FESTA DE CRISTO REI - 33º TC_B

JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO

34º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO B

21/11/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Daniel 7,13-14

Salmo Responsorial 92(93)R- Deus é rei e se vestiu de majestade, glória ao Senhor!

2ª Leitura: Apocalipse 1,5-8

Evangelho de João 18,33b-37

"33.Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?” 34.Jesus respondeu: “Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?” 35.Disse Pilatos: “Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?”. 36.Respondeu Jesus: “O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo”. 37.Perguntou-lhe então Pilatos: “És, portanto, rei?” Respondeu Jesus: “Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz”."



DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba sp

O Evangelho de hoje nos fornece um surpreendente diálogo entre Pilatos e Jesus. Em meio ao processo movido contra Jesus para incriminá-lo, o evangelista João nos apresenta a narrativa do diálogo entre o representante do Império Romano e Jesus, um réu que foi trazido a ele para ser condenado.

Pilatos está intrigado com Jesus. Ele deseja conhecer quem é afinal esse tal de Jesus do qual ouviu falar tantas coisas. Agora Pilatos não está somente diante das opiniões sobre Jesus; está diante dele. Por isso ele pergunta: Tu és o rei dos judeus?

Jesus responde a essa pergunta com duas afirmações fundamentais.

O meu reino não é deste mundo”. Jesus não é um rei como Pilatos imagina e está acostumado a ver. Jesus não pretende ocupar o trono de Israel nem disputar o poder imperial de Tibério. Jesus não pertence a esse sistema no qual se move o Império de Roma. Não se apoia na força das armas e dos exércitos. Jesus não entende a realeza como Pilatos, como um poder que se impõe sobre as pessoas.

A segunda afirmação de Jesus não é menos importante: “eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade”. Jesus não tem necessidade de exércitos porque a sua realeza se fundamenta na verdade. Jesus exerce seu poder real sendo testemunha da verdade.

Parece que isso é pouco eficaz. O que vimos nas últimas campanhas políticas parece evidenciar que hoje em dia a conquista do poder depende mais das aparências do que dos argumentos. Mesmo que as eleições tenham ocorrido em clima de normalidade e de segurança, temos que reconhecer entristecidos que as campanhas não foram um bom exemplo de “testemunho da verdade”. É preocupante quando vemos que a estratégia de notícias falsas esteja cada vez mais sendo usada não só nas campanhas políticas, mas também em muitas outras campanhas: pela liberação do aborto, contra o Papa, contra a CNBB...

Jesus é o Rei, porque ele testemunha a verdade aqui neste mundo! Prestemos atenção à afirmação: para isso eu nasci e vim a este mundo: para dar testemunho da verdade. O poder de Cristo se exerce neste mundo ao testemunhar a verdade. O seu poder não engana, nem manipula das consciências. Não se utiliza de estratégias de notícias falsas para semear o descrédito e o fanatismo. O seu poder se funda na verdade e no seu reconhecimento por parte de “quem é da verdade”.

Jesus Cristo, Rei do Universo: um rei servidor

De Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino


Jesus, nosso rei, rei diferente dos reis deste mundo: não rei dominador, mas rei servidor, que se faz o menor de todos.

“Sim, eu sou rei. Mas o meu reino não é deste mundo” (Jo19,36.37).

“Sim, eu sou rei!” (Jo 18,37). Foi o que Jesus respondeu a Pilatos e esclareceu: “mas não como os reis deste mundo” (Jo 18,36). Jesus é rei, não rei dominador, mas rei servidor, que se faz o menor de todos: “O maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa, seja como aquele que serve” (Lc 22,26; Mt 23,11).

Jesus, o rei, iniciou sua pregação com estas palavras: “Esgotou-se o prazo. O Reino de Deus chegou! Mudem de vida! Acreditem nesta boa notícia!” (Mc 1,15). Anunciou a chegada do Reino. Através da sua maneira de viver e de ensinar, ele revelava o Reino presente na vida: “O Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17,21).

Por meio das parábolas tirava o véu e apontava o sinais do Reino de Deus nas coisas mais comuns da vida: sal, semente, luz, caminho, festa trabalho, estrelas, sol lua, chuva. Jesus deixou o Reino entrar dentro dele mesmo. Deixou Deus reinar e tomar conta de tudo. “Eu só faço aquilo que o Pai me mostra que é para fazer” (cf. Jo 5,36; 8,28). Jesus era uma amostra do Reino.

Esta maneira tão simples de anunciar o Reino de Deus incomodou os grandes. Por isso, Jesus foi perseguido e condenado. O rei foi desautorizado pelos seus súditos como alguém que não vem de Deus (Jo 9,16), como um samaritano (Jo 8,48), que engana o povo (jo 11,12), como amigo dos pecadores (Lc 7,34), como louco (Mc 3,21; 8,48), como pecador (Jo 9,24), como possesso pelo demônio (Jo 7,20; 10,20), comilão e beberrão (Mt 11,19), que viola o sábado (Jo 5,18; 9,16).

Jesus recebeu o castigo dos criminosos e bandidos. E na cruz colocaram como título INRI: Jesus Nazarenos Rei dos Judeus. E assim morreu: ridicularizado pelos sacerdotes, pelo povo e pelo próprio ladrão ao lado dele. Cristo, nosso Rei. Graças a Deus!

Autor: Frei Carlos Mesters, O.Carm.

*Do Livro: Gente como nós – Os Santos e as santas da Bíblia para cada dia do ano.




Solenidade de JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

Pe. Adroaldo


Cristo Rei desvela a verdade de quem somos

“Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo18,37)


A Igreja Católica celebra, no último domingo do Ano Litúrgico, a festa de Cristo Rei. Uma imagem provocativa, pois quebra toda concepção que temos de “rei” e “reinado”. Esta é a ousadia de Jesus: proclamar-se “rei” sem tomar a Capital, sem conquista militar como os imperadores romanos, nem por eleições, nem por herança de família, nem por estratégia de partido...

