O JOVEM RICO-28º TC-B

O JOVEM RICO

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM- ano B

10/10/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diari

1ª Leitura: Sabedoria 7,7-11

Salmo Responsorial 89(90)R- Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor, e exultaremos de alegria!

2ª Leitura: Hebreus 4,12-13

Evangelho: Marcos 10,17-30 (ou 10,17-27)

"17.Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: “Bom Mestre, que farei para alcançar a vida eterna?”. 18.Jesus disse-lhe: “Por que me chamas bom? Só Deus é bom. 19.Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”. 20.Ele respondeu-lhe: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha mocidade”. 21.Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: “Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”.* 22.Ele entristeceu-se com essas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens. 23.E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!”. 24.Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 25.É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus”.* 26.Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: “Quem pode então salvar-se?”. 27.Olhando Jesus para eles, disse: “Aos homens isso é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível”. 28.Pedro começou a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos”. 29.Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho 30.que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições – e no século vindouro a vida eterna."


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP

Existe, no judaísmo, toda uma tradição que considera a sabedoria como o maior bem que se possa alcançar na terra. Seu valor supera outras coisas consideradas valiosas: pedras preciosas, ouro, etc. Mesmo a saúde não vale tanto quanto ela. Ora, se uma coisa vale mais do que outra, e se impuser uma opção entre duas, a gente tem que abandonar a que menos vale.

É o que acontece com o Reino de Deus. Encontramos no evangelho de hoje um homem que combinava riqueza e vida decente. Ele está à procura da “vida eterna”. Poderíamos dizer: procura a verdadeira sabedoria, o rumo ideal de viver. Pedagogicamente, Jesus recorda-lhe, primeiro, o caminho comum: observar os mandamentos. O homem responde que já está fazendo isso. Então, Jesus o conscientiza de que isso não é o suficiente. Coloca-o à prova. Se realmente quer o que está procurando, terá de sacrificar até sua riqueza (não vale a sabedoria do A.T. mais do que ouro?). O homem desiste, e vai embora. E Jesus fica triste, pois simpatizou com ele.

O homem rico quis entrar no Reino de Deus na base de suas conquistas: a vida decente, a observância dos mandamentos, a sabedoria dos mestres famosos, entre os quais Jesus de Nazaré (10,17).

Jesus rompe essa estrutura mental da vida eterna como conquista, insinuando que por trás do título “bom mestre”, que o homem lhe atribui, se esconde a exigência de uma obediência total, pois só Deus é bom.

O que Jesus lhe pede é, exatamente, superar este modo autossuficiente de proceder. Jesus quer que ele se entregue nas mãos de Deus, desistindo da vida decente cuidadosamente construída na base do trabalho, do comércio, do bom comportamento. Vender tudo e dar aos pobres, e depois, vir a seguir Jesus, fazer parte do grupo dos discípulos que Jesus reuniu em redor de si. Humanamente impossível, isso só é possível para quem se entrega a Deus. É este o teste que Jesus aplicou. E foi exatamente essa graça da entrega que o homem rico não recebeu de Jesus.

Pedro, entusiasta, comparando-se com o rico, exclama que eles, os Doze, abandonaram tudo e seguiram a Jesus: que receberão agora? Jesus não confirma que Pedro realmente abandonou tudo, embora no momento da vocação parecesse que sim (1,16-20). Mas repete a exigência de colocar realmente tudo o que não for o Reino no segundo plano; e então a recompensa será o cêntuplo de tudo que se abandonou.

Podemos verificar isso na realidade: sendo o Reino, desde já, a comunhão no amor de Deus, já recebemos irmãos e irmãs e pais, tudo ao cêntuplo, neste tempo; e ainda “a vida eterna”.

Jesus não exige árido ascetismo, fuga do mundo, e sim, correr o risco de ir ao mundo em sua companhia, abandonando tudo o que nos possa impedir de fazer do Reino valor absoluto, o sentido pleno e critério supremo da vida. Já o próprio modo de abandonar faz parte do Reino. Dar aos pobres é a forma concreta de entregar tudo a Deus: sempre há pessoas para quem nossos bens são mais vitais do que para nós mesmos.

O caminho da vida não é tanto o resultado de cálculo e esforço humano, mas de entusiasmo divino – ao qual nos entregamos com a lucidez que só a luz de Cristo nos dá.

Não devemos pensar que vamos conseguir a herança eterna com base nas posses, poder, capacidade intelectual ou coisa semelhante. É preciso pedir a vida eterna a Deus, como graça. Peçamos a Deus a graça do desapego para participar desse Reino, que já começou no mundo daqueles que seguem Jesus. Que encontremos na alegria do servir a garantia da “herança eterna”.



Um dinheiro que não é nosso

José Antonio Pagola

Nas nossas igrejas pede-se dinheiro para os necessitados, mas já não se expõe a doutrina cristã que sobre o dinheiro predicaram com força, teólogos e pregadores como Ambrósio de Trier, Agostinho de Hipona ou Bernardo de Claraval.

Uma pergunta aparece constantemente nos seus lábios. Se todos somos irmãos e a terra é um presente de Deus para toda a humanidade, com que direito podemos continuar a acumular o que não precisamos, se ao fazê-lo estamos privando os outros do que necessitam para viver? Não há antes que afirmar que o que sobra ao rico pertence ao pobre?

Não devemos esquecer que possuir algo significa sempre excluir os outros dele. Com a propriedade privada estamos sempre a privar os outros daquilo que desfrutamos.

Por isso, quando damos algo nosso aos pobres, na realidade talvez estejamos restituindo o que não nos corresponde totalmente. Escutemos estas palavras de São Ambrosio: Não dás ao pobre do teu, mas sim devolves o dele. Porque o que é comum é que todos, não apenas dos ricos... Pagas, pois, uma dívida; não dás gratuitamente o que não deves.

Naturalmente, tudo isto pode parecer idealismo ingênuo e inútil. As leis protegem de maneira inflexível a propriedade privada dos privilegiados, ainda que dentro da sociedade haja pobres que vivem na miséria. São Bernardo reagia assim no seu tempo: continuamente se ditam leis nos nossos palácios; mas são leis de Justiniano, não do Senhor.

Não nos deve surpreender que Jesus, ao encontrar-se com um homem rico que cumpriu todos os mandamentos desde a infância, lhe diga que ainda lhe falta uma coisa para adotar uma postura autêntica de seguimento seu; deixar de acumular e começar a partilhar o que tem com os necessitados.

O homem rico afasta-se de Jesus cheio de tristeza. O dinheiro empobreceu-o, tirou-lhe liberdade e generosidade. O dinheiro impede-o de escutar a chamada de Deus a uma vida mais plena e humana. Que difícil vai ser para os ricos entrar no reino de Deus. Não é uma sorte ter dinheiro, mas um verdadeiro problema, pois o dinheiro nos impede de seguir o verdadeiro caminho para Jesus e para o seu projeto do reino de Deus.

Um olhar carregado de amor ou amor no olhar

Pe Adroaldo

A itinerância de Jesus é um contínuo convite a sair de nossos espaços atrofiados para encontrar a Deus nos outros, e entrar em sintonia com o coração d’Ele. Deus nos espera “fora do acampamento” (EE 33,7), ou seja, fora do nosso controle, de nossos lugares seguros e confortáveis, dos espaços que escondem sua presença e onde estão presentes o medo, a desconfiança... “Fora do acampamento” Deus nos des-vela quem somos, quem são os outros e quê missão quer nos confiar. “Fora do acampamento” estão os diferentes com seus questionamentos e interpelações, com suas alegrias e medos, seus desejos e sonhos...

Foi na estrada, “quando Jesus saiu a caminhar”, que um homem rico chega correndo e se ajoelha diante dele. Jesus se detém, acolhe a pergunta que lhe é feita e inicia uma conversação, abrindo, assim, um espaço de confiança para que o “apressado” partilhasse suas inquietações, a pergunta pelo sentido de sua vida. O homem correu ao encontro de Jesus de maneira inesperada; e Jesus não inventou desculpas para esquivar-se dizendo: “tenho que ir a outro lugar”, “todos me esperam”, “estou cansado”, “volte amanhã”... Com este simples gesto de se deter e não passar ao largo, Jesus mostra sua acessibilidade e comunica ao homem rico que se interessa por ele, que não é insensível à sua busca, que assume sua realidade.

Embora a pergunta do homem rico esteja muito centrada nele mesmo – “que devo fazer para ganhar a vida eterna? – Jesus percebe que há uma busca inicial, um desejo incipiente, e abre para ele um caminho que, a partir do reconhecimento de todo o bem que há nele, adentra-o em novas veredas. Assim deixa transparecer o seu olhar: “olhou-o com amor”.

