte o sistema e insiste no serviço como remédio contra a ambição pessoal. A comunidade deve apresentar uma alternativa para a convivência humana.

* Marcos 10,45: O resumo da vida de Jesus

Jesus define a sua missão e a sua vida: “O Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida como resgate em favor de muitos”. Jesus é o Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Aprendeu de sua mãe que disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” (Lc 1,38). Proposta totalmente nova para a sociedade daquele tempo. Nesta frase em que ele define sua vida, transparecem os três títulos mais antigos, usados pelos primeiros cristãos para expressar e comunicar aos outros o que Jesus significava para eles: Filho do Homem, Servo de Javé, Resgatador dos excluídos (libertador, salvador). Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos.

Para um confronto pessoal

1. Tiago e João pediram o primeiro lugar no Reino. Hoje, muita gente reza a Deus pedindo dinheiro, promoção, cura, êxito. E eu, o que eu busco na minha relação com Deus e o que peço a Ele na oração?

2. Humanizar a vida, Servir aos irmãos e irmãs, Acolher os excluídos. É o programa de Jesus, é o nosso programa. Como estou realizando?

29º Domingo do Tempo Comum

Pe. Nelito Nonato Dornelas

Leituras: Isaías 53, 10-11 - Salmo 32 (33) 45, 18, 19, 20, 22 R/ 22 - Hebreus 4, 14-16

Marcos 10, 35-45 ou abreviada Marcos 10,42.45. (os filhos de Zebedeu)

1 – Situando-nos

Ao afirmar que o Filho do homem veio para servir e não para ser servido, Jesus quer mostrar a necessidade de instrução permanente dos discípulos sobre a opção de vida para a qual foram chamados. Ela não pode ser diferente da opção do mestre.

Eles pedem para ocupar os primeiros lugares no reino. Jesus rejeita o pedido e exige segmento: beber seu cálice e ser batizado com seu batismo. Sem compreender, eles o prometem. Então Jesus lhes ensina que esta ambição tem que ser transformada, a partir de dentro, na perspectiva do serviço, da entrega, da cruz, do martírio em vista do resgate da humanidade.

A ambição apresentada é profundamente provocadora, pois seus melhores discípulos solicitam algo totalmente contrário ao que ele tentou ensinar-lhes tanto. Sinal de que não compreenderam nada. É um pedido tão vergonhoso, que o evangelista Mateus, ao relatar tal fato, preferiu dizer que foi a mãe deles quem pediu (Mt 20, 20). De fato só aprenderam mesmo depois da morte e ressurreição de Jesus. Mesmo diante da sua incompreensão, Jesus insiste na grandeza da lição final do dom e entrega de sua própria vida.

Esse episódio situa-se no contexto de Marcos 8,1-10,45 que é a grande instrução de Jesus a caminho de Jerusalém. Ele não poupa seus discípulos e lhes apresenta três anúncios da Paixão. O de hoje é o último. Estamos no fim da instrução.

O quarto cântico do servo sofredor apresenta o justo esmagado que, por seu sofrimento, assumiu a culpa de muitos e, é, por isso, duplamente amado por Deus: por ser justo e por levar os outros a serem justos por seu sofrimento.

Esse cântico tem seu correspondente na conclusão desse evangelho: o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Esta é uma das frases mais importantes dos Evangelhos. Junto com Marcos14, 24 é o único lugar onde Jesus anuncia claramente o motivo da sua morte violenta. É a tradução da profecia de Isaías 53, que expressa a dimensão do resgate, da libertação ou aquisição de uma pessoa, de um escravo.

Na perspectiva do resgate, está a dimensão da satisfação, do mistério da eficácia redentora da paixão, morte e ressureição de Cristo. Ela atinge o mal pela raiz na pessoa de Jesus que, fazendo-se obediente até a morte, e, morte de Cruz, nos libertou para a plenitude da vida.

Por suas chagas fomos curados (cfIs 53,5); Deus amou a humanidade, a ponto de enviar seu Filho ao mundo para reconciliar-nos consigo (cf 2 Cor 5, 19); Jesus, o primogênito de muitos irmãos (cfRm 8, 29); fez-se obediente até a morte (cfFl 28); cordeiro sem mancha (cfHb 8, 26); ele tomou sobre si os nossos pecados e se tornou nosso mediador (cf 1Tm 25); a morte é para ele o preço do pecado (cfRm 6, 23) e reparou aos olhos de Deus suas ofensas e mereceu que a graça divina fosse novamente derramada no coração da humanidade, pelo resgate realizado por meio do corpo de Jesus entregue por sua redenção.

A carta aos hebreus retoma a teologia do servo sofredor na pessoa de Jesus, elevando-o à dignidade sacerdotal. Supera-se o sacerdócio do Antigo Testamento, fundado nos descendentes de Aarão e o apresenta na dimensão da oferta a Deus da própria vida, em solidariedade com a humanidade.

Aliás, Jesus é o único sacerdote no Novo Testamento. Os que hoje chamamos de sacerdotes são na realidade presbíteros,ministros, servos de Jesus. Ministram no altar o sacrifício de Jesus, exercendo o sacerdócio ministerial.

