ENVIO DOS DOZE-15ºTC-B

ENVIO DOS DOZE

15º DOMINGO COMUM -ANO B

11/07/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

https://www.paulus.com.br/portal/liturgia-diaria

1ª Leitura: Amós 7,12-15

Salmo Responsorial 84 (85)R- Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!.

2ª Leitura: Efésios 1,3-14

Evangelho Marcos 6,7-13

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 7Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles!” 12Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo. – Palavra da salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP


O Evangelho de hoje mostra a vida cristã como vida missionária. Jesus chamou os 12 e começou a enviá-los: vocação e missão. Não há missão sem um chamado. Jesus chama para enviar. Na Igreja ninguém se autoproclama pregador do evangelho. Não são os estudos, nem a competência das ciências físicas tampouco santidade pessoa, por maior que seja o que leva alguém a pregar o evangelho, o envio é de Jesus. A ciência, os estudos, a santidade não são dispensáveis, mas não são elas que autorizam alguém a pregar o evangelho. É o Senhor!

Um pregador do evangelho não é enviado para propor uma opinião ou uma teoria, o resultado de uma descoberta pessoal. O pregador é enviado para pregar o evangelho de Jesus. Jesus enviou os apóstolos, dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. O envio implica o anúncio de uma grande notícia, que consiste nem tanto em conteúdo teórico, mas principalmente em prática, prática do amor. Para amar é preciso pelo menos dois. O evangelho não pode ser anunciado como se pessoalmente não tivéssemos nada com ele. A evangelização é uma ação auto implicativa; ou seja, implica nossa vida moldada por aquilo que nós anunciamos. A evangelização é partilha de um tesouro que nós encontramos. É o testemunho de algo que nos conquistou para sempre e que desejamos que encane também a outros. Além disso o evangelho se faz sempre de modo comunicado. Por isso, dois a dois.

O poder de expulsar os espíritos impuros significa que o evangelho não é somente uma nova doutrina, uma sabedoria sublime, mas a transformação deste mundo. Os exorcismos são parte essencial da ação de Jesus. É ele, e não nós, que vence o pecado. Os exorcismos de Jesus devem nos levar a uma grande humildade e uma grande confiança. O mal não é uma fatalidade. Ele foi vencido por Jesus. Sempre estamos expostos ao mal, mas ele pode ser enfrentado porque Jesus o enfrentou e o venceu. O poder dos espíritos impuros é tremendo, mas se eles nos fazem tremer, há um outro diante do qual o demônio treme.

Ao vencer os poderes do inferno, Jesus nos libertou, nos transportou para o ambiente de sua influência, do seu domínio. Tendo vencido o pecado, Jesus criou um novo ecossistema de santidade. Fez surgir um novo bioma de justiça verdadeira. Constituiu para nós uma nova cidadania de fraternidade. Ele nos tirou da posse de Satanás. E agora somos dele. Ainda lutamos, para sermos todo dele. Ainda sofremos o influxo de morte de Satanás. Por isso nos confiamos ao Senhor para que ele, que já venceu Satanás, reafirme sua vitória em cada um de nós. Pertencer à Igreja é pertencer ao espaço vital criado por Jesus em virtude dos sacramentos e da pregação da Palavra.

Jesus recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser u cajado. Nem pão, nem dinheiro, nem sacola na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. É preciso tomar cuidado para não ter uma compreensão errada dessa ordem de Jesus. O acento não deve recair só na pobreza do missionário. A pobreza não é um troféu, nem uma medalha para ser exibida aos outros. Tanto a riqueza como a pobreza não devem ser exibidas para a vaidade pessoal. O importante não é a pobreza do missionário, mas a pobreza da missão. Anunciamos porque o Senhor nos enviou. Anunciamos com simplicidade, confiando que os frutos serão dados por aquele que nos enviou.

O cristão não se coloca no centro das atenções. A sua alegria consiste no anúncio do evangelho. Jesus não deixa a missão por causa do fracasso. Pelo contrário! Ele continua todo dedicado à missão evangelizadora. Continua gastando todas as suas melhores energias para pregar o evangelho do Reino. Não é o sucesso que o move: é o Reino! Não são os aplausos a razão de sua felicidade: é o tesouro do Reino! Não é a gratificação imediata que motiva Jesus, é fazer tudo o que agrada ao Pai.

A pobreza do missionário é essencial, mas muito mais essencial é a pobreza da própria missão.

15º Dom TComum - Mc 6,7-13 – ano B – 11-07-2021

Seguir Jesus é ter entranhas peregrinas

Adroaldo Palaoro

O Evangelho deste domingo marca o começo de uma nova etapa na vida e missão de Jesus. Os discípulos vão estar incorporados à missão que, até agora, era realizada só pelo Mestre. Depois da experiência de fracasso na sinagoga de seu povo, Jesus não só intensifica o anúncio da “boa notícia” do Reino, mas compromete os seus discípulos nesse ministério. A rejeição dos dirigentes e dos seus conterrâneos o obrigam a buscar outros interlocutores que não estavam “viciados” pelo ensinamento oficial.

Jesus, na Galileia, encontrou os seus caminhos: junto ao mar, nas estradas poeirentas, nas margens... Ele se fez “estrada” para encontrar aqueles que não tinham “lugar”, os deslocados, os socialmente rejeitados e que eram a razão de seu amor e do seu cuidado; fez-se solidário com aqueles que estavam à beira dos caminhos e os convidou a caminhar para um novo lugar. Na Galileia, Jesus teve suas preferências e escolheu o caminho da exclusão e da dor. Por isso, ao enviar seus seguidores, lançou-os na “estrada da vida”, para serem presenças de vida onde a vida era violentada: curar, expulsar demônios... Para Ele, o caminho é o lugar do novo, das surpresas, dos encontros...

