TOME SUA CRUZ-24º TC-B

TOME SUA CRUZ

24º DOMINGO DO TEMPO COMUM-B

12/09/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Isaías 50,5-9a

Salmo Responsorial 114(115)R- Andarei na presença de Deus, junto a ele, na terra dos vivos.

2ª Leitura: Tiago 2,14-18

Evangelho Marcos 8,27-35

Naquele tempo: 27Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: 'Quem dizem os homens que eu sou?' 28Eles responderam: 'Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas.' 29Então ele perguntou: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' Pedro respondeu: 'Tu és o Messias.' 30Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias. 32Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: 'Vai para longe de mim, Satanás!' Tu não pensas como Deus, e sim como os homens.' 34Chamou Jesus a multidão com seus discípulos e disse: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

A confissão de Pedro não deve ser atribuída somente a Simão Pedro. Ele confessa em nome do grupo dos discípulos; ele é o porta voz de todos, exprime o que é a fé de todos. Mesmo que seja uma fé ainda imperfeita, Pedro exprime uma fé genuína em Jesus.

Os discípulos já estão convivendo com Jesus há um bom tempo e, por isso, chegou o momento em que precisam se decidir com clareza e de maneira pessoal. A quem eles estão seguindo? O que é que eles reconhecem em Jesus? O que eles recebem de Jesus?

É muito provável que os discípulos tenham se perguntado sobre a identidade de Jesus desde o início. Eles se surpreendem com a autoridade com que fala, com que cura os doentes, com que expulsa demônios e perdoa os pecadores. Quem é afinal esse homem?

Entre as pessoas correm diversos boatos sobre Jesus: um dizem que é João Batista, outros que é Elias, outras que é um dos profetas. Mas o que interessa a Jesus é saber o que os discípulos reconhecem em Jesus? “E vós, quem dizeis que eu sou?

Essa questão é vital para os discípulos. Não é possível continuar seguindo Jesus de maneira inconsciente e superficial. Jesus tem clareza de que o caminho futuro a ser percorrido exigirá dos discípulos uma decisão consciente e responsável.

A resposta de Pedro é ainda limitada. Os discípulos ainda não passaram pela crucifixão e ressurreição. Não podem suspeitar ainda a profundidade do mistério do Messias Jesus. Mas para penetrar fundo no mistério pessoal de Jesus e de sua missão de Messias, os discípulos precisam continuar seguindo Jesus. É somente no seguimento, que eles chegarão à fé plena em Jesus.

Para nós também é vital conhecer quem é Jesus. Mas para conhecê-lo de verdade não bastam títulos e nomes aprendidos teoricamente. É preciso seguir Jesus, dia a dia, até o fim.

De acordo com o relato de Marcos, Jesus insiste três vezes, enquanto caminhavam para Jerusalém, sobre a sua paixão e morte. Ele manifesta abertamente aos discípulos a consciência que tem de sua morte violenta e, com firmeza admirável, anuncia que está indo ao encontro desse desenlace. Assim explica, sem meios tons, que o final de sua vida não será o triunfo que os discípulos esperavam e imaginavam, mas será o da entrega total de si, o que inclui sua morte na cruz.

Os discípulos mostram que não entendem Jesus. Tanto que têm até medo de perguntar a Jesus. Parece até que eles preferiam não mexer em algo que eles intuíam muito perturbador e que exigia uma conversão. Com efeito, eles se demonstram apegados aos sonhos de glória e de honra; esperam ainda receber de Jesus privilégios e vantagens. Por isso, eles, mesmo que Jesus tenha anunciado sua paixão e morte, continuam discutindo quem é o maior entre eles. Ficam calados quando Jesus lhes pergunta: o que discutíeis pelo caminho? A discussão deve ter sido muito animada e acalorada!

Os discípulos guardam um silêncio, envergonhados. A pergunta de Jesus parece ter feito os discípulos caírem na conta do absurdo daquela discussão. Bastou a pergunta daquele que se fez o último de todos, daquele que serve a todos, daquele que se fez pequeno como a criança para fazer aflorar a consciência da mesquinhez da luta pelo poder e da disputa pelo primeiro lugar.

Jesus responde ao silêncio dos discípulos, chamando-os e sentando-se: o gesto de se sentar é o gesto de quem ensina. Jesus tem algo importante para ensinar. Jesus quer ser ouvido; é o mestre que ensina! Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e aquele que serve a todos!

Para ser de Jesus é preciso ser como Ele, servir como Ele, colocar-se no último lugar como Ele.



Seguir Jesus e esvaziar o próprio ego


“...quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, salva-la-á” (Mc 8,35).

O relato deste domingo ocupa um lugar central e decisivo no evangelho de Marcos. Jesus sempre teve uma presença original e instigante no contexto social e religioso de seu tempo; sua atuação provocava diferentes reações e ninguém podia ficar “indiferente” diante do seu modo de ser e viver. D’Ele se diziam muitas coisas contraditórias: que estava “fora de si” (Mc 3,21), que era um endemoninhado (Mc 3,22), que era um “comilão e beberrão” (Lc 7,34), “amigo dos pecadores” (Mt 11,19) e “blasfemo” (Mc 2,7), um impostor (Mt 27,62), o profeta esperado, o mestre que ensinava doutrinas que poderiam provocar uma rebelião (Lc 23,1), que era o “filho do Deus vivo”...