Os fiéis cristãos leigos e leigas, renovam e atualizam o dom da entrega de Jesus, com o dom de sua própria vida exercendo, no cotidiano, o sacerdócio batismal do Povo de Deus, cumprindo o mandamento do apóstolo Paulo: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: esse é o vosso verdadeiro culto” (Rm 12,1).

2- Recordando a Palavra

Primeira leitura- Isaías 53,10-11.O quarto cântico do servo sofredor apresenta um personagem anônimo, que cumpre a vontade divina, por meio de um profundo sofrimento. O servo, que também pode ser uma figura coletiva, se compraz em dar a sua vida como resgate por muitos, ele, a vítima de expiação, o justo esmagado, é que assume e resgata as faltas dos muitos, por isso Deus o exaltou.

Esse comprazer-se caracteriza a ação do próprio Deus e indica um amor forte e determinado, noservo sofredor.Isso corresponde à ação do servo exaltado em Filipenses 29,11 (por sua obediência pode justificar a muitos) e em Romanos 3, 26; 5,19 (tornando-se assim início de um povo novo).

Segunda leitura- Hebreus 4,14-16. Hebreus desenvolve a teologia do sacerdócio. Jesus, sacerdote misericordioso, por seu sacrifício, penetrou nos céus, pela solidariedade conosco, seus irmãos e irmãs. Ele se faz igual a nós em tudo, exceto no pecado.

Esta solidariedade não foi interrompida pela destruição do templo. Ele mesmo é sacerdote, templo e altar. Aliás, o único. Podemos continuar a ir a ele e, por ele, ao Pai. Esta palavra era confortadora para os seus destinatários que haviam perdido o templo, o sacerdócio e a terra.

Jesus ressuscitado, tendo subido ao céu, é o lugar do nosso encontro com o Pai. Afirmar que Jesus é o sumo sacerdote que entrou no santuário, que não foi edificado por mãos humanas, e que ele é igual a nós em tudo, sempre foi o grande alento para as comunidades cristãs, quando estas se sentiam abatidas por suas fraquezas, pela tentação ou pelas perseguições.

Jesus é o nosso sumo e eterno sacerdote, o pontífice que é capaz de se compadecer de nossas fraquezas, conhecedor das carências humanas, eleva nossa condição humana à santidade de Deus, e, em sua misericórdia, recupera, na comunidade cristã, a confiança na luta contra o mal e na busca da salvação.

Evangelho - Marcos 10, 35-45. Ao convidar a renunciar às riquezas, Jesus o faz na disponibilidade do seu seguimento na perspectiva do reino. A cruz, apresentada aos discípulos no horizonte de seu caminho, causa espanto e temor. Mesmo assim este terceiro anúncio da paixão não foi o suficiente para a mudança de mentalidade dos discípulos.

No pedido dos filhos de Zebedeu, para se assentarem à direita e à esquerda de Jesus, no seu reino e, na indignação que este pedido causou aos outros discípulos, revela que eles ainda não compreendem o significado do seguimento.

Somente depois de beberem do ‘Cálice de Jesus’, no dom da sua vida, o servo sofredor, despojado de todo poder, numa entrega total, e de serem batizados como o mesmo ‘batismo de Jesus’, acolheram plenamente o alcance de sua pregação: ‘entre vocês não pode ser assim’.

3- Atualizando a Palavra

Podemos gostar de crucifixos de marfim com gotas de sangue em rubis, como era comum nas missões populares em outras épocas. Difícil mesmo é amar uma pessoa que foi diminuída, quebrada, mutilada, ofendida e desonrada. Deus faz opção por esta pessoa, não por sadismo, como se precisasse castigar alguém ou necessitasse de tamanha dor. É que o verdadeiro amor, que é comunhão, só se reconhece no justo que foi esmagado por causa da Justiça.

O povo da Antiga Aliança aprendeu que o seu Deus faz essa opção, no exílio babilônico. Não se sabe quem foi o justo torturado pelos ímpios do qual fala Isaías 52, 13; 53,12, mas sabemos que esse povo dele aprendeu. Enquanto, diante dele cobriam-se o rosto, descobriram que ele carregou os pecados do povo e morreu por ele.

Choraram sobre aquele que transpassaram (cf Zc 12,10). Parece que a humanidade necessita ver em alguém o resultado de sua malícia, para dela se arrepender. As reivindicações sociais só são concedidas, após algumas ou muitas mortes. Os movimentos de emancipação só têm voz e vez, quando suscitam mártires.

Infelizmente a humanidade precisa de vítimas de injustiça para reencontrar o caminho da Justiça. A recente história da América Latina e do Brasil está repleta de mártires e testemunhas do reino que, com seu sangue, testemunharam o caminho da fraternidade. Ao lado destes temos ainda o martírio do dia-a-dia de muitos, que sacrificam sua juventude para cuidar de pais idosos, que abrem mão de carreiras lucrativas para se dedicar ao serviço dos empobrecidos. São estes que contribuem com a graça divina na santificação de nosso mundo cruel.

Por isso é que Deus ama os que são vitimados, não porque goste de vingança e sangue, mas porque eles são os seus melhores profetas e profetizas, seus porta-vozes. Deus se identifica com eles, associando-se à sua devoção, pois ao venerarem seus mártires, surge uma oportunidade de se arrependerem de suas faltas e alcançarem o perdão, que os liberta do medo e da covardia.

