EU SOU O PÃO DA VIDA!

EU SOU O PÃO DA VIDA!

18º DOMINGO COMUM- ANO B

01/08/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Êxodo 16,2-4.12-15

Salmo Responsorial 77(78)R- O Senhor deu a comer o pão do céu.

2ª Leitura: Efésios 4,17.20-24

Evangelho de João 6,24-35

Naquele tempo, a multidão perguntou a Jesus: 30'Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti?' Que obra fazes? 31Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: 'Pão do céu deu-lhes a comer'. 32Jesus respondeu: 'Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. 33Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.' 34Então pediram: 'Senhor, dá-nos sempre desse pão'. 35Jesus lhes disse: 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede. Palavra da Salvação.

É bom que a gente tenha consciência explícita do que buscamos, pois no evangelho vemos que a multidão foi à procura de Jesus, mas pelos motivos errados.

Jesus se decepciona com as pessoas que o procuram. Ele exprime a sua decepção com estas palavras: Em verdade, em verdade, eu vos digo: vós estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. As pessoas seguem Jesus, é verdade, mas esse seguimento é um seguimento ineficaz. Seguem Jesus por curiosidade, por interesse e egoísmo.

Jesus multiplicou os pães e alimentou a multidão porque desejava realizar um sinal que revelasse o seu mistério pessoal, mas a reação do povo perante a multiplicação é muito errada. O povo não vê o sinal revelador, vê somente o milagre extraordinário. O povo segue um milagreiro, mas não segue o enviado do Pai; segue alguém que distribui comida de graça, mas não segue aquele que quer dar-se a si mesmo como alimento de vida eterna.

O povo ficou entusiasmado com um pão recebido milagrosamente e sem trabalho, mas não percebe que está diante do dom da Vida Eterna que é Jesus. Pensa somente na própria barriga, mas não se atina para o dom maravilhoso que o Pai oferece.

A Palavra do Evangelho é para nós uma advertência: viemos à missa com motivações de amor ou estamos na igreja só por interesse pessoal? Nós procuramos Jesus por egoísmo ou procuramos Jesus porque Ele é o pão da vida? Nós seguimos Jesus porque estamos interessados no que Ele pode nos dar ou porque é Jesus.

Nossa Senhora nos ensina sempre que devemos buscar Jesus por Jesus mesmo. Nossa Senhora nos ensina a buscar não o alimento que se perde, mas o pão que permanece até a vida eterna. Ela nos ajuda a desejarmos receber o pão que veio do céu, a querermos com todo o nosso coração o pão que desce do céu e dá a vida ao mundo.

Hoje nós pedimos a Jesus: Senhor, dá-nos sempre deste pão! E Jesus nos responde: Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede!

Jesus é o verdadeiro pão do céu que mata a nossa fome de vida. Todos nós trazemos no mais profundo de nós mesmos uma fome que não pode ser saciada com qualquer comida. Essa fome existencial não pode ser saciada com as riquezas materiais, com a beleza física, com o poder ilimitado, com o prazer desbragado. Temos ânsia de vida sem fim, de vida em plenitude, de vida feliz.

Nossa fome é enorme! Temos fome de Jesus e somente Ele pode saciar nossa fome de Deus! E Jesus é tão bom e misericordioso que não nos deixa com essa fome. Ele se oferece a si mesmo a nós como pão. Esse é o mistério da eucaristia. A eucaristia é o modo genial que Jesus encontrou para se dar a nós como Pão de Vida Eterna.

Maria e eucaristia estão intimamente relacionadas. Nós recebemos Jesus de Maria. Nós recebemos Jesus na eucaristia. Pela fé, Maria recebeu o Verbo no coração antes de concebê-lo em seu seio. Pela fé nós vamos até Jesus para sermos saciados. Através de Maria, nós recebemos o Verbo encarnado. Através da eucaristia nós recebemos o Senhor morto e ressuscitado.

Caro irmão, querida irmã, recebamos Jesus, o Pão da vida com a gratidão com o respeito e a admiração de Nossa Senhora! Para isso tomemos consciência de que o que é o pão para a vida natural, a eucaristia é para a nossa vida sobrenatural.

O pão alimenta. Para viver é preciso receber a vida do pão. Ele se desfaz para que possamos viver; é assimilado pelo nosso organismo: uma parte é queimada como caloria e outra parte se torna osso, músculo, gordura. A eucaristia alimenta nossa vida sobrenatural: não é Jesus que é assimilado por nós; nós é que somos transformados nele.

O pão cura: quando estamos doentes precisamos nos alimentar bem, porque uma boa alimentação recupera a saúde física. A eucaristia, por sua vez, é remédio para não pecar. Ela perdoa os pecados veniais e nos fortalece para que não cometamos o pecado mortal.

O pão deleita. Assim a eucaristia é alegria espiritual; é a exultação do encontro entre o amante e o amado; é a felicidade do amor e do afeto espiritual que corre entre nós e Jesus.

Peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a procurar, a encontrar e a receber Jesus!



Pão que desperta outras fomes

Depois da multiplicação dos pães, Jesus, ao perceber que o povo não tinha entendido nada do que acontecera, pois tentava fazê-lo rei, retirou-se a uma montanha, sozinho. A multidão ficou satisfeita por ter se alimentado; ela segue Jesus por aquilo que Ele pode dar. No entanto, a identificação com Ele e seu projeto passa longe. Seus interesses vão em sentido contrário à atitude de Jesus de despertá-la para a compaixão e a partilha. Jesus ensina como repartir, isto é, como as pessoas precisam ser umas com as outras.

Jesus empenha-se por uma nova humanização, onde as pessoas possam ser livres, mas elas preferem continuar dependendo de outro (rei). Enquanto as pessoas buscam alguém que se responsabilize por elas, Jesus ensina a responsabilidade mútua, a corresponsabilidade. A abundância de alimento é graça de Deus, mas é igualmente empenho de cada pessoa e de todas juntas.

A solução para uma nova humanidade não é o dinheiro, o poder, o domínio ou um milagre externo, mas saber compartilhar tudo com todos. O problema não se soluciona comprando, o problema se soluciona compartilhando. A verdadeira salvação não está em que alguém solucione nossos problemas, nem sequer em ajudar a solucionar todos os problemas dos outros. A verdadeira liberdade está em superar o egoísmo e estar disposto e dividir com os outros o que cada um tem e o que cada um é.

“Não temos em nossas mãos a solução de todos os problemas do mundo, mas diante dos problemas do mundo temos nossas mãos” (Congresso de jovens latino-americanos).

No entanto, segundo o relato de João, a multidão continua buscando a Jesus. Há algo n’Ele que a atrai, mas ainda não sabe exatamente por que o busca nem para quê. As pessoas começam a intuir que Jesus está lhes abrindo um novo horizonte, mas não sabem o que fazer, nem por onde começar. “Do outro lado do mar” Jesus começa a conversar com elas. Há coisas que convém aclarar desde o princípio. O pão material é importante. Ele mesmo lhes ensinou a pedir a Deus “o pão de cada dia” para todos.