Inúmeros cristãos entendem sua fé só como uma “obrigação”. Há um conjunto de crenças que devem ser “aceitas”, embora muitos não conheçam seu conteúdo nem saibam o impacto que podem ter em suas vidas; há também um código de leis que “deve” ser observado, embora muitos não entendam bem tanta exigência atribuída a Deus; existem práticas religiosas que “devem” ser cumpridas, mesmo que seja de maneira mecânica. Esta maneira de compreender e viver a fé gera um tipo de cristão medíocre, sem desejo de Deus e sem criatividade nem paixão alguma por contagiar sua fé. Contenta-se com “cumprir”. Esta religião não tem atrativo algum; converte-se em um peso difícil de suportar e provoca alergia em muitos.

Na vivência cristã, muitos passam do seguimento do “Homem das estradas poeirentas” ao mero cumprimento de normas, ritos, doutrinas… No entanto, o caminho de Jesus não vai pelo terreno pantanoso do legalismo e do moralismo, mas pelo terreno firme da misericórdia, do cuidado, do compromisso com a vida... Jesus tinha alergia a lugares fechados, mofados...; ele preferia transitar pelos lugares abertos, arejados, porque se deixava conduzir pelo Espírito.

Já nas primeiras comunidades cristãs o seguimento de Jesus era vivido de outra maneira. A fé cristã não era entendida como um “sistema religioso”; a vivência do seguimento de Jesus era conhecida como “caminho”, que era a maneira mais acertada para viver com sentido e esperança. Dizia-se que o seguimento era um “caminho novo e vivo” e que foi “inaugurado por Jesus para nós”; um caminho que deve ser percorrido “com os olhos fixos n’Ele” (Heb 10,20; 12,2). Os cristãos eram conhecidos como os “adeptos do caminho”.

Por isso, seguir Jesus Cristo era aderir a Ele incondicionalmente, era “entrar” no seu caminho, recriá-lo a cada momento e percorrê-lo até o fim. Seguir era deixar-se “configurar”, isto é, movimento pelo qual a pessoa ia sendo modelada à imagem de Jesus Cristo.

A nossa vida é um êxodo um sair constante do modo fechado de viver para entrar em uma outra realidade nova. O peregrinar é o elemento determinante e com maior valor simbólico para toda a vida. Existem ainda céus por explorar, aventuras por empreender, pensamentos por experimentar e experiências por aceitar; falta-nos ainda muito por saber, por ver, por sentir, por desfrutar... Precisamos ser discípulos(as) da escola da vida.

É de suma importância tomar consciência que a fé é um “percurso” e não um sistema religioso. E no percurso há de tudo: caminhada prazerosa e momentos de busca, desafio que é preciso superar, retrocessos, decisões, dúvidas e interrogações... Tudo faz parte do caminho, também as dúvidas que podem ser mais estimulantes que as poucas certezas e seguranças vividas de forma rotineira e simplista.

O caminho é coletivo, mas está feito de identidades particulares, onde cada um é responsável e cuidador de seu próprio processo itinerante. Cada pessoa é, onde habita, um fio tecedor de relações e interconexões, uma presença que ajuda a construir uma cultura de diálogo acolhedor, em permanente abertura ao encontro. Esta é a sabedoria divina que se expressa e se faz próxima em todos os detalhes da vida.

Cada um(a) é chamado(a) a fazer seu próprio percurso; cada um(a) é responsável da “aventura” de sua vida; cada um(a) tem seu próprio ritmo. Não é preciso forçar nada. No caminho cristão há etapas: as pessoas podem viver momentos e situações diferentes. O importante é “caminhar”, não se deter, escutar o chamado que a todos nos faz viver de maneira mais digna e ditosa.

“Fazer estada com Jesus” pede de todos nós uma atitude de abertura e de deslocamento frente ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar e desinstalar por ele... Importa, pois, re-descobrir com urgência o encontro como valor ético e como hábito permanente de vida.

Precisamos nos levantar cotidianamente de nossos ambientes atrofiados, arejar nossa vida, criar vínculos com aqueles que estão à margem; há sempre uma “estrada ferida” que nos espera.

Faz parte do processo de amadurecimento espiritual, abandonar as poeiras que, desnecessariamente, carregamos. Não se trata de esquecer o passado ou de ignorá-lo, abandonando nossa história. Mas há coisas e situações que carregamos que nos fazem ficar presos, impossibilitados de alcançar novos rumos, novas realizações. É preciso sacudir a poeira dos pés, em sinal de verdadeiro desapego. Desapegar-nos de coisas e situações é um processo importante no desenvolvimento de uma espiritualidade que nos faça crescer humanamente.

A orientação de Jesus nos faz recordar a impactante frase-conselho de Frida Kahlo: “Onde não puderes amar, não te demores”. Não há motivo razoável para que permaneçamos onde o amor não pode acontecer e se realizar. Ajuda-nos, ainda, a sabedoria poética de Mário Quintana, de que “amar é mudar a alma de casa”. O amor é sempre saída de nós mesmos. Mas há portas fechadas. Nesse caso, não é espiritualmente saudável permanecer com a poeira nos pés. É preciso sacudi-la, e seguir viagem.

A paixão pelo Reino nos mobiliza a levar adiante a missão, a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto. Para realizar esta nobre missão, não podemos permanecer sentados. Seguir Jesus exige de nós uma dinâmica continuada, um colocar-nos a caminho em direção às margens. Não podemos viver o chamado do “Rei Eterno” a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade, o despojamento e a mobilidade são exigências básicas.

Corremos o risco de viver em mundos-bolha; podemos construir nossa vida encapsulada em espaços feitos de hábito e segurança, convivendo com pessoas semelhantes a nós e dentro de situações estáveis. É difícil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos terminar estabelecendo fronteiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente. Se isso acontece, acabamos tendo perspectivas pequenas, visões atrofiadas e horizontes limitados, ignorando um mundo amplo, complexo e cheio de surpresas.

Deixar a vida estreita para entrar no vasto horizonte de vida proposto por Jesus: eis o desafio!

Para meditar na oração:

Deus nos chama a cada dia para o desconhecido, para o novo; Deus nos tira de casa, nos faz sair do que é nosso, da segurança, da comodidade... e nos faz entrar numa “terra nova”...

- No “mapa espiritual” de seu interior (sentimentos, desejos, sonhos...) ainda existe uma “terra desconhecida”, que proporciona interesse à vida, suscita curiosidade, lhe impulsiona a caminhar?...