O homem conhece bem a Torá e viveu segundo seus preceitos. Jesus não diminui o valor de sua experiência, mas vai mais fundo, convencido de que tudo o que acontece está grávido de sinais da presença d’Aquele que sempre busca o ser humano. Encontra os pontos de apoio nos quais o homem pode se apoiar para dar um salto de crescimento no amor. Viver os mandamentos não é o suficiente, mas é um bom ponto de partida, através do qual Jesus irá conduzindo-o para dentro, ajudando-o a conectar-se consigo mesmo, a escutar o chamado de vida que pulsa em seu coração e “dar à luz” o sonho de Deus nele.

O que faz a grande diferença no relato deste domingo é a maneira de olhar. E o olhar de Jesus é um elemento essencial nos relatos de encontros com as pessoas nas estradas da vida; através de seu olhar inspirador, Jesus as mobiliza, desperta nelas seus melhores recursos, vincula-as a um projeto de serviço, abre para elas um futuro esperançador e transforma radicalmente a existência delas.

O encontro com o homem rico é também um chamado, um convite ao discipulado, mas que não será acolhido. Neste encontro, Jesus “fixou nele seu olhar e movido pelo amor a ele”, o convidou a segui-lo. O olhar intenso de Jesus se expressa nos dois verbos principais, “amou” e “disse”. Não é um olhar qualquer, mas um olhar atravessado pelo amor e estreitamente vinculado a um projeto de futuro.

Jesus fixa seus olhos e, portanto, sua atenção neste homem concreto, o toma em consideração, pensa nele. Não é um olhar de passagem, mas um olhar sustentado, capaz de penetrar até o profundo, discernidor. Mostra para o homem uma solicitude singular que indica uma “preferência-eleição” por ele.

No encontro com o homem rico, o intenso olhar de Jesus tem tal qualidade que Ele captou toda a realidade do outro desde o primeiro momento. Ao fixar seu olhar no interior daquele homem, Jesus lhe propõe deixar seu modo habitual de viver, e o convida a adentrar-se em outra maneira original de viver, que irá aumentando ao ritmo do amor recebido e oferecido.

O olhar nasce e se nutre do amor. E Jesus olha sempre com olhos claros e limpos, com olhos de ternura e de acolhida. O homem rico encontrou graça aos olhos de Jesus, ou seja, reconheceu-se como filho amado do Pai. Não é necessário que este filho seja a máxima expressão de beleza, bondade ou inteligência, para descobrir a “marca do amor” impressa em seu ser, aquela que lhe revela imagem e semelhança de Deus, aquela que lhe confirma ser o filho chamado à plenitude.

O relato de Marcos realça a qualidade do olhar de Jesus: olhos que comunicam proximidade, que se inclinam e abaixam para amar; olhos que transmitem doçura e amor, capazes de aquecer, cuidar e alentar a vida; olhos que abrem um espaço de humanização e reconhecimento. Olhos que se nutriram infinitas vezes nas entranhas misericordiosas de Deus: “O Pai me ama” (Jo 10,17).

Contudo, no relato do Evangelho, assistimos ao bloqueio do desejo daquele que primeiramente se ajoelhou aos pés de Jesus chamando-lhe “Bom Mestre”. Ele parecia ter tanta sede sincera de encontro com Jesus e vinha cumprindo os mandamentos desde a sua juventude. Contudo, na hora decisiva, ele preferiu a segurança e a proteção dos seus bens e não a aventura aberta de um viver na confiança, com a disponibilidade que uma tal relação espera de todos nós.

Ao confrontar-se com a proposta ousada de Jesus, o homem rico vai embora entristecido e desolado. É incapaz de confiar em Deus da forma como Jesus lhe sugere. Aproximou-se de Jesus com alegria, mas as riquezas “afogaram as palavras”. Queria de verdade dar resposta ao desejo que levava dentro, “ganhar a vida eterna”, mas, para isso Jesus lhe convidou a dar um salto. O homem, no entanto, frente à ousadia da proposta que Jesus lhe faz, decide não se lançar. Sua decisão lhe impossibilita alcançar o que tanto deseja; preferiu as seguranças que já tinha. Está preso ao seu estilo de vida, aposta por ser prudente e não correr o risco do desconhecido. O medo de perder, a insegurança que experimenta, o levam a agarrar-se, com todas as suas forças, às suas riquezas. Salta em primeiro plano sua "insaciável cobiça”, fruto de sua angústia, seu medo e sua insegurança.

Pode soar chocante ouvir de Jesus que “um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus”. Ele que foi sempre tão misericordioso, teria preconceito contra os ricos? Por que, então, fecha-lhes as portas do Reino?

Rico, no pensar de Jesus, é aquele que, incapaz de compartilhar, transforma os bens deste mundo em autênticos ídolos e fecha seu coração para Deus e para os irmãos; é aquele que ama suas propriedades sobre todas as coisas, e, para protegê-las e fazê-las multiplicar, não hesita em lançar mão de qualquer artifício, mesmo injusto, desonesto, ilegal. A penúria do irmão necessitado não chega a sensibilizá-lo. Só pensa em si mesmo, em suas necessidades e em seus prazeres. Por conseguinte, não existe espaço para a graça atuar em seu coração. Nesta situação, torna-se impossível Deus chegar a ser, de algum modo, senhor de sua vida. Nele, o Reino de Deus não pode acontecer. Seu coração está bloqueado.

Não é Deus quem fecha as portas do Céu para o rico. É este quem se recusa a entrar na dinâmica Reino e revestir-se do modo de ser e viver de Jesus. Os apelos de Deus tornam-se inúteis e ineficazes.

Embora Jesus desejasse que o rico abrisse mão de seu projeto de vida egoísta e acolhesse o Reino, ele persiste em sua idolatria. O amor de Deus não chega a tocá-lo. É por esta razão que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”

Para meditar na oração:

Dois caminhos se abrem diante de nós, os mesmos daquele homem rico: apegar-nos ao que temos e somos ou entregar a Ele a bússola e o mapa de nossa vida; continuar na insegurança ou confiar que as perdas podem ser ocasião de ganhos, mesmo que não cheguemos a entender nem por que nem como.

Quem sabe, preferimos investir nas ações do “eu” e seus poderios, que prometem falsos benefícios, mas, com o passar dos anos, essas ações se desvalorizaram e descobrimos que suas promessas eram falsas.

- “Estamos abertos às surpresas de Deus? Ou nos fechamos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos em estruturas caducas, que perderam a capacidade de resposta”? (Papa Francisco)

Um convite que incomoda

Ana María Casarotti

No texto evangélico que se medita hoje, Jesus continua ensinando sobre sua identidade, apresenta as condições e exigências para ser seu discípulo e sua discípula e semear a Boa Notícia do Reino.

Quem é Jesus? Que significa ser filho e filha de Deus seguidor de Jesus e defensor dos direitos dos marginalizados e desprezados pela sociedade?

No texto que hoje nos é oferecido para meditar “Jesus saiu de novo a caminhar”. Nesse momento apresenta um homem “correndo”, que ajoelhou-se diante dele e perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?»

Pela atitude do homem podemos pensar que ele tem uma grande preocupação em ser discípulo de Jesus, em herdar a vida eterna. Ele considera Jesus como Mestre, se ajoelha e expressa um desejo profundo que habita no seu interior e que o leva correndo a procurar Jesus, expressando assim um grande interesse em estar junto dele.

Formula uma pergunta simples, direta, sem rodeios. Ele quer herdar a vida eterna.

Que significa “herdar a vida eterna”? Possivelmente nessas palavras se esconde um desejo profundo, um anseio de algo mais, de uma vida que ainda não consegue ter, de uma alegria que não habita nele. Há uma sede profunda de uma vida que não acabe, que jorre como água que não acaba. Uma luz que não permita a obscuridade!!

Quantas pessoas levam no seu interior a pergunta sobre o sentido da sua existência. É uma necessidade de uma vida que não acaba, de beber uma água - como disse Jesus à mulher samaritana - que “vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna”. (Jo 4,14)

Alimentar-se de Jesus, Pão de vida, porque “Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”, como disse Jesus (Jo 6,35).

Esse homem exemplifica tantas pessoas que carregam a sede legítima de sentido pleno da vida. Qual é a nossa sede?

Jesus passa ao nosso lado, ele vai a caminho, corremos aos seus pés, nos ajoelhamos, e qual é a nossa pergunta? Quais são os desejos que habitam nosso interior? Qual é nosso anseio, nosso desejo ou aspiração mais profunda?

Expressemos assim a Jesus nossos desejos interiores! E escutemos a resposta de Jesus. Abramos nossos ouvidos para receber suas palavras. São incômodas? Geram desconforto, desestabilizam?

