O QUE É SERVIR?-25º TC-B

O QUE É SERVIR?

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO B

19/09/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Sabedoria 2,12.17-20

Salmo Responsorial 53(54)R- É o Senhor quem sustenta minha vida!

2ª Leitura: Tiago 3,16-4,3

Evangelho Marcos 9,30-37

Naquele tempo: 30Jesus e seus discípulos atravessavam a Galiléia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: 'O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará'. 32Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: 'O que discutíeis pelo caminho?' 34Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 35Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: 'Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!' 36Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: 37'Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou'. Palavra da Salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

No domingo passado, o Evangelho nos falou da cruz como marca e identidade do cristão: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (8,34-35). Como podemos notar a cruz reclama a ressurreição (perder a vida para salvá-la). vivendo e enfrentando o sofrimento e a morte como Jesus, podemos ter esperança fundada de que viveremos com Ele.

No Evangelho de hoje, porém, Jesus aumenta mais a dureza de sua linguagem a tal ponto que parece muito difícil entendê-lo e segui-lo. A cruz não é somente o sofrimento e a morte que se abatem sobre nós, mas é um estilo de vida que nós devemos escolher. A cruz e o sofrimento não é somente um acontecimento, são uma escolha de vida de quem vive no serviço e no dom total de si mesmo aos outros.

Jesus está atravessando a Galileia e diz aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Eles, porém, compreendiam o que Jesus lhes falava e ainda tinham medo de interrogá-lo. É como que a mente deles estivesse focada somente no desejo das ambições terrenas.

Jesus instrui os discípulos ao longo do caminho sobre a essência da missão evangelizadora, mas eles não compreender e, ainda por cima, tem medo de perguntar: como se já intuíssem a resposta que não queriam ouvir.

Eles chegam a Cafarnaum. E quando chegam em casa, Jesus pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?” Como resposta Jesus recebeu um silêncio envergonhado, pois eles tinham discutido quem era o maior dentre eles. A discussão devia ter sido muito animada, mas, no momento de dar a resposta, a animação se transforma em silêncio e desconforto. Mais uma vez, mais do que entenderem claramente, os discípulos parecem intuir obscuramente a “mancada que eles deram”. Bastou a pergunta de Jesus, para os discípulos perceberem obscuramente o quanto estavam longe do ensinamento e da vida do Mestre.

Perguntando, Jesus faz aparecer a soberba dos discípulos que consiste em querer o degrau mais alto na estima dos outros. E isso que vemos em Cafarnaum, vemos repetir hoje em nossas comunidades e grupos.

Na casa de Cafarnaum, Jesus surpreendeu os discípulos com a sua pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?” Ele tinha ensinado ao longo de todo o caminho “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão”. E agora, com a pergunta, os discípulos caem na conta da distância que havia entre o que eles deviam aprender de Jesus e o que eles realmente viviam: ambição pelo primeiro lugar, soberba pessoal, competição com os outros, desejo de ser servido pelos inferiores.

O que discutíeis pelo caminho?”, continua Jesus a perguntar a nós. Qual é o seu desejo? O que você quer de coração? O que você procura realmente?

De novo a pergunta de Jesus nos desmascara e “nos pega de calças curtas”. Provavelmente sentimos com a mesma vergonha de quem é surpreendido com desejos e pensamentos inconfessáveis.

Jesus, porém, continua a ensinar. Ele desvia a atenção dos discípulos para fora do seu “ego” com gestos bem concretos. Em vez de fazer um discurso teórico, ele dá concretude ao seu ensinamento com gestos muito reais.

Pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’. Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!

Prestemos atenção. O ensino de Jesus é concreto (pega a criança, coloca-a n meio deles, abraça-a), não é teórico nem abstrato. Ele põe a criança no centro; o centro não sou eu mesmo; o ego não está no centro, mas a criança. A atitude de Jesus é o de acolhida (abraça a criança) e não de julgamento e de condenação. Ele pede aos discípulos atenção, concentração (por isso Jesus sentou-se e chamou os doze) e que evitem a distração e a agitação.

Jesus não condena que busquemos a excelência, mas finaliza essa busca pela excelência, a orienta e lhe dá uma nova finalidade: ser perfeito como o Pai é perfeito; ser misericordioso como o Pai e misericordioso; se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!


Uma criança na cátedra da vida

Adroaldo Palaoro

O relato evangélico deste domingo nos situa no começo do caminho que levará Jesus a Jerusalém. Neste momento de sua vida, ele tem consciência que as forças que se opõem à sua proposta de vida são muito fortes e não vão desistir em seu objetivo de esvaziar tal iniciativa. Jesus sente que sua vida começa a estar em perigo, mas não vai ceder em seu empenho por revelar e oferecer o amor e a justiça bondosa de Deus aos pequenos desta terra.

Jesus se tornou um sinal de contradição porque permaneceu absolutamente fiel a uma mensagem, a um modo de agir e a uma missão que havia recebido do Pai e que devia realizar com critérios e opções coerentes com o conteúdo do seu Evangelho.

Ele se deu conta de que avançar em seu projeto lhe custaria a vida. Em sua instrução ao grupo de seguidores, antecipa que o poder condená-lo-á à morte. Revela, portanto, o fato de “perder a vida” como consequência inevitável por viver a coerência evangélica até o extremo. As circunstâncias mostravam, com evidência, que a hostilidade do poder para com Jesus se intensificava. Por isso, começa a prevenir seus seguidores de que sua prática em favor da justiça implicava um enorme risco.

Os evangelistas sinóticos expressam esta consciência de Jesus através dos anúncios da paixão. Eles revelam que Jesus é realista ao explicitar as consequências de suas opões. Esta consciência o leva a dedicar-se com mais intensidade na formação de sua comunidade de seguidores para fortalecer suas certezas e opções e, no caso de que Ele morra, possa seguir adiante, comprometidos com a causa do Reino.

Marcos expressa com claridade que os discípulos não captam a força das palavras de Jesus e tem medo de que todas as suas expectativas venham abaixo e se obscureça o horizonte que os tinha seduzido pelos caminhos da Galileia. Eles estão longe de compreender os critérios do Reino e continuam apegados a seus ideais de êxito e poder.

