PALAVRAS DE VIDA ETERNA-21º TC-B

PALAVRAS DE VIDA ETERNA

21º DOMINGO COMUM-ANO B

22/08/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Josué 24,1-2a.15-17.18b

Salmo Responsorial 33(34)R – Provai e vede quão suave é o Senhor!

2ª Leitura: Efésios 5,21-32

Evangelho de João 6,60-69


Naquele tempo: 60muitos dos discípulos de Jesus que o escutaram, disseram: 'Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?' 61Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: 'Isto vos escandaliza? 62E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. 64Mas entre vós há alguns que não creem'. Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. 65E acrescentou: 'É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai'. 66A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67Então, Jesus disse aos doze: 'Vós também vos quereis ir embora?' 68Simão Pedro respondeu: 'A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus'. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE


Arcebispo de Sorocaba SP

Jo 6,60-69

Há uma lei que governa a nossa relação com Deus: o amor de Deus é gratuito e se antecipa às nossas escolhas ou aos nossos méritos (“fui eu que vos escolhi”). Mas, mesmo sendo eleitos sem nosso merecimento, não podemos ficar inertes e passivos frente à escolha de Deus. A escolha de Deus espera e reclama a nossa acolhida da escolha. A lei da vida cristã consiste nisso: dom e responsabilidade.

O Evangelho mostra como, para os apóstolos, chegou o momento de dar a resposta ao chamado de Jesus: “vós também quereis ir embora?” Os discípulos não eram obrigados a permanecer com Jesus e, de fato, muitos abandonaram Jesus. Ficaram os Doze que formarão a Igreja, mas eles não podem mais permanecer como antes, sem compromisso. De agora em diante eles devem ter consciência de que escolheram Jesus para a vida ou para a morte. “Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos firmemente que tu és o Santo de Deus”.

A partir dessa escolha, os discípulos sabem que o coração não é mais livre para todos os afetos. Há afetos que não vêm de Deus, mas do maligno, pois são afetos que desviam de Deus, são amores desordenados que dividem o coração. Uma vez que escolhemos, o nosso coração não pode mais estar dividido por afetos que não nos conduzam a Deus.

Todos os dias encontramos alguém que “se afastaram e não mais andam com Jesus” porque julga sua palavra muito dura. Por exemplo: acha que a exigência da indissolubilidade matrimonial é muito dura e antiquada; acha que o carregar a cruz não deve ser levado assim tão a sério; que julga a proibição de não poder servir a Deus e ao dinheiro “de uma moral católica atrasada”; que considera a exigência da fidelidade (quem olhar com cobiça para uma mulher já cometeu adultério com ela) muito exagerada.

Nós vivemos em tempo diferente da dos nossos pais: não é possível mais viver como cristão por uma tradição herdada. Nossa época cobra de nós um cristianismo consciente e responsavelmente assumido.

Vemos mais do que nunca quão urgente é escolher, decidir-se, posicionar-se de um lado ou de outro, antes que seja tarde demais, antes sejamos nós postos pelo Senhor à sua esquerda!

Nós já escolhemos Deus no batismo. Essa nossa escolha precisa ser sempre de novo reafirmada nos sacramentos e no testemunho da vida.


Cristificar nossas palavras

Adroaldo Palaoro

Segundo o evangelista João, Jesus resume assim a crise que vai se estabelecendo em seu grupo: “As palavras que vos falei são espírito e vida”. Jesus desperta um “espírito novo” naqueles que o seguem; suas palavras tem um peso e ativam vida; são palavras inspiradoras porque brotam do mais profundo do seu coração; são palavras provocativas, que colocam em questão o verdadeiro motivo daqueles que o seguem.

Por isso, elas despertam uma ressonância no interior dos ouvintes e desencadeiam um movimento de ruptura com o antigo, movendo-os a um distanciamento das “palavras domesticadas” pela tradição e pela religião. As palavras de vida pronunciadas por Jesus podem gerar um movimento capaz de orientar o mundo para uma vida mais digna e plena.

Um dos maiores dramas de nossa atual cultura é que temos esvaziado as palavras de sentido, e, com frequência, as utilizamos para expressar coisas totalmente diferentes e até opostas ao seu significado original. Chamamos liberdade o que na realidade é arbitrariedade e imposição; felicidade passou a significar consumo e vaidade; a qualidade de vida está ligada à quantidade de coisas; negócio passou a ser grosseira especulação e roubo; ordem estabelecida à dominação e à injustiça; diplomacia ao engano e à mentira; sinceridade à falta de respeito; amor à atração física, ou ao desejo de posse... Uma gravíssima desvalorização da palavra acaba se expressando na desvalorização da ética, da política, da vida. Há palavras que, de repente, se põem de moda entre nós, expressões felizes que por força da repetição acabam se esvaziando.

Os “comerciantes da morte” mataram as palavras, arrancaram dela o coração e as transformaram em meras máscaras ocas, em sons sem alma, com os quais pretendem nos seduzir, nos enganar e nos manipular. Não há pior escravidão que a mentira; ela oprime, tortura, impede sair de si mesmo para viver uma comunicação sadia com quem pensa, sente e ama diferente. Não há nada mais desprezível que a eloquência de uma pessoa que não diz a verdade. É preciso libertar a consciência dizendo sempre a verdade. É preferível perturbar com a verdade que agradar com adulações.

