OVELHAS SEM PASTOR

OVELHAS SEM PASTOR

16º DOMINGO COMUM -ANO B

18/07/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Jeremias 23,1-6

Salmo Responsorial 22(23)R-O Senhor é o pastor que me conduz: felicidade e todo bem hão de seguir-me.

2ª Leitura: Efésios 2,13-18

Evangelho: Marcos 6,30-34

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. – Palavra da salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

Meu irmão, minha irmã!

O Evangelho de hoje é continuação do Evangelho do domingo passado, quando Jesus os enviou dois a dois, na mais absoluta pobreza, para anunciar o Evangelho, para expulsar os demônios e para curar os doentes.

O Evangelho de hoje narra o retorno dos discípulos da missão dada por Jesus. Os apóstolos prestam contas de suas atividades. Eles narram o que ensinaram e o que eles fizeram. Eles estão cansados, fatigados, porque a missão foi exigente, e Jesus os convida à solidão e ao descanso.

Mas mesmo num lugar deserto as multidões seguem Jesus e os apóstolos. As multidões estão cansadas também. Mas é uma canseira diferente da canseira dos apóstolos: os apóstolos estão cansados pela exigência da missão. As multidões estão cansadas porque não encontram guias autênticos e verdadeiros, porque já foram muito enganadas por falsos mestres, porque já foram muito exploradas por aproveitadores. Por isso, Jesus e os discípulos adiam o descanso para depois, para poderem dar descanso às multidões; ou seja, para guiarem as multidões pelos caminhos certos da vida, para ensinar o Evangelho, para cuidar da salvação das multidões


Ensinamento com a marcada compaixão



“Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão (...)

começou a ensinar-lhes muitas coisas”.

Os discípulos regressaram da missão à qual Jesus os tinha enviado e Herodes acabara de assassinar João Batista. Jesus se retirou para descansar com os discípulos, do outro lado do lago. Precisavam tomar distância, conversar juntos e de maneira tranquila sobre esse momento dramático, em um espaço sossegado, mais íntimo e profundo, sem a urgência permanente que a pressão do povo introduzia em suas vidas e não tendo tempo nem para comer. Não eram pessoas das cidades importantes que procuravam Jesus. Diz o texto de Marcos que saíram “de todos os povoados” e foram “correndo”, com pressa, com expectativa e esperança, ansiosas para encontrar-se com Ele.

Ao ver a multidão, Jesus se comoveu até as entranhas, porque “andava como ovelhas sem pastor” com fome, oprimida pelos impostos, desconcertada diante do presente e com medo difuso diante do futuro ameaçador e inseguro. E Ele começou a ensinar-lhes longamente, muitas coisas, de tal maneira que as horas foram passando sem se darem conta.

Jesus não só transmite um ensinamento, senão que cria uma relação nova com o povo e de uns com outros, segundo o espírito do Reino. Todos somos feitos para nos encontrar com um Tu inesgotável, que ilumine nossa existência e nos transforme inteiramente, de tal maneira que sejamos capazes de estabelecer relações novas com nossa própria história pessoal, com os outros e com toda a criação.

O ensinamento de Jesus revela-se, antes de tudo, como um encontro inspirador que o move a se aproximar de todas as pessoas, revelando-lhes a dignidade infinita que cada uma carrega dentro de si. Trata-se de um encontro que não vem envolvido em roupagens exóticas nem em rituais frios; sua grandeza se expressa numa proximidade tão simples e humana, onde a interação de sentimentos e afetos engrandece a todos. Nesse sentido, o novo ensinamento de Jesus tem a marca da “compaixão”.

Um dos sintomas de desumanização, que está revelando seu triste rosto no contexto atual, é o fato de deixar-nos de vibrar com o que os outros vivem, viver como alheios uns dos outros, blindar-nos uns frente aos outros..., ou seja, incapacitar-nos para a compaixão. A compaixão está cada vez mais ausente da esfera pública e de nossas relações com o outro diferente e com o outro distante que sofre. Aqui está a chave da incapacidade de nossa sociedade para responder aos desafios atuais. Vivemos num contexto social onde somos ameaçados por uma forma sutil de “a-patia”. Aqui a compaixão se quebra com excessiva facilidade, se atrofia e se transforma em “sem-paixão”. Com isso, nos nossas relações se desumanizam.

Rezem juntos e riam em comum

Jose Antonio Pagola

A cena está cheia de ternura. Chegam os discípulos cansados do trabalho realizado. A atividade é tão intensa que já não «conseguiam arranjar tempo para comer». E então Jesus faz-lhes este convite: «Venham para um lugar tranquilo descansar».