Certamente, Jesus utilizou a imagem de rei e de reino, mas não quis ser rei na linha do domínio econômico, social ou militar, mas de serviço mútuo, revelando aos homens o testemunho da verdade de Deus e do sentido da vida. Por isso, não veio para anunciar uma guerra apocalíptica, nem a destruição dos perversos, mas semear humanidade, a partir da Galileia, oferecendo a Palavra aos enfermos, marginalizados e pobres, pois outros haviam se apropriado dela, deixando-os sem nada. Quis assim que todos fossem reis, em um Reinado fundado na verdade de Deus e na fraternidade entre os homens.

O Evangelho deste domingo nos apresenta uma cena inusitada: o poder terreno se depara com alguém que diz: “sou rei”, sendo um condenado à morte, sozinho, frágil, pobre, despojado de todo poder, que passou a noite submetido a terríveis torturas, coroado de espinhos, sangrando e com as mãos atadas. Esse Rei é Jesus, um profeta que desafiou os dogmas do poder terreno representado por Pilatos.

Aqui, nesta cena, se enfrentam o opressor e o oprimido. Jesus tem autoridade sem governar, exige sem dominar nem oprimir; propaga sua verdade sem conquistar nem impor. Seu reinado não cria instituições de poder terreno, senão que cria fraternidade.

Onde se apoia a autoridade de Jesus e a precariedade da autoridade do governador Pilatos? No testemunho da Verdade. Pilatos não dizia a verdade, não caminhava na verdade, nem estava a serviço da verdade. E Jesus era a Verdade. Em sua vida, Jesus sempre se revelou verdadeiro e transparente; ensinou e realizou a verdade: “para isto nasci, para dar testemunho da verdade”.

Jesus, sendo autêntico, sendo verdade, era o verdadeiro Rei. Mas o que lhe pedia seu verdadeiro ser era colocar-se a serviço de todo aquele que lhe necessitava, sem impor nada aos demais. Nesse sentido, Jesus é Rei, porque vem dar testemunho da verdade, mas não de uma verdade racional ou teológica, separada da Vida, mas da mesma vida como transparência de amor, em comunhão com todos.

Jesus é Rei e todos podemos ser “reis” n’Ele e com Ele; “ser rei” é viver descentrado, sensível à realidade de quem sofre, criativo no espírito de serviço; “ser rei” é viver na verdade do que somos, em gesto de transparência, que é amor mútuo, conhecimento compartilhado, sem armas, sem negociatas políticas, sem manipulação da religião para enriquecimento ilícito.

Esta é a festa da Igreja, a festa da Verdade. Não se trata de dizer que Jesus é a Verdade e viver depois na mentira estruturada. Trata-se, simplesmente, de viver na verdade: verdade que é transparência afetiva, pessoal e relacional; só a verdade nos cura e nos liberta do apego ao poder, da ganância do dinheiro, da imposição sobre os outros...

É da essência do ser humano existir sempre na verdade. É preciso desvelá-la e não escondê-la. A verdade é indobrável. Mesmo ensanguentada, não capitula. Verdade exige honestidade, pois, sem honestidade, a verdade passa a ser produto de barganha. Verdade violentada por interesses mesquinhos, verdade esvaziada de compaixão e de sentimentos. Percebemos no contexto atual que o importante não é a verdade do ser, mas a do aparentar; o importante não é a coerência de vida, mas a mentira camuflada de verdade.

A ocultação da verdade é um dos sintomas mais fortes do processo de desumanização que estamos vivendo; a “cultura da mentira”, a destruição da reputação dos outros através das “fake news”, os negócios escusos, os orçamentos secretos, o negacionismo como hábito de morte... constituem a chamada “crise da mentira”. Quanta incoerência! Dizemos que somos seguidores d’Aquele que “veio testemunhar a verdade” e, no entanto, procedemos como canais por onde flui a mentira deslavada.

Desvelar a verdade de si mesmo e acolher a verdade no outro é sinal de maturidade. A verdade é limpa. É inocente. A verdade retira o mundo das trevas da ignorância, do negacionismo, do “terraplanismo”. Os “pilatos” da atualidade estão a postos violentando a verdade em nome de uma ideologia que alimenta ódios, preconceitos, intolerâncias... Também nós, em nosso interior, alimentamos um Pilatos para quem vale a mentira, o engano, a falsa promessa, a falsa imagem... Acaso somos o que dizemos ser? Acaso vivemos o que falamos?

Desse modo, quem se fecha numa crença ou numa ideologia, sente-se automaticamente dono da verdade. Daqui brotam a exclusão de quem pensa e sente diferente, o fanatismo, o proselitismo... Tudo isso a partir de uma atitude arrogante, que pretende autojustificar-se, apelando à posse da verdade.

Diante dos donos do poder e das autoridades religiosas que se julgam em posse da verdade e que tem um “deus” feito à medida de seus interesses, Jesus afirma que “veio para dar testemunho da verdade”.

A Verdade é uma das grandes carências existenciais; ela aponta para o sentido da existência, expressa a grande e permanente busca do ser humano. Não se trata de uma necessidade periférica, mas uma dimensão que nos humaniza. Jesus, diante de Pilatos, se apresenta como resposta a esta busca.

“Conhecer a verdade” é aspiração humana inata. O ser humano tem sede de verdade. Vai buscá-la nas dimensões mais profundas de seu espírito. Antes que “ter” a verdade, ele quer “ser verdade”, ele deseja existir na verdade. Descobrir a verdade é desejo mobilizador. Compensa atravessar vigílias e trilhar veredas para chegar à verdade. Uma das angústias humanas é não alcançar o manancial da verdade. Enquanto existir verdade encoberta, o ser humano vive inquieto.

A verdade clareia a vida. Sem a verdade, a existência é sombria. A verdade gera autenticidade. Onde falta a verdade, instala-se lacuna na existência. Quem não vive a verdade, está “carunchado” por dentro. Impregnar-se da verdade é humanizar-se.