Vivemos hoje uma “crise gramatical”, ou seja, temos cada vez menos palavras. O leque de palavras carregadas de sentido é muito limitado. Daí a dificuldade de encontrar palavras para nomear a experiência de Deus, para expressar as grandes questões da vida, para dar sentido a uma busca existencial. Vivemos tempos de “fratura da palavra” e, portanto, “fratura de sentido”. E a raiz disso tudo está na carência de uma interioridade, lugar da gestão das palavras de sabedoria que inspiram nossa vida.

Vivemos cercados de “palavras vãs”, condenados a uma civilização que teme o silêncio (há demasiado ruído em nós e em torno a nós). Fala-se muito para dizer bem pouco. Jornais, revistas, tevê, outdoors, celular, whatsapp, internet, correio eletrônico... há demasiado palavrório. Carecemos de profundidade. Se, segundo o Gênesis, Deus fala e com sua Palavra cria, as palavras nos fazem sentir como “deuses”: com elas podemos fortalecer a vida ou asfixiá-la, expressar amor ou ódio, elevar o outro ou afundá-lo... Há palavras que são golpes, bofetadas; e palavras que são carícias, estímulos, abraços. Com as palavras podemos criar ou destruir, dar vida ou matar. A palavra pode se converter em insulto e condenação, mas também em canção ou poema que cultiva a sensibilidade e nos abre à beleza. “Tomem cuidado contra a murmuração inútil, e da maledicência preservai a língua. Não há palavra oculta que caia no vazio e a boca mentirosa mata a alma” (Sab 1,11).

No momento final do discurso no cap. 6, de João, Jesus busca aclarar as condições de pertença à sua nova comunidade: adesão a Ele e revestir-se de sua proposta de vida; deixar que Sua Palavra desperte palavras mobilizadoras em nosso íntimo, palavras abertas, oblativas e que apontem para o sentido de nossa própria existência. Mas, não basta estar em seu grupo para garantir a adesão ao modo livre de ser e viver de Jesus; há aqueles que resistem aceitar seu espírito e sua vida. Sua presença em torno a Jesus é fictícia, seu seguimento se restringe a um ritualismo vazio. A verdadeira crise no interior do cristianismo sempre é esta: cremos ou não cremos em Jesus? Somos seguidores(as) de uma Pessoa ou meros cumpridores de alguns ritos, normas, doutrinas… que nos fazem estéreis e esvaziam todo compromisso com os outros?

São muitos os que resistem aceitar o “espírito e vida” de Jesus. O narrador do Evangelho deste domingo nos diz que “muitos discípulos o abandonaram e não mais andavam com Ele”. É na crise que se revela quem de fato são os verdadeiros seguidores de Jesus. A opção decisiva é sempre esta: quem volta para trás e quem permanece com Ele, identificados com seu espírito e sua vida? Quem está a favor e quem está contra Seu projeto em favor da vida?

Para os despreparados (imediatistas) a crise representa estresse e colapso. Para os atentos (contemplativos), significa um trampolim para o aprendizado e para o novo. A crise provoca uma decisão que abre um novo caminho de crescimento e rasga um horizonte de possibilidades que vão moldando um novo estilo de vida. Não havendo decisão, protela-se a crise, e as forças positivas nela contidas nunca chegam a se manifestar. Crise é o momento crítico da decisão, onde algo é deixado para trás e se abre um patamar superior que possibilita uma nova forma de vida. Nos momentos de crise vive-se com especial intensidade o “kairós” (momento de graça), onde o essencial surge com mais clarividência. Tudo o que é acidental, periférico, perde sua consistência e validade. É chance de vida nova num outro nível e dentro de um horizonte mais aberto. Se compreendermos que a crise é o lugar generoso onde se prepara o amanhã, então teremos a oportunidade de amadurecer e de dar um salto para dentro de um horizonte mais rico de vida, humana e divina. Nesse sentido, a crise é oportunidade para despertar nossa humanidade; ela nos humaniza.

O grupo que seguia Jesus começa a diminuir, mas Ele não teme o fracasso, não se irrita e não pronuncia nenhum julgamento contra ninguém. Só faz uma pergunta aos que permanecem junto a Ele: “Vós também quereis ir embora?” Seguimento é questão de decisão pessoal, é exercício da liberdade. Esta é a pergunta que ressoa no interior de cada um de nós: Quê queremos? Por quê permanecemos? É para seguir a Jesus, acolhendo seu espírito e vivendo seu estilo? É para trabalhar em seu projeto? A resposta de Pedro é exemplar: “Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna”.

Os que permanecem o farão por Jesus. Só por Ele; comprometem-se com Ele. O único motivo para permanecer em seu grupo é Ele. Ninguém mais.

O messianismo triunfal fica definitivamente excluído. Jesus não busca glória humana ou divina, nem a promete aos que o seguem. Segui-lo significa renunciar toda ambição, e aceitar a entrega total de si mesmo em benefício dos outros.

Para meditar na oração:

Fazer memória das crises na vida pessoal: elas foram ocasião para uma mudança ou acomodação, movimento em direção do novo ou retraimento? Medo ou ousadia? Criatividade ou “normose”?