Até que um dia, longe do seu ambiente, longe do lago e de Jerusalém, em Cesareia de Filipe, Jesus fez aos discípulos perguntas decisivas, que são aquelas do “meio do caminho”, perguntas adultas. Os discípulos já levavam um bom tempo convivendo com Jesus; não estavam mais no entusiasmo inicial: viram e viveram o suficiente para dar uma resposta que não dependia daquilo que os outros diziam a respeito da identidade de Jesus. “E vós quem dizeis que eu sou?”

Chegou o momento em que eles deverão se situar diante da pergunta decisiva e que exige de todos uma tomada de posição, um ato de fé. Perceberam que a pergunta do “meio do caminho” impele-os a ir mais longe, a sondar o mistério profundo, não só da identidade de Jesus, mas da identidade de cada um. Sentiram que a resposta a ser dada a esta altura do seguimento devia iluminar o que lhes faltava percorrer, devia marcar a vida com o selo da entrega: a quem estão seguindo? Que é o que descobrem em Jesus? Que impactos causam em suas vidas a mensagem e o projeto do Mestre da Galileia?

Desde o momento em que se deixaram impactar pelo primeiro chamado, os discípulos vivem interrogando-se sobre a identidade de Jesus. O que mais lhes surpreende é a autoridade com que fala, a força com que cura os enfermos, o amor com que oferece o perdão de Deus aos pecadores, a liberdade diante da religião e da tradição do seu povo... Quem é este homem tão diferente e tão original?

Os Evangelhos anunciam que o modo de Jesus viver – suas atitudes, seus gestos, suas palavras – revelava uma nova visão das coisas, um novo ponto de partida, uma nova ordem, um novo projeto. Jesus era livre e essa liberdade nos fascina até hoje. Jesus encarnou-se num mundo fechado, dividido, conflituoso... Fez-se presente no mundo da dor: enfermos, pobres, pecadores... e a partir daí propôs um novo movimento de humanização. Jesus vivia a partir de um sonho primordial: o Reino. A riqueza original desse sonho primordial não se “encaixava” nos esquemas dos fariseus ou saduceus, essênios ou zelotes, nem se deixava instrumentalizar pela instituição do Templo ou sinagoga.

Diante do seu modo original de viver, Jesus quer verificar a real motivação dos seus discípulos. “E vós, quem dizeis que eu sou?” Não basta que entre eles haja opiniões diferentes mais ou menos acertadas. É fundamental que aqueles que se comprometeram com sua causa, reconheçam o “mistério” que se revela na vida d’Ele. Se não for assim, quem manterá viva sua mensagem? Que será de seu projeto do Reino de Deus? Em que terminará aquele grupo que se associou a um movimento de vida, desencadeado pelo mesmo Jesus?

O horizonte de todo ser humano é precisamente a vida e a plenitude. Isso é o que todos, sabendo ou não, buscamos. E o buscamos em tudo o que fazemos e em tudo o que deixamos de fazer. Como acertar? Jesus oferece uma resposta carregada de sabedoria, na linha daquela que foi dada por todos os mestres e mestras espirituais: para caminhar na direção da vida, é necessário “desapegar-se” do ego. “Renunciar a si mesmo”: não se trata de negar o que somos, mas o que pretendemos ser e não somos.

Este esvaziamento não significa nossa anulação enquanto “pessoas”, mas nossa potenciação. Na medida em que os aspectos que nos limitam diminuem, aumenta o que há em nós de plenitude. Só há seguimento de Jesus quando se dá um processo permanente de esvaziamento do ego para viver a entrega aos outros. Só uma pessoa esvaziada de seu ego pode transformar-se e transformar a realidade. “Renunciar a si mesmo” supõe renunciar toda ambição pessoal. O individualismo, o egoísmo, não tem lugar na vida de Jesus e daquele(a) que busca segui-lo.

“Carregar a cruz” também não significa buscar a dor e nem negar a vida. As palavras de Jesus não são uma exaltação do sofrimento, mas expressam uma grande sabedoria: buscam “despertar” seus seguidores diante das consequências frente ao compromisso com a vida. “Cruz”, no seu sentido original significa “prontidão, estar de pé, preparado, mobilizado, ser fiel até o fim...”. Essa é a Cruz assumida por Jesus e essa também deve ser a cruz de quem entra no Caminho de Vida. Só essa Cruz é salvífica.

Como evitar que o nosso ego nos domine e determine nossa vida? O primeiro passo será desvela-lo e desmascará-lo com todas as suas maquinações e dubiedades. Nós, seres humanos, somos uma realidade contraditória: experimentamos em nosso interior como que uma “dupla identidade”: por um lado, a identidade individual (o ego) e, por outro, a identidade profunda (trans-pessoal), que constitui nosso verdadeiro ser.

Na realidade, o ego não é o meu verdadeiro eu, não sou eu. É uma falsa imagem de mim. É a ilusão de que eu sou um indivíduo separado, independente, isolado e autônomo. Essa ilusão me distancia da comunhão com os outros e com a Criação, nega que faço efetivamente parte de um universo imenso, em que tudo é interdependente e está intimamente ligado entre si. O ego exacerbado quer controlar o seu mundo: pessoas, acontecimentos e natureza. Daí a obsessão pelo poder e pelo domínio. Sabemos que todas as divisões, conflitos e rivalidades entres os seres humanos provém da ilusão do ego que quer se impor sobre os outros.