Ou está tudo amarrado, formatado, atrofiado..., esvaziando seu espírito de busca?

Marcos 6,7-13 - Envio dos doze para a missão

Carlos Mesters e Mercedes Lopes.


O conflito cresceu e tocou de perto a pessoa de Jesus. Como ele reage?

De duas maneiras: diante do fechamento da sua família e do seu povoado, Jesus deixou Nazaré de lado e começou a percorrer os povoados nas redondezas. Além disso, ele abriu a missão e intensificou o anúncio da Boa Nova.

Chamando os doze, os enviou com as seguintes recomendações: deviam ir dois a dois, receberam poder sobre espíritos maus, não podiam levar nada no bolso, não deviam andar de casa em casa e, caso não fossem recebidos, deviam sacudir o pó das sandálias e seguir adiante. E eles foram.

É o começo de uma nova etapa. Agora já não é só Jesus, mas é todo o grupo que vai anunciar a Boa Nova de Deus ao povo. Se a pregação de Jesus já dava conflito, quanto mais agora, com a pregação de todo o grupo! Se o mistério já era grande, ainda será maior com a missão intensificada.

Alargando a reflexão do evangelho

Envio e Missão

No tempo de Jesus havia vários outros movimentos de renovação. Por exemplo, os essênios e os fariseus. Também eles procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade e tinham os seus missionários (cf. Mt 23,15). Mas estes, quando iam em missão, iam prevenidos. Levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida, pois não confiavam na comida do povo, que nem sempre era ritualmente “pura”.

Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e discípulas de Jesus receberam recomendações diferentes que ajudam a entender os pontos fundamentais da missão de anunciar a Boa Nova, que receberam de Jesus e que ainda é a nossa missão:

1. Deviam ir sem nada. Não podiam levar nada, nem bolsa, nem ouro, nem prata, nem dinheiro, nem bastão, nem sandálias, nem sequer duas túnicas. Isto significa que Jesus os obriga a confiar na hospitalidade, pois quem vai sem nada vai porque confia no povo e acredita que vai ser recebido. Com esta atitude criticavam as leis de exclusão, ensinadas pela religião oficial, e mostravam, pela nova prática, que tinham outros critérios de comunidade.

2. Deviam comer o que o povo lhes dava. Não podiam viver separados com sua própria comida e deviam aceitar a comunhão de mesa. Isto significa que, no contato como o povo, não deviam ter medo de perder a pureza como era ensinada na época. Com esta atitude criticavam as leis da pureza em vigor e mostravam, pela nova prática, que tinham outro acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.

3. Deviam ficar hospedados na primeira casa em que fossem acolhidos. Isto é, deviam conviver de maneira estável e não andar de casa em casa. Deviam trabalhar como todo o mundo e viver do que recebiam em troca, “pois todo o operário merece salário” (Lc 10,7). Em outras palavras, eles deviam participar da vida e do trabalho do povo, e o povo os acolheria na sua comunidade e partilharia com eles casa e comida. Significa que deviam confiar na partilha. Isto também explica a severidade da crítica contra os que recusavam a mensagem (Lc 10,10-12), pois não recusavam algo novo, mas sim o próprio passado.

4. Deviam tratar dos doentes e necessitados, curar os leprosos e expulsar os demônios (Lc 10,9; Mt 10,8). Isto é, deviam exercer a função de “defensor” (goêl) e acolher para dentro do clã, dentro da comunidade, os que viviam excluídos. Com esta atitude criticavam a situação de desintegração da vida comunitária do clã e apontavam saídas concretas.

Estes eram os quatro pontos básicos que deviam marcar a atitude dos missionários ou das missionárias que anunciavam a Boa Nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, comunhão de mesa, partilha e acolhida aos excluídos. Caso estas quatro exigências fossem preenchidas, eles podiam e deviam gritar aos quatro ventos: O Reino chegou! Pois o Reino de Deus que Jesus nos revelou não é uma doutrina, nem um catecismo, nem uma lei.

O REINO DE DEUS ACONTECE E SE FAZ PRESENTE QUANDO AS PESSOAS, MOTIVADAS PELA SUA FÉ EM JESUS, DECIDEM VIVER EM COMUNIDADE PARA, ASSIM, TESTEMUNHAR E REVELAR A TODOS QUE DEUS É PAI E MÃE E QUE, PORTANTO, NÓS, SERES HUMANOS, SOMOS IRMÃOS E IRMÃS UNS DOS OUTROS. JESUS QUERIA QUE A COMUNIDADE LOCAL FOSSE NOVAMENTE UMA EXPRESSÃO DA ALIANÇA, DO REINO, DO AMOR DE DEUS COMO PAI, QUE FAZ DE TODOS IRMÃOS E IRMÃS.

Para um exame coletivo

José Antonio Pagola

Jesus não envia os seus discípulos de qualquer maneira. Para colaborar no Seu projeto do reino de Deus e prolongar a Sua missão é necessário ter um estilo de vida. Se não é assim, poderão fazer muitas coisas, mas não introduzir no mundo o Seu espírito. Marcos recorda-nos algumas recomendações de Jesus. Destacamos algumas.

Em primeiro lugar, quem são eles para atuar em nome de Jesus? qual é a sua autoridade? Segundo Marcos, ao enviá-los, Jesus «dá-lhes autoridade sobre os espíritos imundos». Não lhes dá poder sobre as pessoas que irão encontrar no seu caminho. Tampouco Ele utilizou o Seu poder para governar mas para curar.

Como sempre, Jesus pensa num mundo mais são, libertado das forças malignas que escravizam e desumanizam o ser humano. Os Seus discípulos introduzirão entre as pessoas a Sua força curadora. Abrirão caminho na sociedade, não utilizando um poder sobre as pessoas, mas humanizando a vida, aliviando o sofrimento das pessoas, fazendo crescer a liberdade e a fraternidade.

Levarão apenas «bastão» e «sandálias». Jesus imagina-os como caminhantes. Nunca instalados. Sempre em caminho. Não atados a nada nem a ninguém. Só com o imprescindível. Com essa agilidade que tinha Jesus para fazer-se presente ali onde alguém o necessitasse. O báculo de Jesus não é para mandar, mas para caminhar.

