PÃO DESCIDO DO CÉU

PÃO DESCIDO DO CÉU

19º DOMINGO COMUM-ANO B

08/08/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Reis 19,4-8

Salmo Responsorial 33(34)-R- Provai e vede quão suave é o Senhor!

2ª Leitura: Efésios 4,30-5,2

Evangelho de João 6, 41-51

Naquele tempo, 41-os judeus começaram a murmurar a respeito de Jesus, porque havia dito: “Eu sou o pão que desceu do céu”. 42- Eles comentavam: “Não é este Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então pode dizer que desceu do céu? 43-Jesus respondeu: “Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: `Todos serão discípulos de Deus.' Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim. 46Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. 47Em verdade, em verdade vos digo, quem crê, possui a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. 50Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. 51Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo'. Palavra da Salvação.


“Eu sou o pão que desceu do céu”. Essa afirmação de Jesus soa como um absurdo total. As pessoas que ouviam Jesus sabiam muito bem quem Ele era: “Este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos nós seu pai e sua mãe? Como pode, agora, dizer: Eu desci do céu?”.

Na realidade eles pensavam que conheciam Jesus. tendo de Jesus um conhecimento inicial correto julgam conhecer plenamente Jesus. Conhecem sua mãe e seu pai, ou seja, conhecem sua origem humana e, por isso, não conseguem aceitar ser ele o pão que desce do céu.

Jesus nunca responde à questão de sua origem limitando-se somente à sua origem humana. Ele é o enviado do Pai, está em Deus e dele desceu como pão do céu para a vida do homem. Assim, a verdadeira origem de Jesus, sem contradizer a sua origem humana, é o Pai.

Conciliar a origem humana com a verdadeira origem de Jesus só é possível com o dom da fé que Deus concede. Por isso, ninguém pode ir a Jesus se não for conduzido pelo Pai: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”.

O Pai não coage nem força as pessoas a ir até Jesus. A força de atração do Pai é um convite à decisão, é uma interpelação à liberdade das pessoas a ouvirem a sua voz por meio da Escritura. Atração significa, portanto, que Deus se revela na Escritura e é preciso se deixar ensinar por Ele. “Está escrito nos profetas: todos serão ensinados por Deus. Ora, todo aquele que ouviu o Pai e dele aprendeu, vem a mim”.

Os adversários de Jesus não ouvem a Deus nas Escrituras, por isso eles murmuram. Nesse sentido, murmurar é o indício mais claro de não querer acreditar em Jesus. Só quando há uma verdadeira abertura a ação atrativa do Pai, quando se deixar de murmurar, uma pessoa pode ser conduzida até Cristo. Assim o ensino de Deus se dá em dois níveis: um externo que é feito por Jesus e outro interior, que consiste na ação de Deus no coração dos ouvintes.

Correspondente a esses dois tipos de ensino corresponde a nossa atitude em relação a Jesus. Para receber a vida é preciso ir até Jesus e crer no que Ele ensina, e é preciso se alimentar do pão da vida. Fé e comunhão, crer e comer, aderir ao ensino de Jesus e se alimentar do Pão que é Jesus são os dois atos que nos fazem viver da vida de Deus.

O Pão que desce do céu dá a vida eterna, coisa que o maná não pode dar. É Jesus e não Moisés quem dá o pão do céu, pois o pão do céu não é o que alimenta para esta vida terrena, mas o que dá a vida eterna. É comendo do Pão do céu que podemos assimilar a vida plena de Jesus.



Saber Viver

José Antonio Pagola

Quantas vezes já o ouvimos: «O que verdadeiramente importa é saber viver». E, no entanto, não nos é nada fácil explicar o que realmente é «saber viver». Frequentemente, a nossa vida é demasiado rotineira e monótona. De cor cinzenta.

Mas há alturas em que a nossa existência se torna feliz, se transfigura, ainda de forma fugaz. Momentos em que o amor, a ternura, a convivência, a solidariedade, o trabalho criativo ou a festa adquirem uma intensidade diferente. Sentimo-nos viver. Do fundo do nosso ser dizemos a nós mesmos: «Isto é vida».

O Evangelho de hoje recorda-nos algumas palavras de Jesus que nos podem deixar um pouco perplexos: «Garanto-vos: aquele que acredita tem vida eterna». O termo «vida eterna» não significa simplesmente uma vida de duração ilimitada após a morte.

Trata-se, acima de tudo, de uma vida de profundidade e qualidade novas, uma vida que pertence ao mundo definitivo. Uma vida que não pode ser destruída por um bacilo, nem ficar truncada no cruzamento de qualquer estrada. Uma vida plena que vai para lá de nós mesmos, porque já é uma participação na própria vida de Deus.

A tarefa mais apaixonante que temos todos diante de nós é a de sermos cada dia mais humanos, e nós cristãos acreditamos que a forma mais autêntica de viver humanamente é a que nasce de uma adesão total a Jesus Cristo. «Ser cristão significa ser homem, não um tipo de homem, mas sim o homem que Cristo cria em nós» (Dietrich Bonhoeffer).