Só na identificação com Jesus vamos afastando as cinzas e reacendendo nosso verdadeiro eu, oblativo, aberto, expansivo... No encontro com a identidade de Jesus descobrimos nossa verdadeira identidade. Quando descobrimos a “boa notícia” (=evangelho) de quem somos, seremos capazes de esvaziar a identificação com o ego e deixar-nos de viver para ele. O anúncio do evangelho (boa-notícia) começa pelo nosso interior, levando luz para estabelecer o “cosmos” em meio ao caos dos conflitos ali presentes. O nosso verdadeiro eu está enterrado por baixo do nosso ego ou falso eu. Segundo a afirmação de Jesus, a pessoa cresce e se enriquece na entrega e na desapropriação. Podemos parafrasear as palavras de Jesus deste modo: “aquele que quer salvar seu ego, perde a vida; mas aquele que deixa de se identificar com seu ego, vive em plenitude”.

O Evangelho nos convida, mais uma vez, a alargar o círculo de nossa interioridade, a olhar para fora, a descentrar-nos para encontrar o outro, a Deus, e, provavelmente, por esse caminho, também o olhar mais autêntico e completo sobre a nossa própria vida. O modo mais simples de traduzir isso parece ser este: “deixa de viver para teu eu estreito”, “não gira em torno ao teu ego, porque esse modo de vida te aprisionará cada vez mais, e tua vida será vazia e estéril”.

Trata-se de um apelo a ir mais além do ego e descobrir nossa verdadeira identidade, aquela “identidade compartilhada”, na qual o próprio Jesus se encontrava.

Para meditar na oração:

Como a Lua, todos nós também temos nosso “lado oculto”: há sempre dimensões da vida que procuramos mantê-las escondidas dos outros: feridas, fragilidades, sentimentos dissimulados, desejos camuflados, limitações disfarçadas, pobrezas mascaradas...

Deus também conhece este lado oculto e o olha com compaixão. A oração é a ocasião privilegiada para revisitar, a partir de Deus, esse lado oculto, desvelá-lo e integrá-lo, para que nossa verdadeira identidade se manifeste.

- Dê nomes ao seu “lado oculto”: como você reage diante dele? Como torná-lo companheiro de estrada?

Como seguir Jesus (Mc 8,27-35)

Mesters e Lopes

Esta reflexão descreve a cegueira de Pedro que não entende a proposta de Jesus quando este fala do sofrimento e da cruz. Pedro aceita Jesus como messias, mas não como messias sofredor. Ele está influenciado pela propaganda do governo da época que só falava do messias como rei glorioso. Pedro parecia cego. Não enxergava nada e ainda queria que Jesus fosse como ele, Pedro, o queria. Vamos conversar sobre isto!

SITUANDO

No início deste quarto bloco estão a cura de um cego – Mc 8,22-26 -, o anúncio da cruz e a explicação do seu significado para a vida dos discípulos – Mc 8, 27 a 9,1. A cura do cego foi difícil. Jesus teve que realizá-la em duas etapas. Igualmente difícil foi a cura da cegueira dos discípulos. Jesus teve que fazer uma longa explicação a respeito do significado da cruz para ajudá-los a enxergar, pois era a cruz que estava provocando neles a cegueira.

Nos anos 70, quando Marcos escreveu, a situação das comunidades não era fácil. Havia muito sofrimento, muitas cruzes. Seis anos antes, em 64, o imperador Nero tinha decretado a primeira grande perseguição, matando muitos cristãos. Em 70, na Palestina, Jerusalém estava sendo destruída pelos romanos. Nos outros países, estava começando uma tensão forte entre judeus convertidos e judeus não-convertidos. A dificuldade maior era a cruz de Jesus. Os judeus achavam que um crucificado não podia ser o messias tão esperado pelo povo, pois a lei afirmava que todo crucificado devia ser considerado como um maldito de Deus (Dt 21,22-23).

COMENTANDO

Marcos 8, 27-30: VER – levantamento da realidade

Jesus perguntou: ''Quem diz o povo que eu sou?'' Eles responderam relatando as várias opiniões do povo: ''João Batista'', ''Elias ou um dos profetas''. Depois de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: ''E vocês, quem dizem que eu sou?'' Pedro respondeu: ''Tu és o Cristo, o Messias''. Isto é, és aquele que o povo está esperando. Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isso ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo, todos esperavam a vinda do messias, mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor, guerreiro, juiz ou profeta. Ninguém parecia estar esperando o messias servidor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9).

Marcos 8,31-33: JULGAR – esclarecendo a situação – primeiro anúncio da paixão

Jesus começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de justiça. Pedro leva um susto, chama Jesus de lado para desconcertá-lo. E Jesus responde a Pedro: ''Vá embora, Satanás''. Você não pensa as coisas de Deus, mas as dos homens''. Pedro pensava ter dado a resposta certa. De fato, ele disse a palavra certa ''Tu és o Cristo''. Mas não lhe deu o sentido certo. Pedro não entendeu Jesus. Era como o cego de Betsaida. Trocava gente por árvore. A resposta de Jesus foi duríssima ''Vá embora, Satanás''. Satanás é uma palavra hebraica que significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não permite que alguém o afaste da sua missão.