Ser “testemunha da verdade” requer “viver na verdade”; e viver na verdade inclui o reconhecimento e a aceitação da própria verdade (com suas luzes e sombras) e da verdade dos outros. Quando alguém transita por este caminho, começa a viver na humildade e isso é já “caminhar na verdade” (S. Teresa).

Ser seguidor de Jesus é fixar o olhar n’Ele, pois Ele é o centro do nosso caminho; ao caminhar com Ele, vamos nos revelando e a partir d’Ele vamos descobrindo nosso ser verdadeiro (que nos abre para acolher a verdade presente em cada ser humano – verdade que vai além das verdades religiosas, políticas, ideológicas...). É significativo que os antigos gregos entenderam a verdade como “a-létheia” (“sem véu”), ou seja, quando emerge a verdade de nós mesmos.

Quem se descobre verdadeiro e sem máscara, vive profundamente, alarga sua vida a serviço dos sem-vida. E esse reconhecimento da verdade – isso é a humildade – se transforma em luz, descanso e liberdade. Esta é a via da humanização; e quanto mais nos humanizamos, mais nos divinizamos.

Para meditar na oração:

Jesus Cristo é a única Verdade; é na Verdade d’Ele que todos “somos, vivemos e existimos”.

- Devemos fazer um exame do consciente coletivo diante d’Aquele que é “Testemunha da Verdade”.

- É preciso atrever-nos a discernir com humildade o que há de verdade e o que há de mentira em nosso seguimento de Jesus.

- Onde há verdade libertadora e onde há mentira que nos escraviza?

- Precisamos dar passos em direção a maiores níveis de verdade humana e evangélica em nossas vidas, em nossas comunidades, em nossas instituições.

Testemunho da verdade

José Antonio Pagola

O julgamento tem lugar no palácio onde o prefeito romano reside quando vai para Jerusalém. Acaba de amanhecer. Pilatos ocupa o lugar do qual dita as suas sentenças. Jesus comparece amarrado, como um criminoso. Ali estão, frente a frente, o representante do império mais poderoso e o profeta do reino de Deus.

Pilatos considera incrível que aquele homem tente desafiar Roma: «Então, tu és rei?». Jesus é muito claro: «O meu reino não é deste mundo». Não pertence a nenhum sistema injusto deste mundo. Não pretende ocupar nenhum trono. Não procura poder nem riqueza.

Mas não lhe esconde a verdade: «Sou rei». Vim a este mundo para introduzir verdade. Se o seu reino fosse deste mundo, teria «guardas» que lutariam por ele com armas. Mas os seus seguidores não são «legionários», mas sim «discípulos» que escutam a sua mensagem e se dedicam a colocar a verdade, a justiça e o amor no mundo.

O reino de Jesus não é o de Pilatos. O prefeito vive para extrair as riquezas dos povos e levá-las a Roma. Jesus vive «para ser testemunha da verdade». A sua vida é todo um desafio: «Tudo o que é da verdade escuta a minha voz». Pilatos não é da verdade. Não escuta a voz de Jesus. Dentro de umas horas tentará apagá-la para sempre.

O seguidor de Jesus não é «guardião» da verdade, mas uma «testemunha». A sua tarefa não é disputar, combater e derrotar os adversários, mas viver a verdade do evangelho e comunicar a experiência de Jesus, que está a mudar a sua vida.

O cristão tampouco é «dono» da verdade, mas sim uma testemunha. Não impõe a sua doutrina, não controla a fé dos outros, não pretende ter razão em tudo. Vive convertendo-se a Jesus, contagia a atração que sente por ele, ajuda a olhar para o evangelho, coloca em toda a parte a verdade de Jesus. A Igreja atrairá as pessoas quando virem que o nosso rosto se parece ao de Jesus, e que a nossa vida recorda a dele.

“Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz”

Tomaz Hughes

A Igreja Católica, hoje, no último domingo do Ano Litúrgico, celebra a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A festa foi estabelecida na época dos governos totalitários nazistas, fascistas e comunistas, nos anos antes da Segunda Guerra, para enfatizar que o único poder absoluto é de Deus. Nos dias de hoje, em que milhões padecem as consequências de um novo tipo de totalitarismo disfarçado, o do poder econômico inescrupuloso, torna-se atual a inspiração original da festa – que Deus é o único Absoluto.

Em um mundo que não ateu, mas idolátrico, pois presta culto ao lucro, a festa de hoje nos desafia para que revejamos as nossas atitudes e ações concretas – para descobrir o que é para nós, na verdade, o valor absoluto das nossas vidas.

O texto é tirado da paixão segundo João – o diálogo entre Jesus e Pilatos sobre a verdadeira identidade de Jesus. Com a ironia que lhe é típica, João faz com que Pilatos – o representante do poder absoluto da época, o Império Romano - apresente Jesus como Rei, o que ele é na verdade, mas não de modo que Pilatos pudesse entender. O Reino de Jesus é o oposto do Reino do Império Romano – não é opressor, nem injusto, nem idolátrico, mas o Reino da justiça, fraternidade, solidariedade e partilha, o Reino do Deus da Vida.

É exatamente por pregar e semear este Reino que Jesus deve morrer – aliás, não morrer, mas ser morto, o que é diferente. Pilatos demonstra isso quando ele deixa claro quem entregou Jesus, pedindo a sua morte. Não foi o povo, mas os sumos sacerdotes que o entregaram (v. 35). É importante entender o que isso significa, pois se Jesus foi morto, houve algum motivo e houve alguém que o matasse.

Os sumos sacerdotes eram, no tempo de Jesus, todos nomeados pelos romanos, dentro do partido dos saduceus, o partido da elite jerosalemita, donos de terras e do comércio, e chefes do Templo. O Templo funcionava como “Banco Central”, centro de arrecadação de impostos e lugar de câmbio monetário, uma vez que não se aceitava nele a moeda corrente. Jesus, portanto, foi assassinado pelo poder político, econômico e religioso, todos coniventes com o poder imperialista, representado por Pilatos. Pois o Reino de Deus se opõe frontalmente a qualquer reino opressor, como era o de Roma.