Talvez tenhamos de começar por acreditar que a nossa vida pode ser mais plena e profunda, mais livre e alegre. Talvez tenhamos de nos atrever a viver o amor com mais radicalidade para descobrir um pouco o que é «ter uma vida abundante». Um texto cristão atreve-se a dizer: «Sabemos que passamos da morte à vida quando amamos os nossos irmãos» (1 João 3,14).

Mas não se trata de amar porque nos disseram que amemos, mas porque nos sentimos radicalmente amados. E porque acreditamos cada vez com mais firmeza que «a nossa vida está oculta com Cristo em Deus». Há uma vida, uma plenitude, um dinamismo, uma liberdade, uma ternura que «o mundo não pode dar». Só o descobre quem consegue enraizar a sua vida a Jesus Cristo.

Fomes e sedes que plenificam a vida

Adroaldo Palaoro

Continuamos com o tema do domingo passado: Jesus é “pão”, sua vida é alimento, é comunhão que nós partilhamos e oferecemos, uns aos outros, sendo, dessa forma, Eucaristia. Este evangelho da comunhão, segundo o livro de João, começou em Cafarnaum, onde Jesus se definiu como Eucaristia, pão partido e partilhado, comunicação de Vida, junto ao mar da Galileia.

Como seres humanos somos marcados por profundas carências, fomes e sedes que nos mobilizam a nos deslocar e a ativar o impulso da busca. O decisivo é ter fome de Vida que Jesus nos oferece: buscar, a partir do mais profundo, encontrar-nos com Ele, abrir-nos à sua verdade para que nos marque com seu Espírito e potencie o melhor que há em nós. Deixar que Ele ilumine e transforme as dimensões de nossa vida que ainda estão sem evangelizar.

Então, alimentar-nos de Jesus é voltar ao mais genuíno, ao mais simples e mais autêntico de seu Evangelho; interiorizar suas atitudes mais básicas e essenciais; acender em nós o impulso por viver como Ele; despertar nossa consciência de discípulos(as) e seguidores(as) para fazer d’Ele o centro de nossa vida. Sem cristãos que se alimentem da Vida de Jesus, a Igreja se definha sem remédio.

Com isto, Jesus está dizendo que o procedimento para dar vida em plenitude, o que se costuma dizer “vida eterna”, é o caminho da “descida”, do despojamento de toda grandeza e privilégio, o caminho trilhado e vulgar dos mortais, onde se perde o poder e se ganha credibilidade, não pela condição social a que pertence, mas pela autenticidade de sua vida.

O comer e o beber são símbolos incrivelmente profundos daquilo que devemos fazer com a pessoa de Jesus. É preciso nos identificar com Ele, temos de fazer nossa sua própria Vida, temos de “mastigá-lo”, digeri-lo, assimilá-lo, apropriar-nos de sua substância. Esta é a raiz da mensagem do evangelho. Sua Vida passa a ser nossa própria Vida. Só desta forma faremos nossa a mesma Vida de Deus. Se comungamos e não nos identificamos com o que é Cristo, produzirá indigestão.

Partir, repartir e compartilhar são três verbos relacionados com a palavra “parte”. O termo “parte” indica que o todo não está concentrado em um só lugar, em uma só mão. A palavra “parte” orienta para a pluralidade. Os três verbos supõem uma ação que uma mesma pessoa pode realizar, mas com matizes diferentes. Partir é tomar um todo e fazê-lo em pedaços. Repartir é tomar os pedaços e distribuí-los aos outros, sem maiores implicações no ato de distribuir. Compartilhar, no entanto, supõe que a pessoa que parte e reparte, desfruta conjuntamente com as outras pessoas do bem repartido.

Se a primeira ação, partir, pode tornar-se um gesto egoísta, o momento do repartir pode ser um gesto indiferente ou generoso. O que está claro é que o terceiro momento, o compartilhar, é um gesto de fraternidade, de respeito para com os outros, um gesto de amor e proximidade. Compartilhar é algo mais que estar juntos, pois se pode estar juntos sem estar unidos ou com sentimentos opostos. Compartilhar é ter uma só alma e um só coração e, como consequência, viver na alegria de ter tudo em comum, de forma que a ninguém lhe falte o necessário. Quando o pão se reparte, todos comem. E quando o pão é compartilhado, além de todos comerem, vive-se na alegria, ativada pela mesa onde é ativada este gesto oblativo.

Este tríplice gesto foi realizado por Jesus na cena da multiplicação dos pães e peixes; Ele tomou os pães, deu graças, partiu-os, repartiu-os e compartilhou-os com todos. Juntos comeram festivamente os mesmos pães e os mesmos peixes. Neste gesto de partir, repartir e compartilhar o pão, Jesus estava apontando para uma realidade muito mais profunda e vital, pois no pão era o mesmo Jesus que se partia, se repartia e finalmente se entregava aos seus, compartilhando sua própria vida e unindo sua vida com a de seus seguidores (as). Jesus não compartilha só o que tem, não compartilha só pão; Jesus se entrega a si mesmo, compartilhando sua vida para ativar a vida atrofiada em muitas pessoas. Aqui revela-se o pleno sentido desta forte expressão de Jesus: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente”.