Ao chegar em casa, em Cafarnaum, Jesus reúne os doze para questionar suas pretensões de poder e honra. Mais uma vez, o profeta da Galileia quebra as expectativas de seus discípulos e lhes propõe como critério de grandeza o serviço, e como critério de honra o cuidado dos pequenos e frágeis. Sua nova comunidade não pode se pautar pela busca do prestígio, do poder, da imposição, do mando...

Deste modo, Jesus coloca o serviço e a gratuidade em um lugar central nas relações dentro da nova comunidade. Com sua típica linguagem provocadora, Ele nos ensina a imaginar um mundo diferente. A partir de sua original experiência de Deus, situa tudo em outro horizonte, descobre novas possibilidades e introduz uma lógica alternativa, a da gratuidade, do esvaziamento do próprio interesse e de um deslocamento em direção aos últimos e mais frágeis.

Há algo na identidade de Jesus que chama a atenção de todos nós: sua liberdade diante de toda expressão de poder, seja no campo religioso, social e nas relações entre as pessoas. Ele tem consciência que a busca de “poder” é o pecado de morte, pois onde impera o poder ali se visibiliza toda manifestação de violência, competição, ruptura das relações, desmandos... Para o Mestre de Nazaré, nenhum poder, muito menos o religioso, pode ser mediação de salvação e de libertação do ser humano.

Jesus compreendeu perfeitamente que a opressão mais forte, sofrida por seu povo, não era só a opressão política e econômica de Roma, mas a opressão religiosa dos dirigentes e líderes de Israel. Estes estavam dispostos a tudo para continuar exercendo um poder ao qual não desejavam renunciar. De fato, havia uma estrutura social, política, econômica, ideológica, religiosa... resistente e fechada a qualquer plano que colocasse em perigo sua continuidade. Tal sistema respondia com hostilidade porque detectava o perigo que Jesus e sua proposta de vida representavam para ele.

Constata-se, então, o "escândalo" que a palavra e o modo de agir de Jesus provocavam em torno dele; tal escândalo procedia da sua extraordinária "autoridade". Esta expressão, presente nos evangelhos, não é fácil de ser traduzida em português. A palavra grega é "exousia" que, literalmente, refere-se ao que "provém do ser" que se é. Não se trata de algo exterior ou forçado, mas de uma atitude que emana de dentro e que se impõe por si só. “Ousia” designa o que se é ou se tem. “Ex” indica procedência, “de”. A exousia é a autoridade que sai de dentro.

Por isso a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que se impõe ou a liderança que arrasta. Jesus esvazia-se de todo poder; Ele tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas”. A autoridade de Jesus é uma autoridade sem poder coercitivo. Trata-se de uma autoridade moral. É a autoridade da verdade, da autenticidade, da exemplaridade. Em suas palavras e ações, Jesus deixa transparecer uma profunda experiência de Deus e isto lhe confere uma grande liberdade e explica sua autoridade. Por isso, não se pode explicar Jesus, sua vida e sua forma de agir, sem recorrer à sua experiência de intimidade com o Pai.

Sabemos que o poder foi a grande tentação dos discípulos de Jesus e dos seus seguidores ao longo da história da Igreja. Jesus, com seu “ensinamento” e seus gestos, quebra a estrutura da centralidade do poder narcisista; sua atitude é humanizadora e propõe o caminho da “descida compassiva” como a marca distintiva dos seus seguidores; Ele parte da realidade humana mais frágil e excluída, e ensina o segredo para se construir uma comunidade diferenciada: a acolhida e o serviço mútuo em lugar de e em vez de “hierarquias” rígidas e distantes que envenenam as relações interpessoais. Para Jesus, não é o poder que deve ocupar o centro, mas a criança, despojada de todo poder.

Por isso, para quebrar a pretensão de poder e prestígio do seu grupo de seguidores, Jesus realiza um gesto de forte impacto: coloca uma criança no centro do grupo e a abraça. Os discípulos discutiam sobre esse “centro”, mas agora descobrem que ele está ocupado por uma criança a quem Jesus coloca de pé: esta é a nova “cátedra” a partir da qual ela ensina os(as) seguidores(as) d’Ele.

Na nova comunidade, fundada por Jesus, há uma “inversão pedagógica”: são as crianças que nos ensinam e nos conduzem, e, com um olhar assombrado, nos fazem arregalar os olhos e “ver” coisas que nunca vimos. São elas que nos fazem ver a “eterna novidade do mundo” (Fernando Pessoa).

O profeta Isaías, numa curta e maravilhosa frase, resumiu essa situação: “... e uma criança pequena os guiará” (Is. 11,6). Os grandes aprendendo dos pequenos; os adultos sendo ensinados pelas crianças.

Agora Jesus nos revela que é a criança que vai mostrando o caminho. Aquilo que os adultos esqueceram e que a sabedoria busca, as crianças sabem. Os sábios sabem que existe uma progressiva cegueira das coisas à medida que o seu conhecimento cresce. Recuperar a “sapientia” é preparar o caminho para a volta da criança, abafada em nosso interior. Os adultos, para se salvar, deveriam rezar diariamente a reza mais sábia de todas: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande...” (Adélia Prado).

Para meditar na oração:

O exercício do poder se expressa nas atitudes de dominar, manipular, subjugar e definir tudo segundo os próprios critérios. A perversidade do coração humano encontra no exercício do poder o campo mais propício para a revelação de suas mazelas, violências e vaidades. E isso no campo político, religioso, nas relações entre as pessoas...

- Faça uma leitura orante de seu cotidiano e verifique se, sorrateiramente, o “veneno do poder” encontra modos de expressar “disfarçados”, petrificando seu coração, impedindo a vida de desabrochar e a criatividade de se expandir.

Importantes

Jose Antonio Pagola

Certamente, os nossos critérios não coincidem com os de Jesus. Quem de nós pode pensar hoje que os homens e mulheres mais importantes são aqueles que vivem ao serviço dos outros?