Comer nunca significa um mero ato biológico de ingerir alimentos; é sempre um ato comunitário e um rito de comunhão. À mesa, onde se parte o pão do Senhor, o cristão aprende a partir e a partilhar o “pão de cada dia” com os outros. Além disso, o pão que comemos esconde toda uma rede de relações anônimas; antes de chegar à mesa, ele passou pelo trabalho de muitos braços; há muitas lágrimas e suores escondidos em cada pão, como também há muito de solidariedade e partilha. Portanto, o pão que é produzido junto deve ser repartido junto e consumido junto. O Senhor resgata em nós a fome e a sede mais profunda de encontro, partilha e vida. A mesma necessidade básica nos iguala a todos; a satisfação coletiva nos confraterniza. Só então podemos, verdadeiramente, pedir: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

A conversa de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito, mas exigente. Jesus procura abrir os olhos do povo para que aprenda a ler os acontecimentos e descubra neles o rumo que deve tomar na vida. Pois não basta ir atrás de sinais milagrosos que multiplicam o pão para o corpo. Não só de pão vive o ser humano. A luta pela vida sem uma mística que inspira, não alcança a raiz do próprio ser.

Enquanto vai conversando com Jesus, o povo fica cada vez mais contrariado com as palavras dele. Mas Jesus não cede, nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que a conversa avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Ele. No fim só sobram os doze, e nem assim Jesus pode confiar em todos eles. Esse é o eterno problema da vida cristã: quando o evangelho começa a exigir compromisso, muita gente se afasta; quando se trata de seguir e se identificar com uma Pessoa (Jesus), muitos se refugiam na doutrina, no legalismo, no ritualismo..., vivendo um seguimento estéril.

O dinamismo do seguimento é gerar vida, fazer o(a) discípulo(a) viver a partir da verdade mais profunda de si mesmo(a); ou seja, viver a partir do coração, do “ser profundo”.

“Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”.

No gesto da multiplicação dos pães se condensou todo o caminho de Jesus: vida doada na luta contra todo tipo de sofrimento e fome, na mesa partilhada onde as relações humanas alimentam a fraternidade do Reino. Aqui se conecta a essência da Vida de Jesus com a vida dos seus seguidores.

Para a mentalidade bíblica, o pão é um dos sinais primordiais da graça e do amor com que Deus nos sustenta e nos protege. Diante do pão estamos face a uma realidade santa. O pão é tratado com respeito e veneração. O pão é santo porque está associado ao mistério da vida que é sacrossanta. Em cada pedaço de pão há mais presença da mão de Deus do que da mão do ser humano. Para o cristão o pão é ainda mais santo porque simboliza a reconciliação final de todos no banquete definitivo do Reino; o pão carrega a promessa de uma plenitude de vida.

O “pão do Reino” já se antecipou e é Jesus mesmo em sua vida e mensagem; Jesus continua presente na história e na vida de cada um através do “pão eucarístico”, alimento dos peregrinos rumo à pátria celeste. Somos eternos insatisfeitos; nunca nos saciamos de pão e milagres; queremos mais e mais. Isso nos revela que nosso interesse é ter vida assegurada e o estômago cheio. Esta realidade nos leva a perguntar: que pão nos sacia?

Porque há pães que, enchendo o estômago, nos tiram a liberdade. São pães repartidos em escravidão, pães seguros com sabor de suor e lágrimas; pães de Egito, pães que dão a falsa sensação de saciedade. Há pães que nos despertam para confiar em Deus; são pães que chegam providencialmente e de maneira gratuita. Aparecem quando menos esperamos e tem o sabor do caminho e do encontro.

Para qual pão trabalhamos? Ou ainda, a partir de onde pedimos pão? A partir da segurança e da escravidão ou a partir da insegurança e da confiança? Jesus se apresenta a nós como o alimento que não perece. Buscá-Lo é descobrir o que Deus quer de nós e agradecer o que nos dá para o caminho. Quem o rejeita fica atado aos pães deste mundo que exigem fadiga, competição e escravidão. Quem o aceita, liberta-se dos tempos e espaços e se sacia de confiança.

Que pão buscamos? Que pão desperta outras fomes em nós?

O que é que nutre realmente o nosso ser essencial?”

“Não somente o nosso corpo, não somente nosso psiquismo, não somente nossa afetividade, mas o que é que nutre aquilo que não morrerá em nós?”

“O que é que nutre a eternidade em nós?”

“O que é verdadeiramente nutritivo? O que é que nutre a nossa identidade?

Para meditar na oração:

Não é possível reconhecer o Corpo do Senhor presente na Eucaristia se não se reconhece o Corpo do Senhor na comunidade onde alguns passam necessidades. Pois, se fechamos os olhos às divisões e às desigualdades mentimos ao dizer que Cristo está presente na Eucaristia.

Enquanto não nos mobilizamos a mudar nossa sociedade de maneira que mais pessoas aceitem a alegria de compartilhar o pão e a vida, faltará algo em nossa Eucaristia. Essa “ferida” o cristão deve sempre tê-la presente.

João 6,22-35 - Jesus o pão da vida

Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.


OLHAR DE PERTO AS COISAS DA NOSSA VIDA

Vamos meditar sobre o longo discurso do Pão da Vida. Depois da partilha dos pães, o povo foi atrás de Jesus. Tinha visto o sinal, comeu com fartura e queria mais! Não se preocupou em procurar o apelo de Deus que havia em tudo isso. Quando encontrou Jesus na sinagoga de Cafarnaum, teve com ele uma longa conversa, chamada Discurso do Pão da Vida. Por meio desse discurso, Jesus procura abrir os olhos do povo para ele descobrir o rumo certo que deve tomar na vida. Dá olhos novos para ler os fatos e ver melhor as necessidades. Pois não basta ir atrás do sinal da partilha do pão para o corpo. Não só de pão vive o ser humano!


SITUANDO

Neste discurso do Pão da Vida (Jo 6,22-71), através de um conjunto de sete diálogos, o evangelista explica para os leitores e as leitoras o significado profundo da partilha dos pães como símbolo da Ceia Eucarística. É um diálogo bonito, mas exigente. A pessoa fica chocado com as palavras de Jesus. Mas Jesus não cede nem muda as exigências. O discurso parece um funil. Na medida em que avança, é cada vez menos gente que sobra para ficar com Jesus. No fim só sobram os doze, e nem assim pode confiar em todos eles!

Quem lê o quarto Evangelho superficialmente pode ficar com a impressão de que João repete sempre a mesma coisa. Lendo com mais atenção, perceberá que não se trata de repetição. O quarto Evangelho tem um jeito próprio de repetir o mesmo assunto, mas é num nível cada vez mais alto ou mais profundo. Parece uma escada em caracol. Girando você volta ao mesmo lugar, mas num nível mais alto. Assim é o discurso sobre o Pão da Vida. É um texto que exige toda uma vida para meditá-lo e aprofundá-lo. Por isso, não se preocupe se não entender logo tudo. Um texto assim a gente deve ler, meditar, ler de novo, repetir, ruminar, como se faz com uma bala gostosa. Vai virando e virando na boca, até se gastar.


COMENTANDO

Jo 6,22-27: 1º Diálogo – O povo procura Jesus porque quer mais pão

O povo viu o sinal, mas não o entendeu como um sinal de algo mais alto ou mais profundo. Parou na superfície: na fartura de comida. Buscou pão e vida, mas só para o corpo. Para o povo, Jesus fez o que Moisés tinha feito no passado: deu alimento farto para todos. Indo atrás de Jesus, queria que o passado se repetisse. Mas Jesus pede que o povo dê um passo. Além do trabalho pelo pão que perece, deve trabalhar também pelo alimento não perecível. Este novo alimento é que traz a vida que dura para sempre.