Só vidas compartilhadas são capazes de despertar um movimento vital, onde aquilo que é mais nobre e humano, que está escondido no mais profundo de cada um, se visibiliza em gestos de proximidade, acolhida, serviço..., reforçando os vínculos e a comum união entre todos, independentes de pertencer ou não a uma determinada expressão religiosa. Vidas compartilhadas que conectam vidas diferentes, possibilitam a realização do sonho do Pai: a unidade na diversidade.

Aqui está o gesto que revela a verdadeira identidade dos(as) seguidores(as) de Jesus; é impossível ir mais além do compartilhar.

Temos esvaziado o sentido profundo da Eucaristia, esquecendo-nos de que é, sobretudo, sacramento (sinal) do amor e da entrega aos outros, compartilhando os próprios dons, recursos internos, sonhos... A finalidade da eucaristia não é tanto consagrar um pedaço de pão e um pouco de vinho, mas de tornar sagrado (consagrar) todo ser humano, identificando-o com o mesmo Jesus, para que se parta, se reparta e se entregue no serviço e no compromisso em favor da vida. Sem compromisso com a vida, a Eucaristia torna-se estéril, um gesto piedoso desencarnado, longe d’Aquele que partiu, repartiu e compartilhou sua Vida em favor de todos. “E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (v. 51).

Esta é a verdade radical do Evangelho: lendo e aplicando aos cristãos aquilo que Jesus diz de si mesmo, porque Ele é Eucaristia e porque compartilhamos sua vida, somos mobilizados a fazer-nos comunhão de vida, pois todos somos “pão de eucaristia”. Eucaristia que desperta outras fomes e outras sedes.

Que um homem como Jesus se faça “eucaristia” (e mobilize a todos para ser eucaristia, pão compartilhado): essa é a revelação central do evangelho de João. Em sua dimensão humana, cada ser humano que se entrega a outro ser humano como “pão”, é princípio de vida eterna. Dessa forma, a mensagem de Jesus (discurso do Pão da Vida) apresenta-se como o programa mais completo de vida. Frente à economia neoliberal do livre mercado e do triunfo dos interesses egoístas, à custa dos demais, Jesus revela o programa da vida que se faz “pão” para ser compartilhado.

Aplicando aos cristãos aquilo que Ele diz de si mesmo, Jesus insiste na exigência de “fazer-se pão”, isto é, de converter não só as riquezas, mas a vida mesma, em alimento (capital) para os pobres. O verdadeiro “capital” não é o “dinheiro externo” (manipulado pelos grandes bancos). O verdadeiro capital é o ser humano que se faz pão-capital para os outros.

O grande pecado é o “deus Mamon” (capital divinizado). Frente a esse pecado está a revelação da verdade de Deus: que homens e mulheres sejam (se façam) pão, uns para os outros, na doação e na partilha. Sem um novo Capital Humano (sem a conversão do ser humano em pão para os outros), esta humanidade não terá saída. Só podem ser cristãos de verdade aqueles que acolhem e seguem as palavras e gestos de Jesus neste evangelho: que se façam pães uns para os outros.

O único pão que sacia a um ser humano e lhe dá vida (palavra, amor, esperança) é outro ser humano, seja na expressão de pai ou de filho, de filha ou de mãe, de irmão ou irmã, de esposo ou de esposa, de amigo ou de amiga... Em suas diversas formas de expressão de encontro, acolhida, fraternidade, diálogo..., um ser humano é “pão” para outro ser humano.

Para meditar na oração:.

É no mais íntimo que experienciamos o verdadeiro encontro com Aquele que se fez pão de vida e vinho de salvação. É no mais profundo de nossa interioridade que escutamos ressoar sua voz, nos inspirando a ser pão para os outros.

- Eucaristia e compromisso com os últimos e excluídos: você consegue fazer esta conexão, toda vez que se aproxima do altar?

- A Eucaristia tem sido momento privilegiado para despertar em você outras fomes e sedes? De quê você tem fome e sede?

- O que é que nutre sua verdadeira identidade de filho(a) de Deus e irmão(ã) de Jesus?

JESUS É O PÃO DA VIDA

Carlos Mesters

Mercedes Lopes

Francisco Orofino

Quem se abre para Deus aceita Jesus e sua proposta

O fragmento do evangelho de João (Jo 6,41-51) é continuação do Discurso do Pão da Vida que começamos a refletir na última semana. Por meio desse discurso, Jesus procura abrir os olhos do povo para ele descobrir o rumo certo que deve tomar na vida. Dá olhos novos para ler os fatos e ver melhor as necessidades. Acompanhe!

COMENTANDO

JOÃO 6, 41-51: 4º Diálogo – Quem se abre para Deus aceita Jesus e a sua proposta

A conversa se torna mais exigente. Agora são os judeus, os líderes do povo, que murmuram: “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como é que ele pode dizer que desceu do céu?” Eles pensam conhecer as coisas de Deus.