- Que implicações tem para sua vida o fato de ser seguidor(a) de Jesus? Faz diferença?...

A quem acudiremos

Quem se aproxima de Jesus com frequência tem a impressão de encontrar alguém estranhamente atual e mais presente aos nossos problemas de hoje do que muitos dos nossos contemporâneos.

Há gestos e palavras de Jesus que nos impactam ainda hoje porque tocam o nervo dos nossos problemas e preocupações mais vitais. São gestos e palavras que resistem à passagem dos tempos e à mudança de ideologias. Os séculos decorridos não atenuaram a força e a vida que encerram, por pouco que estejamos atentos e abramos sinceramente os nossos corações.

No entanto, ao longo de vinte séculos é muito o pó que inevitavelmente se foi acumulando sobre a sua pessoa, a sua atuação e a sua mensagem. Um cristianismo cheio de boas intenções e fervores veneráveis impediu por vezes a muitos cristãos simples encontrar-se com a frescura cheia de vida daquele que perdoava as prostitutas, abraçava as crianças, chorava com os amigos, contagiava esperança, e convidava as pessoas a viver com liberdade o amor dos filhos de Deus.

Quantos homens e mulheres tiveram de ouvir as dissertações de moralistas bem-intencionados e as exposições de pregadores instruídos sem conseguirem encontrar-se com ele.

Não nos devemos surpreender com a interpelação do escritor francês Jean Onimus: «Por que vais ser propriedade privada de pregadores, doutores e alguns eruditos, tu que disseste coisas tão simples, tão diretas, palavras que continuam sendo palavras de vida para todos os homens?».

Se muitos cristãos que se têm ido afastando estes anos da Igreja, conhecessem diretamente os Evangelhos, sentiriam de novo aquilo que um dia foi expresso por Pedro: «Senhor, a quem vamos recorrer? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos».

Uma nova proposta de seguimento de Jesus

Ana Maria Casarotti

O texto que a Liturgia nos oferece conclui o capítulo 6 do Evangelho de João que há vários domingos se lê e partilha.

Lembremos os diferentes acontecimentos narrados neste capítulo. Inicia-se com uma breve narrativa da passagem de Jesus para o outro lado do mar da Galileia, seguida da multiplicação dos pães e cinco peixes graças a um menino que partilha sua pobreza que é transformada em alimento para a multidão que estava ali. Logo após segue a caminhada de Jesus sobre o mar e o discurso sobre o pão da vida.

Ao longo deste capítulo não se pode esquecer que o Evangelho de João foi escrito no final do século I para cristãos maduros/as que eram capazes de ler além dos sinais a realidade que o Evangelho apresenta.

O texto deste domingo começa com um grupo de discípulos, assim nomeado pelo evangelista, que acha “dura esta linguagem”. As palavras ditas por Jesus são inaceitáveis, incompreensíveis e constituem um impedimento para continuar com Jesus: “Quem pode continuar ouvindo isso?”

Jesus tinha dito que era preciso comer sua carne e beber seu sangue para ter vida eterna! Ele oferece sua própria vida em favor dos outros. Ser discípulo de Jesus exige para o fiel a disponibilidade para dar sua própria vida em favor dos outros, a exemplo de Jesus. Esse é o verdadeiro seguimento de Jesus. O mistério da encarnação, início do caminho de doação do Filho, que culmina com sua morte e ressurreição, é difícil de ser aceito plenamente pelos primeiros cristãos provenientes tanto da tradição judaica como da grega.

Muitos conservam a ideia de um Messias Rei, e não querem seguir Jesus até a morte, entendida por eles como fracasso. Neste momento apresenta com muita liberdade o que significa ser seu discípulo! Jesus dirige-se a eles com palavras aparentemente mais duras ainda: “Isso escandaliza vocês? Imaginem então se vocês virem o Filho do Homem subir para o lugar onde estava antes!”.

Jesus faz referência a sua subida ao Céu, sua condição de ressuscitado da morte. Proclama assim que só o “Espírito é quem dá vida, a carne não serve para nada”!

A carne de Jesus comunica vida porque é uma vida eterna, a vida que não morre. Sem o Espírito, sem o dom da fé não é possível acreditar que a vida de Jesus e Jesus mesmo é a revelação do Pai e que somente nele temos vida eterna.

Aceitar a encarnação do Filho de Deus é acreditar que Deus se faz presente na fragilidade humana. Como convida Paulo a comunidade dos Filipenses: “Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmos. Que cada um procure não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Flp 2, 3- 5).

“A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus.”

A maior parte abandona Jesus, pois as palavras ditas por ele são intoleráveis. Comer sua carne, beber seu sangue, acreditar que ele é o enviado por Deus descido do céu, que ressuscitará aos que acreditam nele e ainda que ele é o verdadeiro pão de vida, é intolerável!

Comer Jesus é aceitá-lo totalmente, suas atitudes, suas ideias, seu ser enviado pelo Pai.

Neste momento Jesus disse aos Doze: “Vocês também querem ir embora?” Ninguém fica ao seu lado por obrigação. Jesus foi abandonado e aparentemente somente estão os Doze junto dele.

O que pensaria este grupo de pessoas, os Doze, que foram testemunhos da multidão que seguiu Jesus logo após a travessia do mar, depois foi à sua procura quando estava na sinagoga, esteve presente nas discussões com os judeus e fariseus e agora o abandona?