Jo 6,28-33: 2º Diálogo – Jesus pede para o povo trabalhar pelo pão verdadeiro

O povo pergunta: “O que fazer para realizar este trabalho (obra) de Deus?” Jesus responde: “Acreditar naquele que Deus enviou!” Isto é, crer em Jesus! O povo reage: “Então, dê-nos um sinal para a gente saber que você é o enviado de Deus! Nossos pais comeram o maná que foi dado por Moisés!” Para eles, Moisés é o grande líder do passado, no qual acreditam. Se Jesus quer que o povo acredite nele, deve fazer um sinal maior que o de Moisés. Jesus responde que o pão dado por Moisés não era o pão verdadeiro, pois não garantiu a vida para ninguém. Todos morreram! O pão verdadeiro de Deus é aquele que vence a morte e traz vida! Jesus tenta ajudar o povo a se libertar dos esquemas do passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa fechar-se nas coisas de antigamente e recusar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar o novo que chega como fruto da semente plantada no passado.


Jo 6,34-40: 3º Diálogo – O pão verdadeiro é fazer a vontade de Deus

O povo pede: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!” Pensavam que Jesus estivesse falando de um pão especial. Então Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!” Comer o pão do céu é o mesmo que crer em Jesus e aceitar o caminho que ele ensinou, a saber: “O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!” (Jo 4,34). Este é o alimento que sustenta a pessoa, dá rumo e traz vida nova.


ALARGANDO

O Sinal do Novo Êxodo

A partilha dos pães aconteceu próximo da Páscoa (Jo 6,4). A Festa da Páscoa era a memória perigosa do Êxodo, a libertação do povo das garras do faraó. Assim, todo o episódio narrado neste capítulo tem um paralelo com os episódios relacionados com a Festa da Páscoa, tanto com a libertação do Egito quanto com a caminhada do povo no deserto em busca da terra prometida. Vamos apresentar este paralelo através dos pequenos blocos que formam o capítulo 6 do Evangelho de João.

Partilha dos pães (Jo 6,1-15)

Jesus tem diante de si a multidão faminta e o desafio de garantir o alimento para todos. Da mesma maneira Moisés enfrentou este desafio durante a caminhada do povo pelo deserto (Ex 16,1-35; Nm 11,18-23). Depois de comer, a multidão saciada reconhece Jesus como o “Profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6,14) dentro do que pede a Lei da Aliança (Dt 18,15-22).

Jesus caminha sobre o mar (Jo 6,16-21)

Para o povo da Bíblia, o mar era símbolo do abismo, do caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar através de seu sopro e o povo atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens a Bíblia mostra Deus vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-19; Pr 8,27). Vencer o mar significa impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas. Nesta passagem Jesus revela sua divindade dominando e vencendo o mar, impedindo que a barca dos discípulos seja tragada pelas ondas.

O discurso sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-58)

Este longo discurso feito na sinagoga de Cafarnaum está relacionado com o capítulo 16 do livro do Êxodo. Vale a pena ler todo este capítulo de Êxodo, percebendo as dificuldades que o povo teve que enfrentar na sua caminhada, para podermos compreender os ensinamentos de Jesus aqui no capítulo 6 do Evangelho de João.

Quando Jesus fala de “um alimento que perece” (Jo 6,27), ele está lembrando Ex 16,20. Da mesma forma, quando os judeus “murmuram” (Jo 6,41), fazem a mesma coisa que os israelitas no deserto, quando duvidam da presença de Deus junto com eles durante a travessia. A falta de alimentos fazia com que o povo duvidasse que Deus estivesse com eles, de que Deus fosse Javé, resmungando e murmurando contra Deus e contra Moisés. Aqui também os judeus duvidam da presença de Deus em Jesus de Nazaré (Jo 6,42).

O coração do cristianismo

José Antonio Pagola

As pessoas necessitam de Jesus e procuram-no. Há algo Nele que as atrai, mas todavia não sabem exatamente por que o procuram nem para quê. Segundo o evangelista, muitos fazem-no porque no dia anterior distribuiu-lhes pão para saciar a sua fome.

Jesus começa a conversar com eles. Há coisas que convêm clarear desde o princípio. O pão material é muito importante. Ele mesmo os ensinou a pedir a Deus «o pão de cada dia» para todos. Mas o ser humano necessita de algo mais. Jesus quer oferecer-lhes um alimento que possa saciar para sempre a sua fome de vida.

As pessoas intuem que Jesus lhes está a abrir um horizonte novo, mas não sabem que fazer, nem por onde começar. O evangelista resume as suas interrogações com estas palavras: «e que obras temos que fazer para trabalhar no que Deus quer?». Há neles um desejo sincero de acertar. Querem trabalhar no que Deus quer, mas, acostumados a pensar tudo a partir da Lei, perguntam a Jesus que obras, práticas e observâncias novas têm que ter em conta.

A resposta de Jesus toca o coração do cristianismo: «a obra (no singular!) que Deus quer é esta: que acrediteis Naquele que foi enviado». Deus só quer que creiam em Jesus Cristo pois é a grande dádiva que Ele enviou ao mundo. Esta é a nova exigência. Nisto têm de trabalhar. O resto é secundário.

Depois de vinte séculos de cristianismo, não necessitaremos de descobrir de novo que toda a força e originalidade da Igreja estão em crer em Jesus Cristo e segui-Lo? Não necessitamos passar da atitude de adeptos de uma religião de “crenças” e de “práticas”, a viver como discípulos de Jesus?

A fé cristã não consiste primordialmente em ir cumprindo corretamente um código de práticas e observâncias novas, superiores às do antigo testamento. Não. A identidade cristã está em aprender a viver um estilo de vida que nasce da relação viva e confiada em Jesus, o Cristo. Vamo-nos fazendo cristãos na medida em que aprendemos a pensar, sentir, amar, trabalhar, sofrer e viver como Jesus.

Ser cristão exige hoje uma experiência de Jesus e uma identificação com o Seu projeto que não se requeria anos atrás para ser um bom praticante. Para subsistir no meio da sociedade laica, as comunidades cristãs necessitam cuidar mais que nunca da adesão e do contacto vital com Jesus, o Cristo.

O pão que dá vida ao mundo

Ana Maria Casarotti


Este domingo e os que seguem continua-se lendo o capítulo seis do Evangelho de João, conhecido como o discurso do Pão de Vida, próprio desse Evangelho. Nele Jesus continua a ensinar caraterísticas essenciais no seu seguimento.

Hoje reaparece a temática da multiplicação dos pães e dos peixes que ao longo do capítulo transforma-se num debate com diferentes interlocutores. Neste momento são os galileus os que receberam ou beneficiaram-se da multiplicação dos pães. Mais adiante serão os judeus que são críticos com Jesus. Aparecem depois os discípulos e discípulas de Jesus, para finalizar com o grupo que está sempre ao lado de Jesus: os Doze.

O diálogo apresentado no texto revela a dificuldade da comunidade cristã para compreender e acolher Jesus como Pão de Vida, aquele que sacia a fome profunda que há em toda pessoa. Mas para isso devem reconhecer essa fome que não se satisfaz unicamente com o alimento que perece ou com a água que sacia a sede, como a samaritana no capítulo quarto. O texto termina com os judeus suplicando: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

Quando a multidão viu que nem Jesus nem os discípulos estavam aí, as pessoas subiram nas barcas e foram procurar Jesus em Cafarnaum.