Hoje nós cristãos esquecemos com demasiada frequência que um grupo de seguidores de Jesus não é apenas uma comunidade de oração, reflexão e trabalho, mas também uma comunidade de descanso e fruição.

Nem sempre foi assim. O texto que se segue não é de nenhum teólogo progressista. Foi escrito lá pelo século IV por aquele grande bispo pouco suspeito de frivolidades que foi Agostinho de Hipona.

«Um grupo de cristãos é um grupo de pessoas que rezam juntas, mas também conversam juntas. Riem-se em comum e trocam favores. Estão a brincar juntos, e juntos estão a falar a sério. Por vezes discordam, mas sem animosidade, como às vezes se está consigo mesmo, usando esse desacordo para reforçar sempre o acordo habitual.

Aprendem algo uns com os outros ou ensinam uns aos outros. Sentem falta, com pena, dos ausentes. Acolhem com alegria os que chegam. Fazem manifestações deste ou daquele tipo: faíscas do coração dos que se amam, expressas no rosto, na linguagem, nos olhos, em mil gestos de ternura».

Talvez o que mais nos surpreende hoje neste texto seja aquela faceta de cristãos que sabem rezar, mas também sabem rir. Sabem como estar sérios e sabem brincar. A igreja atual quase sempre parece grave e solene. Parece que como cristãos temos medo do riso, como se o riso fosse um sinal de frivolidade ou irresponsabilidade.

Há, no entanto, um humor e um saber rir que é um sinal de maturidade e sabedoria. É o sorriso do crente que sabe relativizar o que é relativo, sem necessidade de dramatizar os problemas.

É um sorriso que nasce da confiança última desse Deus que nos olha a todos com piedade e ternura. Um sorriso que se distende, liberta e dá força para continuar a caminhar. Este sorriso une. Os que riem juntos não se atacam nem se magoam, porque o riso verdadeiramente humano nasce de um coração que sabe compreender e amar.

Reflexões de Frei Carlos Mesters.


* Marcos 6,30-32. O acolhimento dado aos discípulos.

“Os apóstolos se reuniram com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Havia aí tanta gente que chegava e saía, a tal ponto que Jesus e os discípulos não tinham tempo nem para comer. Então Jesus disse para eles: Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês descansem um pouco" Estes versículos mostram como Jesus formava seus discípulos. Ele se preocupava não só com o conteúdo da pregação, mas também com o descanso. Levou-os a um lugar mais tranquilo para poder descansar e fazer uma revisão.

* Marcos 6,33-34. O acolhimento dado ao povo.

O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, e eles foram atrás dele procurando alcançá-lo andando por terra até o outro lado. “Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles”. Ao ver aquela multidão, Jesus ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Ele esqueceu o descanso e começou a ensinar. Ao perceber o povo sem pastor, Jesus começou a ser pastor. Começou a ensinar. Como diz o Salmo: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta! “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois junto a mim estás; teu bastão e teu cajado me deixam tranquilo. Diante de mim preparas a mesa, à frente dos meus opressores” (Sl 23,1.3-5).” Jesus queria descansar junto com os discípulos, mas o desejo de atender à necessidade do povo levou-o a deixar de lado o descanso.

*Alargando

A Imagem do Pastor na Bíblia

Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecemos a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica aos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por responsabilidade dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).

Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: “O Senhor é meu pastor e nada me falta” (Sl 23,1-6; Gn 48,15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor para guiar o seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Oxalá, ouvísseis hoje a sua voz!” (Sl 95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o seu povo (Jr 3,15; 23,4).

Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubaram o povo ontem e o seguem roubando. Ele se apresenta também como o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos, isto é, os justos dos injustos (Mt 25,31-46). Jesus realiza a esperança do profeta Zacarias. Ele diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: “Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão” (Zc 13,7).


Reflexão - Thomas McGrath


Jer 23 23, 1-6 –


AMBIENTE

Jeremias, nascido em Anatot 650 a.C., exerceu a sua missão profética antes e durante o Cativeiro da Babilonia – 627 até 580 a.C., no Sul da Palestina, sobretudo, na cidade de Jerusalém.

É um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Jeremias critica as injustiças sociais e a infidelidade religiosa, traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas, que só traziam desgraças. Ele está convencido de que o povo dele já ultrapassou todos os limites e que a invasão babilónica é a consequência da infidelidade e dos erros do Povo de Deus.