Hoje é possível encontrar situações similares no mundo que nos rodeia e na nossa sociedade contemporânea. Apresenta-se quantidade de justificativas para abandonar Jesus, para voltar a uma fé tranquila, que não comprometa muito, que seja somente cumprir com algumas obrigações. Uma fé que não seja tão exigente! Que não nos faça mudar tanto e deixar nossas convicções para acreditar naquilo inacessível à nossa fé mais segura e tranquila.

Possivelmente os discípulos acham-se um pouco confusos e Jesus dirige-se diretamente a eles. Ir embora? Pedro responde em nome do grupo: “A quem iremos, Senhor?” Sem Jesus, que podem fazer eles? Aonde ir?

Eles precisam de Jesus! É seu Mestre, somente ao seu lado ele acham a vida verdadeira.

Seguir Jesus agora será diferente: já não há mais uma multidão de pessoas que o seguem senão um pequeno grupo de pessoas frágeis, pobres, mas com uma grande fé na sua pessoa como enviado de Deus. E apesar disto no meio deles há um dentre eles que será um traidor!

Jesus pede-lhes fortaleza interior e fé na sua pessoa e a confiança de que eles foram escolhidos. A possibilidade de conhecer Jesus e estar junto dele é um presente de Deus e isso faz possível seu seguimento a partir deste momento.

Quando nos encontramos em momentos de crise, qual é nossa atitude diante de Deus? Qual a nossa profissão de fé?

Neste domingo somos convidados e convidadas a ser cada dia mais semelhantes a Jesus, entregando nossa vida em favor dos mais necessitados e carentes. Acolher a todos e todas, especialmente os mais pobres, para partilhar com eles nossos bens e a grande riqueza que nos foi dada: a fé em Jesus.

Oração

Lógica de Deus

Onde acaba a cidade

e começa o medo,

onde terminam os caminhos

e começam as perguntas,

perto dos pastores

e longe dos senhores,

no calor de Maria

e no frio do inverno,

vindo da eternidade

e gestando-se no tempo,

salvação poderosa para todos

atado a um edito do império,

rebaixado em um presépio de animais

aquele que a todos nos eleva até os céus,

nasceu o Filho do Pai,

Jesus, o filho de Maria.

Só abaixo está o senhor do mundo

que nós sonhamos no alto.

Aqui se vê a grandeza de Deus

contemplando a humildade deste pequenino

Aqui está a lógica de Deus,

rompendo o discurso dos sábios.

Aqui já está toda a salvação de Deus

que plenificará todos os povos e os séculos.

Benjamin González Buelta

(Salmos para sentir e saborear as coisas internamente)

“Tu tens palavras de vida eterna”

Tomaz Hughes



Reflexão João 6,60-69-


Aqui temos a conclusão do grande discurso sobre o Pão da Vida. Mais uma vez, O Evangelho de João deixa claro que diante de Jesus e das palavras d’Ele, o ouvinte tem que tomar uma decisão radical. Os versículos do nosso texto não escondem o fato que nem todos conseguem optar por Jesus.

As primeiras palavras de hoje, “depois de ter ouvido isso”, demonstram que a divisão nasceu a partir de algum ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo exato da discussão. As preocupações comunitárias dos versículos anteriores, a afirmação de Jesus de que Ele dá o seu corpo como pão da vida e o fato que o texto se dirige aos discípulos, indicam que provavelmente foi o discurso eucarístico a fonte de divisão. Porém, a afirmação de Jesus de que Ele “dá a vida” – o que causou já uma divisão em 5, 19-47, e a identificação da sua palavra reveladora com “o pão vindo do céu” na primeira parte do discurso, talvez tenham criado a controvérsia.

De qualquer maneira, é importante notar que a divisão não se dá entre “os judeus”, no sentido das autoridades judaicas, mas entre os próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Sem dúvida, essa história reflete a experiência da Comunidade do Discípulo Amado na década de 90, quando estava sentindo na pele as dores de divisão, pois muitos dos seus membros estavam abandonando-a (essa divisão é o pano do fundo das três Cartas Joaninas).

É muito interessante a reação de Jesus diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda o pé, mas com toda calma até convida os Doze para saírem, se não podem aceitar a sua Palavra. Jesus não se preocupa com números – mas com a fidelidade ao Pai. Talvez, até fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do seguimento da vontade do Pai.

Um exemplo importante para nós, pois muitas vezes caímos na tentação de julgar o êxito pelos números: igrejas cheias indicam sucesso! Mas, nem sempre é assim – é mais importante ser coerente com o Evangelho, custe o que custar, do que “fazer média” com a sociedade, às vezes através de uma pregação tão insossa, que reduz a religião a mero sentimentalismo, sem consequências sociais.

Devemos cuidar de não interpretar erradamente as palavras de Jesus em v. 63 quando diz que “É o Espírito que vivifica, a carne para nada serve”. Às vezes, usa-se essa frase (e outras de João) para justificar uma religião dualista, onde tudo que é “espírito” é bom e tudo que é material é do mal! Aqui, João não distingue duas partes do ser humano; mas, duas maneiras de viver!