Jesus já não está mais junto deles. E a multidão o procura, o busca, porque ele saciou sua fome, e para eles é o profeta.

A multidão apercebe-se que Jesus passou para “o outro lado” e também eles devem passar para o outro lado. Jesus já está em Cafarnaum e eles dirigem-se ao seu encontro.

Imaginemos este grupo de pessoas preocupadas porque esse profeta já não está junto deles! Mas eles não duvidam, sobem nas barcas e vão aonde escutaram que está Jesus. Não é uma travessia em vão, eles o encontram!

Quando encontraram Jesus no outro lado do lago, perguntaram: “Rabi, quando chegaste aqui?”.

O termo Rabi nos coloca na atmosfera do ensinamento. Jesus não responde à pergunta e denuncia que eles o procuram por terem visto sinais, porque comeram o pão e se saciaram. Jesus procura esclarecer que na sua busca há intenções que precisam ser aclaradas. A multidão ficou feliz pelo alimento que os deixou satisfeitos, mas não percebeu que era uma manifestação da presença de Deus em Jesus.

Por isso disse-lhes que se eles o procuram simplesmente pelo alimento que “estraga”,continuarão a ter fome. A proposta de Jesus gera uma revolução total: Não trabalhem pelo alimento que se estraga; trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna.

A pedagogia de Jesus mostra-se uma vez mais neste texto, na sua tentativa de apresentar-se a partir de um sinal para revelar-se a si mesmo como o dom de Deus.

Jesus vem trazer algo primordial. Ele não proporciona o alimento que se obtém pelo esforço e a partilha entre os seres humanos, mas traz o alimento que sacia a fome profunda que há em toda pessoa e que gera solidariedade, convivência e justiça social. É este alimento que o Filho do Homem dará a vocês, porque foi ele quem Deus Pai marcou com seu selo.

Este é o dom da sua Pessoa que somos convidados e convidadas a acreditar e acolher! A obra de Deus é que vocês acreditem naquele que ele enviou.

Eles perguntam o que devem fazer para agradar a Deus e Jesus responde que a “Obra de Deus” é que eles acreditem naquele que Ele enviou: sua própria pessoa. Eles não entendem e continuam a pedir.

Nos diálogos do texto, Jesus purifica a fé de seus seguidores e neste momento manifesta-se a dificuldade dos fariseus em quebrar a segurança de sua fé. Mas Jesus relativiza o sistema mosaico, respondendo que o sinal era de Deus, não de Moisés: Eu garanto a vocês: Moisés não deu para vocês o pão que veio do céu. É o meu Pai quem dá para vocês o verdadeiro pão que vem do céu, porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.

Esse mesmo Deus propicia-lhes neste momento o verdadeiro Pão, que é aquele que vem de Deus e dá vida ao mundo. Termina o diálogo com a súplica da multidão: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

Somos convidados hoje a ir à procura de Jesus, passar para o outro lado, aquele onde Jesus se encontra e deixar-nos instruir e ensinar por Ele.

Acreditamos realmente nele? Cada vez que escutamos sua Palavra ou participamos da Eucaristia acreditamos nele e recebemos sua presença em nossas vidas?

Jesus hoje nos faz uma pergunta que fica aberta para responder ao longo destes dias: Quais são nossas intenções quando vamos à sua procura?

Oração

Confissão de fé do Povo de Deus

Mulheres e homens,

de muitos sangues,

porém de um só coração

e numa mesma Pátria Grande,

Te confessamos e Te amamos

como o Coração do Céu

e o Coração da Terra,

em todos os tempos adorado

por todas as culturas,

caminho em todos os caminhos dos Povos.

........

Confiamos na força e no júbilo do teu Espírito,

que nos sustenta e nos impulsa

e nos faz cantar e dançar

e nos leva pelas veredas da utopia,

apesar da dor

e contra o império da destruição.

Sabemos que vencerá os ídolos da morte,

adorados no lucro e na prepotência,

assassinos de milhões de vidas,

meninas e adultas,

em nosso continente e em todo o Terceiro Mundo.

Cremos que nos amas,

porque és o Amor.

Sabemos que nos queres sempre mais semelhantes a Ti,

Vida, Presença e Comunhão,

mulheres novas e homens novos,

na comunidade fraterna de teu Povo,

a caminho da Terra sem males,

o novo Céu e a nova Terra

que nos tens preparado como herança.

Dom Pedro Casaldáliga

Jesus é pão que da vida

Tradução Moisés Sbardelotto

Depois do sinal da multiplicação-partilha dos pães, Jesus, rejeitando a aclamação mundana por parte da multidão que queria fazê-lo rei, porque ele lhe tinha fornecido alimentos, fugiu em solidão para o monte (cf. Jo 6,14-15), deixando os discípulos que tentavam retornar de barco para a outra margem do mar, rumo a Cafarnaum (cf. Jo 6,16-17). Mas já era noite, e uma violenta tempestade havia se desencadeado sobre o lago.

Naquela situação de dificuldade, os discípulos entreveem Jesus caminhando sobre as águas do lago, vindo na direção deles e são tomados pelo medo. Mas ele diz: “Egó eimi, Eu sou, não tenham medo!”, depois desembarca com eles na terra firme e entra em Cafarnaum (cf. Jo 6,18-21).

E eis que, “no dia seguinte” (Jo 6,22) a multidão, que havia comido o pão, põe-se no seu rastro, alcança-o atravessando o lago, por sua vez, em diversas barcas e lhe pergunta com respeito: “Rabi, mestre, quando chegaste aqui?”. Mas Jesus, conhecendo as motivações daquela busca, não responde à curiosidade da multidão, mas revela com autoridade como ela é insuficiente, ambígua e enganosa: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais (semeîa), mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.

Essa busca faz de Jesus aquele que satisfaz as necessidades humanas e preenche a falta, mas desconhece a sua verdadeira identidade, aquela de quem veio não para dar um alimento que tira a fome material, mas para dar aquilo que nutre para a vida eterna.

Aqueles galileus viram o prodígio, mas não leram nele o sinal, ou seja, aquilo que aquela ação de Jesus significava. Sentiram a saciedade, mas não compreenderam que aquele pão era o dom da vida de Jesus.

Revelada, portanto, a atitude da multidão, na sinagoga de Cafarnaum, Jesus faz um longo discurso, anunciando o seu tema nas suas primeiras palavras: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”.

Jesus pede aos seus ouvintes um compromisso, revela o dom que ele, como Filho do homem, dá às pessoas e se manifesta como aquele sobre o qual o Pai colocou a sua bênção. Portanto, é preciso se esforçar, pôr-se em ação por um alimento que nutre para a vida eterna. É verdade que é preciso se esforçar para receber do Pai o pão de cada dia (cf. Mt 6,11; Lc 11,3), alimento para o corpo destinado à morte; mas, ao mesmo tempo, Jesus exorta a desejar, isto é, a trabalhar com igual intensidade e convicção em vista daquele alimento que só ele pode dar, o alimento que dá a vida para sempre, a vida que permanece além da morte.