Para nós, importante é o homem de prestígio, seguro de si mesmo, que alcançou o sucesso em algum campo da vida, que conseguiu sobressair sobre os outros e ser aplaudido pelas pessoas. Essas pessoas cujo rosto podemos ver constantemente na televisão: líderes políticos, «prêmios Nobel», cantores da moda, atletas excepcionais... que pode ser mais importante que eles?

Segundo o critério de Jesus, simplesmente esses milhares e milhares de homens e mulheres anônimos, de rosto desconhecido, a quem ninguém prestará qualquer homenagem, mas que se esforçam em serviço desinteressado aos outros. Pessoas que não vivem para o seu êxito pessoal. Pessoas que não pensam só em satisfazer egoisticamente os seus desejos, mas que se preocupam com a felicidade dos outros.

Segundo Jesus, há uma grandeza na vida destas pessoas que não conseguem ser felizes sem a felicidade dos outros. A sua vida é um mistério de entrega e desinteresse. Sabem pôr a sua vida à disposição dos outros. Atuam movidos pela sua bondade. A solidariedade anima o seu trabalho, as suas tarefas diárias, as suas relações, a sua convivência.

Não vivem só para trabalhar nem para desfrutar. A sua vida não se reduz a cumprir suas obrigações profissionais ou a executar diligentemente suas tarefas. A sua vida encerra algo mais. Vivem de maneira criativa. Cada pessoa que encontram no seu caminho, cada dor que percebem à sua volta, cada problema que surge junto a eles é uma chamada que os convida a atuar, servir e ajudar.

Podem parecer os «últimos», mas sua vida é verdadeiramente grande. Todos sabemos que uma vida de amor e serviço desinteressado vale a pena, mesmo que não nos atrevamos a vivê-la. Talvez tenhamos que rezar humildemente como fazia Teilhard de Chardin: «Senhor, responderei à tua inspiração profunda que me ordena existir, tendo o cuidado de não afogar, nem desviar nem desperdiçar a minha força de amar e fazer o bem».

Certamente, os nossos critérios não coincidem com os de Jesus. Quem de nós pode pensar hoje que os homens e mulheres mais importantes são aqueles que vivem ao serviço dos outros?

Para nós, importante é o homem de prestígio, seguro de si mesmo, que alcançou o sucesso em algum campo da vida, que conseguiu sobressair sobre os outros e ser aplaudido pelas pessoas. Essas pessoas cujo rosto podemos ver constantemente na televisão: líderes políticos, «prêmios Nobel», cantores da moda, atletas excepcionais... que pode ser mais importante que eles?

Segundo o critério de Jesus, simplesmente esses milhares e milhares de homens e mulheres anônimos, de rosto desconhecido, a quem ninguém prestará qualquer homenagem, mas que se esforçam em serviço desinteressado aos outros. Pessoas que não vivem para o seu êxito pessoal. Pessoas que não pensam só em satisfazer egoisticamente os seus desejos, mas que se preocupam com a felicidade dos outros.

Segundo Jesus, há uma grandeza na vida destas pessoas que não conseguem ser felizes sem a felicidade dos outros. A sua vida é um mistério de entrega e desinteresse. Sabem pôr a sua vida à disposição dos outros. Atuam movidos pela sua bondade. A solidariedade anima o seu trabalho, as suas tarefas diárias, as suas relações, a sua convivência.

Não vivem só para trabalhar nem para desfrutar. A sua vida não se reduz a cumprir suas obrigações profissionais ou a executar diligentemente suas tarefas. A sua vida encerra algo mais. Vivem de maneira criativa. Cada pessoa que encontram no seu caminho, cada dor que percebem à sua volta, cada problema que surge junto a eles é uma chamada que os convida a atuar, servir e ajudar.

Podem parecer os «últimos», mas sua vida é verdadeiramente grande. Todos sabemos que uma vida de amor e serviço desinteressado vale a pena, mesmo que não nos atrevamos a vivê-la. Talvez tenhamos que rezar humildemente como fazia Teilhard de Chardin: «Senhor, responderei à tua inspiração profunda que me ordena existir, tendo o cuidado de não afogar, nem desviar nem desperdiçar a minha força de amar e fazer o bem».

ABRIR OS OLHOS PARA VER

Mesters e Lopes


Marcos 9.30-37


O texto de Evangelho que vamos meditar hoje traz uma grande incoerência da parte dos discípulos de Jesus. Enquanto Jesus anunciava a sua paixão e morte, os discípulos discutiam entre si quem deles era o maior. Jesus queria servir, eles só pensavam em mandar! A ambição os levava a querer subir às custas de Jesus. Vamos conversar sobre isto.

SITUANDO

Esta reflexão traz o segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Como no primeiro anúncio – Mc 8,27-38 -, os discípulos ficam espantados e com medo. Não entendem a palavra sobre a cruz, porque não são capazes de entender nem de aceitar um Messias que se faz empregado e servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com um messias glorioso. O texto ajuda a perceber algo da pedagogia de Jesus. Mostra como ele formava os discípulos, como os ajudava a perceber e a superar o “fermento dos fariseus e de Herodes”

Tanto na época de Jesus como na época de Marcos, havia o fermento da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia das propagandas do comércio, do consumismo, das novelas influi profundamente no modo de pensar e de agir do povo. Na época de Marcos, nem sempre as comunidades eram capazes de manter uma atitude crítica frente à invasão da ideologia do império. A atitude de Jesus com relação aos apóstolos, descrita no evangelho, as ajudava e continua ajudando a nós hoje.

COMENTANDO

Marcos 9,30-32: O anúncio da cruz

Jesus caminha através da Galileia, mas não quer que o povo o saiba, pois está ocupado com a formação dos discípulos e discípulas e conversa com eles sobre a cruz. Ele diz que, conforme a profecia de Isaías – Is 53,1-10 -, o Filho do Homem deve ser entregue e morto. Isto mostra como Jesus se orientava pela Bíblia, na formação aos discípulos. Ele tirava o seu ensinamento das profecias. Os discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não pedem esclarecimento. Eles têm medo de deixar transparecer sua ignorância.