Deus ama duplamente o justo sacrificado, primeiro por ser justo e testemunhar a justiça, depois, porque seu sangue leva os outros a justiça.

O justo que dá sua vida pelos outros é chamado servo por servir-se de anti poder. Aos que desejam postos ambiciosos e ter os primeiros lugares no reino, Jesus aponta seu próprio exemplo: quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja escravo de todos. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos (cfMc 10,45).

4- Ligando a Palavra com a ação litúrgica

A primeira leitura ascende uma luz sobre a morte e ressurreição de Jesus, ao nos levar a crer que sua vitória sobre a morte desautorizou qualquer forma de opressão entre as pessoas. Este acontecimento salvífico constitui-se no ponto de partida para a vitória dos humilhados e injustiçados na história.

O evangelho questiona a busca de privilégios dentro da comunidade e na sociedade. Quer eliminar as categorias de chefes/escravos, grandes/ servos. A Igreja deve ser um estandarte diante das nações, testemunhando uma vivência de sinodalidade na fraternidade evangélica.

Quais as relações que predominam em nossa comunidade?

A segunda leitura nos apresenta Jesus plenamente solidário conosco presente nas lutas justas do povo e em sua solidaria opção pelos pobres.

Onde já podemos sentir que a solidariedade que Jesus apresenta é possível ser vivida?

Ser solidário como Jesus, de que forma?

A Igreja celebra o mês missionário há mais de oito décadas, com o objetivo de despertar vocações e mobilizar os católicos em torno da campanha missionária. Faz-se hoje uma coleta em todas as celebrações para as Pontifícias Obras Missionárias e a Infância e adolescência missionárias.

Oportuna ocasião para este texto de Dom Hélder Câmara.

“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então, Missão é partir até os confins do mundo”.

O autêntico poder é o serviço

Ana María Casarotti

O texto de hoje inicia com um pedido realizado por Tiago e João, dois discípulos, filhos de Zebedeu. Vão onde está Jesus e pedem-lhe: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos te pedir.”

No domingo passado Jesus continuou apresentando a novidade do Reino de Deus. Na narrativa que foi lida, Jesus fez uma nova proposta a um jovem que deseja saber o que deve fazer para ter a vida eterna. Nela a originalidade do discipulado vai de mãos dadas com as contrariedades que se apresentam no caminho.

Jesus oferece-lhe uma liberdade profunda e para isso deve desapegar-se das atitudes, costumes, critérios, formas de vida que o escravizam e oprimem.

Quem deseja ser discípulo de Jesus não pode ficar amarrado/a às riquezas que geram uma seguridade aparente. Necessita-se ousadia e coragem para obter essa liberdade que só será compreendida e aceita se a pessoa confia plenamente nele e aceita seu caminho de confiança total nele.

Aproximam-se de Jesus dois discípulos com um pedido que é quase uma exigência: “queremos que faças por nós o que vamos te pedir”. Dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, ainda procuram seus lugares e projetos de carreira ao lado de Jesus.

Eles pedem para sentar-se um à direita e outro à esquerda do Messias. Eles procuram ter os primeiros lugares no Reino, ser os mais importantes, os maiores no Reino. Enquanto Jesus fala da entrega de sua própria vida, os discípulos continuam sem compreender, dialogam entre si e discutem cargos e posições.

É um pedido que está em total contraste com o reino de Jesus, que é um reino de serviço e amor que se expressa no total serviço aos outros: quem deseja ser o maior deve ser o menor!

Que terá pensado Jesus dessa pretensão? Sua resposta é decisiva: “Vocês não sabem o que estão pedindo”.

Eles estão realmente longe de entender Jesus. Uma vez mais lhes explica as condições para segui-lo, com uma pergunta: “Vocês podem beber o cálice que eu vou beber? Podem ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?”

Jesus lembra-lhes que para triunfar é preciso passar antes pelo sofrimento e beber o cálice da paixão que ele deve beber. Podemos perguntar-nos se realmente Tiago e João entenderam o significado das palavras de Jesus ou simplesmente respondem sem compreender muito.

Cálice e batismo são duas imagens muito importantes e significativas na tradição bíblica. O cálice simboliza e manifesta o destino de morte, de ruína reservado aos ímpios (Sl 75,9) e ao povo infiel (Is 51,17).

Jesus se solidariza com a dor e a tragédia de uma humanidade vítima do poder sociopolítico e econômico que busca submeter e dominar aos mais pobres e desprezados na sociedade. Há uma humanidade que caminha desorientada, vítima do pecado dos poderosos e das estruturas sociais que fecham os olhos para não ver tantas pessoas que são vítimas da violência física, humana e espiritual e padecem a dominação econômica dos que se consideram grandes e donos do mundo.

A imagem do batismo evoca também o destino de uma morte dolorosa. Através dele também Jesus expressa sua solidariedade com os pecadores numa situação de morte.