O texto que nos é hoje proposto como primeira leitura faz referência a esses tempos de desnorte nacional, em que Judá, sem líderes capazes, já perdeu as referências e a esperança no futuro. No texto, Deus condena os "pastores" de Israel porque dispersaram as ovelhas do rebanho, o que parece aludir ao exílio na Babilónia.

MENSAGEM

O trecho começa com uma breve exposição da culpa: os "pastores" de Judá perderam, dispersaram, escorraçaram as ovelhas do Senhor, sem terem cuidado delas (vers. 1-2a). Cada um dos verbos utilizados faz referência a fatos recentes. Interesses pessoais, jogadas políticas, e a falta de consciência dos líderes civis e religiosos trouxeram consequências desastrosas para Povo, o "rebanho" de Deus.

Os líderes não procuraram servir o Povo, mas serviram-se do Povo para concretizar os seus objetivos pessoais. Ora, o "rebanho" não é propriedade dos "pastores", mas do Senhor... Deus chamou-os a uma missão concreta, encarregou-os de cuidar do seu "rebanho" e eles, depois de terem aceite o compromisso, falharam totalmente.

Depois da culpa, vem a sentença: Deus vai pedir explicações das suas más ações (v. 2). Deus não está disposto a tolerar abusos de confiança, nem pode pactuar com líderes que exploram o "rebanho" em seu benefício próprio. Na perspectiva de Deus, trata-se de algo intolerável e que não pode ser deixado em claro.

Mas a intervenção de Deus não fica só pelo pedir contas aos maus líderes... O próprio Javé vai intervir, no sentido de salvar o seu "rebanho". A intervenção de Deus vai desenvolver-se em três tempos, ou momentos...

O primeiro é a repatriação dos exilados: as ovelhas serão devolvidas "às suas pastagens para que cresçam e se multipliquem" (vers. 3). Para esta tarefa, Deus não conta com intermediários: Ele mesmo vai liderar o processo de libertação e de regresso dos exilados à terra.

O segundo momento da intervenção de Deus consiste na escolha de "pastores" exemplares (v4). A missão desses "pastores" será, simplesmente, "apascentar, que implica, cuidar com cuidado, solicitude, amor e ternura... Esses pastores estarão ao serviço do rebanho e não usarão o rebanho para concretizar os seus interesses pessoais. As "ovelhas" aprenderão a confiar nesse "pastor" que as ama e não terão mais "medo nem sobressalto".

O terceiro momento da intervenção de Deus é projetado para um futuro sem data marcada. Promete a chegada de um "rebento justo" da família de David (V.5). A imagem tirada do reino vegetal ("rebento") sugere fecundidade e vida em abundância, porque ele dará vida em abundância ao rebanho de Javé. Ele assegurará "o direito e a justiça" e trará salvação e segurança ao Povo de Deus. O nome desse rei será "o Senhor é a nossa justiça" (vers. 6), pois é Deus que o legitima e a sua missão será administrar a justiça que Deus quer. Garantindo a justiça, esse "pastor" irá trazer a harmonia, a paz, a tranquilidade, a salvação, a vida verdadeira ao Povo de Deus. Esta promessa anula a frustração e o desespero e inaugurar um tempo de esperança para o Povo de Deus. O tempo do Bom Pastor dos Evangelhos, Jesus de Nazaré.

Dehonianos, 16 Domingo do Tempo Comum, Ano B

TEXTO EM ESPANHOL

De Dom Damian Nannini, Argentina


DOMINGO XVI DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera Lectura (Jer 23,1-6):

La mayoría de los estudiosos[1] data este oráculo en tiempos del último rey de la estirpe de David, Sedecías (597-587 a.C.), hijo de Josías, quien había sido colocado en el trono por Nabuconodosor, rey de Babilonia, después de rendición de Jerusalén y de la consiguiente primera deportación (597 a.C.). Sedecías se rebelará contra Nabuconodosor en el 588 a.C., a lo que seguirá el sitio y la destrucción de Jerusalén (587 a.C.).

El texto comienza con una denuncia contra los pastores (clase dirigente) que, al no cumplir con su deber propio, pierden y dispersan el rebaño (pueblo). Esto mismo lo había ya denunciado en Jer 10,21: "Porque los pastores se han vuelto necios y no han buscado al Señor: por eso no han obrado con acierto y se ha dispersado todo su rebaño". Sobre los pastores caerá, entonces, el juicio de Dios que los castigará por sus malas acciones, por no haber cuidado al rebaño confiado.