Na cena descrita pela comunidade de Marcos, estabelece-se um diálogo que num primeiro momento parece simples. É Jesus que pergunta ao homem por que “me chama de bom”. E acrescenta: “Você conhece os mandamentos: não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; não engane; honre seu pai e sua mãe.»

Mas a resposta do homem e o diálogo que continua é ainda mais surpreendente: «Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas.» Jesus “olhou para ele com amor, e disse: «Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me».

No olhar de Jesus há ternura, há amor a esse jovem que procura algo mais e Jesus convida-o a ir, vender tudo, dar o dinheiro aos pobres e depois ir com ele e segui-lo.

Mas o jovem não tem suficiente energia, entusiasmo, amor para levar adiante essa proposta. Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque ele era muito rico.

A proposta de Jesus não deixa dúvidas e apresenta-se num momento determinado. Ele deve aproveitar essa oportunidade ou perdê-la! Ele deve decidir se escolhe um caminho ousado e corajoso, cheio de vida e alegria, ou fica com o caminho seguro, aparentemente tranquilo. Ele prefere não arriscar, como diz o ditado popular: “Não vou trocar o certo pelo duvidoso”.

Mas um/a discípulo/a precisa se decidir: para continuar é necessário um desprendimento e disponibilidade maior, total.

A expressão “vá e venda tudo” faz referência a todos os bens que a pessoa tem, não só os materiais. É uma exortação à partilha total que vai contra a mentalidade do acúmulo que tanto predomina na nossa cultura.

É um chamado a lutar pela justa divisão dos bens, que exista pão, terra e trabalho para todos nesta terra que Deus nos deu para que todos vivamos!

Para isso, cada um/a tem que fazer sua parte, correr o risco de dar o que tem, desapegar-se das coisas, talentos, relações, não guardar para si com “justificadas” razões: “quem vai me ajudar amanhã...?, e se me acontece alguma coisa...?”.

O homem do evangelho não quis correr esse risco. Por isso, não conseguiu seguir Jesus e entrar no reino, para tristeza do Senhor.

Mas temos muitos exemplos de homens e mulheres que assumiram plenamente a proposta de Jesus, como, por exemplo, Dom Oscar Arnulfo Romero martirizado em El Salvador e que será canonizado neste domingo. Ele é reconhecido como um modelo a imitar, uma pessoa que viveu até as ultimas consequências a exigência do Reino e imitou Jesus na entrega total de sua vida na defesa dos direitos dos mais pobres e marginalizados.

“Um pastor bom, cheio de amor de Deus e próximo dos seus irmãos, que, vivendo o dinamismo das bem-aventuranças, chegou até o dom da sua própria vida, de modo violento, enquanto celebrava a Eucaristia, sacrifício do amor supremo, selando com seu próprio sangue o Evangelho que anunciava”, descreveu Bergoglio antes de anunciar a canonização no consistório público de maio passado, descrevendo um martírio que “não ocorreu apenas no momento da sua morte”, mas que “foi um martírio-testemunho, sofrimento anterior, perseguição anterior, até a sua morte. Mas também posterior, porque, uma vez morto, ele foi difamado, caluniado, sujado. Ou seja, seu martírio continuou até pelas mãos de irmãos seus no sacerdócio e no episcopado”, acrescentou Francisco. “É bom vê-lo também assim: como um homem que continua sendo mártir”. (Texto completo: Fogo de ''Paglia'': quem não quer a canonização de Romero?)


Oração

Unindo-nos a todos/as brasileiros/as rezemos esta oração que papa Francisco, em sua visita ao Brasil rezou diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida.

"Mãe Aparecida, como Vós um dia, assim me sinto hoje diante do vosso e meu Deus, que nos propõe para a vida uma missão cujos contornos e limites desconhecemos, cujas exigências apenas vislumbramos. Mas, em vossa fé de que “para Deus nada é impossível”, Vós, ó Mãe, não hesitastes, e eu não posso hesitar. Assim, ó Mãe, como Vós, Eu abraço minha missão. Em vossas mãos coloco minha vida e vamos Vós-Mãe e Eu-Filho caminhar juntos, crer juntos, lutar juntos, vencer juntos como sempre juntos caminhastes vosso Filho e Vós.

Mãe Aparecida, um dia levastes vosso Filho ao templo para O consagrar ao Pai, para que fosse inteira disponibilidade para a missão. Levai-me hoje ao mesmo Pai, consagrai-me a Ele com tudo o que sou e com tudo o que tenho. Mãe Aparecida, ponho em vossas mãos, e levai até o Pai a nossa e vossa juventude, a Jornada Mundial da Juventude: quanta força, quanta vida, quanto dinamismo brotando e explodindo e que podem estar a serviço da vida, da humanidade.

Finalmente, ó Mãe, vos pedimos: permanecei aqui, sempre acolhendo vossos filhos e filhas peregrinos, mas também ide conosco, estai sempre ao nosso lado e acompanhai na missão e grande família dos devotos, principalmente quando a cruz mais nos pesar, sustentai nossa esperança de nossa fé".

28º Domingo do Tempo Comum

Pe. Nelito Nonato Dornelas

1- Situando-nos

O capítulo décimo do evangelho de Marcos apresenta três desafios concretos a quem quer ser discípulo de Jesus: 1- Como encarar o matrimônio, 2 - A opção pelos pobres, 3- Como se posicionar diante das riquezas.

Hoje, o evangelista Marcos faz uma narração paradigmática a respeito de um homem muito rico que quis ser discípulo de Jesus e termina com um desfecho frustrado.

Jesus está a caminho de Jerusalém, onde será morto pelo sistema da época, dominado pela absolutização do poder, do ter e do saber, pelos saduceus, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei. No caminho alguém corre ao encontro de Jesus. Marcos não identifica quem é essa pessoa e isso tem intenção catequética: qualquer um que esteja à procura de Jesus poderá identificar-se com aquele que costumamos chamar ‘jovem rico’. Essa pessoa, como todo discípulo de Jesus, está à procura da verdadeira herança: que devo fazer para ganhar a vida eterna?

O texto é rico em detalhes. Marcos mostra esse homem correndo, ajoelhando-se diante de Jesus, falando de igual para igual. Alguém que se sente livre, senhor de si, inteligente e sábio. Uma pessoa tão especial assim pode abordar o Mestre de frente. Mas na ótica do livro da sabedoria é um insensato.

O encontro com Jesus é determinante, porque lhe mostrará como exigência fundamental para estar com Ele no caminho, a superação das prescrições da Lei. A série de mandamentos recordados por Jesus, diz respeito à justiça social: não matarás, não cometerás adultério, não roubarás, não levantarás falso testemunho, não enganar, honrar pai e mãe. Jesus não faz nenhuma exigência em relação a Deus. Tudo diz respeito às relações sociais justas, o respeito pela vida, pela propriedade, integridade e bens vitais dos outros, bem como o respeito pelos pais, fonte originante da vida.

A resposta do homem rico é surpreendente: mestre tudo isso tenho observado desde a minha juventude! (20). Trata-se de um Justo na vivência da Lei e da religião. Tem consciência de não haver cometido injustiças e vê como benção de Deus o acúmulo de riquezas e fortuna. Ele crê não ser necessário fazer mais nada para ser discípulo de Jesus, possuir a herança eterna e participar do reino.

Jesus lhe mostra que não basta não ter feito nada de mal, não ter prejudicado pessoa alguma. É preciso ir além, porque a riqueza é expressão de carência e até de impedimento para o reino. Só uma coisa te falta: vá venda tudo o que têm e dê aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois venha e siga-me (21). Aí está a novidade da mensagem de Jesus: para ser cristão não basta não ter prejudicado as pessoas, será necessário vender tudo e dar aos pobres, numa partilha total.

Alcança-se aqui o novo conceito de justiça, que não nasce do cálculo legal, mas do exercício da misericórdia em relação aos pobres. A rigor, só depois disso é que as pessoas poderão seguir a Jesus. Depois venha e siga-me. Somente após o desfecho final, Marcos mostra quem era esse homem atordoado com a proposta de Jesus. Trata-se de um grande proprietário de terras, adquiridas legalmente. Na sua concepção era sinal da benção divina. Ele esperava que Jesus lhe tranquilizasse a consciência, permitindo-lhe ser cristão e dono de grandes propriedades, fechado em si mesmo. A proposta de Jesus é radical: venda tudo é dê aos pobres.

Seguir Jesus implica em desligar-se de tudo aquilo que aprisiona e escraviza seu coração. Somente quem coloca o reino acima de tudo consegue segui-lo. É uma graça de Deus que se torna uma nova riqueza a substituir a que foi abandonada: ganha-se a comunhão cristã nesta vida e a vida eterna na era futura.