A realidade vivida por Jesus continua hoje.

O seguimento de Jesus, na construção de um Reino de justiça e paz, do shalôm de Deus, necessariamente vai entrar em conflito com os reinos que dependem da exploração e da injustiça. Normalmente, esses poderes primeiramente tentarão cooptar a igreja, para que, em lugar de ser voz profética diante das injustiças, torne-se porta-voz dos valores desses reinos. E não faltarão incentivos monetários e outros, para que as igrejas caiam nesta cilada. Por isso, como nos advertiram os textos nos últimos domingos, é necessário que fiquemos sempre vigilantes para verificarmos se a nossa vida prática está mais de acordo com o Reino de Deus ou com o reino de Pilatos.

Para João, Jesus provoca a grande crise da história. Diante da verdade, que é Ele, todos têm que se posicionar. Ele, como todo profeta, não causa a divisão, mas desmascara a divisão que existe dentro da sociedade, a divisão entre o bem e o mal, entre um projeto da morte e um projeto da vida, uma divisão que permeia todos os elementos da sociedade. Diante dele, não há lugar para meio-termo - todos têm que optar. Por isso, a festa de hoje, longe de ser algo triunfalista, nos desafia para que façamos um exame de consciência – tanto individual como eclesial e comunitário - para verificar se o nosso Rei é realmente Jesus, ou se, mesmo de uma maneira disfarçada, continua sendo Pilatos!

Fonte: CEBI Nacional

Marcel Domergue

O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor?

1. O poder.

A expressão “Cristo Rei” é, na verdade, um pleonasmo. Mas significa que o Cristo de Israel assume um poder universal sobre a humanidade e sobre a natureza à qual a humanidade está vinculada. Não há nada de mais inquietante do que a possibilidade humana de uns pesarem sobre a liberdade dos outros; de uns dirigirem os outros. Com que direito? A que título? A humanidade, desde sempre, tem inventado sistemas para designar quais devam ser os detentores da autoridade: se por herança, por eleição… Pois parece ser indispensável haver uma autoridade, para poder se conter os riscos da violência nascidos da selvagem competição. Cada um de nós aspira, de fato, a deter algum poder, porque, além de outras vantagens, isto nos dá segurança com respeito à nossa importância, ao nosso valor, e nos põe no centro das atenções. Existe, sim, uma busca pelo poder. Como dizia um político: “uma vez experimentado o poder, não se pode mais passar sem ele”. O poder é uma droga que faz o homem esquecer a sua fragilidade. A busca pelo poder vicia, porque o que justifica o poder é, antes de tudo, “a desigualdade”; ou seja, a superioridade. E uma superioridade que deve ser real: a de quem sabe mais, é mais inteligente, tem maior espírito de decisão… Coisas todas que podem justificar o exercício um poder sobre os outros, ao menos provisoriamente, e, melhor, sendo aceito este poder. Todos nós exercemos poderes, em virtude de nossas competências ou responsabilidades: poderes que exercemos dentro dos nossos domínios e à medida de nossa condição (em casa, na família, na profissão, etc.). Qual seria então o poder do Cristo?

2. Qual poder?

Jesus disse a Pilatos que a sua realeza não é deste mundo. Significa que não lhe foi conferida pelos homens. Não a recebeu nem de sua nação nem dos chefes dos sacerdotes. Significa também que não a exerce como os outros soberanos normais. Ele não tem guardas nem exércitos e não faz “sentir o seu poder”. A sua realeza não é, enfim, da mesma natureza que as outras: não visa a conter nem reprimir a violência possível nas relações humanas, projeto este que supõe o exercício de uma violência superior, o exercício da sujeição. O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor? É o que Jesus responde a Pilatos: “Vim para dar testemunho da verdade“. E o que é a verdade? Num certo sentido, é o próprio Deus, mas podemos tentar ser mais precisos: para o homem, a verdade é o que o faz existir realmente, o que o põe em direção à sua criação. A mentira, pelo contrário, é o que o engana, levando-o a uma via sem saída e a enredar-se em impasses. Existe, pois, uma conivência entre o homem e o testemunho do Cristo: a verdade se impõe (poder) porque ela é a própria vida do homem. Como diz Paulo (2Cor 13,8): “Não temos poder algum (…) exceto pela verdade”. Verdade que ultrapassa quem a anuncia. O que justifica o poder do Cristo é que Ele convoca o homem à sua plena realização.

3. Qual tomada do poder?

Cristo toma o poder – em parte, mas é fundamental – através de uma demonstração: submetendo-se à violência (submissão que é o contrário do poder). Ele mostra publicamente que o poder verdadeiro não é poder-dominação, manifestando assim a vaidade e a perversidade das condutas que visam a dispor-se dos outros. Este aniquilamento do Cristo foi apresentado por João como um “elevar-se”: o Cristo crucificado foi levantado da terra e, naquele momento, os olhares todos se voltam para ele. Ele atrai todos os homens, porque a verdade atrai tudo o que em nós existe de verdadeiro. Por que a palavra “demonstração”? Porque Jesus põe a nu, diante dos nossos olhos, o pecado do homem, a sua mentira, e a verdade do amor. Ele não nos impõe a verdade, pois isto seria voltar às atitudes de violência que são o contrário da verdade; sem sentido, portanto. Ele nos mostra a verdade: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37) e se torna seu discípulo. Esta é a Realeza do Cristo, não semelhante a nenhuma outra, uma vez que se apresenta sob a figura do contrário da realeza. O senhor é aquele que se faz o servidor e só pode ser senhor quem se faz servidor. Fonte: CEBI – Centro de Estudos Bíblicos – www.cebi.org.br

Edmilson Schinelo e Ildo Bohn Gass

Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.