Marcos 8, 34-47 – AGIR – condições para seguir

Jesus tira as conclusões que valem até hoje – Quem quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me. Naquele tempo, a cruz era a pena de morte que o Império Romano impunha aos marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. A cruz não é fatalismo, nem é exigência do Pai. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a sua vida. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

O que alguns dizem hoje

Jose Antonio Pagola

Também no novo milênio continua a ressoar a pergunta de Jesus: «E vós, quem dizes que sou?». Não é para levar a cabo uma sondagem de opinião. É uma pergunta que coloca cada um de nós a um nível mais profundo: quem é hoje Cristo para mim? Que sentido tem realmente na minha vida? As respostas podem ser muito diversas:

«Não me interessa. Assim simplesmente. Não me diz nada; não conto com ele. Sei que há alguns a quem ainda interessa; eu interesso-me por coisas mais práticas e imediatas». Cristo desapareceu do horizonte real dessas pessoas.

«Não tenho tempo para isso. Já faço bastante ao enfrentar-me com os problemas de cada dia; vivo ocupado, com pouco tempo e humor para pensar em muito mais». Nestas pessoas não há lugar para Cristo. Não chegam a suspeitar do estímulo e da força que Ele poderia trazer às suas vidas.

«Acho muito exigente. Não quero complicar a minha vida. É-me desconfortável pensar em Cristo. E, além disso, vem tudo isso de evitar o pecado, exigindo uma vida virtuosa, as práticas religiosas. É demasiado». Estas pessoas desconhecem Cristo; não sabem que poderiam introduzir uma nova liberdade na sua existência.

«Sinto-o muito longe. Tudo o que se refere a Deus e à religião me parece teórico e distante; são coisas de que não se pode saber nada com certeza. Além disso, o que posso fazer para conhecê-lo melhor e entender como vão as coisas?». Estas pessoas precisam encontrar um caminho que as leve a uma adesão mais viva com Cristo.

Esses tipos de reações não são algo «inventado»: já as ouvi eu próprio em mais de uma ocasião. Também conheço respostas aparentemente mais firmes: «Sou agnóstico»; «Adoto sempre posições progressistas»; «Só acredito na ciência». Estas afirmações resultam, para mim, inevitavelmente artificiais, quando não são o resultado de uma busca pessoal e sincera.

Jesus continua a ser um desconhecido. Muitos já não conseguem intuir o que é entender e viver a vida a partir Dele. Entretanto, o que nós seguidores estamos fazendo? Falamos a alguém de Jesus? Tornamo-lo credível com as nossas vidas? Deixamos de ser suas testemunhas?

Reconhecer o Messias

Ana Maria Casarotti

Herodes tinha encerrado João Batista numa masmorra. A mensagem que ele proclamava e o convite à conversão eram uma exortação que incomodava bastante aqueles que atuavam hipocritamente, compondo uma sociedade que explorava os mais pobres, carentes e todos e todas os que eram rejeitados.

A pregação de João Batista, assim como a dos profetas, incomodou, e ainda continua perturbando, todas e todos aqueles que não colaboram na construção de uma comunidade mais justa e mais fraterna.

Por causa disso, as pessoas que estão no poder fazem até o inimaginável para que esse profeta “desapareça” e sua presença seja eliminada. O destino de Joao Batista é um elo desta corrente.

Assim denuncia o Papa Francisco esta opressão da humanidade: “Quem acumula riquezas com exploração, com trabalho não pago devidamente, com contratos injustos, é um sanguessuga que escraviza o povo”. “O sangue de quem é explorado no trabalho - afirmou Bergoglio – é um grito por justiça ao Senhor. A exploração do trabalho, nova escravidão, é um pecado mortal. As riquezas em si mesmas são boas, mas são relativas. São colocadas no justo lugar. Não se pode viver para as riquezas. É mais importante um copo d’água em nome de Jesus do que todas as riquezas acumuladas com a exploração do povo”. (Cfr. “Quem se enriquece com exploração e trabalho não pago devidamente é um sanguessuga que escraviza o povo”, afirma Francisco”).

Voltando à narrativa do Evangelho, percebemos que além de estar no cárcere, ainda alguns seguem João Batista, e por isso, no texto, e em diferentes momentos dos Evangelhos, são chamados “seus discípulos”.

Apesar de ouvir falar das obras do Messias, ainda não está totalmente convencido de que “essa pessoa” é realmente o Messias que devia chegar para libertá-los. Ele tinha outra expectativa na chegada do Messias.

Como era o Messias que ele aguardava?

Nele há outra esperança, na sua pregação, sobre aquele que viria: “Ele terá na mão uma pá: vai limpar sua eira, e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha ele vai queimar no fogo que não se apaga.” (Mt 3, 11-12)

Jesus atua de forma totalmente diferente: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia”. Jesus não condena e não exige um cumprimento estrito de práticas religiosas. Pelo contrário, ele tem compaixão pelas pessoas, as perdoa e anuncia o Reino de Deus para todos e todas que o ouvem.

Jesus mora junto com o povo, está no meio do povo, não fica no deserto como acontecia com João Batista. Seu alimento não são gafanhotos e mel silvestre. Jesus celebra, participa das comidas das pessoas.

Ele não responde a pergunta de João sobre sua identidade, mas se apresenta com suas obras. Isso faz com que João fique até “escandalizado”. Convida-o a contemplá-las e a acreditar na sua pessoa como “aquele que viria”, aquele que foi anunciado pelos profetas. Em Jesus realiza-se esse anúncio de salvação.

Podemos perguntar-nos: por que a Igreja nos apresenta este texto no tempo de Advento? Qual é a relação com nossa vida? Se sondarmos um pouco mais, percebemos que a pergunta que João fez está no interior de toda pessoa que tenta viver sua fé com autenticidade. Será “ele” o Messias?