Marcos 9,33-34: A mentalidade de competição

Chegando em casa, Jesus pergunta: Sobre que vocês estavam discutindo no caminho? Eles não respondem. É o silêncio de quem se sente culpado, pois pelo caminho discutiam sobre quem deles era o maior. Jesus é bom formador. Não intervém logo, mas sabe aguardar o momento oportuno para combater a influência da ideologia dos seus formandos. A mentalidade de competição e de prestígio que caracteriza a sociedade do Império Romano já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas começando! Aqui aparece o contraste! Enquanto Jesus se preocupa em ser o Messias Servidor, eles só pensam em ser o maior. Jesus procura descer. Eles querem subir!

Marcos 9, 35-37: Servir, em vez de mandar

A resposta de Jesus é um resumo do testemunho de vida que ele mesmo vinha dando desde o começo: Quem quer ser o primeiro seja o último de todos, o servidor de todos! Pois o último não ganha nada. É um servo inútil (cf. Lc 17,10). O poder deve ser usado não para subir e dominar, mas para descer e servir. Este é o ponto em que Jesus mais insistiu e em que mais deu o seu próprio testemunho (cf. Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).

Em seguida, Jesus coloca uma criança no meio deles. Uma pessoa que só pensa em subir e dominar não daria tão grande atenção aos pequenos e às crianças. Mas Jesus inverte tudo! Ele diz: “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe. Quem receber a mim recebe aquele que me enviou! Ele se identifica com as crianças. Quem acolhe os pequenos em nome de Jesus acolhe o próprio Deus!

ALARGANDO

Um retrato de Jesus como formador

“Seguir” era um termo que fazia parte do sistema da época. Era usado para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. O relacionamento mestre-discípulo é diferente do relacionamento professor-aluno. Os alunos assistem às aulas do professor sobre uma determinada matéria. Os discípulos “seguem” o mestre e convivem com ele. Foi nesta “convivência” de três anos com Jesus que os discípulos e as discípulas receberam a sua formação.

Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus que ela já é santa e renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga levantava a cabeça, pois o “fermento de Herodes e dos fariseus” – Mc 8,15 -, isto é, a ideologia dominante, tinha raízes profundas na vida daquele povo. A conversão que Jesus pede quer atingir a raiz e erradicar o “fermento”. Já vimos como Jesus combatia a mentalidade antigo de competição e de prestígio – Mc 9,33-37 e a mentalidade fechada de quem se considera dono de tudo – Mc 9,38-40. Eis alguns outros casos desta ajuda fraterna de Jesus aos discípulos.

  • Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros. Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus. Reação dos discípulos: “Que um fogo do céu acabe com esse povo” (Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!” Jesus os repreende: ”Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados” (Lc 9,55).

  • Mentalidade de quem marginaliza o pequeno. Os discípulos afastavam as crianças. Era a mentalidade da cultura da época em que criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos. Jesus os repreende: ”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca a criança com professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança não pode entrar nele” (Lc 18,17).

  • Mentalidade de quem pensa conforme a opinião de todo mundo. Certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram: ”Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9,2). Como hoje, o poder da opinião pública era muito forte. Fazia todo o mundo pensar de acordo com a cultura dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica: ”Nem ele, nem os pais dele” (Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma leitura diferente da realidade.

Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação. Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino, encarno o amor de Deus e o revela (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas, preparando-os para a vida e a missão. Era a sua maneira de dar forma humana a experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai:

  • Envolve-os na missão – Mc 6,7; Lc 9,1-2; 10,1.

  • Na volta, faz revisão com eles – Lc 10,17-20.

  • Corrige-os quando erram e querem ser os primeiros – Mc 9,33-35; 10,14-15.

  • Aguarda o momento oportuno para corrigir – Lc 9,46-48; Mc 10,14-15.

  • Ajuda-os a discernir – Mc 9,28-29.

  • Interpela-os quando são lentos – Mc 4,13; 8,14-21.

  • Prepara-os para o conflito – Jo 16,33; Mt 10,17-25.

  • Manda observar a realidade – Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3.

  • Reflete com eles sobre as questões do momento – Lc 13,1-5.

  • Confronta-os com as necessidades do povo – Jo 6,5.

  • Ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições rituais – Mt 12,7.12.

  • Tem momentos a sós para poder instrui-los – Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3.

  • Sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil – Jo 4,7-42.

  • Ajuda-os a aceitar a si mesmos – Lc 22,32.

  • É exigente e pede para deixar tudo por amor a ele – Mc 10,17-31.

  • É severo com a hipocrisia – Lc 11,37-53.

  • Faz mais perguntas que dá respostas – Mc 8,17-21.

  • É firme e não se deixa desviar do caminho – Mc 8,33; Lc 9,54.

  • Prepara-os para o conflito e a perseguição – Mt 10,16-25

Este é um retrato de Jesus como formador. A formação do “seguimento de Jesus” não era, em primeiro lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas sim a comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e discípulas. A própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que fossem colocando os pés do lado dos excluídos. Produzia, aos poucos, a “conversão” como consequência da aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).

25º Domingo - A doença de se considerar grande na comunidade cristã

Enzo Bianchi – Comunidade de Boze

A confissão de Pedro que proclamava Jesus como Messias (cf. Mc 8,29) representa no Evangelho segundo Marcos uma virada na vida e na pregação de Jesus. A partir desse evento, Jesus tenta chegar a Jerusalém descendo das encostas do Hermon e passando por Cafarnaum, na Galileia.

Essa é a única subida de Jesus rumo à Cidade Santa testemunhada por Marcos e, portanto, pelos outros sinóticos, uma subida durante a qual Jesus intensifica o ensinamento dirigido aos seus discípulos, à sua comunidade itinerante, continuando a lhes anunciar a necessitas da sua paixão e morte.

Como já havia dito no início da viagem, em Cesareia de Filipe (cf. Mc 8,31), aqui ele reitera: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”; e ainda fará isso pouco depois pela terceira vez (cf. Mc 10,33-34).