É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o “mundo” e o “Reino”. Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: “Meu Reino não é como os reinos deste mundo” (João 18,36).

Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi “salvar almas para depois da morte” e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: “venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus” (Mateus 6,10).

Meu Reino não é como os reinos deste mundo

Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.

O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10).

Jesus é rei, mas de outro projeto político

Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que “política e religião não se misturam”. No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também “espiritualizam” a leitura do movimento de Jesus: enquanto “rei espiritual” dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa. Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.

A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: “Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (João 17,14b-15).

Quem é da verdade, escuta minha voz

A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles “a verdade é a adequação do pensamento à realidade”, para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.

Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: “Vim ao mundo para dar testemunho da verdade” (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.

“E quem é da verdade, escuta a minha voz”. Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).

Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).

Ildo Bohn Gass e Edmilson Schinelo são Assessores do CEBI.

Fonte: site do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) – www.cebi.org.br

Daniel 7,13-14 - A visão de Deus

Thomas Mc Grath

O autor do livro de Daniel é um judeu fiel à cultura e aos valores religiosos dos seus antepassados, interessado em defender a sua religião, querendo mostrar aos seus concidadãos que a fidelidade aos valores tradicionais seria recompensada por Jahwéh com a vitória sobre os inimigos. Daniel seria um judeu exilado na Babilónia, que soube manter a sua fé num ambiente adverso de perseguição, que pede aos seus concidadãos que não se deixem vencer pela perseguição e que se mantenham fiéis à religião e aos valores dos seus pais. Quem escreveu o Livro garante que Deus está do lado do seu Povo e que recompensará a sua fidelidade à Lei e aos mandamentos.

No trecho de hoje o autor nos apresenta uma leitura profética da história, querendo transmitir esperança baseada na fé e fidelidade aos valores tradicionais.

Na “visão” (Dan 7,1-28), o autor do Livro apresenta “quatro grandes animais” – um leão, um urso, uma pantera, e um animal com dez chifres. Esses “quatro animais” representam os impérios humanos da época.

Por fim o autor coloca, numa outra cena, “um ancião” com os cabelos e as vestes brancos “como a neve; sentado num trono feito de chamas e servido “por milhares e dezenas de milhares”, que decretou a morte dos “quatro animais” (Dan 7,9-12). É precisamente aqui que começa a cena descrita pelo texto da nossa primeira leitura: a entronização do “Filho do Homem” (Dan 7,13-14).

Na “visão” esse “filho de homem” aparece “sobre as nuvens do céu” (v 13) e tem uma origem transcendente. Ele vem de Deus e pertence ao mundo de Deus.

O “filho de homem” recebe de Deus um reino com as dimensões do universo (“todos os povos e nações O serviram” – v 14) e um poder que não é limitado pelo tempo, nem pela finitude que caracteriza os reinos humanos - “o seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído” v 14.

Com o anúncio do aparecimento “sobre as nuvens” desse “filho de homem”, o autor do Livro de Daniel anuncia a chegada de um tempo em que Deus vai intervir no mundo, a fim de eliminar a voracidade, a ferocidade, a violência que oprimem os homens. E Deus vai devolver à história a sua dimensão de “humanidade”, possibilitando que os homens sejam livres e vivam na paz e na tranquilidade.

Na maneira de pensar dos judeus esse “filho de homem” que que vai instaurar o “reino de Deus” sobre a terra será o Messias (o “ungido”) de Deus. A sua intervenção vai pôr fim à perseguição dos justos e possibilitar a vitória dos santos sobre as forças da opressão e da morte.

Jesus vai aplicar esta imagem do “filho de homem que vem sobre as nuvens” à sua própria pessoa. Ao ser interrogado pelo sumo-sacerdote Caifás, Jesus assumirá claramente que é “o Messias, o Filho de Deus bendito”, o “Filho do Homem sentado à direita do Poder”, que virá “sobre as nuvens do céu” (Mc 14,61-62). Para os cristãos, Cristo é esse “filho de homem” anunciado em Dan 7, que vai libertar os crentes das garras do poder opressor e instaurar o reino definitivo da felicidade e da paz.


TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina

DOMINGO XXXIV DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

SOLEMNIDAD DE CRISTO REY

Primera lectura (Dn 7,13-14):

Este texto forma parte de la segunda sección del libro de Daniel (Dn 7-12) que responde al género de visiones propias de los apocalípsis y donde el rey pagano encarna el mal absoluto en oposición a la soberanía de Dios. En este capítulo 7 se anuncia que el reinado de los opresores llegará a su fin y que irrumpirá el reinado de Dios, el reino mesiánico, simbolizado por “el hijo del hombre”. Esta misteriosa figura de Dn 7,13-14 tiene aquí un sentido colectivo e individual a la vez; y en el Nuevo Testamento será aplicado a la venida gloriosa de Jesús (cf. Mt 24,30 par). Este nuevo reino será eterno (cf. 7,14) y se sugiere que la salvación vendrá directamente de Dios y no por medio de los hombres.

Segunda lectura (Ap 1,5-8):

Este texto forma parte del prólogo del Apocalípsis y, en un contexto trinitario y un clima litúrgico, comienza presentando a Jesús como el "Testigo fiel", es decir, el que no falla nunca. Luego lo nombra como "Primogénito de los muertos" al igual que Col 1,18. Jesús es el que va adelante de los que mueren, abriendo el camino hacia la resurrección. A continuación, lo presenta a Jesús como "el Príncipe de los reyes de la tierra", porque su poder no se iguala con el de ningún otro rey. Sigue la autopresentación de Dios que afirma ser “el Alfa y la Omega”. Alfa es la primera letra del alfabeto griego; Omega es la última. Cuando Dios se autopresenta como Alfa y Omega está afirmando que es el principio y fin de todo.