Não levarão «nem pão, nem alforges, nem dinheiro». Não hão de viver obcecados pela sua própria segurança. Levam consigo algo mais importante: o Espírito de Jesus, a Sua Palavra e a Sua Autoridade para humanizar a vida das pessoas. Curiosamente, Jesus não pensa no que têm de levar para serem eficazes, mas no que não hão de levar. Não seja que um dia se esqueçam dos pobres e vivam encerrados no seu próprio bem-estar.

Tampouco levarão «túnicas para mudar». Vestirão com a simplicidade dos pobres. Não levarão vestes sagradas como os sacerdotes do Templo. Tampouco vestirão como João Baptista na solidão do deserto. Serão profetas no meio das pessoas. A sua vida será sinal da proximidade de Deus a todos, sobretudo, aos mais necessitados.

Atrever-nos-emos algum dia a fazer no seio da Igreja um exame colectivo para deixar-nos iluminar por Jesus e ver como nos temos afastado sem nos darmos quase conta do Seu espírito?

Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus. Jesus recomendou que não levassem nada pelo caminho, além de um bastão; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura.

O comentário corresponde às leituras do 15° Domingo do Tempo Comum, do ciclo B, do ano litúrgico e é elaborado por Maria Cristina Giani, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. E Jesus disse ainda: "Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem. Se vocês forem mal recebidos num lugar, e o povo não escutar vocês, quando saírem, sacudam a poeira dos pés como protesto contra eles."

Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo.

Uma comunidade missionária

Maria Cristina Giani

O texto do Evangelho de hoje situa-se logo após a rejeição sofrida por Jesus em Nazaré (Mc 6,1-6). Neste texto é Jesus quem toma a iniciativa e convida-nos a refletir e escutar sua mensagem e entender seu significado hoje para as diferentes culturas que vivemos.

Marcos narra que “Jesus chama os discípulos, os envia de dois a dois e lhes dá poder sobre os espíritos maus". É um novo começo. Jesus inicia a sua comunidade de discípulos e discípulas na missão, que é a mesma que a dele! Todo o que é chamado é para uma missão. Ele os envia e dá-lhes o mesmo poder que Ele tem.

Resulta interessante o detalhe do evangelista ao dizer que os discípulos são enviados de dois em dois. Desta maneira, sinaliza que a missão não é propriedade de uma pessoa, e sim de toda a comunidade. Os/as missionários/as são enviados em nome de uma comunidade e com a mensagem evangélica.

Os cristãos e cristãs, de todos os tempos, participam da missão que Jesus confiou à sua Igreja.

Não há superioridade de um/a missionário/a sobre outra pessoa ou outra comunidade.

O Concílio Vaticano II marca claramente a natureza missionária da Igreja. No concílio, passa-se de uma Igreja que tem missões a uma igreja missionária.

E essa identidade missionária significa "responsabilidade para com o mundo", e comporta um posicionamento que é o ensino de Jesus ao longo de toda sua vida: Ele passou sua vida servindo aos mais pobres, excluídos sociais e religiosos.

O Papa Francisco faz diferentes menções a esta realidade fundamental do cristianismo, como discípulos/as missionários/as. Na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium ressalta que: “Todos têm o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciá-lo sem excluir ninguém, não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem compartilha uma alegria, assinala um belo horizonte, oferece um banquete desejável. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração’”. E a alegria do Evangelho é missionária porque “sempre tem a dinâmica do êxodo e do dom, do sair de si, do caminhar e semear sempre de novo, sempre para mais além”.

[...]A comunidade evangelizadora “mergulha na vida cotidiana dos outros, encurta distâncias, abaixa-se até a humilhação, caso for necessário” e “acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a paciência apostólica. A evangelização patenteia muita paciência, e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também ‘frutificar’. A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda. Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio”.

No texto que hoje estamos refletindo lembremos que o primeiro milagre de Jesus, que nos relata o Evangelho de Marcos, é a expulsão de um espírito impuro (Mc 1,21-28). E no texto de hoje, Jesus confere-lhes autoridade sobre os espíritos maus.

Com este "artifício literário", o evangelista mostra à comunidade primitiva, como a missão de Jesus se prolonga na sua e que ela tem o mesmo poder de seu Mestre para libertar os excluídos/as de cada tempo e lhes oferecer uma nova vida.

Sentimo-nos comunidade enviada por Jesus para continuar sua missão? Por quem "tomamos partido"? De que "mal" precisamos ser libertos para libertar?

Para viver essa missão Jesus deixa algumas recomendações simples e concretas.

A primeira: "que não levassem nada pelo caminho, além de um bastão; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura". Com comparações orientais, bíblicas, exorta-os a viver o espírito evangélico de pobreza.

Num mundo marcado pelo materialismo, pelo egoísmo, pela desigualdade social, os enviados de Jesus são convidados a apresentar-se na liberdade que nasce do espírito de pobreza, na confiança no Deus providente (Lc 12,31).

Depois: "Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas", continuando com ideia anterior agora Jesus parece desenhar a figura de um peregrino. As sandálias nos remetem aos pés cansados e empoeirados dos mensageiros da Boa Notícia, que caminham livremente!

Finalmente as últimas recomendações: "Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem. Se vocês forem mal recebidos num lugar, e o povo não escutar vocês, quando saírem, sacudam a poeira dos pés como protesto contra eles".

A proclamação da Boa Nova deve fazer-se em liberdade, não se pode obrigar ninguém a aceitá-la. Por isso, a orientação é permanecer com aqueles que a acolhem, deixar aqueles que a rejeitam.

Precisamos ter cuidado com a interpretação desta recomendação. Sacudir a poeira dos pés é um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressarem ao próprio país, depois de terem estado em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida deles.

O gesto com aqueles que não aceitam a proposta do Evangelho não pode ser lido como intolerância de certos missionários que não suportam a rejeição.

É sinal de ruptura sim, mas que representa respeito pela escolha feita, por mais que isso implique sofrimento para o evangelizador. Ele deve ter uma atitude tolerante e compreensiva, esperando uma nova oportunidade.