Na realidade, não é nada disso. Se fossem realmente abertos e fiéis a Deus, sentiriam dentro de si o impulso de Deus atraindo-os para Jesus e reconheceriam que Jesus vem de Deus (Jo 6,45).

Na celebração da Páscoa, os judeus lembravam o pão do deserto. Jesus os ajuda a dar um passo. Quem celebra a Páscoa lembrando só o pão que os pais comeram no passado, vai acabar morrendo como todos eles!

O verdadeiro sentido da Páscoa não é lembrar o maná que caiu do céu, mas sim aceitar Jesus como Pão da Vida e seguir pelo caminho que ele ensinou. Não é comer a carne do cordeiro pascal, mas sim comer a carne de Jesus, que desceu do céu para a vida do mundo!

ALARGANDO

O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-58)

Este longo discurso feito na sinagoga de Cafarnaum está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo. Vale a pena ler todo este capítulo de Êxodo, percebendo as dificuldades que o povo teve que enfrentar na sua caminhada, para podermos compreender os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do Evangelho de João. Quando Jesus fala de “um alimento que perece” (Jo 6,27), ele está lembrando Ex 16,20. Da mesma forma, quando os judeus “murmuram” (Jo 6,41), fazem a mesma coisa que os israelitas no deserto, quando duvidam da presença de Deus junto com eles durante a travessia. A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse que Deus estivesse com eles, de que Deus fosse Javé, resmungando e murmurando contra Deus e contra Moisés. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6,42).

Texto extraído do livro “RAIO-X DA VIDA: Círculos Bíblicos do Evangelho de João. Coleção A Palavra na Vida 147/148. Autores: . Mais informações vendas@cebi.org.br.

“Quem come deste pão viverá para sempre”

Tomaz Hughes

Neste texto nos encontramos no meio do discurso de Jesus sobre o “Pão da Vida”. O gancho que João usa para pendurar o discurso é o pedido dos judeus em v. 35: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Em resposta Jesus começa o seu grande discurso.

Divide-se em duas partes. Na primeira parte (vv. 35-50), que inclui o texto de hoje, o pão celestial que nos nutre é a revelação ou o ensinamento de Jesus (o tema sapiencial); na segunda parte (vv. 51-58) será a eucaristia (tema sacramental). O redator da comunidade joanina combinou “o pão do céu” com o material eucarístico da Última Ceia e assim formou a segunda parte do discurso como texto paralelo à primeira. Isso explica a ausência de um relato da instituição da Eucaristia nos textos da Ceia em João – pois o seu conteúdo básico foi colocado aqui.

Como os seus antepassados murmuravam no deserto contra o pão que Deus mandava – o maná – agora eles se queixam do novo maná. Aqui logo aparece uma característica do João – a ironia. Os judeus (aqui se entende as autoridades judaicas e não o povo judeu) dizem que conhecem a origem de Jesus, pois só pensam na sua família de origem; Jesus mostra que na verdade não a conhecem, pois eles não viram o Pai, a sua verdadeira origem. Aqui também aparece em v. 47 mais uma característica joanina – a “escatologia realizada”. Enquanto para os Sinóticos o juízo é algo que acontece no último dia, para João, frequentemente, já aconteceu, pois a pessoa é salva ou condenada já, pela sua aceitação ou não de Jesus como o Filho de Deus.

Aqui, de novo, João nos dá o que talvez seja uma variante das palavras da instituição da Eucaristia:

“O pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (v. 51).

João enfatiza que o Verbo Divino se tornou carne e tem entregado a sua carne como alimento da vida eterna.

O texto não é fácil, pois é extraído de um discurso muito mais comprido e que forma uma unidade. Mas, está ligado em cap. 6 à multiplicação dos pães – a participação eucarística no Corpo e Sangue de Jesus exige uma vivência de partilha e solidariedade. Esse tema é caro a João e é retomado na sua Primeira Carta.

1 Rs 19,4-8 – Reflexão*

Thomas McGrath

SITUANDO

Elias, o mais famoso dos profetas, aquele que apareceu junto com Moises no momento da transfiguração de Jesus, representando os profetas todos do Antigo Testamento. Elias atuava 800 anos antes do tempo de Jesus numa época em que a fé do povo de Javé tinha que concorrer com os deuses estrangeiros (os Baal).

Num episódio dramático, Elias chegou a desafiar os profetas de Baal para um duelo religioso que terminou com um massacre de quatrocentos profetas de Baal no monte Carmelo (cf. 1 Re 18). O acontecimento é símbolo da briga constante entre o Povo que tenta ficar fiel a Deus e os que abrem o coração às influências culturais e religiosas de outras ideologias – dinheiro, bens, vida egoísta.

Após o massacre Acab e a sua esposa, Jezabel, juraram matar Elias; e o profeta fugiu para o sul, a fim de salvar sua vida. Escondeu no deserto, onde acontece o episódio da nossa leitura de hoje.