Preste-se atenção: Jesus não despreza o alimento material, mas, sabendo que “não só de pão vive o homem” (Dt 8,3; Mt 4,4), ele exorta a trabalhar com convicção e intensidade em vista daquele alimento que dá a vida para sempre, alimento que só ele, o Filho do homem, pode dar.

De fato, enviando-o ao mundo, o Pai o marcou com o seu selo, pôs nele a sua marca (cf. Hb 1,3), sendo ele “a imagem do Deus invisível” (Col 1,15), o rosto da sua glória, palavra e relato que narra o verdadeiro e único Deus (cf. Jo 1,18).

Mas, mesmo diante dessa revelação da sua identidade, aqueles galileus não compreendem e, então, perguntam a Jesus: “O que fazer? Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Qual mandamento devemos cumprir?”. Jesus, em resposta, revela a obra, o agir por excelência, que também parece uma não ação, algo que, segundo o sentimento humano, carece de concretude: a ação das ações, a ação por excelência que Deus quer e pede é crer, aderir àquele que ele mandou.

A única obra é a fé, diz Jesus. É obra de Deus, porque permite que Deus opere no ser humano, na história, na vida de quem crê. Sim, aqui está a diferença cristã: no coração da vida do fiel, não está a lei, mas sim a fé. Nunca se repetirá isso o suficiente, e não nos esqueçamos de que o primeiro nome dado aos discípulos de Jesus no Novo Testamento após a ressurreição foi precisamente “os crentes” (At 2,44; 4, 32). A fé faz os cristãos, molda os cristãos, salva os cristãos.

Essa verdade central, porém, deve ser bem compreendida: a fé não é um ato intelectual, gnóstico, mas é uma adesão vital a Jesus Cristo, é um estar no seu seguimento, envolvidos com a sua própria vida. Desse modo, são varridas as contraposições intelectuais entre fé e ações-obras, entre contemplação e ação. A obra do cristão é crer, é acolher o dom da fé para assumir a própria responsabilidade, a própria obra, a própria luta, a própria custódia. Só assim se reconhece o primado da graça, do amor gratuito e sempre antecipado do Senhor, que é um dom a ser acolhido com espírito de estupor e de agradecimento, por ser capaz de gerar no fundo do coração responsabilidade e desejo de responder ao dom ou, melhor, ao Doador.

Crer em Jesus Cristo, o Enviado de Deus ao mundo, significa estar onde ele está (cf. Jo 12,26; 14,3; 17,24), compartilhando com ele a mesma vida, “aonde quer que ele vá” (Ap 14,4), radicalmente e “até o fim” (eis télos: Jo 13,1).

Mas aquela multidão revela a própria identidade: para crer, quer um sinal! Tinham visto o sinal da multiplicação-partilha dos pães, mas, como ele não havia desembocado naquilo que eles queriam, na proclamação de Jesus Rei e Messias mundano, agora exigem outro sinal, como aquele feito por Moisés através do dom do maná (cf. Sl 78,24).

Desse modo, mostram que não são sequer capazes de ler a Torá, porque nela – explica-lhes Jesus – “não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.

E assim Jesus revela que se sente chamado não a dar algo, mas a dar tudo de si mesmo! Então, eles pedem a Jesus que lhes dê esse pão e que o dê para sempre. E ele responde com a revelação inédita: “Egó eimi, eu sou o pão da vida”. Portanto, o pão para a vida eterna não é um simples dom da parte de Jesus, mas é Jesus mesmo, que dá toda a sua pessoa.

O que significa essa linguagem que corre o risco de ser compreendida por nós de modo abstrato? Significa que Jesus é alimento, e, nessa primeira parte do seu longo discurso, ele se apresenta como alimento como Palavra, Palavra do Pai, Palavra feita carne (cf. Jo 1,14), Palavra descida do céu, Palavra enviada por Deus aos humanos.

A Palavra de Deus sempre foi lida no Antigo Testamento como alimento, pão que dá a vida à humanidade (cf. Is 55,1-3, Pr 9,3-6 etc.); mas agora essa Palavra, dita muitas vezes e de diversos modos nos tempos antigos aos seres humanos através de Moisés e dos profetas (cf. Hb 1,1), é um homem: é Palavra de Deus humanizada em Jesus de Nazaré. Nesse sentido, Jesus se entrega aos humanos como “pão da vida”, pão que traz a vida.

Essa linguagem é tão vertiginosa que não é possível comentar tais palavras de Jesus: elas devem ser apenas acolhidas em adoração. Jesus, sim, justamente Jesus, um homem, um judeu marginal da Galileia, o filho de Maria e de José, proveniente de Nazaré, é na verdade a Palavra de Deus e, como tal, é alimento, pão para a nossa vida de crentes nele.

Quem pode dizer que é capaz de entender e de sustentar essas palavras? De todos os modos, talvez o Senhor nos peça apenas que tentemos acolher essas palavras; e que façamos isso sabendo que o seu dom, a sua graça nos permite torná-las palavras acolhidas por cada um de nós de modo muito pessoal, isto é, como somente o Senhor pode nos fazer conhecê-las e entendê-las.

Assim, assimilamos o alimento para a vida eterna, segundo a promessa de Jesus: “Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Uma promessa paralela àquela feita por Jesus à mulher da Samaria: “Aquele que beber a água que eu vou dar, esse nunca mais terá sede” (Jo 4,14).

Tomas Mc Grath

Êx 16,2-4.12-15 – Reflexão


“O povo de Deus no deserto andava”. “O povo de deus também teve fome”. Mas o Povo desconfiava e murmurava diante das dificuldades, enfrentaram Moisés e chegaram até acusar Deus pelos desconfortos da caminhada. Com o povo prestes a sofrer o castigo pela sua revolta, Moisés intercede diante do Javé e o Senhor perdoa o seu pecado. Finalmente, apesar do pecado, Javé concede ao Povo a comida de que este sente necessidade.

Em Êxodo 16 os catequistas bíblicos, ao relatar o acontecimento do maná e dos codornizes, estão mais interessados em fazer catequese, do que em apresentar uma reportagem jornalística da viagem. Isso quer dizer os catequistas pretendem ensinar ao Povo que não podem procurar refúgio e segurança fora de Javé (uma atitude difícil ontem e hoje!!). O povo fala em regressar ao Egito, onde eram escravos, onde tinham pão e carne em abundância: o Egito sempre representa toda e qualquer tentação que o Povo sentiu de voltar atrás, abandonar os valores e a vida de Deus, e se instalar comodamente em esquemas à margem de Deus.

A história das codornizes e do maná tem por base fenómenos reais daquela região: os codornizes atravessam o mar, chegam cansadas da viagem, e são apanhados com facilidade; o maná deve ter por base uma pequena árvore da região que solta uma substância resinosa e espessa que os viajantes recolhem, e passam no pão.

Com estes elementos - coisas que impressionaram o Povo ao longo da marcha pelo deserto - os catequistas bíblicos transmitem as mensagens

Concluindo

1. O episódio começa com o Povo murmurando "contra Moisés e contra Aarão" (vers. 2). Parece que o povo sente saudades do tempo no Egito pois, apesar da escravidão, estava sentado "ao pé de panelas de carne" e comia "pão com fartura" (vers. 3). As dificuldades e limitações da passagem pelo deserto mexeu demais com o grupo, que ainda não conseguiu abandonar a mentalidade de escravo, um povo "verde" demais, e sem maturidade, agarrado à mesquinhez, ao egoísmo, ao comodismo, e que prefere a escravidão à liberdade. É um Povo que ainda não aprendeu a confiar no seu Deus; um povo que não dão conta de seguir Javé de olhos fechados, de aceitar as suas propostas, e seguir as suas orientações sem estabelecer condições.