Jesus está prestes a ser entregue (paradídomi), verbo forte que indica o fato de ser dado à mercê, ao poder de alguém. Assim acontecerá, e Jesus será sempre um sujeito passivo de tal ação: entregue por Judas aos sacerdotes (cf. Mc 14,10), pelos sacerdotes a Pilatos (cf. Mc 15,1), entregue por Pilatos para ser crucificado (cf. Mc 15,15).

O passivo usado nos anúncios da paixão e a mesma necessitas expressada nos três casos indicam, no entanto, que, embora essa entrega ocorra por mãos de homens responsáveis pelas suas ações, ela não ocorre como um simples acidente (“Deu tudo errado para Jesus...”) ou como fruto de um destino cego, mas sim segundo aquilo que está em conformidade com a vontade de Deus. Ou seja, que um justo não se vingue, não se isente daquilo que os homens querem e podem fazer na sua maldade: rejeitar, odiar, perseguir, mandar à morte quem é justo, porque os injustos não o suportam.

Já falamos sobre isso, mas vale a pena voltar a isso mais uma vez, mais brevemente, porque estamos realmente no coração da vida de Jesus, portanto do Evangelho: de que necessitas se trata? Necessitas humana acima de tudo: em um mundo de injustos, o justo não pode senão sofrer e ser condenado. Sempre foi assim, em todos os tempos e lugares, e ainda hoje é assim...

Deus não quer a morte de Jesus, mas a sua vontade é de que o justo permaneça como tal, até ser entregue à morte, continuando a “amar até o fim” (cf. Jo 13,1). O justo nunca, nunca mesmo entrega outra pessoa à morte, mas, antes de fazer o mal, deixa-se libertar: eis a necessitas divina da paixão de Jesus. É o fato de continuar a “amar até ao fim” (cf. Jo 13,1), até mesmo os inimigos, em resposta à vontade do Pai, que pela graça coloca no coração humano a possibilidade desse amor que só pode brotar dele.

E o fato de esse amor ser difícil, a um caro preço, é demonstrado pela reação da comunidade de Jesus, de quem compartilhou a vida com ele e, portanto, deveria estar em sintonia com o seu ensinamento. Como Pedro no primeiro anúncio (cf. Mc 8,32-33), aqui todos os discípulos se recusam a compreender as palavras de Jesus e, fechados na sua cegueira, nem mesmo ousam interrogá-lo.

Mas eis que, chegando à casa deles em Cafarnaum, Jesus e os seus param para repousar. Nessa intimidade, Jesus lhes pergunta: “Sobre o que vocês estavam discutindo pela estrada?”. A resposta é um silêncio cheio de constrangimento e vergonha.

Os discípulos, de fato, sabem do que falavam, sabem que naquela discussão havia se manifestado neles um desejo e uma atitude em contradição com o ensinamento de Jesus: cada um havia sido tentado – e talvez até o tenha expressado em palavras – a aspirar e a pensar em si mesmo no primeiro lugar na comunidade.

Eles haviam rivalizado uns com os outros, levantando pretensões de reconhecimento e de amor. Em resposta à revelação do Messias servo e à perspectiva do seu caminho rumo à morte ignominiosa, os discípulos não souberam fazer melhor – talvez pensando no “pós-Jesus” – do que discutir sobre quem entre eles era o maior.

No Evangelho de Tomé, no loghion 12, está escrito: “Os discípulos disseram a Jesus: ‘Sabemos que em breve nos deixarás: quem será, então, o maior entre nós?’”. Sim, devemos confessar: se a comunidade cristã não assumir a lógica pascal de Jesus, acaba inevitavelmente por fomentar dentro do seu interior a mentalidade mundana da competição e da rivalidade. Desencadeiam-se, então, lógicas de poder e de força no espaço eclesial e, como que cegados, acaba-se por ler o serviço como poder, como ocasião de honra.

Jesus, então, chama a si os discípulos, chama sobretudo os Doze, aqueles que deverão ser os primeiros responsáveis pela Igreja, e faz um gesto. Ele pega um pequeno (paidíon), um pobre, alguém que vive a condição de dependência e não importa nada, coloca-o no centro e, abraçando-o com ternura, afirma: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.

Uma criança, um pequeno, um pobre, um excluído, um descartado é posto no meio do círculo de uma assembleia de primeiros, de homens destinados a ocupar o primeiro lugar na comunidade, para lhes ensinar que, se alguém quer o primeiro lugar, aquele de quem governa, deve se fazer o último e servo de todos.

Estejamos atentos à radicalidade expressada por Jesus no Evangelho segundo Marcos. Se há alguém que pensa que pode chegar ao primeiro lugar da comunidade, então o caminho a seguir para ele é simples: faça-se o último, o servo de todos, e se encontrará no primeiro lugar da comunidade.

Aqui não estão os primeiros designados aos quais Jesus pede para serem os últimos e os servos de todos, mas ele traça o caminho oposto: quem se faz último e servo de todos se encontrará tendo o primeiro lugar, sendo o primeiro dos irmãos.

Sim, um dia na Igreja será preciso escolher quem deve estar no primeiro lugar, quem deve governar: se tratará apenas de reconhecer como primeiro aquele que serve a todos, aquele que também sabe ficar no último lugar. Jesus confirmará e até ampliará esse mesmo anúncio um pouco mais adiante: “Vocês sabem que aqueles que são considerados os governadores das nações dominam sobre elas, e os seus dirigentes as oprimem. Mas entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser se tornar grande entre vocês deve ser o servo de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro entre vocês deve ser escravo de todos” (Mc 10,42-44).

E, em vez disso, sabemos o que muitas vezes vai ocorrer nas comunidades cristãs: será escolhido o mais brilhante, o mais visível, quem se impõe por si mesmo, talvez o mais munido intelectualmente e o mais forte, até mesmo o prepotente, ele será aclamado como primeiro e depois lhe serão feitos os augúrios de ser o último e o servo de todos.

Pobre história das comunidades cristãs, Igrejas ou mosteiros cristãos... Não por acaso os próprios Evangelhos posteriores reconhecerão que é assim, e então Lucas deverá expressar de outro modo as palavras de Jesus: “O maior entre vocês se torne como o mais jovem; e quem governa seja como aquele que serve” (Lc 22,26). Mas, se a palavra de Jesus fosse realizada de acordo com o teor do Evangelho mais antigo, então seríamos mais fiéis ao pensamento e à vontade de Jesus!