A cena nos apresenta um Elias abatido, deprimido e solitário diante da incompreensão do povo dele e da perseguição dos grandes. Ele sente que falhou, que a sua missão está condenada ao fracasso e que a sua luta o conduziu a um beco sem saída; sente medo e está prestes a desistir de tudo... Ele pede a morte (vers. 4) que reflete o seu profundo desânimo, desilusão, angústia e desespero. É uma cena que retrata a sua fragilidade e finitude.

No entanto, Deus não está longe e não abandona o seu profeta. O anjo do Senhor oferece a Elias "um pão assado nas pedras e uma jarra de água " (vers. 6). O profeta não está perdido, e nem abandonado por Deus, mesmo quando é incompreendido e perseguido pelos homens. Deus está sempre presente – é nós que não o enxergamos -, dando o alimento e o alento para ser fiel a missão. Deus não anula a missão do Elias, e nem elimina os seus perseguidores; mas Deus dá ao profeta a força e a energia para continuar a sua caminhada.

O versículo 8 diz: Elias se levantou, comeu e bebeu, e a comida lhe deu força bastante para andar quarenta dias e quarenta noites até o Sinai, o monte sagrado. A referência aos "quarenta dias e quarenta noites" alude ao tempo de Moisés na montanha sagrada (cf. Ex 24,18), onde se encontrou com Deus e onde recebeu de Javé as tábuas da Lei. Também acorda na memória do Povo que passou quarenta anos no deserto, até alcançar a Terra Prometida. No caso de Elias a viagem de quarenta dias e quarenta noites até o Horeb - o monte da Aliança - é um regresso às fontes, uma peregrinação às origens de Israel como Povo de Deus. Para redescobrir o sentido da vida o Elias vai até o Horeb/Sinai a fim de revitalizar a sua fé e reencontrar o sentido da sua missão como profeta de Javé, e defensor da Aliança que Deus fez com seu Povo também no Horeb/Sinai.

ATUALIZANDO

• Essa fotografia de Elias, sentado no chão, debaixo de uma arvore, e pedindo a morte é de um homem vencido pelo medo e pela angústia, marcado pela decepção e pelo desânimo, que experimentou dramaticamente a sua incapacidade de mudar o coração do seu Povo e que, por isso, desistiu da luta. A sua desilusão é de tal forma grande, que ele prefere morrer a ter de continuar. "Este" Elias representa a fragilidade e debilidade que está sempre presente em toda experiência profética. Todos nós conhecemos bem essa fotografia. Como responder a um quadro deste tipo? Como encarar esta experiência de fragilidade e de debilidade? A solução será baixar os braços e abandonar a luta? Quem pode nos ajudar a enfrentar o drama da desilusão e da decepção?

• O texto de hoje nos garante que Deus não abandona aqueles que ele chama a dar testemunho profético. O "pão assado nas pedras” e “na jarra de água” representa um Deus da bondade e do amor, cheio de solicitude para com os seus filhos, que anima os seus profetas, lhes dando a força necessária para testemunhar, independente das dificuldades e do desânimo. Com a fome aumentando diariamente; com a perspectiva de trabalho e salário decente desaparecendo do horizonte; com o povo esquecendo que as UTIs são cheios de novo, a tendência pode ser querer desistir. Mas é em Deus que devemos confiar e é n’Ele que temos de colocar a nossa segurança e a nossa esperança.

• Uma coisa é certa: Javé, o Deus de Elias, não resolve magicamente os problemas para nós, enquanto nós ficamos, de braços cruzados, a olhar para o céu. Também Ele não nos substitui. Deus "apenas" alimenta o profeta, lhe dando a coragem para continuar. O nosso Deus não nos substitui, não ocupa o nosso lugar; mas está ao nosso lado sempre que precisamos d'Ele, dando-nos a força para vencer as dificuldades e nos indicando o caminho a seguir.

• Como o Elias voltou ao Horeb/Sinai, para reencontrar as suas origens, e para recarregar as baterias humanas e espirituais, nós também precisamos parar para refletir, como se fosse fazer um tipo de "retiro", para reencontrar com Deus, e redescobrir a nós mesmos. O mês da Bíblia é um destes momentos. Este ano (mês de setembro), comemorando 50 anos do Mês da Bíblia, vamos parar, ler e refletir juntos a Carta aos Gálatas. Pode ser em grupos pequenos ou maiores. Já que precisamos evitar aglomerações, podemos usar as redes sociais – “lives” -, mas fazendo muito esforço para parar e ler a Carta de Paulo – é para sermos livres que Jesus nos libertou.

*Baseada na reflexão Dehoniano “19 domingo do Tempo Comum”

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina.

DOMINGO XIX DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (1Re 19,1-8)

Leyendo estos versículos en relación con el capítulo anterior nos encontramos realmente con ‘un episodio sorprendente’. El victorioso y valiente profeta huye lleno de temor ante la amenaza de Jezabel como un perdedor y cobarde. Por eso debemos preguntarnos: ¿qué es lo que este texto de 1Re 19 busca comunicar? O también, ¿cuál es el propósito de esta narración? La respuesta la encontramos en el mismo texto, teniendo en cuenta que la narración está estructurada en dos escenas: vv. 4-8 y vv. 9-18.