Hoje podemos perguntar-nos:

Levando em conta estas recomendações missionárias, em quais deveríamos crescer mais como comunidade eclesial e pessoalmente?

Depois de escutar as palavras de Jesus, os discípulos e discípulas se puseram em marcha, "partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes".


Oração

Dia 16 de julho é a festa de Nossa Senhora do Carmo, por isso peçamos sua interseção por toda a Igreja para que seja fiel à missão que Jesus lhe confiou.

Oração a Nossa Senhora do Carmo

Nossa Senhora do Carmo!

A nuvem do profeta Elias sobre o Monte Carmelo regou a Terra,

revigorou toda a natureza

e alegrou o Povo de Deus.

Virgem Santíssima,

vós sois poderosa junto a Deus onipotente!

Pelo símbolo de vosso escapulário,

mostrai-nos a vontade

que Deus tem de espalhar

uma chuva de graças sobre os vossos fiéis devotos

e abençoai todo o Povo de Deus.

Eu, debilitado por mil fraquezas físicas e morais,

recorro a vós!

Estendei-me vossa mão bondosa e volvei para mim vosso olhar maternal,

dando-me ânimo,

coragem e saúde de corpo e de mente.

Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

Amós 7,12-15 - Reflexão

Thomas McGrath

Situando

Amós, o "profeta da justiça social", viveu 700 anos antes do tempo de Jesus na região norte da terra santa. Foi uma época de prosperidade económica e de tranquilidade política.

Naquela época a prosperidade e bem-estar das classes favorecidas contrastavam, porém, com a miséria das classes baixas. Os comerciantes aproveitando o bem-estar económico, especulavam com os preços, e as medidas. Com o aumento dos preços dos bens essenciais, as famílias de menor recursos endividavam-se e acabavam por se ver espoliadas das suas terras em favor dos grandes latifundiários.

A classe dirigente, rica e poderosa, dominava os tribunais e subornava os juízes, impedindo que o tribunal fizesse justiça aos mais pobres ou defendesse os direitos dos menos favorecidos.

E a religião florescia num esplendor ritual nunca visto antes. O problema é que esse culto não tinha nada a ver com a vida, porque as injustiças do dia a dia nunca foram refletidas nas celebrações.

É neste contexto que aparece o profeta Amós, um lavrador vindo de um lugarejo situada no deserto de Judá chamado Técua. Amós, nas palavras dele, não foi um profeta profissional, mas foi chamado por Deus para ir denunciar no território vizinho. A simplicidade de Amós, a sua língua afiada, a sua percepção do descaminho da sociedade e da religião, casada com sua integridade pessoal e sua percepção da vontade de Javé fez com que ele colocasse o dedo de Deus nas feridas da organização social. Dava nome aos bois indicando quem eram os responsáveis pelas injustiças.

Comentando

Tal tipo de comportamento não vem sem troco. O pequeno trecho da Leitura Orante de hoje nos leva até o santuário de Betel, no centro da Palestina - um lugar sagrado, e dedicado à Javé desde os tempos imemoriais. Mas agora Betel é um tipo de "santuário oficial" do regime, porque o culto é financiado pelo próprio rei. O sacerdote que presidia ao culto era um "funcionário real", encarregado de zelar para que os interesses do rei fossem defendidos. Na época em que Amós exerce o seu ministério profético em Betel, o sacerdote encarregado do santuário era um tal de Amasias.

Foi dentro do próprio santuário que o Amós faz a denúncia dele, criticando as injustiças cometidas pelo rei e pela classe dirigente. Com isso, ele também denunciou um culto aliado à injustiça e que comprometia o nome de Javé com os esquemas corruptos dos opressores do povo pobre.

O nosso texto descreve o confronto entre o sacerdote Amasias e o profeta Amós. É um texto fundamental para entendermos a missão do profeta, a sua liberdade face aos interesses do mundo e dos poderes instituídos.

A tarefa da religião é, na perspectiva de Amasias, proteger e legitimar os interesses do rei; em troca, o rei sustenta o santuário. Trono e religião trabalham juntos e em harmonia para não mexer com as coisas ou levantar poeira. Assim a denúncia de Amós se torna um tipo de rebelião contra os interesses dos poderes e da religião, abalando os fundamentos da ordem estabelecida. Por isso a voz incómoda do profeta deve ser calada. Amós é convidado a deixar o santuário e a voltar à sua terra natal para "ganhar aí o seu pão" por lá.

A resposta de Amós deixa claro que o profeta é um homem livre, que obedece apenas a Deus. “Não sou profeta por profissão; não ganho a vida profetizando. Sou pastor de ovelhas e também cuido de figueiras” (v 14). Ser profeta não foi decisão dele, e sim chamado de Deus. “O SENHOR Deus mandou que eu deixasse os meus rebanhos e viesse anunciar a sua mensagem ao povo de Israel´(v15). Profecia para ele não é uma ocupação profissional, ou uma forma de realizar interesses pessoais. Amós é profeta porque Deus irrompeu na sua vida com uma força irresistível, tomou conta dele e o enviou para anunciar e denunciar. Ele foi convocado para ser a voz de Deus e ele estava aí para cumprir a missão que lhe foi confiada, doa a quem doer.

Concluindo

O profeta é um homem de Deus, escolhido por Deus, chamado por Deus, enviado por Deus, legitimado por Deus. Deus está na origem e na execução da vocação profética. Pelo Batismo nós somos chamados para sermos profetas. Nenhum profeta o é por sua iniciativa pessoal, ou para anunciar propostas pessoais; mas é Deus que nos chama, que nos envia e que está na base desse testemunho que somos chamados a dar no meio dos homens.

Isso significa que o profeta não tem o direito de ficar calado diante das injustiças, da opressão, ou da exploração do pobre. Amós é o modelo para nós. Amasias defende os privilégios dele, e os interesses da classe dominante; Amós, do outro lado, sai na defesa intransigente dos interesses dos pobres e marginalizados – os escolhidos de Deus. O verdadeiro profeta não pode colocar bens materiais como prioridade. Se isso acontecer, perderá a sua liberdade profética e se torna escravo de quem lhe paga.