Evangelio (Jn 18,33-37):

El texto de hoy, dentro del relato mayor de la pasión, forma parte del proceso de Jesús ante Pilato que tiene lugar en el Pretorio o Palacio del Procurador (cf. Jn 18,28-19,16). Esta sección está compuesta por siete escenas que se distinguen por los movimientos de lugar de Pilato y los cambios de interlocutores. En efecto, por fuera del pretorio se encuentran los judíos que han traído a Jesús para que sea juzgado por el Procurador romano Poncio Pilato. Por ser un lugar pagano y estar en las vísperas de la fiesta de Pascua los judíos no ingresan al pretorio para no contaminarse y poder así participar de la fiesta (cf. Jn 18,28); por lo que Pilato debe salir para hablar con ellos fuera. En cambio, Jesús está dentro del pretorio y allí tiene diálogos con Pilato y es afrentado por los soldados. Según varios estudiosos[1], el tema que domina toda esta sección es la realeza de Cristo.

En particular, el texto que leemos este domingo constituye la segunda escena de la sección del proceso romano y tiene lugar dentro del pretorio; y el diálogo de Jesús con Pilato versa justamente sobre la realeza de Cristo.

Notemos que en la primera escena de la sección (cf. 18,28-32) Jesús ha sido llevado por los judíos al pretorio, ante Pilato, a quien le dicen que se lo han traído porque piensan que es reo de muerte y ellos, según la ley romana, no pueden matarlo. Frente a este pedido, Pilato ingresa al pretorio e interroga a Jesús: "¿Eres tú el rey de los judíos?".

El título "rey de los judíos" tiene un sentido y un alcance diverso según quién lo utilice. Para Pilato tiene fundamentalmente un contenido político y, por tanto, peligroso por cuanto se lo considera un rival del emperador romano. Para los judíos el título rey se aplica al Mesías esperado, al descendiente del rey David, cuya misión será restaurar el Reino de Israel con un sentido religioso y político intrínsecamente unidos. Es decir, el título "rey de los judíos" tiene para ellos un sentido terrenal e histórico, pero al mismo tiempo profundamente religioso.

En cambio, como veremos a continuación, para Jesús tiene un sentido diferente a estos dos anteriores. Por eso responde a Pilato preguntándole si el acepta por sí mismo que es rey de los judíos o habla por lo que otros le dijeron. Es decir, Jesús quiere saber si Pilato lo considera rey en el sentido exclusivamente político propio de la concepción romana, o en el sentido de un mesianismo religioso-nacionalista propio de los judíos. Por su parte, la respuesta de Pilato evade la cuestión y va directamente a los hechos: "¿Acaso yo soy judío? Tus compatriotas y los sumos sacerdotes te han puesto en mis manos. ¿Qué es lo que has hecho?" (Jn 18,35).

La respuesta de Jesús sigue explicitando el sentido de su realeza: "Mi Reino no es de este mundo…no es de aquí". La prueba de ello es que los suyos no han recurrido a la violencia, al combate, para evitar que sea entregado en manos de los judíos. El texto griego habría que entenderlo como "mi Reino no viene de este mundo" (ek tou kósmou toútou ἐκ τοῦ κόσμου τούτου Jn 18,36) significando así que la realeza de Cristo no se funda en los poderes de este mundo ni se inspira en ellos, no es mundana. Aunque el Reino de Dios es la soberanía de Dios “en este mundo”, se realiza de “modo diverso” a los poderes terrenales.

Sobre esto comenta X. León Dufour: “En su respuesta, Jesús afirma su basileía. El término griego no significa aquí «reino» o «reinado» (como en la expresión «reino de Dios»: Jn 3, 3.5), sino «realeza», la que ejerce el Hijo desde su venida al mundo. El sentido es claro en 18,37, donde se trata de una cualificación de la persona y del papel del mismo Jesús. El lenguaje es típicamente joánico: el origen (indicado con la preposición ek) determina la naturaleza de un ser. La realeza del Hijo proviene de más allá del mundo, pero se ejerce aquí abajo. Afecta a todos los hombres, como demuestra la segunda afirmación”[2].

Lo que Jesús dice aquí de su Reino, que “no es de este mundo”, ya lo había dicho antes de sí mismo y de los cristianos a lo largo del evangelio. Por ejemplo:

Jn 8,23: "Ustedes son de aquí abajo, yo soy de lo alto. Ustedes son de este mundo, yo no soy de este mundo".

Jn 15,19: Si ustedes fueran del mundo, el mundo los amaría como cosa suya. Pero como no son del mundo, sino que yo los elegí y los saqué de él, él mundo los odia.

Jn 17,14.16: Yo les comuniqué tu palabra, y el mundo los odió porque ellos no son del mundo, como tampoco yo soy del mundo… Ellos no son del mundo, como tampoco yo soy del mundo.

Volviendo a la respuesta de Jesús, la misma deja en claro que la realeza de Jesús nada tiene que ver con el poder político y, por ello, los romanos nada pueden temer acerca de él. Y su realeza tampoco tiene que ver con la concepción de un mesianismo terreno como sostenían algunos judíos. Al parecer Pilato no llega a captar esta diferencia de sentido e insiste sobre la realeza de Jesús: "¿Entonces tú eres rey?". La respuesta de Jesús, literalmente según el griego, es: "Tú dices que soy rey" (σὺ λέγεις ὅτι βασιλεύς εἰμι Jn 18,37). Por tanto, no se trata de una confirmación de la pregunta, como tampoco de una negación. Tal como sugiere lo que sigue, Jesús acepta ser reconocido como rey, pero no en el sentido que Pilato le da a la realeza. Recordemos que después de la multiplicación de los panes lo quisieron hacer rey Jesús huyó a la montaña (cf. Jn 6,15).

La segunda parte de la respuesta de Jesús es de una gran densidad teológica: "Yo para esto he nacido y para esto he venido al mundo: para dar testimonio de la verdad. Todo el que es de la verdad, escucha mi voz".

