ASSUNÇÃO DE MARIA-20º TC-B

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

15/08/2021

Acesse as leituras de hoje neste link:

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1ª Leitura Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab

Salmo 44(45) R- À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir

Segunda Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a

Evangelho Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria).

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naqueles dias, 39Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.


DOM JÚLIO ENDI AKAMINE

Arcebispo de Sorocaba SP


A “Anunciação” mostra o início histórico da vida de Maria no seu significado salvífico. A Assunção orienta o nosso olhar para o fim da vida de Maria que é também o momento da entrada no céu.

“Esta é a festa do seu destino de plenitude, de bem-aventurança, da glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal” (MC 7).

Maria é a única criatura humana – depois de Cristo e seguindo a Cristo – que entrou de corpo e alma na bem-aventurança do céu, depois de ter terminado a sua caminhada na terra. Para todos os que morrem na graça, segundo a fé da Igreja, a glorificação do corpo só se dará no fim do mundo e da história da salvação, no momento da ressurreição dos mortos. O mistério da Assunção está sobretudo na coincidência da morte com a glorificação de Maria.

A assunção corpórea de Maria está ligada de maneira particular com sua divina maternidade virginal e com a sua imaculada conceição. O corpo de Maria foi de tal modo assemelhado ao corpo de Jesus que, como o de Jesus, também não conheceu a corrupção.

O corpo da Virgem foi o meio luminoso (não obscurecido por pecado algum), através do qual nos veio a graça em pessoa, Jesus Cristo. Por isso a isenção da corrupção (o fato de Maria ter sido recebido logo na glória celeste) é uma consequência coerente de sua isenção do pecado. A relação única de Maria e Jesus Cristo justifica esta “distinção” corpórea no final da vida de Maria.

Mas o momento pessoal e individual de Maria jamais deve ser visto de maneira isolada. Na realidade Maria jamais existiu sozinha diante de Deus. Por isso também seus privilégios individuais não devem ser separados do papel salvífico que ela desempenhou em benefício de toda a humanidade. Se Deus glorificou uma pessoa, Maria, Ele o fez em vista de nosso bem e de todos.

Na assunção não se trata só de privilégio pessoal de Maria, mas principalmente de um evento de redenção; de um evento que representa a redenção que chegou à sua plena realização em um membro da multidão daqueles que têm necessidade de redenção.

“Hoje a Virgem Maria, mãe de Cristo e nosso Senhor, é exaltada na glória dos céus. Nela, primícias e imagem da Igreja, revelaste a realização do mistério da salvação e fizeste resplandecer para o teu povo, peregrino sobre a terra, um sinal de consolação e segura esperança”.

A assunção de Maria nos revela que a redenção só chega a sua plenitude quando os seus efeitos se realizam na totalidade da criatura humana, também no corpo, com tanta frequência desvalorizado e tratado com desprezo.

Através da assunção, Maria se tornou aquela que foi totalmente redimida. Nela se revela em que consiste, em última análise, a redenção, hoje muitas vezes reduzida a sinônimo de libertação do corpo. A redenção é a completa eclosão da vida divina também no corpo humano, a transfiguração da própria realidade material do homem e da mulher e a vitória sobre a morte em todas as suas formas.

O que aconteceu em Maria possui importância não só para ela, mas também para nós: o que aconteceu em Maria aproxima, de certa forma, todos nós da meta final. O que aconteceu em Maria consolida o nosso destino final na fé e na esperança.

Nossa fé não é uma falsa ilusão, porque já alcançou sua meta em Maria; nossa esperança não é vazia porque, com Maria, a totalmente redimida, já se antecipou no hoje desta solenidade. É como se já tivéssemos lançado no reino do céu uma âncora que confere firmeza à nossa esperança.

Maria “propõe à Igreja e à humanidade a imagem e o documento consolador da realização da esperança final” (Paulo VI).

Aquilo que a Igreja peregrina considera ainda como expressão de sua nostalgia, ela o vê realizado em Maria.

A assunção de Maria revela o significado da ressurreição da carne. Deus ama o ser humano todo. Na ressurreição Deus não permite que nada do ser humano se perca.

Na assunção de Maria Deus acolheu e abraçou toda sua humanidade.

Ele não amou somente as moléculas que estavam no seu no corpo no momento da morte. Ele amou e ama seu corpo marcado pelos sofrimentos em comunhão de dor de Jesus Cristo, pela nostalgia sem tréguas de uma peregrinação de fé e de seguimento.

Deus ama Maria e glorificou seu corpo que se chocou e se feriu com a dureza deste mundo, e traz ainda suas cicatrizes.