El v. 4 nos presenta el estado de ánimo de Elías: “Basta ya, Señor, toma mi vida...”. Claramente ha tocado fondo. Esta crisis del profeta tiene varios paralelos en la tradición bíblica como Nm 11,14-15; Tb 3,6; Jon 4,3.8; Job 7,15; 2Cor 1,8-9 y especialmente Jer 15,10-11. El objetivo de esta crisis podría ser el purificar a Elías de cierto sesgo de vanidad o de excesiva confianza en sí mismo como consecuencia de una victoria tan rutilante como la descripta en el capítulo anterior. Esta crisis provoca en el profeta una fuerte toma de conciencia de su fragilidad humana, tal como lo expresa en su exclamación: "no soy mejor que mis padres"[1].

En esta situación de abatimiento le llega la consolación divina por medio de un ángel (vv. 5-6). Junto a la restauración de las fuerzas físicas, Elías recibe una iluminación, recupera el sentido del caminar y se dirige hacia el lugar de la segunda escena: “el monte de Dios, el Horeb” (vv. 7-8). Este ir al encuentro de Dios supone para Elías salir de su mayor abatimiento y redescubrir el sentido profundo de su estar ante el Señor, fuente de su identidad como profeta.

Evangelio (Jn 6,41-51):

El evangelio del domingo pasado terminó con una fuerte afirmación de Jesús: "Yo soy el pan de vida. El que venga a mí, no tendrá hambre, y el que crea en mí, no tendrá nunca sed" (Jn 6,35). Siguen unos versículos (Jn 6,36-40), que no se leen hoy, y dónde Jesús declara que la voluntad del Padre es que todos vayan a Él por la fe para tener vida, para que Él los resucite en el último día.

El texto de hoy comienza con la reacción de los judíos ante estas afirmaciones de Jesús, que es la murmuración (γογγύζω). Esta misma reacción la encontramos con frecuencia en los relatos del camino de Israel por el desierto hacia la tierra prometida. Allí repetidas veces el pueblo murmura (verbo hebreo lûn) contra Dios y contra Moisés (cf. Ex 15,24; 16,2.7; 17,3; Nm 14,2.27.29.36…). ¿Cuál es la raíz de la murmuración en estos textos? En la base común hay un esquema mental en el cual se piensa que, en la dificultad, Dios es insuficiente. En el fondo se está reduciendo a Dios al nivel humano y, por esto, es principio de idolatría. Lo contrario de la murmuración es la fe en cuanto aceptación y confianza en Dios (cf. Nm 14,11), y en cuanto escuchar su voz, o sea, obedecer (cf. Nm 14,22).

En Jn 6,41 la murmuración es la reacción de los judíos ante Jesús que se presenta como nuevo y verdadero maná, como pan bajado del cielo; y la raíz de esta actitud es la misma en ambos testamentos: no entender ni creer en el obrar de Dios.

Por tanto, Jesús les pide fe, creer, ir hacia Él y confiar en Él, aceptarlo. Los judíos se resisten a ello, murmuran, se escandalizan porque viendo su humanidad y conociendo su origen natural, sus padres, no aceptan que pueda decir que "ha bajado del cielo".

A continuación, y como muy bien escribe L. Rivas[2], "Jesús les responde que la dificultad que ellos experimentan para "venir a Él", que es lo mismo que "creer en Él", se resuelve si se comprende que la fe requiere una acción previa de Dios. Para poder "venir" es necesario "ser atraído" (v. 44; ver v. 65), como se muestra por el texto profético (v.45)". Justamente, a partir del texto de Isaías 54,13 Jesús deduce la necesidad de escuchar y aprender del Padre. Ahora bien, como se precisa a continuación, el ver al Padre es una exclusividad de Jesús, quien lo ha visto porque ha venido de Dios. Esta afirmación ya había aparecido en el prólogo del evangelio presentando a Jesús, por su condición de Hijo, como el auténtico "revelador" del Padre: "A Dios nadie le ha visto jamás: el Hijo Unigénito, que está en el seno del Padre, él lo ha contado" (Jn 1,18).

Luego Jesús vuelve a repetir lo que se obtiene por la fe: la vida eterna. Resaltamos que el verbo creer está en participio presente (el que está creyendo) y el verbo tener en presente (tiene). Por tanto, la fe nos hace partícipes, ya desde ahora, de la vida eterna.

En los versículos 48-50 Jesús insiste en la diferencia esencial entre el maná que comieron los padres en el desierto y su persona como Pan de Vida. El maná, aún siendo un alimento que bajó del cielo, esto es de Dios, no evitó que los israelitas murieran. En cambio, Jesús se presenta, se ofrece, como el Pan bajado del cielo que da vida eterna, que hace que quien se alimente de Él no muera.