“Todos sabemos – acrescentou o Papa – que os momentos importantes e cruciais na vida deixam falar ao coração e mostram as intenções e as tensões que nos habitam. Tais encruzilhadas da existência nos interpelam e conseguem trazer à luz buscas e desejos nem sempre transparentes do coração humano.” Diante do terceiro e mais duro dos anúncios da paixão, o evangelista Marcos não teme revelar “certos segredos do coração dos discípulos: busca dos primeiros postos, ciúmes, invejas, intrigas, arranjos e acomodações; uma lógica que não só carcome e corrói a partir de dentro as relações entre eles, como também os encerra em discussões inúteis e pouco relevantes”. Mas Jesus lhes diz com força: “Não deve ser assim entre vocês: quem quiser ser grande entre vocês, que seja o servidor”. (Texto completo: "Nenhum de nós deve se sentir 'superior' a ninguém", nem "olhar os outros de cima para baixo", diz Francisco aos novos cardeais)

A resposta rápida dos irmãos pode sugerir que não compreenderam plenamente as palavras do Mestre, porque o critério do novo reino que Jesus inaugura é totalmente diferente do imaginado pelos seus seguidores.

É o critério do amor, que passa pela humilhação, pelo sofrimento e pela morte para alcançar a vida nova e abundante para todos (Flp 2, 8).

Se Jesus perguntasse para nós se queremos participar de seus sofrimentos por amor à humanidade, o que responderíamos?

O pedido dos filhos de Zebedeu dá a Jesus a oportunidade de determinar o significado e o valor dos papéis exercidos na comunidade cristã. Ele apresenta o novo projeto de autoridade para a comunidade cristã.

Como disse Francisco, as palavras de Jesus “não deve ser assim entre vocês”, são um “convite e uma aposta a recuperar o melhor que há nos discípulos e assim não se deixar derrotar e encerrar pelas lógicas mundanas que desviam a visão do importante”, convidando, ao contrário, a se dedicar à missão.[...] Nenhum de nós deve se sentir “superior” a ninguém. Nenhum de nós deve olhar os outros de cima para baixo. Unicamente nos é lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo, quando a ajudamos a se levantar”.

Nas suas palavras Jesus exclui o modelo de autoridade que se organiza como poder e propõe outro tipo de autoridade, aquela que é sinônimo de serviço, e serviço que começa pela defesa, promoção e desenvolvimento da vida de todos e todas, mas especialmente dos mais pequenos/as.

Junto com o papa Francisco peçamos ao Senhor que nos conceda reconhecer que "O caminho do Senhor é o Seu serviço: assim como Ele fez o Seu serviço, nós devemos ir atrás dele, o caminho do serviço. Esse é o verdadeiro poder na Igreja. Eu gostaria hoje de rezar por todos nós para que o Senhor nos dê a graça de entender que o verdadeiro poder na Igreja é o serviço. E também para entender aquela regra de ouro que Ele nos ensinou com o Seu exemplo: para um cristão, progredir, seguir em frente significa abaixar-se, abaixar-se. Peçamos essa graça". (Texto completo: "O verdadeiro poder é o serviço")

Oração

Tua Graça nos basta

Não posso abrumar-te com teimosos argumentos

nem com obsessivas orações para que me concedas

saúde para servir-te vida longa para fazer mais coisas

honra para encontrar as portas abertas,

abundantes recursos para ser mais eficiente.

Não posso pedir tampouco sofrimentos

presumindo de minhas forças,

como se tu necessitasses uma cota de dor

para conceder-nos as coisas necessárias

Eu somente quero pedir-te o que tu sempre me ofereces,

teu amor e tua graça que engendram vida

mas podem levar à morte por defender os espoliados,

que criam saúde mas podem levar a perde-la

no serviço aos mais fracos, que nos fazem amáveis

mas podem provocar desqualificação social

porque não nos acomodamos às leis,

que frutificam a terra com todos os bens necessários,

mas podem deixar-nos sem nada

por fazer-nos irmãos dos desprezados de teu mundo.

Eu somente quero pedir-te teu amor e tua graça

que os acolha em mim como a última verdade

E que meu coração diga:

“Me basta”

Benjamin González Buelta

Para sentir e saborear as coisas internamente

Is 53,10-11 – QUEM É O SERVO?

Thomas McGrath

SITUANDO

O nosso texto pertence ao “Livro da Consolação” Da segunda parte do Livro do profeta Isaias (Is 40-55), escrita na fase final do Exílio, entre 550 e 539 a.C.

A tarefa do autor foi consolar os exilados judeus. Assim, ele começa anunciando que Javé vai libertar o seu povo da escravidão da Babilônia como ele tinha feito na escravidão do Egito

No meio desta proposta “consoladora” aparecem os famosos quatro cânticos (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) do “Servo de Javé”: ele é um predileto de Javé, a quem Deus chamou, confiou uma missão profética, o enviou para cumprir a missão. A sua missão cumpre-se no sofrimento e na entrega incondicional à vontade do Pai. Essa fidelidade até a morte possui um valor redentor, pois dela resulta o perdão para o pecado do Povo. Deus aceita a fidelidade e sacrifício deste “Servo”, e a recompensa é a vitória sobre a morte.

Quem é este Servo? É Jeremias? É Isaías? É um profeta desconhecido? É o Povo sofrido, exilado, humilhado, esmagado, mas que continua fiel no meio das outras nações? Não sabemos, pode ser todos juntos. O servo no entanto, recebe o seu sabor pleno na pessoa de Jesus Cristo, a sua vida, e o seu destino.

O pequeno texto da leitura de hoje faz parte do quarto cântico do “servo”. Nele, porém, o “Servo” não fala; quem proclama este “cântico” parece ser um coral, que percebeu, na derrota humana do “Servo”, um novo e profundo significado à luz da lógica de Deus.