Mas esta oscilação geralmente fica encoberta por uma fé superficial que não demanda muito e é respondida com o cumprimento de algumas normas.

As crianças geralmente nos apresentam este tipo de pergunta e para elas não é suficiente uma resposta “formal”. Desejam entender, não só saber uma frase. Mas quem é Jesus? E por que é considerado “Salvador”? Que significa isto?

Por isso, hoje, a dúvida de João convida-nos a dirigir ao Senhor nossos questionamentos, incertezas, inseguranças.

Os discípulos são apresentados como pessoas que duvidam da identidade de seu Mestre. Lembremos Pedro e os discípulos/as quando estão no centro da tormenta no mar e veem aparecer um “fantasma” caminhando sobre as águas. Quando Jesus convida Pedro para ir ao seu encontro caminhando no mar, ele acredita no seu convite, mas logo se deixa possuir pelo medo e começa a afogar-se.

Temos também o exemplo dos discípulos de Emaús. Sabem tudo mas não acreditam na pessoa de Jesus e por isso, apesar de estar caminhando com ele, não o reconhecem.

Neste Terceiro Domingo somos chamados a acrescentar nossa sensibilidade para com tantas pessoas necessitadas e seguir seu caminho. Realizar suas obras leva consigo uma revelação, que é o reconhecimento progressivo de Jesus como o Enviado do Pai, o Messias.

Como pede Francisco, peçamos ter sensibilidade para: Chorar pela injustiça, chorar pela degradação, chorar pela opressão. São as lágrimas que podem dar passagem à transformação, são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver o círculo de pecado no qual, muitas vezes, se está submergido. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida e, especialmente, adormecida diante do sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão”.

Is 50,5-9ª – Reflexão

Thomas McGrath

(Cfr Dehonianos 24 Domingo Ano B)

A Leitura faz parte do 3º Cântico do Servo Sofredor (cf. Is 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12) Estes 4 Cânticos no Segundo-Isaias são cânticos que falam de uma personagem misteriosa, conhecido como o "Servo de Javé": um predileto de Javé, que Deus chamou e confiou a ele uma missão profética, e que foi enviado aos homens de todo o mundo e de todos os tempos; a missão cumpre-se no sofrimento e a entrega incondicional; o sofrimento do profeta tem, contudo, um valor redentor, pois dele resulta o perdão do pecado do Povo; Deus aceita o sacrifício deste "Servo" e em recompensação, o faz triunfar diante dos seus perseguidores e adversários.

Quem é este profeta? É Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do Exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura coletiva, que representa o Povo exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a dar testemunho de Deus, no meio das outras nações?

Não sabemos; no entanto, a figura apresentada nesses poemas vai receber uma outra iluminação à luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino. O texto de hoje é parte do terceiro cântico do "servo de Javé".

A missão do servo é dizer aos homens desanimados palavras de conforto e de esperança (v. 4), missão essa que ele aceita sem resistência, sem discussão, numa entrega total ao imperativo de Deus (v. 5).

É por ser fiel à missão o profeta conheceu a prisão, a tortura, o sofrimento (vers. 6). O anúncio fiel das propostas de Deus provoca sempre confronto com as forças da opressão e da morte. No entanto, o profeta pode contar com o socorro do Senhor e, fortalecido, ele tem força para enfrentar as rejeições e as dores. Ele nada teme, pois confia plenamente no Senhor e sabe que não ficará desiludido (vs 7-9).

O que mais impressiona aqui é a serenidade com que o profeta, prisioneiro e sofredor, enfrenta o seu destino. Essa serenidade é resultado de uma total confiança no Deus que não falha e que não deixa desmoronar aqueles que ama.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina


DOMINGO XXIV DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (Is 50,4-7):

Este fragmento corresponde al tercero de los cuatro poemas que son conocidos como los "cánticos del siervo" por su referencia a un personaje llamado por Dios como "su siervo". Esta figura es relevante por cuanto la profecía de Isaías atribuye la gracia del rescate de la cautividad babilónica no sólo a la misericordia de Dios sino también a la obra de un mediador, el siervo sufriente, que es presentado como una víctima expiatoria por los crímenes del pueblo y que obtiene el perdón para Israel en virtud de su sacrificio.

En el tercer cántico, el siervo se presenta como fiel discípulo del Señor, víctima de la maldad de los hombres. Su lengua pronuncia lo que el Señor le indica, su enseñanza procura consolar al abatido (Is 50,4). Acepta su misión sin resistencia, conoce las dificultades que entraña, sin más apoyo que su confianza en el Señor.

Desde una perspectiva cristiana, es evidente que se trata de una prefiguración profética de Jesús y de su misión redentora. De hecho, en el Nuevo Testamento Jesús es identificado con el siervo sufriente en su bautismo (Mt 3, 17; Mc 1, 11; Jn 1, 34); en sus milagros (Mt 8, 17); en su decisión de ir a Jerusalén a morir (Lc 9,51) y en su humildad (Mt 12, 16-21). Según Jn 12, 37-43, Jesús asume en su ministerio público las palabras del siervo sufriente de Is 53, 1s. El tema del siervo también se atribuye a Jesús en los Hechos de los Apóstoles (He 3,13.26; 4,27.30; 8,32) y en los himnos de la primera Iglesia (Fil 2,7; 1Pe 2,21-25). Si bien no lo citan explícitamente, los relatos de la pasión son una realización del tercer cántico, expresado por los salivazos y golpes (cfr. Mc 14,65 par).