En el versículo final de esta perícopa (v. 51) se repite la afirmación del comienzo (v. 41): "Yo soy el pan vivo bajado del cielo", con el añadido de "vivo" (ὁ ἄρτος ὁ ζῶν). De este modo los símbolos del pan y la vida aparecen más íntimamente unidos. Porque es Pan vivo, viviente, puede dar Vida.

La segunda parte del versículo refuerza esta idea e introduce un nuevo elemento: "el que coma de este pan vivirá eternamente, y el pan que yo daré es mi carne para (ὑπὲρ) la Vida del mundo". Lo nuevo es que Jesús identifica el pan que dará con su propia carne para (hyper) la vida del mundo. La preposición hyper en Juan tiene el sentido, no sólo de para o por, sino de en favor de, o en lugar de, como en el caso del Buen Pastor que da la vida por sus ovejas (Jn 10,11.15) o cuando el sumo sacerdote Caifás profetizó, sin quererlo, que Jesús iba a morir por toda la nación (Jn 11,50-52); o cuando Pedro quiere dar su vida por Jesús (13,37.38); o cuando Jesús dijo que no hay mayor amor que dar la vida por los amigos (15,13). Vale decir que, si unimos este sentido de donación “por” o “en favor de” que tiene hyper con la expresión carne (σάρξ indica la condición terrenal y mortal de Jesús), tenemos una clara alusión a la entrega sacrificial de Cristo por la vida del mundo (τοῦ κόσμου ζωῆς). Así, en lo que sigue del discurso – y que veremos el próximo domingo – la carne reemplaza al pan y, de este modo, se acentúa la dimensión sacrificial y eucarística de la entrega de Jesús.

ALGUNAS REFLEXIONES:

Uno de los temas claves de este domingo es la FE, que en el evangelio de San Juan - y en su capítulo sexto - tiene rasgos y acentuaciones propias que conviene precisar.

En 6,29 Jesús les respondió a los judíos diciéndoles que "la obra de Dios es que ustedes crean en aquel que él ha enviado". La Fe es presentada entonces como "obra de Dios"; pero al mismo tiempo como "obra del hombre" que quiere sintonizar con el "obrar de Dios". Estos dos aspectos esenciales de la fe aparecen en el texto de hoy. Así, ya en Jn 6,35 la Fe del hombre se identifica con un "ir a Cristo" quien invita a todos a "venir a mí". Ahora bien, esta "ida a Cristo" fue precedida por la "venida de Dios en su Hijo" como Pan de Vida que ha bajado del cielo. Por tanto, hay una venida o acercamiento de Dios a los hombres en Cristo (la Fe como don) que implica una invitación de los hombres a "ir a Jesús" (Fe como respuesta, como tarea).

Por otra parte, en Jn 6,44 se afirma que para poder "ir a Jesús" es necesario ser "atraído por el Padre". No hay dudas de que en San Juan se acentúa especialmente la acción de Dios en el proceso de la fe. Pero esta acentuación no niega la responsabilidad del hombre, que no puede excusarse de su incredulidad diciendo que no ha recibido el don de la Fe. Justamente en Jn 6,45 ("todo el que escucha al Padre y aprende, viene a mí") se especifica que la "atracción o tracción" que ejerce el Padre no es física, sino moral; es decir, lo hace a través de la enseñanza, de las Palabras y los Signos de Jesús. La escucha es un acto libre del hombre que se ubica ante Dios en condición de discípulo (utiliza el verbo manzanō, aprender, de donde deriva mazētēs, discípulo). Es decir, la escucha, la actitud discipular, es la condición previa para ser atraídos por el Padre, para ir a Jesús creyendo[3].

Agreguemos a esto que en el evangelio de San Juan la libertad del hombre se manifiesta ante todo en la capacidad de rechazar a Dios, de resistir a su atracción. Por ello, la incredulidad o falta de fe es culpable (cf. Jn 3,18-21; 5,40; 8,44; 12,43).

En último término, en el evangelio de Juan la opción fundamental del hombre ante Dios es una libre elección entre permanecer centrado en sí mismo, en sus propios intereses, en la búsqueda de la gloria personal, en fin, en las tinieblas; o abrirse a Dios, a su amor manifestado en Cristo, al don de la vida nueva y eterna, en fin, a la luz. Esta segunda actitud es la que permite ser atraído por el Padre y hace que la fe como don se complemente con la fe como opción de vida, como tarea.

Llegados a este punto es importante recuperar una mirada contemplativa de todo el proceso de Fe donde es marcado el protagonismo de Dios. En efecto, el Padre nos da a su Hijo como Pan de Vida. El Padre también nos atrae hacia Jesús. Jesús se nos ofrece a sí mismo, su carne para la vida del mundo; y nos invita a ir hacia Él para tener vida eterna, para vencer la muerte. En síntesis, la Persona de Jesús es Don del Padre para nosotros, para que vivamos. Y la Fe, o sea el recibirlo, el ir al encuentro de Jesús-Pan es posible por la atracción interior del Padre a la que NO hay que resistir, sino libremente acompañar.