MENSAGEM

Ao abençoar o seu “Servo”, ao dar-lhe “uma posteridade duradoura”, uma “vida longa” (v 10) e a possibilidade de “ver a luz” (v 11), Deus garante a verdade e a autenticidade da vida do “Servo”. Em outras palavras o autor deste texto está convencido de que uma vida vivida – como o Servo, como Jesus- na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada. É sim uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação, verdade, esperança e amor ao mundo e aos homens.

Os primeiros cristãos, impressionados pela beleza e pela profundidade deste texto, o utilizaram constantemente na sua tentativa de compreender a figura de Jesus, que “morreu pela salvação do povo”. Em Jesus, esta enigmática figura do “Servo de Javé” alcançou o seu pleno significado.

CONCLUINDO

• O nosso texto mostra que os valores de Deus e os valores dos homens são diferentes, e muitas vezes em conflito. Na lógica do mundo os vencedores são aqueles que assaltam o mundo com seu poder, com seu dinheiro, com a sua vontade de dominar os outros e a natureza impondo as suas ideias e a sua visão do mundo.

• Para o Servo e para Jesus, os vencedores serão aqueles que, mesmo vivendo no esquecimento, na humildade, no sofrimento ainda sabem fazer da própria vida um dom de amor aos irmãos.

• Qual destes dois modelos faz mais sentido para mim? Quando, no dia a dia, tenho de estabelecer as minhas prioridades e de fazer as minhas escolhas, deixo-me conduzir pela lógica de Deus ou pela lógica do mundo? Quem são as pessoas que eu admiro, que eu tenho como modelos, que me impressionam?

• Onde está Deus? Onde encontrar o seu rosto, as suas propostas, os seus apelos e desafios? Apresentando-nos a figura desse “Servo” insignificante e desprezado pelos homens o texto nos lembra que Deus vem ao nosso encontro na pobreza, na pequenez, na simplicidade, na fragilidade, na debilidade. Não nos deixemos enganar: Deus não está naquilo que é brilhante, sedutor, majestoso; Deus está na simplicidade do amor que se faz dom, serviço, entrega humilde aos irmãos.

• Qual o sentido do sofrimento? Porque é que há tantas pessoas boas, honestas, justas, generosas, que atravessam a vida mergulhadas na dor e no sofrimento? O autor do quarto cântico do “Servo” também perguntava. A resposta que ele encontra é a seguinte: o sofrimento do justo não se perde. Através dele, os pecados da comunidade são expiados e Deus dará vida e salvação ao seu Povo.

• Sem dúvida, uma resposta incompleta, parcial, e não totalmente satisfatória. Mas expressa a convicção de que, nos misteriosos caminhos de Deus, o sofrimento pode ser uma dinâmica geradora de vida nova. Jesus Cristo demonstrará, com a sua paixão, morte e ressurreição, a verdade desta afirmação.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina

DOMINGO XXIX DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera Lectura (Is 53,10-11):

En los capítulos 40 a 55 del libro del profeta Isaías (conocido como Deutero Isaías) se han identificado cuatro cánticos que tienen como protagonista a un misterioso personaje al que se lo llama en hebreo 'ebed, esto es, servidor o siervo. De aquí el nombre de "cánticos del Siervo de Yavé" con el que se los denomina. En los mismos parece que Dios quita el peso del pecado del pueblo y lo descarga con todas sus consecuencias sobre las espaldas del siervo (Is 53,4-6), que es el verdadero discípulo (Is 50,4-7), quien lo acepta y se ofrece intercediendo en favor del mismo pueblo (Is 53,10-12). Su declarada inocencia (Is 53,9b) hace trascender los límites de la estricta justicia para entrar en el misterioso campo de la redención como obra de solidaridad o de sustitución vicaria.

El texto que leemos hoy es el epílogo del cuarto cántico del Siervo, el cual es el poema por excelencia del siervo paciente y glorificado pues canta el sentido soteriológico de su martirio y su exaltación. Justamente en estos últimos versículos se proclama la exaltación del siervo. El horizonte se amplía en el tiempo y en el espacio hasta la universalidad de su victoria. El triunfo del siervo es la realización del plan del Señor en la historia.

Evangelio (Mc 10,35-45):

En el evangelio de hoy podemos distinguir dos partes o subsecciones: a) 10,35-40 que contiene el diálogo de Jesús con Santiago y Juan; y b) 10,41-45 que trae la enseñanza de Jesús a sus doce discípulos. Ambas escenas están claramente relacionadas entre sí y con el tercer anuncio de la pasión que las precede (cf. 10,32-34).

Como en las dos ocasiones anteriores, también después del tercer anuncio de la pasión por parte de Jesús, donde les habla muy claramente de las humillaciones y del maltrato que va a padecer, sigue inmediatamente un "desubique" por parte de los discípulos. En este caso se trata de dos de ellos, hermanos entre sí, hijos de Zebedeo, Santiago y Juan, quienes se acercan a Jesús para hacerle una petición personal. Su aproximación al tema es de lo más diplomática, por eso de entrada no expresan directamente su intención. Jesús, con su respuesta, demuestra que, no obstante el tema, está dispuesto a escuchar y atender la petición de estos hermanos. Por ello estos se animan a peticionar: "Concédenos sentarnos uno a tu derecha y el otro a tu izquierda, cuando estés en tu gloria".