A “carne” é a pessoa humana entregue a si mesma, incapaz de entender o sentido profundo das palavras e dos sinais de Jesus; o “espírito” é a força que ilumina as pessoas e abre os seus olhos para que possam entender a Palavra de Deus que se pronuncia em Jesus.

Diante do desafio de Jesus, Pedro resume a visão dos que percebem em Jesus algo mais do que um mero pregador. A quem iriam? Só Jesus tem as palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é moda na nossa sociedade – até entre muitos católicos praticantes – de correr atrás de tudo que é novidade: supostas aparições, videntes, esoterismo, religiões orientais, gnosticismo e tantas outras propostas, às vezes até esdrúxulas, enquanto se ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.

O texto nos convida a nos examinarmos, a verificarmos se estamos realmente buscando a verdade onde ela se encontra, ou se a deixamos de lado, achando – como a multidão no texto – que o seguimento de Jesus “é duro demais”! No meio de tantas propostas de vida, estamos convidados a reencontrarmos a fonte da verdadeira felicidade e da verdadeira vida, fazendo a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus “tem palavras de vida eterna”.

A opção difícil em Siquém

Thomas McGrath


Reflexão - Josué 24,1-2.15-18



O Livro de Josué abarca uma parte do séc. XII a.C., desde a época da entrada na Terra Prometida das tribos do Povo de Deus libertadas do Egito, até à morte de Josué. O livro oferece-nos uma visão muito simplificada da ocupação de Canana: as doze tribos, unidas sob a liderança de Josué, realizaram várias expedições militares fulgurantes e apoderaram-se, quase sem oposição, de todo o território anteriormente nas mãos dos cananeus...

Historicamente, contudo, as coisas não se passaram nem de forma tão fácil, nem de forma tão linear: é mais verosímil a versão apresentada no Livro dos Juízes e que fala de uma conquista lenta e difícil (cf. Jz 1), incompleta (cf. Jz 13,1-6; 17,12-16), que não foi obra de um povo unido à volta de um chefe único, mas de tribos que fizeram a guerra isoladamente.

O Livro de Josué, antes de ser um livro de história, é um livro de catequese. O objetivo dos autores que o escreveram era destacar o poder imenso de Javé, posto ao serviço do seu Povo: foi Deus (e não a capacidade militar das tribos) que, com os seus prodígios, ofereceu a Israel a Terra Prometida; ao Povo resta-lhe aceitar os dons de Deus e responder-Lhe com a fidelidade à Aliança e aos mandamentos.

O texto que nos é hoje proposto situa-nos na fase final da vida de Josué. Sentindo aproximar-se a morte, Josué teria reunido em Siquém (no centro do país) os líderes das diversas tribos do Povo de Deus e ter-lhes-ia proposto uma renovação do seu compromisso com Javé. De acordo com Jos 24,15, Josué teria colocado as coisas da seguinte forma: "escolhei hoje a quem quereis servir... porque eu e a minha casa serviremos o Senhor".

Estamos, portanto, em Siquém, com "todas as tribos de Israel" (vers. 1) reunidas à volta de Josué. Na interpelação que dirige às tribos, Josué começa por elencar alguns momentos capitais da história da salvação, mostrando ao Povo como Javé é um Deus em quem se pode confiar; as suas ações salvadoras e libertadoras em favor de Israel são uma prova mais do que suficiente do seu poder e da sua fidelidade (Jos 24,2-13).

Depois dessa introdução, Josué convida os representantes das tribos presentes a tirarem as devidas consequências e a fazerem a sua opção. É necessário escolher entre servir esse Senhor que libertou Israel da opressão, que o conduziu pelo deserto e que o introduziu na Terra Prometida, ou servir os outros deuses dos mesopotâmios. Josué e a sua família já optaram: eles escolheram servir Javé (vers. 15).

A resposta do Povo é a esperada. Todos manifestam a sua intenção de servir o Senhor, em resposta à sua ação libertadora e à sua proteção ao longo da caminhada pelo deserto (vers. 16-18). Israel compromete-se a renunciar a outros deuses e a fazer de Javé o seu Deus.

A aceitação de Javé como Deus de Israel é apresentada, não como uma obrigação imposta a um grupo de escravos, mas como uma opção livre, feita por pessoas que fizeram uma experiência de encontro com Deus e que sabem que é aí que está a sua realização e a sua felicidade. Depois de percorrer com Javé os caminhos da história, Israel constatou, sem margem para dúvidas, que só em Deus pode encontrar a liberdade e a vida em plenitude.

TEXTO EM ESPANHOL

De Dom Damian Nannini, Argentina.

DOMINGO XXI DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (Jos 24,1-2.15-17.18)

El texto de Jos 24, de claro tinte deuteronomista, nos presenta la fe como respuesta al don de Dios y como una elección de vida. En efecto, la tierra es presentada al mismo tiempo como un don de Dios y una conquista de Israel. Dios les ha dado la tierra prometida a los israelitas, los cuales, sostenidos por la fuerza del Señor, han tomado posesión de la misma. Dios les ha concedido el don y también la posibilidad real de poseerlo. Por su parte los israelitas acompañaron, con su fiel obediencia, la acción del Señor. Llegamos así al final de esta epopeya, cuando Josué, su líder, sucesor de Moisés e instrumento de Dios, convoca a todas las tribus de Israel a una asamblea en Siquém. Aquí los invita a tomar una importante decisión: ¿a quien van a servir/seguir, a los dioses de sus antepasados o al Señor? Además de presentarles claramente la opción que deben realizar, les brinda su testimonio personal: él y su familia servirán al Señor. Entonces los israelitas hacen memoria de todas las acciones del Señor en favor de ellos, comenzando por la liberación de Egipto, y se deciden a servir/seguir al Señor.