¡Cómo no llenarse de estupor, de admiración, ante tanta "preocupación" de Dios Padre y de Jesús por el hombre, por todos y cada uno de nosotros! ¡Nadie parece estar más interesado en que creamos y vivamos que Dios mismo!

Lo importante es que la fe sea auténtica, tal como la describe el Papa Francisco: «una fe que no nos pone en crisis es una fe en crisis; una fe que no nos hace crecer es una fe que debe crecer; una fe que no nos interroga es una fe sobre la cual debemos preguntarnos; una fe que no nos anima es una fe que debe ser animada; una fe que no nos conmueve es una fe que debe ser sacudida» (Audiencia en ocasión de felicitaciones navideñas a la Curia romana, 21 de diciembre de 2017).

¿Y qué nos aporta la fe? La fe abre nuestra vida a un horizonte mayor; tener fe es como poder sacar la cabeza fuera del submarino dónde pasamos un tiempo; la fe es salir a la luz del día después de estar encerrados en una habitación oscura; tener fe es como ver un cielo azul y claro después de muchos días nublados y sin sol. La fe nos invita a superar los límites propios de lo humano. La fe nos abre a un hermoso camino de amistad con Jesús, quien nos toma de su mano y nos conduce por la vida ayudándonos a superar las pruebas y oscuridades que nunca faltan. La fe nos permite encontrarle sentido a lo que vivimos día a día. La fe permite que Jesús entre en nuestro corazón y lo libere del egoísmo. Es muy cierto lo que dice el Papa Francisco: “La alegría del Evangelio llena el corazón y la vida entera de los que se encuentran con Jesús. Quienes se dejan salvar por Él son liberados del pecado, de la tristeza, del vacío interior, del aislamiento. Con Jesucristo siempre nace y renace la alegría” (EG 1).

La fe es luz, es calor, es esperanza, es una mirada nueva para ver la vida con otros ojos, descubriendo todo lo bueno y hermoso que Dios ha sembrado en el mundo.

La fe es también como una roca sobre la podemos pararnos y permanecer firmes en los momentos de dificultad, cuando parece que todo se nos viene abajo y se derrumban muchas certezas. La fe nos permite apoyarnos en lo que permanece para siempre, en lo eterno y definitivo, que es el amor de Dios.

Pienso que de esto nos habla el evangelio de hoy: de una fe que consiste, principalmente pero no exclusivamente, en aceptar el Don de Dios, en dejarse amar por Él sin ponerle nuestros límites ni medirlo con nuestra escala de méritos. De una fe que es escuchar y obedecer al Padre, aceptando confiadamente lo que no vemos ni entendemos, lo que nos supera infinitamente, como es su Amor. En el fondo se trata de ‘dejar a Dios ser Dios’.

En conclusión, “la fe es ante todo un don que se recibe y su maduración es un camino para recorrer. Sin embargo, antes de todo esto se debe reafirmar que «No se comienza a ser cristiano por una decisión ética o una gran idea, sino por el encuentro con un acontecimiento, con una Persona, que da un nuevo horizonte a la vida y, con ello, una orientación decisiva» (DC 1; EG 7). A partir de este encuentro se configura una experiencia que transforma la existencia, orientándola de forma dialógica y responsable. Al crecer, cada joven se da cuenta que la vida es más grande que él, que no controla todo de su existencia; se da cuenta que él es lo que es gracias al cuidado que otros le reservaron, en primera instancia sus padres; se convence que, para vivir bien su historia debe hacerse responsable de los demás, reproduciendo aquellas actitudes de cuidado y de servicio que lo han hecho crecer” (Instrumentum laboris del Sínodo de los jóvenes, 82).

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

MURMURABAN…

Señor,

Escuchamos sus murmullos

Ellos dicen conocerte…

Les pides, como hace tiempo:

-No murmuren entre ustedes.

Te rogamos ahora:

Al Padre Eterno, nos muestres

Oír queremos, su enseñanza

Amor que nunca dice basta.

Tráenos recuerdos

Del hambre verdadero

Para buscar saciarlo contigo,

Pan bajado del Cielo.

Sobre el altar arde la Zarza

La Carne de Dios,

Para la vida del mundo

Nuestro Amor, fe y esperanza. Amén.



[1] Cf. J. Helewa, "El profeta Elías", 54.

[2] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2006) 227.

[3] Comenta san Agustín: “¿Y qué significa ser atraídos por el Padre, sino aprender del Padre? ¿Y qué significa aprender del Padre, sino escuchar al Padre? ¿Y qué significa escuchar al Padre, sino escuchar al Verbo del Padre, que soy yo?... Podrías objetar: Si no hemos visto nunca al Padre, ¿cómo hemos podido acoger su enseñanza? Os respondo:… Yo conozco al Padre, vengo de él, pero como viene la Palabra de aquel a quien pertenece; no como una palabra que suena y pasa, sino como la Palabra que permanece en quien la pronuncia y que atrae a quien la escucha”, In Iohannem 26, 9: PL 35, 1610