Pero esto no termina aquí, sino que, ante el fracaso de estos malos pastores, Dios anuncia que asumirá él mismo esta función y reunirá a las ovejas dispersas. Luego establecerá a buenos pastores que buscarán el bien del rebaño, por lo que no tendrán ya que temer.

Finalmente, a la reunificación del pueblo de Dios seguirá la refundación de la dinastía davídica; pero esta vez el descendiente de David será un rey prudente y justo que traerá el bienestar para su pueblo. Este oráculo, que se refiere a un futuro (posiblemente no inmediato), se ha interpretado como un oráculo mesiánico pues por medio del rey-ungido de Dios llegará la salvación para el pueblo. Ahora bien, más allá de la figura del Mesías futuro, es notorio el protagonismo de Dios quien promete la definitiva salvación de su pueblo.

Evangelio (Mc 6,30-34):

Para los comentaristas esta perícopa cierra la sección anterior del envío de los apóstoles que había quedado momentáneamente en suspenso por la narración del martirio de Juan Bautista (cf. Mc 6,17-29). Al mismo tiempo, tiene la función de introducir el relato de la multiplicación de los panes que sigue a continuación (cf. Mc 6,35-44).

Los apóstoles, enviados por Jesús en misión, vuelven a reunirse con él y le cuentan todo lo que hicieron y enseñaron. Entonces Jesús los invita a retirarse a un lugar desértico o solitario pues era tal el ir y venir de la gente que no los dejaban comer tranquilos. Notemos que la palabra «descansar» (ἀναπαύω) remite ya a la tarea del pastor puesto que, según Ez 34,14.15 y el Sal 23,2, es propio del pastor hacer reposar a sus ovejas en verdes praderas[2]. También notemos que dos veces, en 6,31.32, se señala que Jesús quiere que estén “ellos solos” (κατ᾽ ἰδίαν); por tanto, la intención de Jesús al apartarse de la multitud no es tanto la búsqueda de soledad individual sino de un espacio de comunión intensa con sus discípulos.

Suben a la barca y se dirigen a un lugar solitario, al desierto mismo (ἔρημος), pero una muchedumbre venida de "todas las ciudades corre" por tierra y llega antes que ellos. Marcos no da ninguna indicación precisa de dicho lugar retirado; en Lc 9,10 se dice que se trata de Betsaida. A nivel narrativo lo importante es que, por iniciativa del mismo Jesús, él y sus discípulos buscan alejarse de la gente que los requería, pero sin lograrlo pues al desembarcar se encuentran con una multitud presente allí.

Ahora se trata de ver cómo reacciona Jesús ante la gente luego del intento fallido de retirarse. El evangelio nos dice que "vio mucha gente y sintió compasión de ellos". El evangelista describe el sentimiento profundo que provoca en Jesús esta mirada sobre la multitud mediante el verbo splagjnízomai (σπλαγχνίζομαι), que indica una conmoción visceral, a nivel de las entrañas, de allí com-pasión. Este verbo se utiliza en los evangelios de modo particular para expresar la actitud compasiva y misericordiosa de Jesús ante el hombre que sufre o que está desorientado (cf. Mc 1,41; 8,2; 9,22; Mt 9,36; 14,14; 15,32; 20,34).

A continuación, se nos explica la causa o motivo de esta compasión: "porque estaban como ovejas que no tienen pastor". La imagen de las ovejas sin pastor es frecuente en el Antiguo Testamento (cf. Nm 27,17; 1Re 22,17; Ez 34,5), particularmente en el contexto de la acusación hecha a los pastores/autoridades de haber abandonado al rebaño/pueblo. Por tanto, como bien dice M. Navarro Puerto[3]: "La percepción de esta carencia por parte de Jesús suscita la sospecha sobre el ministerio de los pastores oficiales".

A la compasión, actitud más bien interior al sujeto, sigue la acción concreta para remediar la situación que la provoca: Jesús se pone a enseñarles muchas cosas. Esta última indicación nos precisa mejor en qué sentido la gente está como ovejas sin pastor: están desorientadas por falta de conocimiento, nadie las guía y preside por los auténticos caminos de Dios. Ya en el Antiguo Testamento los profetas denunciaban que la falta de conocimiento de Dios era la perdición del pueblo; cargando las tintas sobre los responsables de tal enseñanza como eran los sacerdotes de aquel tiempo: "Mi pueblo perece por falta de conocimiento. Porque tú has rechazado el conocimiento, yo te rechazaré de mi sacerdocio; porque has olvidado la instrucción de tu Dios, también yo me olvidaré de tus hijos" (Os 4,6). Junto a la denuncia está también la promesa de pastores auténticos que enseñan la verdad de Dios al pueblo. En esto Jesús cumple las profecías del Antiguo Testamento, entre ellas la de Jer 3,15: "Después les daré pastores según mi corazón, que los apacentarán con ciencia y prudencia".