O texto também se refere a promiscuidade entre a religião e o poder - uma combinação que não produz bons frutos, nem no tempo de Amós e nem hoje. A Comunidade de Jesus, para ser fiel a sua missão profética, não pode ficar dependente dos poderosos e nem ficar colada neles, sob pena de ser infiel à missão que Deus lhe confiou. Uma Igreja que está preocupada em não incomodar o poder sempre será uma Igreja de mãos atadas e dependente, longe de Jesus Cristo e da sua proposta libertadora.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina


DOMINGO XV DURANTE EL AÑO – CICLO "B"

Primera Lectura (Am 7,12-15):

Este texto integra la sección mayor de Am 7,1-9,10 que contiene 5 visiones que recibe el profeta Amós. Después de la 3ª visión, que termina anunciando el castigo a la casa del rey Jeroboam (7,9), se inserta el relato del conflicto del profeta con Amasías, sacerdote de Betel, por su crítica al rey (7,10-17). Se trata de un texto narrativo biográfico que nos testimonia con realismo que Amós anunció la muerte a espada del rey de Israel Jeroboám (7,11), lo que le atrajo la consiguiente persecución. Concretamente el sacerdote Amasías lo expulsa de Betel, santuario del Reino del Norte, Israel, mandándolo a profetizar al Reino del Sur, a Judá. Recordemos que según Am 1,1 el lugar de origen del profeta era Técua, pequeño poblado situado en una región desértica, 17 km. al sur de Jerusalén. Por tanto, aunque predicó en el Reino del Norte, Amós era oriundo del Reino del Sur, de Judá. Además del rechazo por esta cuestión étnico-geográfica, Amasías hace alusión de modo muy despectivo a la condición de vidente/profeta de Amós, como si se tratara de alguien que obra sólo por afán de ganancia ("come allí tu pan" dice literalmente).

Amós responde en primer lugar a esta acusación de profeta-oportunista declarando que no es profeta "de profesión" sino por "vocación". En efecto, su profesión o trabajo era ser vaquero (bóqér) y cultivador de sicómoros; con probabilidad un hacendado (si tenemos en cuenta que en Am 1,1 se lo presenta como pastor -nóqéd- y que este término lo encontramos de nuevo sólo en 2Re 3,4 aplicado a Mesa de Moab, propietario de abundante ganado).

En segundo lugar, precisa que su acción profética responde a una elección y misión por parte de Dios. De hecho, el nombre de Amós significa ‘Dios lleva’ y podría estar relacionado con la descripción de su vocación profética en 3,3-8: se trata de alguien llevado o arrastrado por Dios a profetizar. Y la orientación de su profecía al Reino del Norte encuentra también aquí su motivación: en el envío por parte de Dios. Por tanto, no hay en Amós ni intereses personales egoístas ni motivación propia, sino simple y llanamente obediencia a la Palabra de Dios que lo elige y lo envía en misión, la cual incluye la posibilidad del rechazo.

Evangelio (Mc 6,7-13):

Inmediatamente después de ser rechazado por sus paisanos de Nazareth, Jesús retoma su actividad misionera recorriendo las poblaciones de los alrededores y enseñando. Y además de esto, también llama y envía a predicar a los doce apóstoles.

El texto comienza diciendo que Jesús "llamó a sí" (proskaleitai) a los “doce”, en referencia al número de los apóstoles que simboliza a las doce tribus de Israel presentes en el Sinaí para la alianza con Dios (cf. Ex 24,4) e indica que Jesús está formando el nuevo pueblo de Dios en la nueva alianza. Son los mismos doce que había llamado “para que estén con Él y para enviarlos a predicar” (cf. Mc 3,13). Lo nuevo está aquí en lo que sigue: "y comenzó a enviarlos de dos en dos". El verbo “comenzar” seguido de infinitivo (a enviar) tiene aquí un sentido durativo; es decir, se trata de constituirlos en misioneros de una manera permanente, de modo que su misión no se agota en este envío concreto. El detalle de que fueron enviados de "dos en dos" tendría un doble significado. En primer lugar, responde a la exigencia de que haya dos testigos concordes para que sea atendible el testimonio (cf. Dt 19,15, 17,6). En segundo lugar, se insinúa el tema de la fraternidad. Por tanto, van de "dos en dos" para ayudarse mutuamente y para vivir entre ellos la realidad del amor fraterno que han de testimoniar en su predicación.

"Y les daba poder (ἐξουσία) sobre los espíritus impuros". Jesús les confiere un poder real, una autoridad dependiente de él mismo. Sólo puede dar autoridad o poder el que la tiene; y Jesús tiene esa autoridad como propia; y está además capacitado para transmitirla a sus discípulos.

Les comparte su propio poder y autoridad sobre los “espíritus impuros” (τῶν πνευμάτων τῶν ἀκαθάρτων), que implica todo lo que hace daño al hombre (física, psíquica y espiritualmente) y que tiene su raíz en una fuerza maligna presente y actuante en el mundo impidiéndole vivir en comunión con Dios, consigo mismo y con los demás. En síntesis, la misión confiada por Jesús a los apóstoles es “derrotar el reino del mal, para establecer el reino de Dios”[1].

Una vez que los doce han cumplido el primer objetivo de la elección (“estar con Él”; cf. Mc 3,14), les llega entonces el momento del envío por parte de Jesús. Nos encontramos en un momento especial para los doce apóstoles por cuanto es la primera vez que Jesús hace partícipes a los hombres de su misión, de modo que pasan a ser los colaboradores asociados a su obra.

Siguen luego una serie de instrucciones concretas sobre el estilo de vida del misionero, que es esencial para quien lo anuncia por cuanto debe testimoniar que vive lo que predica. Jesús se ocupa de cuestiones muy prácticas y elementales: vestido, alimento y alojamiento. No pueden llevar ni pan, ni dinero ni provisiones. Sólo se les permite llevar un bastón y sandalias, elementos necesarios a todo peregrino[2]. Fuera de esto, sólo una túnica, vestimenta corriente de los hombres de aquel tiempo. En cuanto a la vivienda, deben aceptar la hospitalidad de la gente, permaneciendo en la casa dónde los reciban. En síntesis, cuando el Señor los llamó por primera vez, los discípulos lo dejaron todo y lo siguieron. Y así deben seguir, desprendidos de todo.