En primer lugar, vemos con sorpresa que Jesús vincula su realeza con la verdad. Pero importa mucho notar que la verdad, como la realeza, tiene en el evangelio de Juan un sentido propio que no concuerda ni con la concepción común (la verdad como realidad) ni con la definición de los filósofos (el ser de las cosas). Para el evangelio de Juan, en la línea de la apocalíptica y la literatura sapiencial, la verdad es la revelación del plan divino de salvación. Como dice un gran estudioso de este tema, I. de la Potterie[3]: "La verdad no es el ser de las cosas, sino la manifestación, el descubrimiento del designio de Dios". Por tanto, “dar testimonio de la verdad” (μαρτυρήσω τῇ ἀληθείᾳ Jn 18,37) es la misión de Jesús en cuanto Verbo venido de Dios al mundo (cf. Jn 1). Y según el mismo I. de la Potterie, cuando en el prólogo del evangelio de Juan se dice por dos veces que el Verbo encarnado está "lleno de gracia y de verdad" (1,14.17) habría que traducirlo como "lleno de la gracia de la verdad", por cuanto "hay un solo don que el Verbo trae a los hombres: la gracia de la verdad. Esta verdad es la revelación definitiva de Dios a los hombres por medio de su Hijo y en su Hijo. El hombre Jesús es la revelación total y revela lo que él es en su propio ser: Hijo del Padre. El don de la verdad es el Hijo unigénito que, en cuanto hombre, ha revelado al Padre […] Para Juan, ésta es la verdad: la revelación del misterio de salvación en Jesús, Hijo del Padre, la posibilidad para nosotros de convertirnos en hijos de Dios […] La misión de Jesús consiste en traer la plenitud de la revelación, dándose a conocer como Hijo de Dios"[4].

En la misma línea X. León Dufour dice que: “la realeza de Jesús no consiste, por tanto, en su dominio escatológico sobre las naciones de este mundo, como la presenta el libro del Apocalipsis, sino en que, por su palabra y por su presencia, el Hijo propone a los hombres el don de la comunión divina. Por eso, en este texto, la «verdad» no puede disociarse de aquel que ha venido al mundo para manifestarla. La «verdad» no es una teoría, sino una llamada que llega a las profundidades del hombre.”[5].

¿Qué significa entonces la expresión que sigue: "Todo el que es de la verdad, escucha mi voz"? En el evangelio de Juan "ser de la verdad" implica aceptar esta verdad, es decir, la revelación del Padre y de nuestra filiación divina en Cristo, creer en ella y dejar que nos ilumine, que por la acción del Espíritu Santo nos transforme en hijos. Quien vive esto, escuchará su voz, al igual que las ovejas del rebaño de Cristo, el buen pastor, escuchan su voz (cf. 10,4). En este capítulo 10 de san Juan las ovejas que escuchan la voz de Cristo y lo siguen son las que forman la nueva comunidad congregada en torno a él. Por tanto, los que aceptan la revelación del Hijo, la verdad, escuchan su voz y se congregan en torno a él y de este modo se hace presente el Reino de Dios y Jesús ejerce así su realeza. Pero dejemos que nos lo explique I. De la Potterie[6]: "En Juan, el conocimiento de la verdad se confunde con la fe […] La nueva comunidad en torno a Cristo es una relación existencial en las dos direcciones: él llama a los suyos y los suyos lo escuchan y él los reúne en torno a sí. Esta es la soberanía, la realeza de Cristo en la teología joánica. Esta realeza se funda en la verdad que él revela a los hombres. La única manera de entrar en este reino es abrirse a esta verdad, dejarse plasmar por ella. Cristo ejerce su propia soberanía sobre los suyos en la medida en que ellos se dejan recrear como hijos de Dios".

ALGUNAS REFLEXIONES

El fin del año litúrgico obviamente nos invita a meditar sobre el fin de la historia y el juicio final; pero ante todo en esta fiesta se nos invita a dirigir nuestra mirada de fe a Cristo Rey y confesar su triunfo final y definitivo. Dado que la liturgia en este ciclo nos ha ofrecido el evangelio de Juan para iluminar la solemnidad de Cristo Rey, sería conveniente seguir su presentación de la realeza de Cristo.

Según vimos, el tema de la realeza de Jesús es central en toda la sección del juicio ante Pilato y particularmente del texto de este domingo. Para el Cardenal C. M. Martini[7] la pregunta temática fundamental a la que quiere responder el texto se puede expresar de este modo: "¿cuál es la verdadera realeza de Cristo, si, cuando querían hacerlo rey, había huido, mientras aquí los hechos y las situaciones insistentemente lo proclaman rey?".

La respuesta del cuarto evangelio es que Cristo reina en su Pasión, es rey ante todo en la cruz pues allí manifiesta a los hombres su libre entrega por amor al Padre. En la cruz da testimonio de la verdad del amor del Padre. El mismo Card. Martini[8] nos lo explica y lo aplica muy bien: "¿Qué significa Reino de Dios o Reino del Padre? Significa que Dios está en el centro de toda realidad y que toda la realidad está perfectamente ordenada bajo el dominio divino. Este es el Reino de Dios que Jesús vino a instaurar. Según la doctrina expuesta por Juan, este dominio se le da a Jesús precisamente en el momento en el cual él cumple el supremo servicio de caridad y de verdad. Se cumple también la palabra de Jesús acerca de la atracción. Jesús no reina dominando, esto es, extendiendo su influencia de persona a persona mediante un poder de lo alto, sino que reina atrayendo. Haciendo resplandecer en sí el amor de Dios por la humanidad desamparada. Jesús es capaz de atraer a sí a todo el que sepa leer este signo, es decir, a quien por medio de la mediación de la cruz sabe leer en la propia pobreza y desamparo - situación muy semejante a la del Hijo – la certidumbre de ser amado por Dios".