Evangelio (Mc 8,27-35):

Los primeros versículos del evangelio de hoy (8,27-30) son la conclusión de la primera parte del evangelio de Marcos (1,1-8,30) que narra la actividad de Jesús en Galilea y termina justamente con la confesión de Pedro quien, en nombre de los doce, reconoce a Jesús como el Mesías, título que Marcos había colocado al inicio de su evangelio (cf. Mc 1,1). Los restantes versículos (8,31-35) abren la segunda parte del evangelio que narra el viaje de Jesús a Jerusalén.

Al inicio el texto ubica a Jesús y sus discípulos caminando por los pueblos de alrededor de la ciudad de Cesarea de Filipo. La misma está ubicada en el extremo norte del Israel bíblico y será el punto de partida del camino de Jesús hacia Jerusalén acompañado por sus discípulos.

Por el camino Jesús sorprende a sus discípulos con la pregunta: "¿Quién dicen los hombres que soy yo?". Importa notar que esta pregunta tiene lugar al final de la actuación de Jesús en Galilea (predicación, enseñanza, curaciones, exorcismos) y, en cierto modo, busca expresar la recepción que ha tenido la misma entre la gente.

La respuesta de los discípulos recoge la opinión de la gente expresada ya en Mc 6,14-15: Jesús es Juan Bautista resucitado, Elías o alguno de los profetas. Entre estas opiniones se destaca la de Elías, quien vendría a preparar la llegada del Mesías; pero lo cierto es que las mismas, si bien reconocen en Jesús una dimensión profética, no han llegan todavía a descubrir su carácter mesiánico.

Sigue inmediatamente la misma pregunta sobre la identidad de Jesús, pero la tienen que responder ahora todos sus discípulos: "Y ustedes, ¿quién dicen que soy yo?" (Mc 8,29). El que responde es Pedro, poniendo de relieve su lugar preeminente dentro del grupo de los discípulos. La respuesta de Pedro tiene el estilo de una confesión de fe (“tú eres el Cristo”) e implica el reconocimiento de Jesús como el ungido y enviado de Dios para inaugurar el tiempo de salvación.

Sobre esto comenta J. Ratzinger[1]: "esta doble pregunta sobre la opinión de la gente y la convicción de los discípulos presupone que existe, por un lado, un conocimiento exterior de Jesús que no es necesariamente equivocado aunque resulta ciertamente insuficiente, por otro lado, frente a él, un conocimiento más profundo vinculado al apostolado, al acompañar en el camino, y que sólo puede crecer en él".

En cuanto fin de una sección del evangelio este texto nos muestra que los discípulos, representados por Pedro, dan muestras de haber entendido algo importante - que es el Mesías prometido -, y en esto se distinguen del resto de la gente, de los de afuera. Esta confesión tiene el valor de la aprobación de un ciclo lectivo, de haber alcanzado satisfactoriamente una etapa prevista. Pero hay que pasar a la siguiente, la del camino hacia Jerusalén. Al respecto comenta O. Vena que es la primera vez que la palabra “Cristo” aparece en boca de alguien y en un momento crucial de la narración evangélica: “puesto que de ahora en más Jesús va a comenzar a hablar sobre su muerte y su resurrección, y la dinámica de la narración va a desplazarse del lago, la barca y las multitudes hacia el camino, el seguimiento y el viaje a Jerusalén”[2].

Luego de la confesión de Fe de Pedro, Jesús inaugura una etapa nueva de su ministerio realizando el primer anuncio de su pasión. Este anuncio viene introducido en griego por la partícula dei (dei/) que se traduce por "debía", o mejor, "es necesario" (como en Lc 24,7.44) y que sirve para expresar la ineludibilidad de la pasión y muerte de Jesús decretada por Dios.

Después de este anuncio de la pasión Pedro lleva aparte a Jesús "y lo reprende".

Por su parte, la reacción de Jesús es inmediata y su frase muy fuerte pues lo llama “Satanás” y le manda volver a ubicarse detrás de Él, o sea que vuelva a su condición de discípulo. En efecto, tal sería el sentido exacto de la expresión: "vete detrás de mí" (u[page ovpi,sw mou), que nos recuerda la invitación al seguimiento que Jesús ya le había hecho a Pedro y Andrés en Mc 1,17: "venid detrás de mí" (deu/te ovpi,sw mou). Las palabras de Jesús "tus pensamientos no son los de Dios sino los de los hombres" (fronei/j … avnqrw,pwn), quieren decir que Pedro piensa, siente y habla como hombre, no según Dios. Algunos sugieren como traducción ad sensum: “Tú no ves las cosas como las ve Dios, sino como las ven los hombres”. Vale.

La novedad cristológica de esta segunda parte del evangelio es que Jesús se presenta como un Mesías sufriente, es decir que llevará a cabo su misión a través de la humillación, del sufrimiento y de la muerte. Esto explica el triple anuncio de su pasión a los discípulos, que ellos no entienden. La pasión indica un fracaso real, aunque no definitivo: es el rechazo que sufre Jesús por parte de su propio pueblo Israel.

A esta nueva revelación de la identidad de Cristo le sigue en 8,34-35 una segunda llamada de Jesús al seguimiento que aporta novedades esenciales.

En primer lugar, es abierta a todos los que quieran seguirlo pues no sólo se dirige a sus discípulos sino a la multitud.