2- Recordando a Palavra

Primeira leitura - Sabedoria 7, 7- 11

A sabedoria vale mais do que tudo. O livro da Sabedoria é um escrito quase contemporâneo de Jesus (século primeiro antes de Cristo). Apesar da distância histórica, suas sentenças são postas na boca do rei Salomão, símbolo de pessoa sábia. Salomão, ao colocar a sabedoria acima de tudo, recebe de Deus a recompensa por esta atitude de humildade e de sabedoria.

Sabedoria é uma releitura sapiencial da oração de Salomão e da resposta de Deus (1 Reis 36, 13). De fato, pedir a Deus um coração dócil, a capacidade de fazer justiça e de discernir o bem do mal, equivale como reconhecer o próprio Deus a pedir do dom da sabedoria.

Esta reflexão animou os judeus da diáspora, que necessitavam se defender da falsa sabedoria deste mundo, que era a cultura helenística, baseada nos prazeres corporais. Para buscar a sabedoria que vem de Deus, entenderam que seria necessário cumprir a sua Lei. O autor não despreza o poder, a riqueza e a saúde, mas sabe que sem a sabedoria de nada valem. O sol brilha durante o dia e a sabedoria é uma luz para sempre.

Segunda leitura - Hebreus 4, 12 -13

A Palavra de Deus é viva e operante em Jesus Cristo. Nestes dois versículos, o autor elabora uma teologia da Palavra de Deus, que já ressoou por meio de Moisés e, que agora, é capaz de oferecer a felicidade definitiva à humanidade, em Cristo Jesus. Como ouvintes desta Palavra, a nossa sorte é decidida por seu acolhimento ou sua recusa. Daí a necessidade da docilidade obediente à Palavra de Deus.

A Palavra, por si mesma, possui o infalível poder de discernimento e de juízo (cf Ap16 e Ef 6, 17). Esse julgamento, o Pai o realiza por meio do Filho ( cf Jo 5, 26-29).

Como a Palavra de Deus é viva e operante em Cristo, ela é personificada e dinâmica. Ela dirige a história desde o começo até o fim. E como Palavra operante, provocando decisão, assim deve ser também a Palavra da Igreja: não um discurso sobre Deus, mas, um colocar-se sob seu juízo para proclamar esta mesma Palavra viva e edificante, que torna presente a salvação divina e seu juízo permanente.

Hebreus acentua a mensagem do evangelho de hoje, apresentando a pessoa de Jesus como a Palavra de Deus ativa na história, de forma decisiva e operante, como uma espada de dois gumes. Diante dela devemos optar. Neutralidade não existe.

Evangelho - Marcos 10, 17-30

Desapego e disponibilidade para o seguimento a Jesus. Um homem se apresenta a Jesus para segui-lo. Trata-se de uma pessoa exemplar, que busca a sabedoria. É tão precavido que quer, inclusive, fazer uma poupança até para a vida eterna. É uma pessoa livre e destemida, que encara Jesus frente a frente.

Inicia-se o diálogo entre o homem e Jesus. Como ele quer saber o que deve fazer para se salvar, Jesus lhe apresenta os mandamentos como caminhos de salvação. O que impressiona é que nesta lista Jesus só aponta os mandamentos que se referem aos relacionamentos sociais e não a Deus diretamente. É como se o homem quisesse chegar a Deus sem passar pela mediação do irmão e Jesus redireciona seu olhar para o próximo.

Quando Jesus afirma que não basta observar os mandamentos materialmente, mas exige-lhe uma doação total, a reação do homem foi de fechamento. Neste momento revela-se algo de sua identidade que estava escondido: era muito rico.

Como as riquezas podem se tornar obstáculos no caminho do reino! A exigência proposta por Jesus assusta a quem quer ser seu discípulo, a tal ponto que causa espanto no grupo restrito dos apóstolos, representado pela reação de Pedro. E Jesus reafirma que o discipulado consiste em se colocar continuamente diante de uma opção: Deus ou as riquezas.

3- Atualizando a Palavra

A concepção de riqueza e pobreza diverge tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Em alguns casos há até mesmo uma oposição, mesmo nos textos mais recentes do Antigo Testamento.

São vários textos que se comprazem em elevar e enaltecer a riqueza dos personagens da história de Israel e dos seus reis, como Jó, Davi, Salomão, Josafá, Ezequias. Deus é, muitas vezes, apresentado como aquele que enriquece aos que o ama, como a Abraão, Isaque, Jacó. A riqueza é apresentada como sinal da generosidade divina e imagem da abundância messiânica. A prosperidade material é sinal da benção e aceitação divinas.

Aparece no Novo Testamento uma nova perspectiva nas atitudes de Jesus e das primeiras comunidades cristãs diante da riqueza. Percebe-se claramente essa distinção, quando comparamos as bem-aventuranças e as maldições do Sermão da Montanha, diante das bem-aventuranças e das maldições prometidas pelo Deuteronômio, conforme seja ou não Israel fiel à Aliança (Dt 28).

A distância entre o Antigo e o Novo Testamento é mais evidente, devido à centralidade do reino, anunciado por Jesus, como um dom total de Deus, que para ser acolhido, exige-se o desprendimento mais completo para adquirir esta pérola preciosa e tesouro único.

Para seguir a Jesus é preciso despojar-se de tudo. De fato, não se pode servir a dois senhores: Deus e o dinheiro. O dinheiro é um senhor exigente que sufoca o coração do avarento, bloqueia-o no caminho da perfeição e, mesmo os corações mais bem dispostos, podem se fechar, como bem alertava Santo Agostinho: o dinheiro é um excelente escravo, mas um péssimo patrão.

A palavra do evangelho toca no absoluto e na soberania do reino de Deus, que não admite exceções. Quem não renuncia a tudo que tem não pode ser meu discípulo (cfLc 14, 33). Só os pobres são capazes de acolher a boa-nova (Is 61, Lc 4, 18). É precisamente fazendo-se pobre por nós que o Senhor pode enriquecer-nos (2 Cor 8,9) com suas imperscrutáveis riquezas (Ef 3,8).

Disponibilidade e desapego. O dinheiro e a riqueza não são um mal em si. Tornam-se mal quando se coloca neles seu fim último e fazem deles o seu ídolo, dizendo-lhe um amém absoluto, que é devido somente a Deus. De um lado, a riqueza pode ser símbolo de muitas iniquidades e lembrarão as terríveis injustiças à custa das quais foi adquirida. Doutro lado, resultado do árduo trabalho humano, que é por ele retribuído e das esperanças humanas que ele pode realizar. Como bem alertava São João Paulo II: ser rico não é pecado. Pecado é ser rico sozinho. O problema maior, como ele denunciava é ser rico às custas dos pobres.

Na realidade, a pobreza proposta também ao rico não significa não ter nada, mas comprometer-se com os pobres, especialmente com os que não têm capacidade de organizar-se, defender-se e libertar-se. Comprometer-se cristãmente é partilhar as próprias riquezas como São Francisco de Assis.

4- Ligando a Palavra com a ação litúrgica

A primeira leitura e o evangelho mostram o engano da riqueza. Nosso país oscila entre a insensatez do capital e o escândalo da miséria. É 74º em desigualdade. A exigência de Jesus se baseia no despojamento de tudo em vista da partilha.

O discípulo de Jesus é capaz de deixar tudo para segui-lo. Jesus garante que quem tem coragem de fazer isso começa a participar do reino. Quem deixa tudo por causa dele, acaba recebendo cem vezes mais, porém há uma advertência de que o reino será perseguido por aqueles que se fecham na ganância da posse e se excluem do reino. Mas Jesus que também foi rejeitado está com a comunidade dos perseguidos por causa dele e do seu Evangelho.

Nossa comunidade conhece alguma experiência de partilha e fraternidade? Onde estão as sementes da nova sociedade, como sinais do reino, lançadas pelos que seguem a Jesus? Quais os sinais de que já está se cumprindo em nós a promessa do cêntuplo daquilo que renunciamos? Temos enfrentado alguma perseguição?

A segunda leitura fala da força da Palavra de Deus. Em quais circunstâncias a Palavra de Deus tem animado as lutas do povo por liberdade e vida? Em quais momentos a Palavra de Deus demoliu, desnudou, desarmou e destruiu sementes de injustiça e de maldade?

Como é difícil entrar no Reino de Deus

Pe. Thomas Hughes

A narrativa de hoje inicia-se com a frase: “Quando Jesus saiu de novo a caminhar”. Novamente estamos na caminhada com Jesus. Uma caminhada que é uma aprendizagem para o discipulado. Uma caminhada que o leva cada vez mais perto a Jerusalém, lugar da crise definitiva da sua vida. Ao longo dessa caminhada, Jesus luta com a incompreensão dos seus discípulos, até dos mais chegados a ele. Como a mentalidade deles era formada pela ideologia dominante, eles tinham dificuldade em apreciar a reviravolta de valores que Jesus e a sua mensagem significavam. Nos domingos anteriores, vimos essa tensão no trato das questões do poder, do divórcio, das crianças. No texto de hoje, Jesus põe em cheque o ensinamento comum sobre a riqueza e a pobreza.