En otras palabras: Jesús es rey, pero no al modo del mundo, y su reino no es de este mundo. Como bien comenta el Papa Francisco: “esto no significa que Cristo sea rey de otro mundo, sino que es rey de otro modo, y sin embargo es rey en este mundo. Se trata de una contraposición entre dos lógicas. La lógica mundana se apoya en la ambición, la competición, combate con las armas del miedo, del chantaje y de la manipulación de las conciencias. La lógica del Evangelio, es decir la lógica de Jesús, en cambio se expresa en la humildad y la gratuidad, se afirma silenciosa pero eficazmente con la fuerza de la verdad. Los reinos de este mundo a veces se construyen en la arrogancia, rivalidad, opresión; el reino de Cristo es un «reino de justicia, de amor y de paz» (Prefacio)” (Ángelus del 22 de noviembre de 2015).

Es decir, su soberanía no se funda ni se ejerce como en los poderes de este mundo. Y tampoco tiene la pretensión de ser un reino exclusivamente político-temporal. Todo esto es tentación. Como bien reconoce I. De la Potterie: "Esta tentación del poder temporal ha perdurado en el transcurso de la historia de la Iglesia. Ésta no se encuentra, ciertamente, en la línea del evangelio, pero esto no significa que todas las instituciones hayan de desaparecer y la Iglesia deba permanecer exclusivamente carismática. No, pero debe ser, en todo caso, ¡una Iglesia pobre y con espíritu de servicio!"[9].

En síntesis: Jesús, su reinado y la vida que comunica a los discípulos es de orden trascendente, no puede reducirse a algo exclusivamente terrenal, humano o mundano.

Siguiendo la propuesta del evangelio según san Juan también podemos decir que Jesús es rey en cuanto da testimonio de la verdad, esto es, del designio amoroso del Padre que quiere a todos los hombres como hijos suyos y hermanos entre sí.

En otros términos, el Reino de Cristo se hace presente en la medida que los hombres creen/aceptan/reciben la paternidad de Dios revelada por el Hijo Jesús y se dejan transformar en hijos de Dios y hermanos de los hombres.

Se trata, por tanto, de un Rey y de un Reino que hay que recibir porque vienen de Dios, en el que hay que creer/aceptar para que se haga presente. Pero también es un Reino que hay que extender porque, si bien no es de este mundo en cuanto a su origen y fuerza, está destinado al mundo por cuanto el mundo es llamado a aceptar la soberanía del amor del Padre revelado en Cristo. Vale decir que la vocación del mundo es el Reino de Dios. Este reino de "la verdad y la vida, la santidad y la gracia, la justicia, el amor y la paz" es el proyecto de Dios para los hombres y sólo se hará realidad en la medida en que los hombres aceptemos la soberanía de Cristo. Por eso los cristianos no podemos desentendernos del mundo ni pretender realizar el Reino al margen del mismo.

Al respecto decía el Papa Francisco en el ángelus del 25 de noviembre de 2018: “el Reino de Dios se fundamenta sobre el amor y se radica en los corazones, ofreciendo a quien lo acoge paz, libertad y plenitud de vida. Todos nosotros queremos paz, queremos libertad, queremos plenitud. ¿Cómo se consigue? Basta con que dejes que el amor de Dios se radique en el corazón y tendrás paz, libertad y tendrás plenitud.

Jesús hoy nos pide que dejemos que Él se convierta en nuestro rey. Un Rey que, con su palabra, con su ejemplo y con su vida inmolada en la Cruz, nos ha salvado de la muerte, e indica —este rey— el camino al hombre perdido, da luz nueva a nuestra existencia marcada por la duda, por el miedo y por la prueba de cada día. Pero no debemos olvidar que el reino de Jesús no es de este mundo. Él dará un sentido nuevo a nuestra vida, en ocasiones sometida a dura prueba también por nuestros errores y nuestros pecados, solamente con la condición de que nosotros no sigamos las lógicas del mundo y de sus «reyes».

Que la Virgen María nos ayude a acoger a Jesús como rey de nuestra vida y a difundir su reino, dando testimonio a la verdad que es el amor.”

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Mi Rey y Señor

Vengo a tus pies

Señor de los señores, Rey de reyes

El universo entero se rinde ante ti

Y me uno a su encuentro, Dios Verdadero

¿Quién pudiera hablar de ti

Sin mostrarse limitado y pobre

Amparado en tu Omnipotencia

Humillado y sediento en tu Presencia?

Pastor de campos verdes

De ovejas sin rumbo, de praderas secas.

Llena de tu fecundidad esta tierra

Y álzate poderoso en medio de ella.

Los cielos te abran paso

Y el sol ilumine nuestra senda.

El Reino está aquí, cerca muy cerca

Y nos espera oculto como un niño cuando juega.

Rey de reyes, Señor de los señores

Tu trono está firme… y reinas.

Enciende la fe, alimenta la esperanza

Llena de tu Amor nuestras plegarias. Amén.



[1] Nos referimos en particular a I. de La Potterie, La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 55-89; a quien seguiremos de cerca en el análisis de nuestro texto. De semejante opinión es C. M. Martini, El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 114-135. Por su parte L. H. Rivas, El Evangelio de Juan. Introducción. Teología. Comentario (San Benito; Buenos Aires 2006) 469-485, sostiene que al tema de Cristo Rey se le suma el de Hijo de Dios.

[2] X. León Dufour, Lectura del Evangelio de Juan, Jn 18-21, Vol. IV (Sígueme, Salamanca 1998) 72.73.

[3] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 67-68. Notemos que este autor es posiblemente quien más ha estudiado el tema de la verdad en el evangelio de San Juan habiendo escrito dos grandes volúmenes sobre este tema que son de consulta obligatoria.

[4] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 67.

[5] Lectura del Evangelio de Juan, Jn 18-21, Vol. IV (Sígueme, Salamanca 1998) 75.

[6] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 68.71.

[7] El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 128.

[8] El Evangelio de Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 132.

[9] La Pasión de Jesús según San Juan (BAC; Madrid 2007) 65.