Lo que ambicionan Santiago y Juan son los puestos de honor y poder al lado de Jesús. Se ve que imaginan un destino de gloria para Jesús, aunque Él acaba de anunciarles el camino de la humillación y del desprecio. Lo cierto es que estos discípulos comparten la expectativa gloriosa sobre el mesianismo que circulaba en el ambiente. En efecto, se aguardaba una irrupción, una brusca manifestación al mundo de un descendiente de David, que vendría a juzgar al mundo y castigar a quienes pisotearon a Israel; para luego instaurar un reino glorioso.

La respuesta de Jesús a este ambicioso pedido hoy nos sonaría así: "no tienen idea de lo que están pidiendo". Al parecer, la ambición de tener parte en la gloria de Jesús los ha cegado acerca del camino que lleva hasta allí y que no es otro que la pasión. Esto es lo que Jesús les dice al hablar de beber el cáliz y recibir el bautismo que él beberá y recibirá.

En el Antiguo Testamento la copa que Dios ofrece a alguien para que la beba es una imagen del destino o suerte, bueno o malo, que les tocará. En particular se habla de la copa drogada que se daba al condenado a muerte antes de su ejecución y, por ello, el cáliz o copa pasó a ser figura de la ira divina contra las naciones paganas; contra el mismo pueblo de Israel que fue infiel; o contra los malvados de la tierra (cf. Jer 25,15-16; Is 51,17; Sal 75,9).

El tema de la copa o cáliz (ποτήριον) reaparece en Marcos en la escena de Getsemaní donde claramente simboliza la próxima pasión y muerte de Jesús presentada como voluntad del Padre para la salvación de los hombres (cf. Mc 14,36). Como sabemos, Jesús acepta padecer la pasión, beber la copa que le ofrece el Padre y, en la última cena, la copa con el vino pasará a ser el signo sacramental de su vida entregada por muchos (cf. Mc 14,23-25).

El verbo baptízomai (βαπτίζομαι), bautizarse o sumergirse, significa en la LXX mojarse o bañarse (cf. 2 Re 5,14; Jdt 12,7; Sir 34,25). En Marcos debe entenderse metafóricamente con un sentido semejante al de la copa por cuanto haría referencia al verse sumergido, cubierto o sobrepasado por las desgracias como quien está en medio de las aguas profundas. En efecto, según nos informa J. Gnilka[1]: "la metáfora ha sido construida sobre aquellas expresiones veterotestamentarias que comparaban los padecimientos, la persecución y el infortunio con una corriente de agua en la que el hombre está a punto de caer (cf. 2Sam 22,5; Sal 42,8; 69,2; Is 43,2)".

Por tanto, podemos concluir que, tanto la copa que Jesús y sus discípulos deben beber como el bautismo con el que ellos deben ser bautizados, son una clara referencia a la pasión y la muerte. Entonces, la respuesta de Jesús es una invitación a compartir su destino y seguir un camino cuya dirección va en sentido totalmente contrario a las ambiciones o aspiraciones de Santiago y Juan. Ellos pidieron los puestos de honor, Jesús les ofrece el camino de la cruz, de la humillación, que es su propio camino tal como se los anunció.

Y ellos aceptan la invitación sin dudar: "Podemos". Posiblemente, y tal como lo demuestra su conducta durante la pasión de Jesús, aquí tampoco tienen mucha idea de lo que aceptan. Jesús cierra el diálogo de modo bastante paradójico, al menos para los dos discípulos. En efecto, Jesús termina asegurándoles que tendrán parte en su pasión, que tendrán que beber el cáliz y ser bautizados como Él, pero les niega el derecho a los puestos de honor por cuanto están reservados para aquellos que Dios disponga.

La segunda parte (10,41-45) comienza con la descripción de la reacción de los otros diez apóstoles ante la "adelantada" de Santiago y Juan: se llenaron de indignación, de bronca. Por lo visto, la ambición de los puestos de privilegio por parte de los dos hermanos generó malestar y división entre los discípulos. Ante este incipiente conflicto dentro del grupo Jesús sale al cruce con una enseñanza sobre el sentido del poder y de la autoridad en la Iglesia.

En primer lugar, la enseñanza de Jesús describe cómo se ejerce la autoridad en el mundo, entre los poderosos y los que gobiernan: imponiendo su voluntad, abusando del poder. La primera acción, la de los gobernantes, se describe con el verbo katakurieuô (κατακυριεύω) que significa dominar completamente, de aquí la traducción de la Biblia de Jerusalén "dominan como señores absolutos". Vale decir que gobiernan de modo autónomo como si fueran ellos la última instancia de poder, como si el poder se fundamentara en ellos mismos y no en Dios. La acción de los "grandes" (μεγάλοι) se describe con el verbo katexousiazô (κατεξουσιάζω) que significa "ejercer poder sobre" y que no se utiliza ni en la LXX ni en la literatura griega secular - así como tampoco en el NT salvo el texto paralelo de Mt 20,25 -; por lo que es difícil especificar si tiene un matiz negativo tal como reflejan las traducciones. El mismo se deduciría de la comparación con el verbo anterior.