A cena é muito conhecida. Um homem pede orientação sobre como entrar na vida eterna. Em um primeiro momento, Jesus coloca diante dele a exigência conhecida por todo judeu piedoso e ensinada pelas escolas rabínicas: o cumprimento dos mandamentos. O homem, sem dúvida, um praticante piedoso da Lei, sente que isso não é o suficiente, pois é o mínimo. Jesus, então, põe diante dele as exigências do Reino: despojar-se dos bens, partilhá-los com os pobres e seguir Jesus. Isso o homem é incapaz de aceitar. Estava amarrado aos seus bens, pois era muito rico (v. 22). Fez a sua opção. Optou por uma vida “regular” que não exigisse partilha nem despojamento. Em consequência, foi embora “muito abatido”, pois tinha colocado bens secundários acima do bem maior.

Contudo, o centro da narrativa está no debate entre Jesus e os seus discípulos. O Mestre afirma que “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus!” (v. 25). Muitas vezes, gastamos muita energia em debater o que significa “o buraco da agulha” (quase sempre tentando diminuir o seu impacto!) e deixamos de lado o aspecto mais importante, isto é, a reação dos discípulos! Eles ficaram “muito espantados” quando ouviram isso e se perguntaram: “então, quem pode ser salvo?”. Por que ficaram espantados? O que houve de espantoso na colocação de Jesus? Aqui está o âmago da questão.

O espanto dos discípulos, conforme a mentalidade comum naquela época, era causado pelo fato de que a riqueza era considerada sinal da bênção de Deus. , Enquanto isso, a pobreza era vista como sinal da maldição. Ainda hoje, essa ideia continua presente em certas igrejas ou setores de igrejas. Para eles, quem não iria se salvar era o pobre, pois o rico era abençoado. Aqui é bom lembrar que se trata de “entrar no Reino de Deus”, o que não é sinônimo de salvação eterna. A salvação depende da gratuidade e misericórdia de Deus, e diante de tal mistério só cabe à gente calar-se.

O Reino de Deus deve ser uma experiência já existente entre nós, mesmo que não em plenitude, e que significa experimentar os valores do Reino na vida cotidiana. O rico dificilmente entra nesta dinâmica porque normalmente é autossuficiente, atrelado a um sistema classista e injusto e com grande dificuldade para partilhar e para sentir a sua dependência de Deus.

A proposta de Jesus desafia as ideologias, disfarçadas de teologia e espiritualidade, que veem a riqueza como sinal da bênção de Deus. A proposta dele não é riqueza acumulada, mas riqueza partilhada. Não é o egoísmo, mas a solidariedade e a justiça, de modo que todas as pessoas possam ter o suficiente. O texto deixa claro que viver esta proposta tem consequências, pois quem é do projeto deste mundo fatalmente promoverá a perseguição. Quem segue Jesus na prática da solidariedade, encontra uma felicidade mais duradoura, mas com perseguição. Porém, já vive a certeza da plenitude do Reino que virá (v. 29-31).

Texto partilhado pelo autor (em memória). Editado e revisado por Ildo Bohn Gass, biblista popular, autor e assessor do Centro de Estudos Bíblicos.

O jovem Rico

Thomas Mc Grath

Neste domingo escutamos um texto que foi muito importante para as comunidades no primeiro século e para nós. Mateus, Marcos e Lucas, cada um do seu jeito e de acordo com as necessidades de cada Comunidade, narram este acontecimento.

No evangelho de Marcos escutamos que quando Jesus saiu de novo a caminhar, “um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna”?

Jesus está continuamente a caminho, é um peregrino que ensina-nos nesse caminhar com ele, ao seu lado. Ele nos ensina que ser cristão não é uma disciplina que se aprende ou uma graduação que se obtém depois de vários anos de estudo.

O ensino de Jesus é oferecido nos aconteceres da vida, nas pessoas que se aproximam dele, suas atitudes, proximidade, as palavras ditas, sejam de gratidão ou de rejeição.

Se desejamos fazer parte desse grupo de caminhantes junto com Jesus, lembremos as variadas situações que ele está nos ensinando “que é o Reino de Deus”. Certamente não é aquilo que desejamos num primeiro momento ou que imaginamos.

Jesus não é um líder glorioso que nos liberta das injustiças de uma forma mágica. É ao longo deste caminho junto com os discípulos que vamos conhecendo “Quem é Jesus”.

A gente cai no erro de pensar que pelo fato de ser cristãos desde pequeno/a a gente o conhece. Mas a mensagem vai por outro lado. Jesus com sua grande sabedoria ensina-nos as mudanças internas e externas que devemos realizar para entrar no Reino de Deus, porque “não é fácil entrar no reino de Deus”.

“Um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou”. Ele corre tentando dialogar com Jesus antes que saia da sua aldeia. Há nele uma forte procura: corre, deseja, pergunta e depois afirmou: ‘Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas”.

Jesus olha para ele com amor e propõe uma coisa nova - convida-o a segui-lo. Mas para isso é preciso escutar também o que significa segui-lo. Ele disse: “vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres” e assim “terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me.”

Usa três verbos: vender, dar e seguir. Que significam estas palavras para cada um/a de nós? Que temos que vender? Não está falando somente do dinheiro. É vender tudo aquilo que para nós é uma riqueza, é uma exortação à partilha total que vai contra a mentalidade do acúmulo que tanto predomina na nossa cultura.

É um convite e um chamado a lutar pela justa divisão dos bens, que não existam mais crianças nem pessoas que morrem a cada dia – de fome, de guerra, de tudo buscando poder viver. Os 03 “Ts” – Terra, Telhado e Trabalho. Lugar de morar para todos e os refugiados e não somente impedimentos.

Para isso, temos que fazer a nossa parte, correr o risco de dar o que tem, desapega das coisas, não guardar para si com "justificadas" razões: "quem vai me ajudar amanhã...? E se me acontece alguma coisa...?".

Há muitos exemplos de homens e mulheres que assumiram plenamente a proposta de Jesus, como, por exemplo, São Francisco de Assis (comemoramos a sua morte dia 4 de outubro), Chico Mendes, Irmã Dorothy, Dom Tomas Balduino – grandes exemplos para nós de pessoas que amavam os pobres lutando com unha e dente contra a pobreza, e que deram as suas vidas em defesa da natureza e o direito de todos desfrutarem dos produtos da terra.

Isso é seguir Jesus!!

Sabedoria 7,7-11 - SABEDORIA – Reflexão

Thomas Mc Grath

O "Livro da Sabedoria" é o último dos livros do Antigo Testamento, e foi escrito uns 100 anos antes do nascimento de Jesus. Nele nós encontramos uma descrição da natureza e das propriedades da "sabedoria", apresentada como o valor mais importante entre todos os valores que o homem pode adquirir.

O que é "sabedoria"? É, basicamente, a capacidade de fazer as escolhas corretas, tomar as decisões certas, escolher valores verdadeiros que conduzem o homem à felicidade. Esta "sabedoria" vem de Deus, é um dom que Deus oferece a todos que tiverem o coração disponível para o acolher.

É preciso, portanto, ter os ouvidos atentos para escutar e o coração disponível para acolher a "sabedoria" que Deus quer oferecer.

O sábio pediu a Deus a "sabedoria" e ela foi-lhe concedida (vers. 7). Para ele a "sabedoria" é o valor mais apreciado, superior ao poder, à riqueza, à saúde, à beleza, à todos os bens terrenos (vers. 8-10). Ela é a "luz" que indica caminhos e que permite discernir as opções corretas a tomar. Ao contrário dos bens terrenos, ela não se extingue nem perde o brilho (vers. 10): é um valor duradouro, que vem de Deus e que conduz o homem ao encontro da vida verdadeira, da felicidade perene.

ALARGANDO

• A "sabedoria" é um dom de Deus que o homem deve acolher com humildade e disponibilidade. Ela não chega a quem se situa diante de Deus numa atitude de orgulho e de auto-suficiência; ela não atinge quem se fecha em si próprio e constrói uma vida à margem de Deus; ela não encontra lugar no coração ou na vida de quem ignora Deus, os seus desafios, as suas propostas. O "sábio" é aquele que, reconhecendo a sua limitações e debilidades, se coloca nas mãos de Deus, escuta as suas propostas, aceita os seus desafios, e segue os caminhos que Ele indica.