Luego les da instrucciones sobre el modo de obrar, de reaccionar ante la posibilidad real del rechazo. Si no son recibidos ni escuchados, deben marcharse sacudiendo hasta el polvo de los pies en testimonio contra ellos. Este gesto lo realizaban los judíos cuando regresan a Israel después de haber caminado por tierra de paganos, como para indicar el corte entre el mundo pagano y la tierra santa. Aquí significa que deben exteriorizar el hecho de que han sido despreciados; y dejan en claro que al cerrar sus puertas y sus corazones se han perdido algo importante para sus vidas y son responsables por ello. El rechazo de los mensajeros es un rechazo a Jesús mismo.

Sigue el cumplimiento de la orden de Jesús por parte de los apóstoles realizando tres acciones concretas: “proclamar para que se conviertan” (ἐκήρυξαν ἵνα μετανοῶσιν); “expulsaban muchos demonios” y “ungían con aceite a muchos enfermos y los sanaban”. Es de resaltar aquí la continuidad entre la actividad de Jesús y la de los Apóstoles que se expresa mediante el uso del mismo vocabulario: anunciar; expulsar demonios; y curar enfermos (cf. Mc 1,14.34.39).

Junto a estas semejanzas es necesario notar que sólo Jesús enseña con autoridad (cf. Mc 1,22) y es comparado al hombre fuerte capaz de vencer a Satanás y su reino (cf. Mc 1,12-13; 3,23-27). Y esto porque los doce participan de la misión de Jesús a título de enviados o de “apóstoles”, pues así se los llama por primera vez cuando vuelven a Jesús después de su misión (cf. Mc 6,30).

ALGUNAS REFLEXIONES:

En este momento nos toca contemplar lo que hace y dice Jesús en el evangelio para aprender de Él y orientarnos en nuestro obrar, con la gracia de Dios.

En primer lugar, notemos la reacción de Jesús ante el rechazo y/o fracaso sufrido en su propio pueblo: no se cierra en sí mismo ni desiste de su misión, sino que, por el contrario, reacciona con el envío misionero de sus discípulos. Y la misma actitud le inculcará a sus apóstoles: si no los reciben ni escuchan en un lugar, marcharse a predicar a otra parte. El rechazo es posible pero la misión debe continuar porque la obra es de Dios.

Jesús les encarga la misión de predicar la conversión, pero no les promete el "éxito pastoral"; más bien los prepara para la posibilidad del rechazo. Sin embargo, a su regreso, los apóstoles le cuentan ha Jesús "todo lo que habían hecho y enseñado" (Mc 6,30) dando la impresión a entender que cumplieron con su misión más allá del éxito de la misma. Al respecto nos dice el Papa Francisco: “A veces nos parece que nuestra tarea no ha logrado ningún resultado, pero la misión no es un negocio ni un proyecto empresarial, no es tampoco una organización humanitaria, no es un espectáculo para contar cuánta gente asistió gracias a nuestra propaganda; es algo mucho más profundo, que escapa a toda medida. Quizás el Señor toma nuestra entrega para derramar bendiciones en otro lugar del mundo donde nosotros nunca iremos. El Espíritu Santo obra como quiere, cuando quiere y donde quiere; nosotros nos entregamos pero sin pretender ver resultados llamativos. Sólo sabemos que nuestra entrega es necesaria. Aprendamos a descansar en la ternura de los brazos del Padre en medio de la entrega creativa y generosa. Sigamos adelante, démoslo todo, pero dejemos que sea Él quien haga fecundos nuestros esfuerzos como a Él le parezca” (EG 279).

En segundo lugar, vemos que Jesús comparte su autoridad y su poder con sus discípulos. Aunque es el Hijo de Dios, sabe que necesita de la colaboración de los demás para cumplir su misión en este mundo y, por esto, envía a los apóstoles dotándoles de su misma autoridad y poder para obrar. Por eso podemos preguntarnos en este momento si sabemos compartir el poder, trabajar en equipo, en comunión; o nos enseñoreamos del poder y nos aislamos del pueblo.

Vemos también que Jesús está fundando su Iglesia. ¿Y para qué la fundó? Para continuar su misión salvadora de los hombres a través de ella. “La Iglesia existe para evangelizar”, decía el Papa Pablo VI. Lo vemos en el evangelio de hoy donde con este envío Jesús busca al futuro la continuidad de su obra pues la misión se funda en la voluntad del mismo Jesús y es una necesidad siempre actual en la Iglesia. La Iglesia debe evangelizar hasta el fin de los tiempos, siempre. Es su misma esencia ser misionera. Si no evangeliza, sino no misiona, traiciona su esencia, traiciona al Señor.

¿Y qué me toca hacer a mí y a mi comunidad? Lo mismo que hicieron los doce apóstoles: salir de dos en dos a anunciar la llegada del Reino de Dios. Por ser bautizado, por ser cristiano, soy también un enviado por Jesús a misionar.

Al meditar en este envío misionero de los apóstoles, tenemos que apropiarnos de estas palabras de envío por parte de Jesús, escucharlas como dirigidas a cada uno de nosotros. Jesús me necesita para continuar su misión y me envía a evangelizar. Y en la oración tendré que discernir los lugares, los tiempos y los modos de cumplir mi misión, que dependen mi situación personal y mi estado de vida, pero sin olvidar que implica toda nuestra vida. Al respecto comenta el Papa Francisco: “La misión en el corazón del pueblo no es una parte de mi vida, o un adorno que me puedo quitar; no es un apéndice o un momento más de la existencia. Es algo que yo no puedo arrancar de mi ser si no quiero destruirme. Yo soy una misión en esta tierra, y para eso estoy en este mundo. Hay que reconocerse a sí mismo como marcado a fuego por esa misión de iluminar, bendecir, vivificar, levantar, sanar, liberar. Allí aparece la enfermera de alma, el docente de alma, el político de alma, esos que han decidido a fondo ser con los demás y para los demás. Pero si uno separa la tarea por una parte y la propia privacidad por otra, todo se vuelve gris y estará permanentemente buscando reconocimientos o defendiendo sus propias necesidades. Dejará de ser pueblo” (EG 273).