2. Deus fez “chover pão do céu" (vers. 4) e dar ao Povo carne em abundância (vers. 12). Assim Deus se revela como um Deus de bondade e amor, que cuida do seu Povo, satisfaz as suas necessidades mais básicas para vencer as forças da morte. O cuidado, a solicitude e o amor de Deus experimentados nesta "crise", não só ajuda o Povo a sobreviver, mas o ajuda também a superar a sua mentalidade estreita e egoísta, assim formando um povo mais adulto, mais consciente, e mais responsável, que confia em Deus sem sempre duvidar do seu amor e fidelidade.

3. E finalmente, a profunda percepção dos catequistas, uma sabedoria valendo tanto no deserto quatro mil anos atrás, como para o ano 2021: Deus dá ao Povo apenas a quantidade de comida necessária "para cada dia". Os escravos saindo do Egito tinha consciência clara do mal do acumular – fartura para os Egípcios, e escravidão para os Hebreus. Ainda no deserto tinha os que queriam passar Javé para trás e juntar, desobedecer a Javé e acumular só para sua família. Mas quando faz assim a comida apodrece. A ideia de que Deus dá ao seu Povo o pão necessário para a subsistência (proibindo "juntar" mais do que o necessário para cada dia) pretende ajudar o Povo a libertar-se da tentação do "ter", a ganância de acumular, o desejo descontrolado de posse dos bens. Só Deus é a nossa segurança, devemos confiar somente nele. Só ele (e não os bens materiais) nos liberta e nos leva ao encontro da vida definitiva.

Cfr. Dehonianos – 18 Domingo Tempo Comum-B

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina.


DOMINGO XVIII DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera lectura (Ex 16,2-4; 12-15)

Este texto forma parte de la sección de las pruebas por el desierto en el camino del pueblo hacia el monte Sinaí después de haber huido de Egipto (Ex 16-18). Es clave el verbo hebreo nazah que significa tentar, poner a prueba y que aparece en Ex 15,25 y 16,4 teniendo a Dios como sujeto y a los israelitas como objeto de la prueba. El otro tema central y relacionado con la tentación es la murmuración, expresada con el verbo hebreo lûn que tiene siempre como sujeto al pueblo y lo encontramos en Ex 15,24; 16,2.7 y 17,3.

Ahora bien, la necesidad de alimento que provoca la rebelión del pueblo era real y, por eso, Dios responde enviando codornices por la tarde y el maná por la mañana. “El maná es una sustancia natural que tiene el aspecto de granos blancos dulces: se trata de la linfa que cae de la corteza de las ramas de una especie de tamarisco picadas por ciertos insectos que se alimentan de ella. El alimento del desierto «sabía como a torta de miel» (Ex, 16,31)”[1].

Lo importante, en relación al evangelio de hoy, es el versículo final donde Moisés explica lo que es y significa este alimento: “Al verla, los israelitas se preguntaron unos a otros: ¿Qué es esto?». Porque no sabían lo que era. Entonces Moisés les explicó: «Este es el pan que el Señor les ha dado como alimento” (Ex 16,15).

Evangelio (Jn 6,24-35):

Para poder seguir el hilo de la narración del evangelio de hoy hay que notar que en Jn 6,16-23 (que la lectura litúrgica ha salteado) se cuenta que al atardecer los discípulos bajan a la orilla y se embarcan hacia Cafarnaúm que está en la otra orilla. Cuando anochece Jesús va caminando sobre las aguas y alcanza la barca con los discípulos que estaba llegando a la otra orilla. A la mañana siguiente "cuando la multitud se dio cuenta de que Jesús y sus discípulos no estaban allí, subieron a las barcas y fueron a Cafarnaúm en busca de Jesús" (Jn 6,24). Por tanto, la escena del evangelio de hoy se desarrolla "en la otra orilla", en Cafarnaúm, dónde la multitud ha encontrado finalmente a Jesús. Y como no lo habían visto partir en la barca con sus discípulos, al encontrarlo, lo primero que le preguntan es: "Maestro, ¿cuándo llegaste?" (6,25).

L. H. Rivas[2] nos informa que el título de Maestro o Rabí aparece en el evangelio de Juan en labios de personas que tienen una fe muy débil (cfr. 1,38.49; 3,2; 4,31; 9,2; 11,8; 20,16). Como vimos el domingo pasado, después de la multiplicación de los panes algunos pensaban que era el profeta que debía venir; otros querían hacerlo rey; ahora lo consideran un “maestro” más entre los judíos.

Jesús no les responde la pregunta, sino que les cuestiona la motivación por la cual lo buscan: no por haber visto el signo sino porque "comieron de los panes y se saciaron"; o sea, porque solucionaron el problema de la alimentación diaria. Ya la retirada de Jesús cuando pensaban hacerlo rey ponía de manifiesto su molestia ante esta falta de fe de los judíos mientras que ahora se los dice abiertamente: no supieron ver e interpretar como signo la multiplicación de los panes. Como nota G. Zevini, la multitud: “ha dado más valor al pan que al que le dio ese pan. Busca más bien ventajas materiales y pasajeras que ocasiones de respuesta y de amor”[3].

En el fondo, tal como aparecerá a lo largo del discurso de Jesús, es una cuestión de fe porque es justamente la mirada creyente la que permite ver los hechos de Jesús como signos reveladores de su persona. Recordemos las características de la fe en el evangelio de Juan según el Card. Martini[4]: "la fe, tal como Juan nos la describe, no logra su objetivo sino por medio de testimonio o de signos; por eso, ella realiza, en su estructura esencial, dos condiciones: capacidad de interpretar correctamente los signos como tales, y capacidad de ir más allá de los signos".

Por tanto, los judíos no han interpretado bien el signo ni han podido ir más allá del mismo. Se quedaron en el hecho externo y en el efecto subjetivo favorable que les produjo: comieron y se saciaron. Y punto.

Jesús completa el cuestionamiento anterior con una propuesta: obrar no por alimento perecedero sino por el que permanece hasta la vida eterna. Aparece aquí algo típico del evangelio de Juan como es hablar en dos niveles de realidad y de significación. Por una parte, tenemos el alimento común, que se refiere tanto al que se gana con el trabajo como al que han recibido milagrosamente de manos de Jesús: es perecedero, se destruye, no dura para siempre, como la misma vida que alimenta. Pero por otra parte existe otro alimento que no se destruye, que no perece, sino que permanece hasta la Vida eterna.

¿Y quién les dará este alimento? El "hijo del hombre", título que Juan reserva para referirse a Jesús en su condición gloriosa. Y puede darlo porque Él ha sido "sellado" por el Padre, tiene el sello de Dios que lo acredita. El verbo aquí utilizado (sfragizein) significa primeramente marcar con el sello; pero Juan lo utiliza en 3,33 con el sentido de certificar, es decir, dar certeza: "El que recibe su testimonio certifica que Dios es veraz". Por tanto, el sentido aquí sería que el Padre nos da la certeza de que Jesús es veraz y puede darnos el alimento que permanece hasta la Vida eterna.