Evangelio (Jn 6,60-69):

La primera novedad del evangelio de hoy es el cambio de "auditorio": Jesús dialoga ahora con sus discípulos. Son los mismos que estuvieron presentes y activos en la narración de la multiplicación de los panes; y luego se hizo referencia a su traslado a la otra orilla donde tuvo lugar el discurso de Jesús sobre el pan de vida (6,22.24). Por tanto, han estado presentes durante todo el discurso de Jesús, pero permaneciendo en un segundo plano. Ahora el evangelio nos trae su reacción ante las palabras de Jesús: "¡Es duro este lenguaje! ¿Quién puede escucharlo?". "Duro" (sklērós σκληρός) tiene aquí el sentido de pesado, difícil de sobrellevar o aceptar. Es decir, las palabras de Jesús les resultan inaceptables; en concreto las rechazan, no adhieren a las mismas.

Jesús, por su parte, interpreta esta queja como una murmuración. Se trata de la misma actitud que condenaba en los judíos en este mismo capítulo (cfr. 6,41.43). Recordemos que la murmuración tiene como raíz el no entender el obrar de Dios. Es, en cierto sentido, lo opuesto a la fe como aceptación del misterio de Dios.

Jesús, además, se asombra de que se escandalicen de sus palabras. En el NT lo que escandaliza es algo contra lo que se choca y que provoca indignación o protesta, murmuración. En el contexto de estos versículos significa que las palabras de Jesús sobre comer su carne y beber su sangre son un obstáculo para su fe. No las pueden aceptar, se frenan, se bloquean. Por tanto, escandalizarse es la actitud contraria de creer-confiar-aceptar.

En 6,62 Jesús redobla la apuesta por cuanto afirma que todavía no han visto u oído todo, pues debe subir a dónde estaba antes, esto es, junto a Dios. Tal vez se clarifique el sentido de esta expresión si recordamos lo que Jesús decía a Nicodemo: "Si no creen cuando les hablo de las cosas de la tierra, ¿cómo creerán cuando les hable de las cosas del cielo? Nadie ha subido al cielo, sino el que descendió del cielo, el Hijo del hombre que está en el cielo. De la misma manera que Moisés levantó en alto la serpiente en el desierto, también es necesario que el Hijo del hombre sea levantado en alto, para que todos los que creen en él tengan Vida eterna" (Jn 3,12-15). Aquí hace alusión también a la dificultad de creer cuando Jesús habla de las cosas de Dios, del cielo; y a la subida al cielo del hijo del hombre, que viene luego identificada con su ser levantado en alto, o sea con su crucifixión.

Por tanto, Jesús les dice a sus discípulos que su pasión será un mayor motivo de escándalo que su discurso del pan de vida; que la realidad de su muerte en cruz por la salvación de los hombres será más difícil de aceptar que su actualización sacramental en la Eucaristía.

Siguiendo con el tema de la dificultad de creer que afecta a los discípulos, Jesús los invita a cambiar de perspectiva, de mirada, pues aquí está la raíz de la dificultad. En este contexto la expresión: "El espíritu es el que da vida; la carne no sirve para nada. Las palabras que les he dicho son espíritu y son vida" (6,63) significa que las palabras de Jesús no se pueden entender con la sola capacidad humana (la carne) sino sólo con el Espíritu. La revelación que trae Jesús es una vida que sólo se comprende desde el Espíritu, y sólo el Espíritu comunica esa vida. Algo semejante le decía ya Jesús a Nicodemo cuando no entendía el sentido de "nacer de nuevo": "Lo que nace de la carne es carne, lo que nace de Espíritu es espíritu" (Jn 3,6).

Los versículos siguientes (6,64-65) nos confirman esta interpretación pues Jesús, después de hacer referencia a la incredulidad de algunos de sus discípulos y a la traición de Judas, vuelve a insistir en que la fe es un don del Padre. Ya en 6,44 Jesús les había dicho a los judíos que "Nadie puede venir a mí, si no lo atrae el Padre que me envió"; por tanto, también en esto la actitud de los discípulos es equiparable a la de los judíos: se resisten a la atracción de Dios.

El desenlace de este diálogo es que muchos de sus discípulos dejaron de seguirlo. Literalmente dice que se volvieron atrás y ya no caminaban con él (v. 66).

En síntesis: muchos de los discípulos de Jesús han tenido al final la misma actitud que los judíos, sus anteriores interlocutores. En particular comparten con estos la murmuración y la falta de fe, la cual no han sabido recibir como don del Padre.

En 6,67 aparece identificado un nuevo grupo y auditorio: el de los doce. En el evangelio de Juan, fuera del capítulo 6, sólo en Jn 20,24 se utiliza este término para referirse a los seguidores más cercanos de Jesús; mientras que su uso es mucho más abundante y preciso en los sinópticos, por donde sabemos sus nombres y su condición de apóstoles. Lo cierto es que los “doce” son presentados como un grupo aparte de los discípulos; y a ellos en particular les dirige Jesús ahora su atención. Y lo hace de modo algo chocante, como si les leyera la expresión de sus rostros: "¿también ustedes quieren irse?".