Ao término desse trecho do Evangelho, sobretudo quem é pastor na comunidade deveria se perguntar se, ocupando o primeiro lugar, sendo quem preside, o maior, sabe também ocupar o último lugar e sabe ser um servo dos irmãos e das irmãs, sem sonhos ou tentativas de poder, sem busca de sucesso para si, sem organizar o consenso em torno de si e sem ser prepotente com os outros, talvez sob a forma da sedução.

Disso depende a verdade do seu serviço, que poderá desenvolver mais ou menos bem, mas sem desejo de poder sobre os outros ou, pior ainda, de instrumentalizá-los. Ninguém pode ser “pastor bom” como Jesus (Jo 10,11.14), e as culpas dos pastores da Igreja podem ser muitas: mas o que ameaça o serviço na sua raiz é o fato de não se sentir servo dos outros, de agir como patrão dos outros.

Por outro lado, esse desvio é visível: a autoridade que não sabe estar ao lado dos últimos, que não sabe lhes oferecer a sua presença, que não sabe ouvir aqueles que aparentemente não importam na comunidade cristã é uma autoridade que cuida de si mesma, impedida pelo próprio narcisismo de perceber aqueles que, sendo frágeis, marginais e escondidos, sempre são, mesmo assim, membros do corpo de Cristo.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina.


DOMINGO XXV DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (Sab 2,12.17-20):

Este texto forma parte del célebre canto del justo perseguido (Sab 1,16-2,24) que enfrenta a malvados y justos exponiendo sus contrapuestas visiones de la vida. Puntualmente en 2,1-20 tenemos un largo discurso a cargo de los impíos donde expresan su concepción de la vida y su condena de los justos. El texto litúrgico comienza justamente con las declaraciones de los impíos quienes dan razón de sus asechanzas al inocente y justo: les molesta e incomoda su conducta fiel a Dios pues pone de manifiesto sus transgresiones. Por ello deciden probar al justo infringiéndole toda clase de males, incluso la misma muerte. Lo grave es que no sólo prueban la virtud del justo sino que "tientan" al mismo Dios provocándolo para ver si interviene salvándolo. El justo es presentado como hijo de Dios por su comportamiento ético, por su fidelidad y su justicia; y si Dios es verdaderamente su padre, tendrá que auxiliarlo. Por eso, en el fondo, los impíos expresan su incredulidad práctica pues niegan que Dios obre a favor de los hombres. Como bien dice D. Barsotti[1], se trata de una página de impresionante actualidad y también es impresionante su presentación de la "lógica del mal".

Evangelio (Mc 9,30-37):

El evangelio de hoy contiene dos partes o subsecciones: 9,30-32 y 9,33-37. Si bien tienen cierta autonomía literaria, importa no descuidar la relación entre ambas.

La primera parte nos presenta otra vez a Jesús en camino, recorriendo la Galilea con sus discípulos. Y por el camino les hace el segundo anuncio de la pasión: "El Hijo del hombre va a ser entregado en manos de los hombres; lo matarán y tres días después de su muerte, resucitará" (9,31). Acto seguido, se describe la reacción de los discípulos: no entienden y tienen miedo de preguntar.

Según J. Gnilka[2] este miedo a hacerle preguntas "pretende caracterizar su temor al sufrimiento. A pesar de que parece moverles un temor sagrado (cf. 4,41), ellos preferirían no haber escuchado la palabra". De manera semejante opina M. Navarro Puerto[3], biblista y psicóloga: "Si ellos temen preguntar a Jesús es porque posiblemente temen conocer más, quizás angustiarse más, de forma que la inhibición aparece como una defensa ante el dolor o el sufrimiento que conlleva una mayor y más clara información".

Una nueva indicación geográfica, el arribo a la casa en Cafarnaún, da comienzo a la segunda parte de la narración (9,33-37). Ahora Jesús toma la iniciativa preguntándoles a sus discípulos sobre el tema de su conversación-discusión por el camino. La respuesta de los discípulos es un silencio culpable por cuanto habían estado discutiendo sobre quién era el mayor entre ellos.

Por lo que sigue parece que Jesús ya sabía el tema de discusión, pues aunque aquí no se explicite, el evangelista ya había notado la capacidad de Jesús de leer los pensamientos del corazón de los hombres (cf. Mc 2,8; 8,17). Por eso va derecho a la cuestión, y lo hace tomando la postura propia de un maestro: se sienta y llama a los Doce para que lo escuchen. Su enseñanza es: "Si uno quiere ser el primero, sea el último de todos y el servidor de todos".

No es evidente en el texto si esta primacía que buscan los discípulos es una cuestión de poder o de honor. Posiblemente vayan de la mano. El adjetivo ordinal prōtós tiene el sentido de "primero" en un orden; y referido a personas en Mc 6,21 se aplica a los "principales" de Galilea como a las personas más importantes. Lo opuesto sería ser el último, como aparece en la repetida frase del evangelio: "Muchos de los primeros serán los últimos y los últimos serán los primeros" (Mc 10,31).

Más adelante, en una escena semejante del mismo evangelio, cuando Santiago y Juan piden a Jesús los puestos de honor (sentarse a la derecha y a la izquierda en su gloria, 10,37), éste responde poniendo en paralelo el deseo de ser grande (mégas) con el deseo de ser el primero (prōtós); y contraponiéndoles las exigencias de hacerse servidor (diákonos) y esclavo (doulos) de todos: "el que quiera ser grande, que se haga servidor de ustedes; y el que quiera ser el primero, que se haga esclavo de todos, que tampoco el Hijo del hombre ha venido a ser servido, sino a servir y a dar su vida como rescate por muchos" (Mc 10,43-45). En este texto se nos clarifican dos cosas. En primer lugar que Jesús pide a los discípulos lo que el mismo vive: no ser servido sino servir. En segundo lugar entendemos que la pretensión de ser el primero implica el reclamo a ser servido, a recibir honores y atenciones; y que, por el contrario, la invitación a ser servidor que hace Jesús conlleva el dar la vida por los demás.