Jesús les había hablado de obrar o trabajar (verbo ergázomai) por el alimento que no perece. Ahora "ellos" le preguntan: “¿Qué debemos hacer para obrar (ergázomai) las obras (érga) de Dios?” Si leemos esta pregunta en el trasfondo del mundo judío de aquel tiempo la misma podría referirse, como sostiene L. H. Rivas[5], a las obras de la Ley, es decir, las obras mandadas por Dios en su Ley o Torá. Y como la respuesta de Jesús se refiere a la fe tendríamos entonces en el evangelio de Juan un reflejo de la polémica entre las obras de la ley y la fe tan presente en San Pablo y en el cristianismo primitivo. J. Ratzinger[6] piensa también en la referencia a Ley, pero por su relación simbólica con el pan pues "en el desarrollo interno del pensamiento judío ha ido aclarándose cada vez más que el verdadero pan del cielo, que alimentó y alimenta a Israel, es precisamente la Ley, la palabra de Dios". Y coincide también con L. Rivas en que en la discusión en torno a las obras "está presente en toda la teología paulina".

Lo cierto es que la respuesta de Jesús nos orienta claramente hacia la fe en Él, pues "la obra de Dios es que ustedes crean (πιστεύω) en aquel que él ha enviado" (6,29).

Siguiendo con el doble nivel de significación vemos entonces que hay un pan, una vida y una obra o acción humana destinada a perecer, no durable; mientras que hay también un pan, una vida y una obra o acción humana perdurable, no perecedera. Atención, ambas vienen de Dios, pero está última es el don superior y definitivo que el Padre nos da en Jesús.

Jesús les ha pedido a los judíos que crean en él como “el enviado del Padre”. Entonces, ellos quieren ver un signo y una obra por parte de Jesús como condición para poder creerle (“¿Qué signos haces para que veamos y creamos en ti? ¿Qué obra realizas?” Jn 6,30). Y ponen como ejemplo de signo y de obra el maná que Dios les dio de comer a sus antepasados por intercesión de Moisés, como nos cuenta la primera lectura de hoy. En san Juan se cita la referencia a este hecho presente en el Salmo 78,23-24 (“Mandó desde lo alto las nubes, abrió las compuertas del cielo; les hizo llover maná para comer, les hizo llegar un trigo del cielo”). El tema del maná como comida celestial, dada por Dios, era proverbial en Israel. Por ejemplo, en “el libro de la Sabiduría recoge tradiciones rabínicas, que cantaban las excelencias del maná, su variedad de sabores a gusto de los que lo consumían: «A tu pueblo... lo alimentaste con manjar de ángeles, proporcionándole gratuitamente, desde el cielo, pan a punto, de mil sabores, a gusto de todos; este sustento tuyo demostraba a tus hijos tu dulzura, pues servía al deseo de quien lo tomaba y se convertía en lo que uno quería» (Sab 16,20-21)”[7]. Por eso es posible afirmar que “en Israel todos sabían que en tiempos del Mesías se repetiría esa donación del maná por parte de Dios y los judíos esperaban ese alimento celestial prometido para la era mesiánica […] En la tradición rabínica Moisés era presentado algunas veces como el tipo del Mesías. Se esperaba, por eso, que como Moisés, el Mesías al tiempo de su venida alimentara al pueblo con el maná y calmara la sed con el agua”[8].

Con esta última pregunta de los judíos hemos vuelto al principio, al tema del signo y de la obra. Puede que haya cierta ironía en la forma en que Juan presenta el asunto poniendo de relieve la falta de entendimiento entre Jesús y sus interlocutores, algo típico también en este evangelista. Es que no sólo hay dos órdenes de realidad, sino también de comunicación. Jesús hizo un claro signo: la multiplicación de los panes. Ahora les toca realizar la obra a los judíos: simplemente creer en Jesús como enviado del Padre. Por su parte los judíos piden ver un signo y una obra de Jesús para creerle.

Ante este requerimiento de los judíos, Jesús redobla la apuesta y les contesta que no fue Moisés sino su Padre el que da el verdadero pan del cielo. De modo indirecto se ha proclamado como hijo de Dios, a quien se ha referido como “su” Padre. Al mismo tiempo notemos que el verbo dar está en presente (δίδωσιν): el Padre es el que da, está dando ahora; y lo que da es el verdadero pan del cielo. Por tanto, el alimento que recibieron en el desierto (y en la multiplicación de los panes) es sólo imagen-signo del verdadero pan de Dios que desciende del cielo y da Vida al mundo.

Con esto último Jesús logró su objetivo de hacerles desear este pan de Dios pues lo piden utilizando el vocativo "Señor" (kurie); y piden que se los dé siempre.

A este pedido sigue entonces la proclamación de la identidad entre el pan y Jesús: "Yo soy el pan de Vida. El que viene a mí jamás tendrá hambre; el que cree en mí jamás tendrá sed" (6,35).

Tenemos aquí una de las presentaciones cristológicas típicas de Juan utilizando la expresión "yo soy" que remite al nombre de Yavé revelado por Dios a Moisés (cf. Ex 3,14). Además, la referencia al pan de vida que quita toda hambre recoge varios temas del Antiguo Testamento: "las palabras de Jesús en 6,35 reúnen la expectativa del maná, el nuevo Éxodo, el banquete de la Sabiduría y el banquete escatológico"[9]. En particular sostenemos, con T. Castellarín, que tanto en el Deuteronomio como en el libro de la Sabiduría el maná como pan tiene un valor simbólico que remite a la Palabra de Dios como alimento del creyente (Cf. Dt 8,3; Sab 16,20.26). Considerando estos y otros textos T. Castellarín concluye que “las palabras de Jesús están en esta misma línea. Si él multiplica los panes, como una réplica del maná, es para sugerir que sus palabras y sus enseñanzas son un alimento mejor. Realiza el milagro con la finalidad de que ellos crean en él, que es el enviado del Padre como “el verdadero pan del cielo” (6,32) […] Para Jesús el banquete ofrecido a los cinco mil hombres (6,10), pocos días antes de la Pascua (6,4), tenía un carácter mesiánico que la gente no fue capaz de percibir. Se trataba de la presencia en persona de la Sabiduría, que estaba allí para darse en alimento”[10].

ALGUNAS REFLEXIONES:

El evangelio del domingo pasado estaba centrado en la presentación del milagro-signo de la multiplicación de los panes y en la incorrecta interpretación del mismo por parte de los "comensales". Esto último aparecía claro tanto en el reconocimiento de Jesús como "profeta que debía venir" (Moisés o Elías) como en la pretensión de hacerlo rey. Según vimos, Jesús se retira a la montaña rechazando estas atribuciones, en particular la del mesianismo temporal.

El evangelio de este domingo retoma estos temas y avanza un poco más hasta llegar a la proclamación de Jesús como Pan de Vida. Vale decir que el mensaje de este domingo está centrado en Jesús, en la Vida que el quiere comunicar y en lo que "hay que hacer" para recibirla: creer.

Siguiendo la pedagogía del evangelio de San Juan sería conveniente volver a comenzar por lo acentuado el domingo pasado: el pan como símbolo de la vida y el hambre como expresión del deseo de vivir. El milagro-signo de la multiplicación de los panes, asumiendo la tradición del Antiguo Testamento, nos ayudó a descubrir el pan material y la vida natural como dones de Dios.