Por otra parte, hemos visto que el envío de los Apóstoles Jesús lo realizó de "dos en dos". De este detalle podemos deducir la intrínseca y necesaria relación entre comunión y misión. La comunión vivida hace a la esencia del Evangelio, por lo cual forma parte esencial también de la vida y del anuncio misionero.

¿Y cómo interpretar las indicaciones concretas que les da Jesús a los apóstoles?

Según L. Rivas[3] "La misión de los discípulos es una tarea que supera las posibilidades humanas. Ellos deben llevar la Buena Noticia del Reino de Dios, y como se ha dicho tantas veces, no deben hacerlo sólo con palabras sino también con gestos. Al introducir estas limitaciones, el evangelio quiere subrayar fuertemente que la realización de esa tarea no depende de ninguna manera de la fuerza del hombre sino de la potencia que tiene el mandato de Cristo… La pobreza exterior del misionero debe ser un signo de su convicción de que toda su fuerza la recibe del Señor, y de que él no confía en sus propios medios para llevar a cabo la misión que se le ha encomendado". Por tanto, “las advertencias de Jesús en el sentido de proveerse con mucha sencillez, con sobriedad y pobreza, exigen siempre a los lectores decidir cómo pueden hacer presente el reino de Dios en su tiempo, con credibilidad y ejemplaridad; sin buscar el propio provecho, sin pretender dinero o bienes, sin ansia de poder o sin abusar de la autoridad que Dios les ha dado (cfr. 4,18s; 8,14-21); de este modo pueden hacer presente el efecto liberador del reino”[4].

Podríamos completar esto con una simpática expresión de M. Navarro Puerto[5], quien dice que lo más importante que deben llevar los misioneros "lo llevan puesto", en referencia a la autoridad/poder recibido de Jesús.

Por tanto, es claro que la misión pasa más por los hechos que por las palabras; más por el testimonio de vida coherente que por las estrategias pastorales.

Entonces, si nos preguntamos: ¿qué me hace falta para ser misionero? ¿Qué tengo que tener y llevar al salir en misión? La respuesta es: lo menos posible porque lo más importante es lo que el misionero tiene en su corazón, la fe y el amor de Jesús, que es lo que tenemos que transmitir a los demás. Todos los medios pueden ayudar, pero lo más importante es lo que llevamos dentro nuestro; lo que vivimos y testimoniamos.

Las indicaciones prácticas que da Jesús a los apóstoles son relativas a su época, ya no usamos túnicas ni sandalias ni nos movemos sólo a pie y con bastón. Pero el espíritu que está en el origen de estas normas sí sigue siendo válido para todos los tiempos: el misionero no debe poner la confianza ni en sí mismo ni en los medios, sino en el poder de Dios que lo envía.

Al respecto nos dice el Papa Francisco: “Jesús no los envía como poderosos, como dueños, jefes o cargados de leyes, normas; por el contrario, les muestra que el camino del cristiano es simplemente transformar el corazón. El suyo, y ayudar a transformar el de los demás. Aprender a vivir de otra manera, con otra ley, bajo otra norma. Es pasar de la lógica del egoísmo, de la clausura, de la lucha, de la división, de la superioridad, a la lógica de la vida, de la gratuidad, del amor. De la lógica del dominio, del aplastar, manipular, a la lógica del acoger, recibir y cuidar. Son dos las lógicas que están en juego, dos maneras de afrontar la vida y de afrontar la misión.

Cuántas veces pensamos la misión en base a proyectos o programas. Cuántas veces imaginamos la evangelización en torno a miles de estrategias, tácticas, maniobras, artimañas, buscando que las personas se conviertan en base a nuestros argumentos. Hoy el Señor nos lo dice muy claramente: en la lógica del Evangelio no se convence con los argumentos, con las estrategias, con las tácticas, sino simplemente aprendiendo a alojar, a hospedar. La Iglesia es madre de corazón abierto que sabe acoger, recibir, especialmente a quien tiene necesidad de mayor cuidado, que está en mayor dificultad. La Iglesia, como la quería Jesús, es la casa de la hospitalidad. Y cuánto bien podemos hacer si nos animamos a aprender este lenguaje de la hospitalidad, este lenguaje de recibir, de acoger. Cuántas heridas, cuánta desesperanza se puede curar en un hogar donde uno se pueda sentir recibido. Para eso hay que tener las puertas abiertas, sobre todo las puertas del corazón” (homilía del 12 de julio de 2015).

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):


MENSAJERO DE LA PAZ

Jesús, Buena Nueva para todos

Noticia sanadora de tanto oído sordo

Enséñanos a esperar tu Mensaje

A elevar la mirada hacia los montes

Para verte llegar como entonces…

Palabra y testimonio,

Nada hay más importante

De dos en dos, orador y orante

Pastor y oveja,

Aprender y aprendizaje.

Concédenos abrir las puertas de casa

Cuando escuchemos tus pasos

Para que vengas a morar en ella

Como si fuera la tuya…

Y recorras todos sus espacios.

Vence los temores, derriba las barreras

No dejes que el polvo del orgullo

Apague tu voz en el alma

Úngenos con tu Oleo Santo,

Haznos a tu imagen y semejanza. Amén.



[1] L. H. Rivas, Jesús habla a su pueblo. Ciclo B. Domingos durante el año (CEA; Buenos Aires 2002) 112.

[2] “No se subirá al Templo con un bastón ni con sandalias en los pies ni con un cinturón para el dinero o con los pies llenos de polvo”, Tratado Berakot 9, 5 del Talmud.

[3] Jesús habla a su pueblo. Domingos durante el año. Ciclo B (CEA; Buenos Aires 2002) 114.

[4] Cf. Fritzleo Lentzen-Deis, Comentario al evangelio de Marcos (Verbo Divino; Estella 1998) 195.

[5] Marcos (Verbo Divino; Estella 2006) 220.