Al respecto nota M. Navarro Puerto[4]: "Jesús no comienza su lección diciendo demagógicamente que no hay que pretender el primer puesto. Por el contrario, parte de la legitimidad de tal aspiración. Dando esto por supuesto (quien quiera ser el primero…) su lección consiste en una inversión paradójica, desplazando la cuestión hacia el cómo: para ser el primero hay que llegar a ser el último. El último está considerado como una conquista, como efecto del deseo de ser el primero. Y acerca de qué, primero en qué y para qué, la lección de Jesús dice que consiste en ser el servidor de todos".

En síntesis, podemos suponer que la discusión de los discípulos versaba sobre quién era el más importante entre ellos con el consiguiente privilegio de poder y honor sobre los demás que conlleva el ser atendido o servido. En su enseñanza Jesús asume, en cierto modo, la validez de este deseo tan profundamente humano de ser más ("si uno quiere"); pero lo orienta o canaliza hacia la entrega a los demás. Vale decir que es más importante, grande o primero, no el que recibe los honores o es servido por su condición; sino el que sirve, el que se entrega a los demás.

A continuación Jesús completa esta solemne declaración con un gesto: toma un niño, lo pone en el medio y lo abraza. Este gesto nos impresiona a nosotros hoy por su ternura. Pero importa notar, como nos informa J. Gnilka[5], que la valoración de los niños en aquella época era más bien neutra o negativa, por cuanto se los veía como inacabados, faltos de prudencia, propensos al mal y necesitados de severa corrección por parte de Dios y de los hombres (cf. Is 3,4; Sap 12,24; 15,14; 2Re 2,23; Eclo 30,1-13). De modo semejante F. Lentzen-Deis dice que: “en esa época, los «niños» no eran sujetos de derechos, no podían prescindir de la ayuda, protección y guía de los padres y mayores. Jesús tomó a este niño del margen de la comunidad familiar de la casa, de los «últimos» en rango e importancia según la costumbre de la época”[6]. Entonces, el sentido del gesto de Jesús es que abraza y se identifica con el que no vale ni cuenta ante los ojos de los demás porque no tiene poder.

Las palabras de Jesús que siguen confirman este sentido del signo: Jesús se identifica con los niños y, quien recibe a un niño "en su nombre", lo recibe a Él mismo y al Padre que lo ha enviado. De este modo les grafica a los Doce que hay que abrazar, identificarse con lo pequeño, con lo que no vale y dedicarse al servicio de los menos considerados de la comunidad. Quien hace esto será el primero y el más grande.

Es claro que Jesús tiene un concepto de la grandeza y de la primacía muy distinto al que tiene el mundo. Sobre el impacto de estos valores en la realidad del tiempo de Jesús dice B. Malina[7]: “La inversión que hace Jesús del orden de preferencia que se podía esperar socialmente supone un reto radical a las ideas que se cultivaban en su sociedad sobre los valores. Los niños eran los miembros más vulnerables de la sociedad”.

El resumen de J. Gnilka[8] sobre esta perícopa es clarísimo: "Hay que ocuparse de los despreciados. En vez de buscar egoístamente el provecho personal, el discípulo debe olvidarse de sí mismo y ayudar a los que carecen de privilegios, y no desde arriba, sino – como hizo Jesús – estrechando con amor al niño entre sus brazos".

Relacionando las dos partes de la perícopa, podemos atrevernos a hacer dos afirmaciones. Primero, el contraste entre lo que Jesús les va diciendo a sus discípulos, pues les habla de su pasión, muerte y resurrección en Jerusalén; y lo que sus discípulos tienen en su corazón pues entre ellos discuten sobre quién es el más importante del grupo. La desincronización o falta de sintonía es muy marcada.

En segundo lugar, la actitud de servicio, de entrega en favor de los demás, sería la forma concreta en la cual los cristianos debemos asumir cada día el camino de la cruz.

ALGUNAS REFLEXIONES:

Al igual que el domingo pasado, la actualización de este evangelio tiene dos cauces: uno personal y otro pastoral.

A nivel personal notamos en primer lugar la proclamación, por parte de Jesús, del misterio pascual como centro del evangelio. A lo largo del camino a Jerusalén, camino sin lugar a dudas discipular, Jesús por tres veces anuncia a los suyos con exclusividad el misterio de su muerte y su resurrección. Por tanto se llega a ser discípulo de Jesús en la medida que se escucha, se acepta por la fe y se la pone en práctica en la propia vida el misterio pascual.

Recordemos que el misterio pascual incluye, sin posibilidad de separación, la muerte y la resurrección. La muerte como camino, la resurrección como meta final del mismo.

Pero un problema recurrente para aceptar y vivir el evangelio está en que Jesús nos habla claro y sin vueltas sobre el camino de la cruz, y nuestra reacción espontánea es el miedo; miedo al sufrimiento y miedo a la muerte. Y esto no es fácil de manejar.

A esto podemos sumarle, en un segundo momento, que la enseñanza de Jesús se contrapone muchas veces a lo que nos dice el mundo; a los valores de nuestro ambiente. Por ejemplo: ¿quiénes son los más importantes a los ojos del mundo? ¿A quiénes presentan como “ganadores” en los medios de comunicación? La respuesta es evidente: a los ricos, a los poderosos, a los famosos. En cambio, Jesús nos dice que el primero y más importante es el que elige ser el último y el servidor de todos.

Esta enseñanza de Jesús conlleva una clara inversión de los valores culturales comúnmente aceptados. Por tanto, es posible que esto haya profundizado la no comprensión de los discípulos. En efecto, en la raíz de esta incomprensión de los discípulos está el choque entre la novedad del Reino que busca instaurar Jesús y los intereses meramente humanos. Mientras los discípulos buscan la gloria, Jesús les piden que sean los últimos; mientras ellos entienden el poder en términos de dominio, Jesús lo entiende como servicio; mientras ellos buscan su propia seguridad y bienestar, Jesús les habla de perderse a sí mismos, de renunciar a la búsqueda individualista del propio interés.