Pedro asume el liderazgo del grupo y toma la palabra: "Señor, ¿a quién iremos? Tú tienes palabras de Vida eterna. Nosotros hemos creído y sabemos que eres el Santo de Dios" (6,68-69)

En primer lugar, Pedro demuestra que ha entendido el mensaje de Jesús pues reconoce que sus palabras son de vida eterna (ζωῆς αἰωνίου). Varias veces a lo largo del discurso Jesús ha hablado de la vida eterna y Pedro confiesa que sólo Jesús tiene palabras de vida eterna; por ello no hay otro a quien ir. Notemos que aquí la cuestión es ante todo seguir a alguien más que a unas ideas. Así, de modo indirecto, Pedro manifiesta la intención de los doce de seguir con Jesús. Más aún, según la siguiente expresión de Pedro, los doce han creído en Jesús y lo reconocen como el Santo de Dios. Estos verbos están en tiempo "perfecto" que en griego se utiliza para una acción del pasado que se continúa en el presente. Su traducción literal sería: “hemos creído y seguimos creyendo; hemos conocido y seguimos conociendo”. Recordemos, además, que el verbo conocer en Juan no se refiere tanto a un acto intelectual sino a una comunión de vida. Es decir, por la fe "han ido a Jesús" y por el conocimiento "han entrado en comunión con su divinidad". En efecto, la expresión "santo de Dios", única vez que aparece en Juan, significa que Jesús pertenece a la esfera o dimensión de lo divino pues santo es todo aquello que está consagrado a Dios.

Sobre la necesidad de creer para conocer puede iluminarnos el texto de Jn 10,37-38:

"Si no hago las obras de mi Padre, no me crean; pero si las hago, crean en las obras, aunque no me crean a mí. Así conocerán y sabrán que el Padre está en mí y yo en el Padre".

Y sobre la relación entre vida eterna y conocimiento-comunión con Dios Jn 17,3:

"Esta es la Vida eterna: que te conozcan a ti, el único Dios verdadero, y a tu Enviado, Jesucristo".

En conclusión: sólo este tercer grupo, el de los doce, ha respondido bien al signo y a la enseñanza posterior de Jesús. Han reconocido en las palabras de Jesús la revelación de la vida eterna que el Padre ofrece a todos los hombres; y la han aceptado, han creído que Jesús es el enviado del Padre para comunicar esta vida, que es el Santo de Dios.

MEDITACIÓN

Suele sernos de ayuda para apropiarnos del Evangelio el ejercicio de ponernos en el mismo lugar que sus personajes o protagonistas.

Entonces, si nos identificamos con los discípulos de Jesús, tenemos que reconocer que muchas veces se nos hace difícil creer, perseverar en la fe. Las palabras de Jesús nos resultan difíciles, en especial cuando queremos llevarlas a la vida concreta de cada día y van en contra del pensamiento de la mayoría. Son momentos difíciles, de angustia y tentación, en los cuales nos domina la rebeldía, caemos en la murmuración y queremos abandonar el seguimiento del Señor. Estas crisis sólo se superan con oración y paciencia, pidiendo mucho al Padre la gracia de la fe como atracción para poder seguirlo a Jesús siempre, aunque tantos “porqués” de la vida nos queden sin respuesta. Es el consejo que nos da San Agustín: "¿No te sientes aún atraído? Reza para ser atraído". Si logramos perseverar, después de la tormenta oscura nos vendrá una gran luz y mucha paz. Salimos fortalecidos y crecidos en la fe, pues hemos aprendido que la fe es una lucha constante. Lo explica también muy bien B. Forte[1]: "Creer no es ante todo asentir a una demostración clara y evidente o a un proyecto falto de incógnitas y conflictos: no se cree en algo que se pueda poseer y usar para la propia seguridad o placer. Creer es fiarse de Alguien, asentir a la llamada del Extraño que invita, poner la propia vida en manos de Otro, para que él sea el único y verdadero Señor. Según una sugestiva etimología medieval «creer» significaría «cor dare», entregar el corazón, ponerlo incondicionalmente en las manos de Otro: cree el que se deja aprisionar por el Dios invisible, el que acepta ser poseído por él en la escucha obediente y en la docilidad de lo más profundo del corazón. Fe es rendimiento, entrega, abandono, no posesión, garantía o seguridad. Creer, pues, no es evitar el escándalo, huir del riesgo, avanzar en la serena luminosidad del día: se cree no a pesar del escándalo y el riesgo, sino precisamente desafiados por ellos y en ellos; el que cree camina en la noche, peregrino hacia la luz".