Lo claro es que el ejercicio del poder y de la autoridad en la comunidad cristiana no puede ni inspirarse ni parecerse al que rige en el "mundo". Al contrario, en su propuesta Jesús pone en paralelo el deseo de ser grande (mégas) con el deseo de ser el primero (prōtós); a los que contrapone las exigencias de hacerse servidor (diákonos) y esclavo (doulos) de todos: "el que quiera ser grande, que se haga servidor de ustedes; y el que quiera ser el primero, que se haga esclavo de todos, que tampoco el Hijo del hombre ha venido a ser servido, sino a servir y a dar su vida como rescate por muchos" (Mc 10,43-45).

Esta última afirmación que Jesús hace sobre la orientación fundamental de su vida hay que entenderla a la luz del cuarto cántico del siervo de Is 53 que leemos hoy como primera lectura. Allí vemos que la aceptación de los sufrimientos y la entrega de la vida se realizan como sustitución vicaria por los pecados del pueblo, como rescate del mismo. Y aquí en Marcos el término griego traducido como “rescate” - lútron (λύτρον) – se utilizaba para designar el precio que se pagaba para redimir un esclavo, para rescatarlo y liberarlo.

La segunda parte del evangelio de hoy nos clarifica dos cosas. En primer lugar, que Jesús pide a los discípulos lo que él mismo vive: no ser servido sino servir. En segundo lugar, entendemos que la pretensión de ser primero implica el reclamo a ser servido, a recibir honores y atenciones; y que, por el contrario, la invitación a ser servidor que hace Jesús conlleva el dar la vida por los demás, el estar más preocupado por el bien de los demás que por el propio.

ALGUNAS REFLEXIONES:

En los últimos domingos hemos visto cómo la novedad del evangelio puede trasformar el sentido del matrimonio y de la posesión de los bienes. En este domingo ocurre lo mismo con el tema del poder y de la autoridad. Son enseñanzas de Jesús que hacen a la vida cotidiana de los discípulos y forman parte de la esencia del ser cristiano y del ser iglesia. El hecho que la enseñanza sobre el poder se repita, con leves variantes, por dos veces (cf. Mc 9,35-37 y Mc 10,35-45), indica que estamos ante una cuestión difícil de asumir, de transformar y de vivir.

Puede sernos de ayuda afrontar el tema del poder desde sus orígenes en el nivel humano para luego iluminarlo con la luz de la revelación cristiana, tal como hace con su acostumbrada claridad R. Guardini en su libro "El Poder"[2]. En primer lugar, este autor precisa que "por sí mismo el poder no es ni bueno ni malo; sólo adquiere sentido por la decisión de quien lo usa. Más aun, por si mismo no es ni constructivo ni destructor, sino sólo una posibilidad para cualquier cosa, pues es regido esencialmente por la libertad […] El poder significa, en consecuencia, tanto la posibilidad de realizar cosas buenas y positivas como el peligro de producir efectos malos y destructores. Este peligro crece al aumentar el poder"[3].

La revelación cristiana, por su parte, nos enseña que el origen del poder está en Dios, el único Todo-poderoso, quien comunica esta capacidad al hombre ya desde el momento mismo de la creación (cf. Gn 1,26-28). Según este texto, Dios le dio al hombre poder sobre la naturaleza y sobre su propia vida. Incluso más, "la semejanza natural del hombre con Dios consiste en este don del poder, en la capacidad de usarlo y en el dominio que brota de aquí"[4]. Pero al tratarse de un ejercicio del poder que depende de Dios como su origen y fuente permanente, el poder deviene obediencia y servicio.

Ahora bien, el relato de Gn 2-3 nos advierte que no se trata de un poder absoluto, autónomo, pues corresponde a Dios establecer el bien y el mal de modo que el hombre tiene marcado el camino para el buen uso del poder. Según este relato la tentación originaria y el pecado original consistieron en la autoafirmación del hombre en sí mismo, en la absolutización de su propia voluntad de poder contra la voluntad del Creador. En otras palabras, el hombre quiso tener el "poder absoluto", esto es, sin relación a la verdad y al orden moral objetivo.

Esta es la condición del hombre, herido por el pecado, que ejerce su poder en el mundo del modo en que Jesús mismo describe en el evangelio de hoy: como sometimiento, como opresión, como dominio. Esta es la condición de los apóstoles y nuestra misma condición o situación ante el poder. Lo deseamos porque es esencial a nuestra naturaleza el querer ser más para poder ser más. En este sentido Jesús nos invita, como hizo a sus discípulos en el evangelio de hoy, a aceptar nuestro deseo de querer ser grande, de querer ser los primeros. Pero enseguida nos advierte del inminente peligro de caer, como nuestros primeros padres, en las redes de la soberbia que nos hace desear el poder absoluto, sin ningún límite y desvinculado de Dios, el cual termina, antes o después, en tiranía sobre los demás. Por eso Jesús nos enseña que el antídoto contra la soberbia del poder es la humildad que se expresa en el servicio.