En segundo término, es una llamada a la renuncia a sí mismos como expresión de la aceptación del camino de la cruz. La expresión “renunciar a sí mismo” (avparnhsa,sqw e`auto,n) tiene en el griego el sentido de «no reconocer», «considerar como extranjero», «no tener nada que ver con alguien», «desaprobar». Con este sentido lo utilizará Marcos para referirse a las “negaciones” de Pedro (cf. Mc 14,30.31.72). Por tanto, indica un olvidarse de sí mismo, no mirar primeramente por sí mismo ni por sus propios intereses a la hora de decidir, sino por los de Jesús como prioritarios.

Notemos también que con respecto a la cruz se utiliza el verbo ai;rw que significa “levantar”. Es decir, no se trata de buscar sino de levantar y llevar la “propia” cruz, la que cada uno ya tiene y está allí presente.

Vale decir que en un primer momento lo propio del discípulo es estar con Jesús y predicar a Jesús. A esto hay que sumarle ahora el dejarse a sí mismo y estar dispuesto a sufrir y morir por Jesús.

En tercer lugar, queda más en claro en este segundo llamado que la opción del discípulo es libre pues Jesús no les dirige en primer término el imperativo "sígueme", sino una oración en condicional: "Si alguno quiere seguir detrás de mí…" (8,34) que termina, ahora sí, con el imperativo "sígame". Este cambio de orden sugiere también que la renuncia está en función del seguimiento, es condición para el mismo, no un fin en sí misma. Además, la invitación a la renuncia/seguimiento está motivada por las consecuencias de la opción que se tome: salvación o perdición. Se trata, por tanto, de una decisión vital.

ALGUNAS REFLEXIONES:

La actualización de este evangelio tiene dos cauces: uno personal y otro pastoral.

A nivel personal partimos de que la vida es un camino, y hoy parece que la regla más difundida para recorrerlo es “todo, ya y fácil”. La propuesta no deja de ser atractiva y tentadora; pero no resiste un análisis honesto y basado en la experiencia. ¿Es este el camino verdadero para construir un vínculo afectivo estable y fecundo? ¿Se puede alcanzar algún logro importante a nivel personal, profesional o deportivo, sin dedicación y sacrificio? Y esto mismo vale para la vida cristiana, que es un camino hacia realización personal sobrenatural y tiene como fin o meta la vida eterna.

La meditación de este evangelio nos invita a hacernos dos preguntas muy importantes. La primera: ¿quién es Jesús para mí? A esta pregunta tenemos que responder más con el corazón y la experiencia que con la cabeza y la teología. Y la segunda: ¿hasta dónde estoy dispuesto a seguirlo? Es decir, ¿estoy dispuesto a renunciar a mí mismo y cargar mi cruz para seguirlo? Las respuestas a estas dos preguntas van juntas. Si confieso que Jesús es el Hijo de Dios hecho hombre que me amó y se entregó por mí para salvarme, entonces confiaré en él y lo seguiré por dónde quiera que vaya, aunque sea por el camino de la cruz.

Reconozcamos que es inevitable sentir cierta "incomodidad" ante el anuncio de la pasión por parte de Jesús y de las exigencias para poder seguir siendo su discípulo. Más aún, es necesario no evadirse ante este sentimiento ni cargarse de culpa pues el misterio de la cruz es una realidad difícil de asimilar, de "digerir".

El camino de Jesús es también el camino de los discípulos. Por eso Jesús presenta el camino de la cruz como paso obligado para "el que quiera seguirlo". Es un momento clave, de seria opción, por cuanto para seguir siendo discípulo hay que dejarse a sí mismo y a los propios proyectos de realización y salvación personal. Negarse a sí mismo y tomar la cruz implican estar dispuesto a perder la vida, pero para salvarla. La cruz aparece como la vida hecha donación, un perderse a sí mismo por amor a Jesús. Hay que estar atentos porque Jesús, como buen maestro, explota la técnica de los opuestos para presentar su pensamiento de una manera plástica. Por eso en primer lugar propone la solución errónea con “salvar la vida”; que significa el repliegue sobre nosotros mismos, la atención continua a nuestro propio mundo olvidando abrirnos a los demás. En contraste propone el “perder la vida” que significa entregársela a Cristo y a los hermanos[3]. De este modo el perder es en último término ganar. Así como el anuncio de la pasión terminaba haciendo referencia a la resurrección al tercer día; así también el camino de la cruz del discípulo termina con la promesa de la salvación.

Al respecto dijo el Papa Francisco: “Hermanos y hermanas, la profesión de fe en Jesucristo no puede quedarse en palabras, sino que exige una auténtica elección y gestos concretos, de una vida marcada por el amor de Dios, de una vida grande, de una vida con tanto amor al prójimo. Jesús nos dice que, para seguirle, para ser sus discípulos, se necesita negarse a uno mismo (cf. v. 34), es decir, los pretextos del propio orgullo egoísta y cargar con la cruz. Después da a todos una regla fundamental. ¿Y cuál es esta regla? «Quien quiera salvar su vida, la perderá». A menudo, en la vida, por muchos motivos, nos equivocamos de camino, buscando la felicidad solo en las cosas o en las personas a las que tratamos como cosas. Pero la felicidad la encontramos solamente cuando el amor, el verdadero, nos encuentra, nos sorprende, nos cambia. ¡El amor cambia todo! Y el amor puede cambiarnos también a nosotros, a cada uno de nosotros. Lo demuestran los testimonios de los santos” (Ángelus del 16 de septiembre de 2018).