Por otra parte, si nos identificamos con Pedro y los doce apóstoles, experimentaremos el triunfo de la fe por encima de toda duda. Aunque sigamos sin entender del todo, vemos claro que sólo Jesús tiene “palabras de Vida Eterna”, que Él y sólo Él puede darle un sentido trascendente y definitivo a nuestra vida. Vale decir que encontraremos en las palabras de Jesús la respuesta al hambre y a la sed de vida eterna que tenemos en nuestro su corazón. Posiblemente también como para ellos el mensaje de Jesús puede resultarnos "duro", en cierto modo incomprensible; pero nos dejaremos atraer por el Padre. El don de la fe va más allá de la comprensión, al punto que desemboca en el amor, en el abandono confiando en Dios. Es decir, la fe es un "ir hacia Jesús" atraídos por el Padre y, en este camino, la inteligencia debe rendirse ante el misterio. Entonces al creyente sólo le queda la fe confiada que lo mueve a continuar por el camino no tanto por lo que entiende, sino porque se siente amado y confía en que ese amor le dará lo que promete. Al respecto dice U. Hans von Baltasar[2]: "Creer es sólo amar, y nada puede y debe ser creído si no es el amor. Este es el peso, la «obra» de la fe: reconocer ese prius absoluto e insuperable. Creer es amar, amar absolutamente. Y esto como fin y sin que exista nada detrás".

Comentando la respuesta de Pedro dice el Papa Francisco: “nosotros comprendemos que la fidelidad a Dios es una cuestión de fidelidad a una persona, a la cual nos adherimos para recorrer juntos un mismo camino. Y esta persona es Jesús. Todo lo que tenemos en el mundo no sacia nuestra hambre de infinito. ¡Tenemos necesidad de Jesús, de estar con Él, de alimentarnos en su mesa, con sus palabras de vida eterna! Creer en Jesús significa hacer de Él el centro, el sentido de nuestra vida. Cristo no es un elemento accesorio: es el «pan vivo», el alimento indispensable. Adherirse a Él, en una verdadera relación de fe y de amor, no significa estar encadenados, sino ser profundamente libres, siempre en camino” (Ángelus domingo 23-8-2015).

Nos queda todavía mirar el texto desde la perspectiva de Jesús, vale decir en clave pastoral. No puede dejar de sorprendernos que Jesús no "afloje" ni "diluya" su mensaje ante la real posibilidad de ser abandonado por sus discípulos. Muestra una fidelidad a la Verdad insobornable, no negociable. Lo nota muy bien H. U. von Balthasar[3] al comentar este texto: "Jesús no solamente no retira nada de lo dicho, por lo que a los oyentes les parece «inaceptable» que se les someta a tan dura prueba, sino que confiere aún más peso específico a su declaración cuando se dirige a sus discípulos mediante la predicción de su ascensión al Padre y reivindica para todas sus palabras la cualidad de ser «espíritu y vida» […] Para Jesús no tiene importancia el número, y por eso sitúa especialmente a los doce ante la elección: ¿También vosotros queréis marcharos?".

Es patente en este texto que a Jesús parece no importarle el número, la cantidad, ya que el resultado de su predicación no es muy alentador: comenzó hablando a cinco mil hombres y se quedaron con él sólo doce. El tema es de gran actualidad y lo ilustra muy bien el P. Molinié[4]: "Es penoso para un apóstol no atraer a los hombres, si el Padre mismo no los atrae. Es tentador atraerlos por toda clase de medios, recurrir a algo distinto de la vida trinitaria. Dios no nos impide emplear tales medios, puesto que el mismo Jesús lo ha hecho; pero, incluso para él, era peligroso, queriendo los hombres quedarse siempre ahí. Un apóstol no tiene derecho a quedarse ahí. Es difícil, es difícil aceptar el no poder atraer a nadie de manera durable por otro incentivo distinto al de la vida divina. Para ser fiel a esta exigencia, nuestro primer deber es el de comprenderla bien, el no confundir lo natural y lo sobrenatural. En la carrera hacia el que seducirá mejor el corazón humano, lo sobrenatural parte con un hándicap terrible: no se ve, mientras que los valores naturales se ven, ellos se imponen a los sentidos y a la inteligencia".

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Nos abra el entendimiento

Señor,

¡Ten compasión de tu Pueblo!

Por ti al Padre del cielo

Pedimos envíe su Espíritu,

Nos abra el entendimiento.

Levantar el corazón

También se pide al servidor

Sin ese gesto bendito

No se recibe la Unción.

Para aceptar la Verdad

Hacernos niños es el modo,

Contemplar la belleza, lo sencillo

Ante ti, llenarnos de asombro.

Detrás quedarán los traidores

Los satisfechos de todo.

Mirarán de arriba hacia abajo

No elevarán los ojos.

La fe hoy, nos tiene en pie

A la sombra de la Cruz permanecemos

De allí nos vino la Vida

Comunidad y Sacramentos.

Señor, ¿a quién iremos?

Preguntaba el Apóstol, sin rodeos

Aprendió en tu compañía

A Saborear lo Eterno.

Y si a veces nos alejamos…

Otras tantas volvemos.

Llamados a la mesa del “Pan para todos”

Recibamos tu Sangre y tu Cuerpo. Amén.



[1] Breve introducción a la Fe (San Pablo; Madrid 1994) 16

[2] Cf. Solo el amor es digno de fe (Sígueme; Salamanca 1990) 93-94.

[3] Luz de la palabra. Comentario a las lecturas dominicales (Encuentro; Madrid 1998) 188

[4] El coraje de tener miedo. Variaciones sobre espiritualidad (San Pablo; Madrid 1979) 26.