• Todos nós temos valores que dirigem e condicionam as nossas opções, as nossas atitudes, os nossos comportamentos. A uns damos mais importância; a outros damos menos significado... O nosso texto convida-nos a ter cuidado com a forma como hierarquizamos os valores sobre os quais construímos a nossa vida

• O "sábio" autor do nosso texto garante-nos que escolher a "sabedoria" não significa prescindir de outros valores mais materiais e efémeros. Há valores, mesmo efémeros, que são perfeitamente compatíveis com a nossa opção pelos valores de Deus e do Reino. Não se trata de nos fecharmos ao mundo, de renunciarmos às coisas belas e bonitos que o mundo nos oferece e que nos dão segurança e estabilidade; trata-se de darmos prioridade àquilo que é realmente importante e que nos assegura, não momentos efémeros, mas momentos eternos de felicidade e de vida plena.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damian Naninni, Argentina


DOMINGO XXVIII DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (Sab 7,7-11):

Este texto es una alabanza de la Sabiduría, la cual es presentada como el valor supremo, muy por encima de todo aquello a lo que suelen aspirar los hombres: poder, riqueza, salud, belleza. Esta Sabiduría no es algo que se consigue sólo con esfuerzos humanos, sino que es un don exclusivo de Dios y por eso hay que pedirlo en la oración (oré…supliqué). Pero al mismo tiempo se requiere una opción del hombre por ella, hay que preferirla a todo: al poder (cetros y tronos); a la riqueza (piedras y metales preciosos), a la salud y a la belleza, a la luz del día. Y esta preferencia está fundada en que la Sabiduría supera a todos estos bienes, vale mucho más que ellos. Ahora bien, esta preferencia o predilección no es desprecio de las realidades o bienes temporales con los que se compara a la Sabiduría. Más aún, el texto afirma que "junto con ella (la sabiduría) me vinieron todos los bienes". Pero hay que notar que estos bienes no se reducen a los temporales o humanos, sino que se refiere especialmente a los dones divinos, en particular a la inmortalidad y a la amistad con Dios (cf. Sap 7,14)[1].

Lamentablemente se omite el versículo 7,12 donde dice que quien tiene la Sabiduría puede gozarse en todos los bienes que ella le brinda. Es decir, la Sabiduría le permite valorar y gozar de todos los bienes de modo justo, sano y equilibrado.

Evangelio (Mc 10,17-30):

El evangelio de hoy contiene dos partes o subsecciones: 10,17-22 donde se narra el encuentro de Jesús con el hombre rico; y 10,23-30 que contiene la enseñanza particular de Jesús a sus discípulos.

La primera escena se desarrolla de camino hacia Jerusalén, cuando imprevistamente se acerca a Jesús "alguien" ("uno", dice el texto, resaltando su anonimato) que viene corriendo y con una pregunta a flor de labios. Se arrodilla y trata a Jesús de "maestro bueno", por lo que suponemos que tenía un gran respeto por él y valoraba su enseñanza. Y enseguida le hace una pregunta: "Maestro bueno, ¿qué debo hacer para heredar la Vida eterna?" (10,17).

No es fácil precisar qué entiende Marcos por “vida eterna” (ζωὴν αἰώνιον), ya que la expresión aparece sólo aquí y en 10,30 en su evangelio. Por la expresión de Mc 10,23 ("¡Qué difícil será para los ricos entrar en el Reino de Dios!") podemos equiparar la “vida eterna” con el “Reino de Dios”. Y sabemos que a partir del exilio la idea del Reino de Dios fue adquiriendo, en algunas corrientes del judaísmo, la representación de un reino trascendente, escatológico, celestial y eterno (cf. Dn 7, 13-14; Sal 96 y 98). Y también importa tener en cuenta que para la Biblia la vida está íntimamente vinculada a Dios al punto que estar en comunión con Dios es estar vivo; y romper la comunión con Dios es, en cierto modo, morir (Cf. Gn 3). Por tanto, podemos suponer que este hombre al interrogar a Jesús por el camino para llegar a la "vida eterna" quiere saber cómo vivir en plena comunión con Dios en esta vida y en la venidera.

Además de esto, notemos algo que es muy importante teniendo en cuenta el trasfondo propiamente judío: la preocupación de este hombre sobre "lo que tiene que hacer" para "heredar" la vida eterna. Por tanto, la pregunta apunta a saber el camino (conducta) que debe seguir el hombre para llegar hasta la vida eterna, para hacerse merecedor de la misma.

Jesús le contesta en dos momentos. Primero a la apelación de "maestro bueno" responde diciendo que sólo Dios es bueno. Esta respuesta nos desconcierta un poco todavía hoy. Al decir de J. Gnilka[2] la intención de Jesús con esta frase es remitir directamente a Dios y a su voluntad, a quien compete con exclusividad determinar lo que es bueno y, por ello, permite heredar la vida eterna. Esta interpretación es coherente con lo que sigue, pues en el segundo momento de su respuesta Jesús remite a los mandamientos de Dios. En concreto Jesús cita 6 mandamientos, de los cuales 5 pertenecen al decálogo (del 5to al 8vo. más el 4to.); y el restante – “no defraudar o perjudicar” – podría ser una referencia a Eclo 4,1 y Dt 24,14. Otros piensan que Jesús lo añade a propósito dada la condición de rico de este hombre y la propensión de los mismos a los negocios fraudulentos. Lo cierto es que el elemento común a todos ellos está en el carácter social de estos mandamientos que suelen considerarse como la segunda tabla del decálogo pues se refieren a la relación con los demás, al amor al prójimo.

La respuesta del hombre, que presupone que conoce bien estos mandamientos, es que los cumple desde su juventud. Se trata por tanto de un judío observante y piadoso.

A continuación Marcos nota un gesto de Jesús con una gran carga afectiva: "fijando en él su mirada, le amó". Esta mirada amorosa de Jesús implica una valoración de este hombre cumplidor de la voluntad de Dios y da razón también de la llamada a dejarlo todo y seguirlo: “Sólo te falta una cosa: ve, vende lo que tienes y dalo a los pobres; así tendrás un tesoro en el cielo. Después, ven y sígueme”.

La invitación a la renuncia a todos sus bienes hay que entenderla aquí como un requisito o condición para el seguimiento de Jesús y como respuesta de amor a Él. La renuncia es el signo claro de su decisión de amar a Jesús por encima de todas las cosas. En cierto modo le exige el cumplimiento del primer mandamiento que pide tener a Dios como único Señor y no tener ídolos, que aquí serían las riquezas. Como bien nota J. Gnilka[3]: "con la invitación al seguimiento se responde a la pregunta del hombre acerca de qué tiene que hacer […] Seguimiento de Jesús significa unión a aquel que fue pobre personalmente, que no espera consuelos de este mundo y que, por consiguiente, va a la cruz decididamente".

Esta exigencia radical de Jesús provocó tristeza en el hombre quien se retira apenado porque tenía muchos bienes. No hay palabras suyas, sino que se narra su gesto y sus sentimientos.

Dado que para el primero de ellos se utilizó el verbo griego στυγνάζω que también significa sombrío o nublado, O. Vena[4] propone traducir por “se ensombreció”. Es interesante comparar la actitud y los gestos de este hombre cuando se acerca a Jesús (10,17) y los que tiene ahora que se aleja de él (10,22). Importa tener en cuenta aquí que para el Antiguo Testamento la riqueza es considerada un signo de la bendición de Dios. Como ejemplo, entre muchos, tenemos la vida de los patriarcas Abraham y Jacob. Pero notemos también que, sobre todo a partir del exilio, la posesividad o apego a las riquezas se consideraba un peligro o tentación que puede conducir al olvido de Dios (cf. Dt 8,11-16).

Ahora bien, volviendo al evangelio de hoy, vemos que esta escena será la ocasión para una enseñanza de Jesús a sus discípulos en particular, que es la segunda parte del mismo. Ante esta invitación frustrada al seguimiento Jesús saca como primera conclusión la dificultad, para los ricos, de entrar en el Reino. Ante el asombro de los discípulos, extiende esta dificultad a todos los hombres: "¡Qué difícil es entrar en el Reino de Dios!". Pero luego pone una comparación donde vuelve a referirse a los ricos: "Es más fácil que un camello pase por el ojo de una aguja, que un rico entre en el Reino de Dios". Se trata de una hipérbole o exageración por cuanto “el camello es el animal más voluminoso del Próximo Oriente, y el ojo de la aguja la abertura más diminuta”[5]. Cierta vez un exegeta, ante los intentos de otros colegas suyos por hacer menos escandaloso este proverbio mediante diversas interpretaciones con dudoso apoyo textual (como que en el griego hay que leer en vez de kámēlon – camello – kámilon que significa hilo grueso o soga; o que la aguja se refiere a una de las puertas de Jerusalén), dijo: no se puede ni achicar el camello ni agrandar la aguja.