Prestemos atención ahora a Pedro que reacciona ante la cruz como "hombre", tiene los sentimientos, los pensamientos y la valoración propia de todo hombre ante la cruz. Y se trata de un hombre de Iglesia, llamado a ser guía de sus hermanos, a quien Jesús le pide un salto cualitativo en su fe, en su adhesión a Él.

También a nosotros, como a Pedro, nos hace reaccionar mal ese "es necesario" (dei) mediante el cual se presenta la cruz como plan de Dios. La aceptación de este hecho supera los intentos de mera comprensión intelectual del mismo. Es un momento de prueba, como bien señala el Card. Martini[4]: "Cada uno de nosotros, tarde o temprano, debe vivir una prueba análoga, será la prueba sobre la Iglesia, sobre la comunidad, sobre el pueblo que se nos ha confiado, será la prueba sobre los acontecimientos tristes y dolorosos que afrontan las personas que amamos. Son situaciones de las que no podemos salir con el único instrumento de la evolución progresiva del conocimiento, hay que aceptar la ruptura, la superación, la revelación del misterio de Dios como totalmente distinto de nuestro modo de pensar: "¡Aléjate de mí, Satanás!, porque tu no piensas según Dios, sino según los hombres". Hasta ese momento la vida de Pedro procedía bastante tranquila, su estar con Jesús no creaba ningún problema, pero ahora él experimenta la ruptura, comprende que su amor por el Maestro debe ser purificado: es la primera gran prueba de su camino y de su apego a Jesús".

Y por esto la respuesta del Señor a Pedro es siempre actual para nosotros hoy. Como bien dice J. Ratzinger[5] "los cristianos tienen que ser instruidos a lo largo de los siglos, y también hoy, por el Señor, para que sean conscientes de que su camino a lo largo de todas las generaciones no es el camino de la gloria y el poder terrenales, sino el camino de la cruz. Sabemos y vemos que, también hoy, los cristianos – nosotros mismos – llevan aparte al Señor para decirle: «¡No lo permita Dios, Señor! Eso no puede pasarte» (Mt 16,22). Y como dudamos de que Dios lo quiera impedir, tratamos de evitarlo nosotros mismos con todas nuestras artes. Y así, el Señor tiene que decirnos siempre de nuevo también a nosotros: «¡Quítate de mi vista Satanás!» (Mc 8,33). En este sentido, toda la escena muestra una inquietante actualidad. Ya que en definitiva, seguimos pensando según «la carne y la sangre» y no según la revelación que podemos recibir en la fe".

El camino de la cruz tiene también una dimensión "pastoral", muy poco tenida en cuenta, aunque en LG nº 8 leemos: "Como Cristo efectuó la obra de la redención en pobreza y persecución, de igual modo la Iglesia está llamada a recorrer el mismo camino a fin de comunicar los frutos de la salvación a los hombres".

Gerardo Cardaropoli nos señala como algo llamativo que si bien el tema de la cruz ha entrado en la teología cristiana en los últimos años (el autor habla de una "primavera de la cruz") no ha llegado su influencia al ámbito pastoral. Y es necesario que esto suceda por cuanto tiene que existir un lazo inseparable entre la acción salvífica realizada por Cristo y la acción salvífica realizada por la Iglesia. Y esta vinculación tiene que darse no sólo a nivel de los contenidos sino también en el orden de los medios y del espíritu que anima la acción pastoral. Según esto "la Iglesia ha de adquirir cada más la convicción de no ser causa eficiente y fuente de salvación, sino solamente sacramento, o sea, signo e instrumento. La única cosa que puede hacer es la de conformarse con la causa que es Cristo, para que pueda proceder de una manera más adecuada. Cristo salva al mundo por medio de la Iglesia, con la condición de que esta se adecue a su misterio pascual, en el que la gloria de la resurrección no se alcanza sino a través del paso de la cruz. Aquí está la profunda renovación de la pastoral. La "teología de la cruz" ha de llegar a ser "metodología de la cruz" para toda la obra salvífica"[6].

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Cuando preguntas, Señor

Cuando preguntas

Si hablamos de vos con nuestros hermanos,

O somos de aquellos que cambian el tema por respeto humano.

¿Tenemos vergüenza de vos,

Y no de nuestros pecados?

Ten compasión de nosotros, Señor

Nos sentimos pobres y desgraciados

Rechazados por el mundo

Si nos ponemos de tu lado.

Pero si vienes a nosotros

Y nos das la fuerza de tu Espíritu Santo

No temeremos la Cruz

Porque tú mismo la has probado.

Sabremos proclamar a todos

Que Tú eres el Mesías

Y has venido a liberarnos.

Palabra eres Tú: el Primero y el Último, el Condenado.

Vencedor de la mentira y de la muerte

Dios y Señor nuestro,

Presente y Resucitado.

Amén.



[1] Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 341-342.

[2] O. Vena, Evangelio de Marcos (SBU; Miami 2008) 177.

[3] Cf. G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio Divina para la vida diaria 7. El evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 2008) 292.

[4] Las confesiones de Pedro (San Pablo; Bogotá 1995) 47

[5] Jesús de Nazaret. Desde el Bautismo a la Transfiguración (Planeta; Buenos Aires 2007) 349-350.

[6] "Pastoral del misterio de la cruz", en B. Ahern y otros, Sabiduría de la Cruz (Narcea; Madrid 1981) 96.