Por esto Jesús asume el rol de buen pastor poniéndose a enseñar a la gente. En el evangelio de Marcos el enseñar es una actividad constante de Jesús como lo prueba el hecho de que de las 17 veces que aparece el verbo didaskein (enseñar), 15 se refieren a la actividad de Jesús. Lo llamativo es que no se especifica, salvo excepciones, el contenido de la enseñanza. Se dice que enseñaba por medio de parábolas (como las parábolas sobre el Reino de Dios de Mc 4); que enseñaba el camino del hijo del hombre hasta la cruz; y que la casa de su Padre – el templo- debe ser casa de oración. Tal vez lo más ilustrativo es cómo describen el contenido de la enseñanza de Jesús un grupo de fariseos y herodianos que van a verlo: "Maestro, sabemos que eres sincero y no tienes en cuenta la condición de las personas, porque no te fijas en la categoría de nadie, sino que enseñas con toda verdad (avlhqei,aj) el camino de Dios” (Mc 12,14). En esto último está la clave: enseña verdaderamente el camino de Dios, el modo correcto de vivir agradando a Dios. Este es entonces uno de los modos como Jesús ejerce la misión de pastor de su pueblo.

En síntesis, Jesús es presentado como el buen pastor anunciado en el Antiguo Testamento, tanto por procurar el descanso para sus apóstoles que regresan cansados de la misión como por su compasión ante la desorientación del pueblo a la que remedia con su enseñanza.

MEDITACIÓN:

Nuestra vida transcurre entre momentos de actividad y momentos de descanso; y no es nada fácil encontrar el equilibrio entre ambos. Justamente sobre esto nos invita a meditar, en primer lugar, Jesús el evangelio de hoy.

En efecto, vemos que Jesús les propone a los apóstoles pasar un tiempo de necesario descanso y reposo; un momento para compartir lo vivido por ellos en su primera experiencia misionera. Aunque luego no se pudo dar, es válida la intención de Jesús que reconoce la necesidad humana que todos tenemos de descansar, de orar, de contarle a Jesús cómo nos fue y cómo nos vamos sintiendo con la misión recibida. Esto es una necesidad verdadera y no podemos vivir sin estos momentos de descanso físico, psíquico y espiritual. Como bien nota F. Lentzen-Deis[4]: “La invitación para descansar significa no sólo la distensión necesaria del cuerpo y del espíritu, sino que permite superar el inútil activismo ininterrumpido que sólo aparentemente es una verdadera actividad. Jesús llama también a la asimilación interior del trabajo realizado al servicio del reino de Dios. Los Doce deben reactualizar las experiencias de la predicación y traerlas a la memoria para profundizar todas sus implicaciones y nuevos sentidos con la enseñanza futura de Jesús”.

Y hoy se hace más imperiosa esta necesidad, pues como dice el Papa Francisco en GE 29: “las constantes novedades de los recursos tecnológicos, el atractivo de los viajes, las innumerables ofertas para el consumo, a veces no dejan espacios vacíos donde resuene la voz de Dios. Todo se llena de palabras, de disfrutes epidérmicos y de ruidos con una velocidad siempre mayor. Allí no reina la alegría sino la insatisfacción de quien no sabe para qué vive. ¿Cómo no reconocer entonces que necesitamos detener esa carrera frenética para recuperar un espacio personal, a veces doloroso pero siempre fecundo, donde se entabla el diálogo sincero con Dios? En algún momento tendremos que percibir de frente la propia verdad, para dejarla invadir por el Señor… Así encontramos las grandes motivaciones que nos impulsan a vivir a fondo las propias tareas”.

En segundo lugar, miramos a Jesús para pedir la gracia de poder imitar sus actitudes, tan llenas de amor. En efecto, Jesús ve la necesidad de la gente, le duele que estén desorientados como ovejas sin pastor, y siente una profunda compasión por ellos y renuncia al legítimo descanso para dedicarse a enseñarles. ¿Y qué les enseña? Jesús les enseña a vivir como hijos de Dios y como hermanos; les enseña el sentido trascendente de la vida; les enseña a vivir lo cotidiano con Dios y según Dios.

Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 22 de julio de 2018: «Al desembarcar, vio mucha gente, sintió compasión de ellos, pues estaban como ovejas que no tienen pastor, y se puso a enseñarles muchas cosas» (v. 34). En esta breve frase, el evangelista nos ofrece un flash de especial intensidad, fotografiando los ojos del divino Maestro y su actitud. Observemos los tres verbos de este fotograma: ver, tener compasión, enseñar. Los podemos llamar los verbos del Pastor. La mirada de Jesús no es una mirada neutra, o peor, fría o alejada, porque Jesús mira siempre con los ojos del corazón. Y su corazón es tan tierno y está tan lleno de compasión, que sabe acoger las necesidades de las personas que permanecen incluso más escondidas. Además, su compasión no indica simplemente una reacción emotiva frente a una situación de malestar de la gente, sino que va más allá: es la actitud y la predisposición de Dios hacia el hombre y su historia. Jesús aparece como la preocupación y el cuidado de Dios por su pueblo.

Dado que Jesús se conmovió al ver a toda aquella gente necesitada de guía y de ayuda, podríamos esperar de Él que obrara algún milagro. Sin embargo, se puso a enseñarles muchas cosas. He aquí el primer pan que el Mesías ofrece a la multitud hambrienta y perdida: el pan de la Palabra. Todos nosotros tenemos necesidad de palabras de verdad que nos guíen y que iluminen nuestro camino. Sin la verdad, que es Cristo mismo, no es posible encontrar la orientación correcta en la vida.

Cuando nos alejamos de Jesús y de su amor, nos perdemos y la existencia se transforma en desilusión e insatisfacción. Con Jesús al lado, se puede proceder con seguridad, se pueden superar las pruebas, avanzar en el amor hacia Dios y hacia el prójimo. Jesús se hizo don para los demás, convirtiéndose así en modelo de amor y de servicio para cada uno de nosotros”.

De este corazón de buen pastor, lleno de misericordia o compasión, brota el anuncio de la Verdad de Dios como forma eminente de la Caridad de Dios. Lo expresa muy bien el Card. Vanhoye[5]: "Vemos en Marcos 6,34 que para Jesús la enseñanza, es decir, la comunicación de la palabra de Dios, es un acto de misericordia y de amor […] Jesús enseña porque se ha conmovido viendo la situación de la gente. El verbo en griego habla de las vísceras y corresponde a lo que nosotros llamamos el corazón. Este aspecto afectivo se afirma de Jesús, como surgente de su actividad de enseñanza, de comunicación de la palabra de Dios. Entonces, no se puede comunicar la palabra de Dios sino en unión con el corazón, con la compasión de Jesús, con su misericordia sacerdotal. Cuando al final del evangelio Jesús dice: “Vayan y hagan discípulos a todas las naciones… enseñándoles”, llama a sus apóstoles – y también a los presbíteros actuales – a comunicar la palabra de Dios con el corazón y no solamente con los labios. Lo que se comunica sólo con los labios no es una verdadera comunicación, no puede producir fruto. La unión con el corazón de Jesús es indispensable para poder enseñar la palabra de Dios".

Pidamos al Señor tener su misma mirada para ver la necesidad de la gente, sus carencias; tener su mismo sentimiento de compasión, que nos duela adentro esta necesidad. Y, al igual que Jesús, que estos sentimientos se traduzcan en acciones concretas, en renuncia a la propia comodidad para entregarse a paliar o subsanar la situación de carencia de la gente.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Comparto mi tiempo contigo…

Señor Jesús, amigo paciente

Con tiempo de sobra para entender la ignorancia

Los vacíos interiores, los dolores

Para enjugar las lágrimas.

El cansancio se hace sentir

Y nos invitas a ir contigo a ese lugar tranquilo

Donde la agitación se calma

Para entrar en tu reposo.

Miramos a la multitud con tus ojos

Y nos vemos también entre ellos

Sedientos de ti, con las manos extendidas

Esperando como todos.

Tu compasión divina nos sorprende…

¡Dios! ¡Estás en medio de nosotros!

Es ahora el momento propicio

Enséñanos tu modo. Amén.



[1] Cf. A. Weiser, Geremia Capitoli 1-25,14 (Paideia; Brescia 1987) 366-367.

[2] Cf. Fritzleo Lentzen-Deis, Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 205.

[3] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 243.

[4] Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 206-207.

[5] Conferencia dictada en el Colegio Sacerdotal Argentino de Roma el 14 de febrero de 2007 (tr. G. Söding).