Al respecto decía el Papa Francisco: “Jesús en el Evangelio nos recuerda una tentación sobre la que tendremos que vigilar con insistencia: el afán de primacía, de sobresalir por encima de los demás, que puede anidar en todo corazón humano. Cuántas veces ha sucedido que un pueblo se crea superior, con más derechos adquiridos, con más privilegios por preservar o conquistar. ¿Cuál es el antídoto que propone Jesús cuando aparece esa pulsión en nuestro corazón o en el latir de una sociedad o un país? Hacerse el último de todos y el servidor de todos; estar allí donde nadie quiere ir, donde nada llega, en lo más distante de las periferias; y sirviendo, generando encuentro con los últimos, con los descartados. Si el poder se decidiera por eso, si permitiéramos que el Evangelio de Jesucristo llegara a lo hondo de nuestras vidas, entonces sí sería una realidad la “globalización de la solidaridad”, (Ángelus del 23 de septiembre de 2018).

Ante esta realidad de la búsqueda del poder y de los puestos de honor, que es nuestra propia realidad, la pedagogía de Jesús es rescatar el deseo natural de ser más, no para consentirlo lisa y llanamente, sino para conducirlo hacia los valores del Reino que Él mismo encarna en su propia vida. Al respecto señala con sabiduría Mons. Uriarte[9]: "En el corazón humano anida un sano y noble deseo de realizarse personalmente. No debemos escandalizarnos de nuestras aspiraciones, solamente hemos de pasarlas por el tamiz del Evangelio. Este deseo de realizarse personalmente es un noble deseo antropológico. Sólo una mala ascesis que se cimienta en un menosprecio de lo humano y no tiene nada que ver con el Evangelio de Jesús, puede anatematizar este deseo sano del corazón humano de realizarse plenamente. Pero este deseo está, con frecuencia, desorbitado. Bien por el ansia excesiva de brillar, bien por la tentación de competir, bien por la ambición de poder, bien por la pasión de dominar, bien por la furia de gozar. Todas estas pasiones pueden desorbitar el deseo de la propia realización".

A nivel pastoral la actualización de este evangelio, en particular de la última parte del mismo, sería una clara reafirmación de la opción preferencial por los pobres, contraria también al "pensamiento según los hombres", por lo cual implica, por nuestra parte, una conversión pastoral. Jesús abraza y se identifica con un niño, con lo que no cuenta ni vale. Por tanto, hay en los pequeños una particular presencia de Jesús a quien se nos pide servir en ellos, en su nombre. Ya Benedicto XVI, en Dios es Amor nº 15 expresaba: “Jesús se identifica con los pobres... en el más humilde encontramos a Jesús mismo y en Jesús encontramos a Dios”. En cierto modo, la escena de Jesús abrazando un niño presenta una estrecha semejanza con la del juicio final en la que Jesús se identifica con los que padecen necesidad (cf. Mt 25,31-46).

En su vuelo hacia el Reino Unido le preguntaron los periodistas a Benedicto XVI: "¿Se puede hacer algo para que la Iglesia, como institución, sea más creíble y atractiva para todos?". A lo que el Papa respondió: "Diría que una Iglesia que busca sobre todo ser atractiva estaría ya en un camino equivocado, porque la Iglesia no trabaja para sí misma, no trabaja para aumentar sus cifras y así su propio poder. La Iglesia está al servicio de otro: sirve no para ella misma, para ser un cuerpo fuerte, sino que sirve para hacer accesible el anuncio de Jesucristo, las grandes verdades y las grandes fuerzas de amor, amor de reconciliación que se ha presentado en esta figura y que viene siempre de la presencia de Jesucristo. En este sentido la Iglesia no busca su propio atractivo, sino que debe ser transparente para Jesucristo y, en la medida en que no exista para sí misma, como cuerpo fuerte, poderoso en el mundo, que quiere tener poder, sino que sea sencillamente voz de otro, se hace realmente transparente para la gran figura de Cristo y las grandes verdades que ha traído a la humanidad. La fuerza del amor, en ese momento, se escucha, se acepta. La Iglesia no debería considerarse a sí misma, sino ayudar a considerar al otro y ella misma ver y hablar del otro y por el otro".

En fin, pidamos al Señor que nos aumente la fe. Porque la fe como confianza total en Jesús es la fuerza que nos permite superar el miedo a la muerte, raíz de todos los miedos. Y la fe es también la que vence a los valores del mundo, como leemos en 1Jn 5,3-4: “El amor a Dios consiste en cumplir sus mandamientos, y sus mandamientos no son una carga porque el que ha nacido de Dios, vence al mundo. Y la victoria que triunfa sobre el mundo es nuestra fe”.

Y pidamos también que el Espíritu Santo conceda a toda su Iglesia una auténtica conversión pastoral.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Hazte pequeño

Pequeño

Hazte pequeño.

Deja a tu Padre

Alzarte en sus brazos

Para jugar a volar, arroparte en las noches

Cuidar de tus sueños.

Pequeño

Hazte pequeño

La Puerta del Cielo es estrecha…

Yo te lo he dicho,

Y entran por allí

Los que son como niños.

Hay un niño adentro mío, Señor

Se parece a ti en su inocencia

Está escondido desde hace tiempo

Por temor a los “grandes”:

Ellos lo desprecian.

Por tu Gracia,

Lo déje yo en libertad,

Se llene de alegría este lugar

Nos enseñe a todos el camino

Hacia la Eternidad.

Amén.



[1] Meditazione sul libro della sapienza (Queriniana; Brescia 1985) 40.

[2] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 62.

[3] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 336.

[4] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 339.

[5] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 65.

[6] Cf. Fritzleo Lentzen-Deis, Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 292.

[7] Cf. Los evangelios y la cultura mediterránea del siglo I. Comentario desde las Ciencias Sociales (Verbo Divino; Estella 1996) 184.

[8] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 66.

[9] El presbítero, Signo Sacramental de Cristo Buen Pastor (Buenos Aires 2002) 22.