A favor del carácter escandaloso del proverbio está la reacción de los discípulos, quienes se asombran todavía más y dicen: "Entonces, ¿quién podrá ser salvado (τίς δύναται σωθῆναι)?" (10,26). Es preferible esta traducción pues refleja la voz pasiva del verbo “salvar” y deja en claro que el hombre no puede salvarse a sí mismo, como pensaba este hombre junto con gran parte de la teología de su época. Notemos también que existe un paralelismo entre las afirmaciones: heredar la vida eterna, entrar en el Reino y ser salvado. En el fondo, se trata de la misma cuestión y que tiene una misma respuesta: "Para los hombres es imposible, pero no para Dios, porque para él todo es posible" (10,27).

Jesús está diciendo que la salvación del hombre, su ingreso en la vida eterna o en el Reino, es en definitiva una Gracia, un Don de Dios. Y es principalmente por esto por lo que le resultará difícil, sino imposible, a un rico salvarse: porque no cree necesitar esta Gracia, porque piensa que puede conquistarlo por sí mismo. Por tanto aquí el rico lo es ante todo en su corazón; mientras que el pobre, el niño, es el que reconoce la necesidad de la Gracia para salvarse. El rico tiene el corazón lleno de sí mismo; el pobre y el niño saben que tiene que recibir todo de Dios, especialmente la salvación, el Reino, la vida eterna.

Pedro, siempre Pedro, es quien habla en nombre del grupo con su gran espontaneidad. Y pregunta a Jesús qué pasará con los que ya han renunciado a sus bienes en esta vida para seguirlo. A ellos Jesús les promete un ciento por uno, con persecuciones, en esta vida; y en la venidera, la vida eterna. Este último diálogo prueba que Jesús no es maniqueo, no considera malos los bienes terrenales; pero sí que muy peligroso el apego a los mismos, el poner la seguridad en ellos y volverse rico en el corazón. Por eso les promete que tendrán más bienes y afectos, pero recibidos como don, luego de haber renunciado a la posesión sobre los mismos. Quien tiene esta pobreza de corazón recibirá también la vida eterna. Por tanto, después de un largo recorrido hemos encontrado la respuesta de Jesús a la pregunta primera: "¿qué debo hacer para heredar la Vida eterna?". Debo hacerme niño, pobre de espíritu, para seguir a Jesús dándole exclusivamente el primer lugar en mi vida. Debo renunciar afectivamente a todo, incluso a la pretensión de poder salvarme por mí mismo, para recibir todo como Gracia de Dios.

ALGUNAS REFLEXIONES:

Sabemos que este camino que recorre Jesús con discípulos hacia Jerusalén deviene una auténtica escuela de vida cristiana. Se trata de un camino o proceso discipular pues a lo largo del mismo se aprende, intelectual y existencialmente, a ser cristianos, seguidores de Cristo.

El evangelio nos invita a meditar sobre las exigencias que supone seguir a Jesús. Y la primera de las mismas que se nos presenta es el cumplimiento de los mandamientos.

Hoy hablar de mandamientos no cae del todo bien; suena a algo que nos quita libertad. Sin embargo los mandamientos de Dios son el cauce y el custodio de la libertad de los hijos de Dios. En efecto, detrás de cada NO, no matar, no robar… hay un SÍ a la vida plena, un SÍ a los valores del evangelio: amor, verdad, justicia, misericordia, fidelidad y libertad. Dios nos ha dado los mandamientos para que “encaucemos” nuestra vida y concentremos nuestras energías en lo que es bueno, verdadero y bello, o sea, en el Reino de Dios y la Vida eterna. Y cumpliendo la voluntad de Dios expresada en los mandamientos experimentaremos una gran libertad interior porque los vicios y pecados no nos dominarán.

Seguir a Jesús supone caminar detrás de Él, supone etapas, ir progresando o creciendo paso a paso, porque “esta santidad a la que el Señor te llama irá creciendo con pequeños gestos” (GE 16). Y después del cumplimiento de los mandamientos hay “algo más”.

Pero este “algo más” presupone haber sentido la mirada de amor de Jesús, que va seguida de una invitación a compartir más su estilo de vida con un seguimiento más pleno. Al respecto dice el Papa Francisco: “Así dice el Evangelio: «Jesús se lo quedó mirando, lo amó» (v. 21). Se dio cuenta de que era un buen joven. Pero Jesús comprende también cuál es el punto débil de su interlocutor y le hace una propuesta concreta: dar todos sus bienes a los pobres y seguirlo. Pero ese joven tiene el corazón dividido entre dos dueños: Dios y el dinero, y se va triste. Esto demuestra que no pueden convivir la fe y el apego a las riquezas. Así, al final, el empuje inicial del joven se desvanece en la infelicidad de un seguimiento naufragado” (Francisco, Ángelus 11 de octubre de 2015).

Por tanto, en este camino del seguimiento de Jesús hay apegos que nos impiden seguirlo y que hay que estar dispuestos a dejarlos para no quedarnos a mitad del camino. El evangelio de hoy nos señala de modo particular a las riquezas o posesiones que nos brindan seguridad en la vida pero que nos terminan quitando la libertad para amar a Dios y al prójimo como Jesús nos pide. Se trata de renunciar a la posesión egoísta de los bienes, de dejarlos para luego recibirlos con libertad, como dones de Dios que tenemos que administrar teniendo en cuenta el bien común de los hombres.

Vemos cómo la exigencia ascética está precedida y motivada por el amor a Dios. Se trata de un salir, de un éxodo, que supone dejar las cosas y olvidarse de sí mismo. Y digamos también que la negación se concentra en el espíritu del que posee más que en las cosas mismas: “Si referimos la nada a la historia, las personas, los objetos, todo ello será condenado a la destrucción. Por el contrario, si la nada se refiere a la posesividad independiente con que los quiere utilizar el hombre, entonces será el egoísmo el que tenga que ir a la hoguera, dejando personas y cosas en su plenitud de vida, belleza y valor”[6].

Cómo lo prueba la respuesta de Jesús al reclamo de Pedro, no se niega ni el valor ni la necesidad de los afectos y los bienes para vivir. La recompensa a la renuncia es de la misma especie que esta, con excepción del "padre" que aparece en la lista de las renuncias y no de las recompensas. Se conjetura que para Jesús el único verdadero y definitivo Padre es Dios. Lo que cambió, por tanto, es la posesividad sobre los bienes y afectos; se renuncia a los que se poseen como propios y se recibe más, pero como don. Así es como pierden su peligro y deberían ser entonces fuente de gratitud a Dios que nos colma de ellos. Y sin olvidar, por supuesto, la vida eterna, la salvación, que si bien aparece en último lugar en la lista es el Don definitivo, la comunión plena con Dios, el fruto y fin de las renuncias.

En fin, meditemos sobre nuestro seguimiento del Señor, sobre su mirada de amor que nos transforma y sobre nuestra respuesta generosa dispuesta a dejar todo lo que nos ata y nos impide cumplir con alegría la voluntad de Dios. Y meditemos en el hecho de que “el joven no se dejó conquistar por la mirada de amor de Jesús, y así no pudo cambiar. Sólo acogiendo con humilde gratitud el amor del Señor nos liberamos de la seducción de los ídolos y de la ceguera de nuestras ilusiones. El dinero, el placer, el éxito deslumbran, pero luego desilusionan: prometen vida, pero causan muerte. El Señor nos pide el desapego de estas falsas riquezas para entrar en la vida verdadera, la vida plena, auténtica y luminosa” (Francisco, Ángelus 11 de octubre de 2015).

SANTA MISA Y CANONIZACIÓN DE LOS BEATOS:

PABLO VI, ÓSCAR ROMERO, FRANCISCO SPINELLI, VICENTE ROMANO,

MARÍA CATALINA KASPER, NAZARIA IGNACIA DE SANTA TERESA DE JESÚS, NUNZIO SULPRIZIO

HOMILÍA DEL SANTO PADRE FRANCISCO

Plaza de San Pedro

Domingo, 14 de octubre de 2018

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La segunda lectura nos ha dicho que «la palabra de Dios es viva y eficaz, más tajante que espada de doble filo» (Hb 4,12). Es así: la palabra de Dios no es un conjunto de verdades o una edificante narración espiritual; no, es palabra viva, que toca la vida, que la transforma. Allí, Jesús en persona, que es la palabra viva de Dios, nos habla al corazón.