Ahora bien, en el evangelio de hoy se nos invita a ir más allá, a descubrir que hay otro pan y otra vida superior, que también es Don de Dios. Aquí se requiere la fe tal como la entiende San Juan, es decir como interpretación correcta de los signos de Dios y como capacidad de ir más allá de los signos a la realidad significada.

Para llegar a esto es necesario primero reconocer la insuficiencia del pan material para satisfacer el deseo de vivir que anida en todo corazón humano. Jesús nos invita a esto al decir que tanto el pan material como la vida que este alimenta son perecederos, es decir, tienden a desaparecer, tienden a la destrucción. A modo de comparación podemos decir que tenemos una vida con fecha de vencimiento. Sigue entonces la invitación a pasar de la necesidad del alimento terreno al deseo profundo de un alimento que dure para siempre, que no perezca. Y entonces Jesús viene a nuestro encuentro con el ofrecimiento de un pan y de una vida que nos permiten superar la fecha de vencimiento, que nos abren a la esperanza de la vida eterna.

Hay que llegar a tomar conciencia de esta realidad de nuestra vida que es la muerte; y también de que nuestro deseo de vivir va más allá de este límite. Entonces sale al cruce de nuestro deseo la esperanza cristiana que nos permite esperar algo más de parte de Dios. En efecto, hay otro pan que nos alimenta para una vida que no perece, sino que es eterna. Se trata de una vida que no se puede comprar ni es fruto del esfuerzo humano, sino puro don de Dios como las codornices y el maná que Dios regaló al pueblo en el desierto. Por eso, cuando en el evangelio de hoy los judíos preguntan lo que tienen que hacer, Jesús les dice que no tienen que hacer nada, sólo creer, aceptar, recibir. Es el desafío de la fe que nos invita a una actitud receptiva delante de Dios. Esta es una acentuación del evangelio de Juan como lo explica J. Casabó[11]: "El emplazamiento ineludible en que la confrontación de Dios coloca al hombre, obliga a éste a definirse. Pero Dios no se presenta para ser aceptado o rechazado. Viene con las manos repletas de dones y sólo quiere que el hombre extienda las suyas para recibirlos. Lo que desea no es la opción en un sentido u otro, sino su libre aceptación, su voluntaria aquiescencia al encuentro. De ahí el mal terrible de la incredulidad".

Lo nota también J. Ratzinger[12] "los que escuchan están dispuestos a trabajar, a actuar, a hacer obras para recibir ese pan; pero no se puede ganar sólo mediante el trabajo humano, mediante el propio esfuerzo. Únicamente puede llegar a nosotros como don de Dios, como obra de Dios […] La realidad más alta y esencial no la podemos conseguir por nosotros mismos; tenemos que dejar que se nos conceda y, por así decirlo, entrar en la dinámica de los dones que se nos conceden. Esto ocurre en la fe en Jesús, que es diálogo y relación viva con el Padre, y que en nosotros quiere convertirse de nuevo en palabra y amor".

También afirmemos que el evangelio de hoy le da un nombre a este Don del Padre: Jesucristo, pan que sacia el hambre de vida eterna que anida en nuestros corazones.

Este sería el gran tema a profundizar: ¿qué significa y qué implica que Jesús es nuestra vida?; o de otro modo y con San Pablo, la afirmación sería que para el cristiano la vida, el vivir es Cristo.

Ya Israel tenía conciencia de que "la fuente de la vida está en Dios", como reza el Salmo 36,10. Ahora Jesús nos dice que en Él está la vida verdadera que nos da el Padre. Por eso hay que ir a Él, creyendo. Todo el evangelio de Juan ha sido escrito con esta finalidad: que tengamos la vida que nos da Jesús (Jn 20,31).

Sabemos, también, que en el orden natural el dar vida implica una extraña combinación de amor y de muerte. La vida es fruto del amor, y esta donación conlleva, en cierto modo, una entrega de sí, un morir. Esto vale más aún para el orden de la Gracia, donde hay un Amor que llega hasta la muerte para dar Vida. Pero esto aparecerá más adelante en el capítulo 6 de Juan y queda para el próximo domingo.

En conclusión, la fe nos lleva a reconocer que Jesús es el pan de vida que puede llenar nuestros deseos más profundos al punto que, teniéndolo a Él, ya no tengamos más hambre ni sed. Y la condición necesaria para esto es creer en Jesús, como nos dijo el Papa Francisco en el ángelus del 5 de agosto de 2015: “Estas palabras están dirigidas, hoy, también a nosotros: la obra de Dios no consiste tanto en el «hacer» cosas, sino en el «creer» en Aquel que Él ha mandado. Esto significa que la fe en Jesús nos permite cumplir las obras de Dios. Si nos dejamos implicar en esta relación de amor y de confianza con Jesús, seremos capaces de realizar buenas obras que perfumen a Evangelio, por el bien y las necesidades de los hermanos.

El Señor nos invita a no olvidar que, si es necesario preocuparse por el pan, todavía más importante es cultivar la relación con Él, reforzar nuestra fe en Él que es el «pan de la vida», venido para saciar nuestra hambre de verdad, nuestra hambre de justicia, nuestra hambre de amor”.

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

Señor Jesús,

Tú que eres la Verdad

¡Enséñanos la fe!

Nos sabemos pequeños

Y deseamos conocerte

Contigo somos libres.

Muéstranos el camino

el sendero a la realidad

a ubicarnos en nuestro lugar

de hambrientos y sedientos

Tórnanos humildes

pero a la vez: herederos

del Reino prometido

del banquete eterno

Aliméntanos del Pan

de la esperanza, y de la Paz

manjar nutritivo y pleno

Solo Tú nos sacias,

nos conduces, nos animas

y en tus brazos nos cargas. Amén.



[1] G. Zevini – P. G. Cabra, Lectio divina para cada día del año. Domingos del tiempo Ordinario. Ciclo B (Verbo Divino; Estella 2002) 160.

[2] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2006) 217.

[3] G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 183.

[4] El Evangelio de San Juan. Ejercicios espirituales sobre San Juan (Paulinas; Bogotá 1986) 92.

[5] El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2006) 218. De opinión semejante es G. Zevini, Evangelio según san Juan (Sígueme; Salamanca 1995) 184.

[6] Jesús de Nazaret. Primera parte (Planeta; Buenos Aires 2007) 316.

[7] J. Vilchez, El don de la vida (DDB; Bilbao 2007) 132-133.

[8] T. Castellarín, “Homilía sapiencial de Jesús en Cafarnaúm”, en La Palabra está muy cerca de ti, en tu boca y en tu corazón… (Ed. J. L. D’Amico – C. Mendoza), ABA – PPC, Buenos Aires, 2015, 294.

[9] L. H. Rivas, El evangelio de Juan (San Benito; Buenos Aires 2006) 225.

[10] T. Castellarín, “Homilía sapiencial de Jesús en Cafarnaúm”, en La Palabra está muy cerca de ti, en tu boca y en tu corazón… (Ed. J. L. D’Amico – C. Mendoza), ABA – PPC, Buenos Aires, 2015, 295-296.

[11] La teología moral en San Juan (Fax; Madrid 1970) 83.

[12] Jesús de Nazaret. Primera parte (Planeta; Buenos Aires 2007) 316.