Al respecto decía san Agustín comentando la escena del evangelio de hoy: “Es una gran cosa lo que desean, y no se les reprocha por el deseo, sino que les llama al orden. En ellos ve el Señor el deseo de las cosas grandes y aprovecha la ocasión para enseñar el camino de la humildad. Los hombres no quieren beber el cáliz de la pasión, el cáliz de la humillación. ¿Desean cosas sublimes? Que amen las humildes. Para ascender a lo alto es preciso, en efecto, partir de lo bajo. Nadie puede construir un edificio elevado si antes no ha puesto abajo los cimientos” (Sermón 20A, 5-8).

Por tanto, a la tentación del poder como búsqueda de privilegios y de dominio o posesión sobre los demás; Jesús presenta su opción de vida como una renuncia a este modo de poder, no buscando ser servido sino servir; no buscando dominar o poseer a los demás, sino entregando su vida por ellos; no buscándose a sí mismos, sino el bien de los demás.

Al respecto, el Papa Francisco en su homilía del 21 de octubre de 2018 dijo: “El camino del servicio es el antídoto más eficaz contra la enfermedad de la búsqueda de los primeros puestos; es la medicina para los arribistas, esta búsqueda de los primeros puestos, que infecta muchos contextos humanos y no perdona tampoco a los cristianos, al pueblo de Dios, ni tampoco a la jerarquía eclesiástica. Por lo tanto, como discípulos de Cristo, acojamos este Evangelio como un llamado a la conversión, a dar testimonio con valentía y generosidad de una Iglesia que se inclina a los pies de los últimos, para servirles con amor y sencillez. Que la Virgen María, que se adhirió plenamente y humildemente a la voluntad de Dios, nos ayude a seguir a Jesús con alegría en el camino del servicio, el camino maestro que lleva al Cielo”.

En conclusión: “Nunca lo olvidemos. Para los discípulos de Jesús, ayer, hoy y siempre, la única autoridad es la autoridad del servicio, el único poder es el poder de la cruz, según las palabras del Maestro: «ustedes saben que los jefes de las naciones dominan sobre ellas y los poderosos les hacen sentir su autoridad. Entre ustedes no debe suceder así. Al contrario, el que quiera ser grande, que se haga servidor de ustedes; y el que quiera ser primero, que se haga esclavo» (Mt 20,25-27). «Entre ustedes no debe suceder así»: en esta expresión alcanzamos el corazón mismo del misterio de la Iglesia —«entre ustedes no debe suceder así»— y recibimos la luz necesaria para comprender el servicio jerárquico”[5].

Por último, este domingo 17 de octubre comienza en todas las Iglesias diocesanas la fase de escucha y discernimiento como primer momento del Sínodo de Obispos del 2023 cuyo tema es: “Por una Iglesia sinodal: comunión, participación y misión”.

Desde este punto de vista el evangelio de hoy nos presenta a Jesús como un modelo de escucha y discernimiento en un camino sinodal porque “hacer sínodo significa caminar juntos en la misma dirección” (Papa Francisco). En este “caminar juntos” Jesús sabe detenerse y prestarles toda su atención a dos de sus discípulos. Lo que piden es un “disparate”, sin embargo Jesús los escucha sin interrupciones y sin reprimendas; y al final los ayudará a “conectarse” con la voluntad de Dios, que no es otra cosa que el discernimiento.

También Jesús está atento al “lenguaje no verbal” de los otros diez apóstoles que de algún modo manifestarían su enojo y disgusto contra los dos que se quisieron “acomodar”. Por eso, “una vez más y con gran paciencia, intenta corregir a sus discípulos convirtiéndolos de la mentalidad del mundo a la de Dios” (Papa Francisco). Es decir, Jesús con su enseñanza sobre el liderazgo como servicio desinteresado y generoso a los demás les ofrece un discernimiento sobre lo que sienten y piensan aunque no expresan; para que puedan conectarse con la voluntad de Dios.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Ni a tu derecha, ni a tu izquierda

Beberemos del Cáliz de tu Pasión, Señor

Y tendrá sabor a triunfo y también a dolor.

Mojaremos los labios con el vino de la Viña,

Los sarmientos se recogen al llegar la vendimia

Y el fruto vuelve a la tierra, al barro de estas vasijas.

Anima las horas de nuestros días

En el corazón de la angustia nace la alegría

Con un gozo sin razón, sin cálculo,

Es solo precio de Amor, donado por ti

En el madero de la muerte y la vida.

Bautismo de Dios, Infinito

Soledades de los hombres, todas tuyas reunidas.

Angustia divina, reclamo del Amigo al compañero:

- Servidores: eso deseo para Ustedes

Al Reino se llega por ese camino…

- ¡Los amo, los quiero a todos conmigo!

Ten compasión, Señor, de la necesidad nuestra

Vacío profundo; en llenarlo te empeñas.

Aumenta esta poca fe, renueva la búsqueda

De la seguridad primera.

Cerca de ti, a tus pies rendidos,

Ni a tu derecha ni a tu izquierda…

Abre nuestros ojos ciegos, como lo hiciste entonces

Haznos conocer el Amor del Padre

Colma con tu Espíritu nuestra pobreza. Amén.



[1] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 118.

[2] Nos referimos concretamente a R. Guardini, El poder (Cristiandad; Madrid 1981).

[3] R. Guardini, El poder, 18-19.

[4] R. Guardini, El poder, 27.

[5] Papa Francisco, Discurso en la conmemoración del 50 aniversario de la institución del Sínodo de los Obispos, Roma, 17 de octubre de 2015.