El Evangelio, en concreto, nos invita a encontrarnos con el Señor, siguiendo el ejemplo de «uno» que «se le acercó corriendo» (cf. Mc 10,17). Podemos identificarnos con ese hombre, del que no se dice el nombre en el texto, como para sugerir que puede representar a cada uno de nosotros. Le pregunta a Jesús cómo «heredar la vida eterna» (v. 17). Él pide la vida para siempre, la vida en plenitud: ¿quién de nosotros no la querría? Pero, vemos que la pide como una herencia para poseer, como un bien que hay que obtener, que ha de conquistarse con las propias fuerzas. De hecho, para conseguir este bien ha observado los mandamientos desde la infancia y para lograr el objetivo está dispuesto a observar otros; por esto pregunta: «¿Qué debo hacer para heredar?».

La respuesta de Jesús lo desconcierta. El Señor pone su mirada en él y lo ama (cf. v. 21). Jesús cambia la perspectiva: de los preceptos observados para obtener recompensas al amor gratuito y total. Aquella persona hablaba en términos de oferta y demanda, Jesús le propone una historia de amor. Le pide que pase de la observancia de las leyes al don de sí mismo, de hacer por sí mismo a estar con él. Y le hace una propuesta de vida «tajante»: «Vende lo que tienes, dáselo a los pobres […] y luego ven y sígueme» (v. 21). Jesús también te dice a ti: «Ven, sígueme». Ven: no estés quieto, porque para ser de Jesús no es suficiente con no hacer nada malo. Sígueme: no vayas detrás de Jesús solo cuando te apetezca, sino búscalo cada día; no te conformes con observar los preceptos, con dar un poco de limosna y decir algunas oraciones: encuentra en él al Dios que siempre te ama, el sentido de tu vida, la fuerza para entregarte.

Jesús sigue diciendo: «Vende lo que tienes y dáselo a los pobres». El Señor no hace teorías sobre la pobreza y la riqueza, sino que va directo a la vida. Él te pide que dejes lo que paraliza el corazón, que te vacíes de bienes para dejarle espacio a él, único bien. Verdaderamente, no se puede seguir a Jesús cuando se está lastrado por las cosas. Porque, si el corazón está lleno de bienes, no habrá espacio para el Señor, que se convertirá en una cosa más. Por eso la riqueza es peligrosa y –dice Jesús–, dificulta incluso la salvación. No porque Dios sea severo, ¡no! El problema está en nosotros: el tener demasiado, el querer demasiado, ahoga, ahoga nuestro corazón y nos hace incapaces de amar. De ahí que san Pablo nos recuerde que «el amor al dinero es la raíz de todos los males» (1 Tm 6,10). Lo vemos: donde el dinero se pone en el centro, no hay lugar para Dios y tampoco para el hombre.

Jesús es radical. Él lo da todo y lo pide todo: da un amor total y pide un corazón indiviso. También hoy se nos da como pan vivo; ¿podemos darle a cambio las migajas? A él, que se hizo siervo nuestro hasta el punto de ir a la cruz por nosotros, no podemos responderle solo con la observancia de algún precepto. A él, que nos ofrece la vida eterna, no podemos darle un poco de tiempo sobrante. Jesús no se conforma con un «porcentaje de amor»: no podemos amarlo al veinte, al cincuenta o al sesenta por ciento. O todo o nada.

Queridos hermanos y hermanas, nuestro corazón es como un imán: se deja atraer por el amor, pero solo se adhiere por un lado y debe elegir entre amar a Dios o amar las riquezas del mundo (cf. Mt 6,24); vivir para amar o vivir para sí mismo (cf. Mc 8,35). Preguntémonos de qué lado estamos. Preguntémonos cómo va nuestra historia de amor con Dios. ¿Nos conformamos con cumplir algunos preceptos o seguimos a Jesús como enamorados, realmente dispuestos a dejar algo para él? Jesús nos pregunta a cada uno personalmente, y a todos como Iglesia en camino: ¿somos una Iglesia que solo predica buenos preceptos o una Iglesia-esposa, que por su Señor se lanza a amar? ¿Lo seguimos de verdad o volvemos sobre los pasos del mundo, como aquel personaje del Evangelio? En resumen, ¿nos basta Jesús o buscamos las seguridades del mundo? Pidamos la gracia de saber dejar por amor del Señor: dejar riquezas, dejar nostalgias de puestos y poder, dejar estructuras que ya no son adecuadas para el anuncio del Evangelio, los lastres que entorpecen la misión, los lazos que nos atan al mundo. Sin un salto hacia adelante en el amor, nuestra vida y nuestra Iglesia se enferman de «autocomplacencia egocéntrica» ​​(Exhort. ap. Evangelii gaudium, 95): se busca la alegría en cualquier placer pasajero, se recluye en la murmuración estéril, se acomoda a la monotonía de una vida cristiana sin ímpetu, en la que un poco de narcisismo cubre la tristeza de sentirse imperfecto.

Así sucedió para ese hombre, que –cuenta el Evangelio– «se marchó triste» (v. 22). Se había aferrado a los preceptos y a sus muchos bienes, no había dado su corazón. Y aunque se encontró con Jesús y recibió su mirada amorosa, se marchó triste. La tristeza es la prueba del amor inacabado. Es el signo de un corazón tibio. En cambio, un corazón desprendido de los bienes, que ama libremente al Señor, difunde siempre la alegría, esa alegría tan necesaria hoy. El santo Papa Pablo VI escribió: «Es precisamente en medio de sus dificultades cuando nuestros contemporáneos tienen necesidad de conocer la alegría, de escuchar su canto» (Exhort. ap. Gaudete in Domino, 9). Jesús nos invita hoy a regresar a las fuentes de la alegría, que son el encuentro con él, la valiente decisión de arriesgarnos a seguirlo, el placer de dejar algo para abrazar su camino. Los santos han recorrido este camino.

Pablo VI lo hizo, siguiendo el ejemplo del Apóstol del que tomó su nombre. Al igual que él, gastó su vida por el Evangelio de Cristo, atravesando nuevas fronteras y convirtiéndose en su testigo con el anuncio y el diálogo, profeta de una Iglesia extrovertida que mira a los lejanos y cuida de los pobres. Pablo VI, aun en medio de dificultades e incomprensiones, testimonió de una manera apasionada la belleza y la alegría de seguir totalmente a Jesús. También hoy nos exhorta, junto con el Concilio del que fue sabio timonel, a vivir nuestra vocación común: la vocación universal a la santidad. No a medias, sino a la santidad. Es hermoso que junto a él y a los demás santos y santas de hoy, se encuentre Monseñor Romero, quien dejó la seguridad del mundo, incluso su propia incolumidad, para entregar su vida según el Evangelio, cercano a los pobres y a su gente, con el corazón magnetizado por Jesús y sus hermanos. Lo mismo puede decirse de Francisco Spinelli, de Vicente Romano, de María Catalina Kasper, de Nazaria Ignacia de Santa Teresa de Jesús y también del gran muchacho abrucense-napolitano, Nuncio Sulprizio: el joven santo, valiente, humilde, que supo encontrar a Jesús en el sufrimiento, el silencio y en la entrega de sí mismo. Todos estos santos, en diferentes contextos, han traducido con la vida la palabra de hoy, sin tibieza, sin cálculos, con el ardor de arriesgarse y de dejar. Hermanos y hermanas, que el Señor nos ayude a imitar sus ejemplos.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Detrás de esa Puerta…

Señor Jesús, Dios nuestro

Ven a ensenarnos la pobreza, el desprendimiento

Verdadero anhelo de un escondido Misterio

Tenerlo todo y no tener nada

Perseguidos por tu causa

En este destierro,

Elevamos los ojos al cielo.

¡Quién pudiera aceptar el desafío

Resolver el temor a la indigencia,

Al vértigo interior, al abandono en el Espíritu!

Solo tu auxilio colma el vacío,

Arropa nuestra desnudez,

Nos mueve a agradecer

Y aceptar ser tus mendigos.

De rodillas te rogamos

Aferrados a todo lo finito.

¡Ay de esta juventud, inmaduros,

En este tránsito de cruz hacia lo eterno!

Danos tú lo necesario: Padre, Hijo Y Espíritu Santo.

Detrás de esa Puerta

Está la Promesa del REINO. Amén.



[1] Cf. J. Vilchez, Sabiduría (Verbo Divino; Estella 1990) 247-250.

[2] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 99. De la misma opinión es M. Galizzi, Evangelio según Marcos (San Pablo; Madrid 2007) 207.

[3] El evangelio según san Marcos Vol. II (Sígueme; Salamanca 1993) 101.

[4] Evangelio de Marcos (SBU; Miami 2008) 227.

[5] B. Malina, Los evangelios y la cultura mediterránea del siglo I. Comentario desde las Ciencias Sociales (Verbo Divino; Estella 1996) 190.

[6] F. Ruiz, Místico y Maestro, 86-87.