Assunção significa que de tudo isto nada se perdeu para Deus, porque Ele ama o tudo em Maria. Todas as suas lágrimas, Ele as recolheu e nenhum sorriso lhe escapou.

Ressurreição da carne significa que em Deus nós haveremos não somente de ter em Deus o nosso último suspiro, mas que haveremos de reencontrar Nele toda a nossa história.



Assunção: plenitude da história humana em Deus

Pe Adroaldo

“...o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor” (Lc 1,49).

A festa da “assunção” de Maria não é a celebração de um ser divino feminino (eterno, fora do tempo e do espaço), mas a recordação da vida e testemunho de Maria, a Mãe de Jesus, memória viva que foi transmitida pela comunidade judeu-cristã, à qual devemos estar imensamente agradecidos. Em sua realidade história, como mãe de Jesus e membro da comunidade cristã, ela oferece nova identidade ao ser humano, vinculado a Jesus numa história de busca, de encarnação e de fé...

Sem entrar no tema da historicidade dos relatos da infância, Lucas nos apresenta Maria com atitudes e valores diferentes daqueles que tinham suas vizinhas. Com Maria, o destino de uma mulher grávida não se limita a “dar à luz” e criar filhos, mas que deve ampliar muito mais seu horizonte de vida. O horizonte de uma mulher que segue a Jesus Cristo se estende até onde a missão, ativada pela sua fé, pode levá-la.

Ao receber a notícia de que seria a mãe do Salvador, Maria rompe seus espaços estreitos, sai de seu ambiente cotidiano e entra no dinamismo do Espírito, deslocando-se para o serviço gratuito. Ao encontrar-se com Isabel, ela não pode segurar por mais tempo sua alegria e irrompe em um hino de louvor, o Magnificat, pois a experiência envolvente da grandeza de Deus com a qual se encontrou, instiga-a a exaltá-Lo. É um canto que brota de maneira espontânea e que se centra fundamentalmente na face salvadora de Deus. Um Deus que fixou nela um olhar amoroso, que fez grandes coisas na história do povo de Israel e na vida da própria Maria. Por isso, as gerações futuras a considerarão bendita.

No seu Magnificat Maria canta e faz memória de sua própria história e a de seu povo, à luz da santidade e da misericórdia divinas; no “hoje eterno de Deus” tudo adquire sentido, tudo é relido e ressignificado. Neste sentido, a proclamadora do Magnificat é verdadeiramente ícone do Povo de Deus que caminha; ela deixa transparecer uma “memória agradecida” diante das ações libertadoras de Deus.

A sua oração é absolutamente original, porque expõe fatos concretos da sua história, mas essa singularidade está inserida numa amplidão comunitária. Isto é, na verdade, o que se espera de toda a oração: a capacidade, por um lado, de ser formulada, como o Magnificat, na primeira pessoa do singular. E, por outro, a capacidade de unir a sua história concreta ao horizonte mais vasto dos planos de Deus e da missão da comunidade que crê.

Aprendemos com Maria a “ler” a História de uma maneira diferente e instigante. A partir da “memória bíblica”, somos convidados a “reler” nossa história, pessoal e coletiva, com novos olhos, reconstruindo-a, dando a ela um novo significado e deixando-nos impelir a escrever uma nova história. Nossa vida é parte da História, e esta, por sua vez, é formada pelas histórias de nossas vidas, pontilhadas e marcadas pela presença de outras muitas histórias. A História, por si mesma, é provocante e nos fascina; ela tem um estranho poder de sedução. Nós nos reconhecemos nas histórias da História; isso nos facilita tomar consciência de onde estamos e quem somos, e nos ajuda a assumir decisões mais maduras frente aos desafios e surpresas que a vida nos reserva.

A vida só tem sentido quando se torna História, isto é, quando não se limita a repetir o passado, mas quando engendra algo novo e diferente a partir de uma História internalizada e saboreada. É somente no nível mais profundo que o ser humano transforma seu “tempo” em história e seu “espaço” em encontro.

Somos “seres históricos”, mas, muitas vezes, carregamos uma história pesada, reprimida, cheia de fracassos e derrotas; isso alimenta culpas, remorsos, sentimentos negativos..., que nos paralisam e travam o fluir da vida. Todos temos experiência que o passado carrega lembranças de fatos e de vivências negativas: crises, fracassos, rejeições, erros, pecados... Os desencontros, quebras e rupturas... costumam deixar feridas. Tudo isso pesa na memória e continua influenciando negativamente no presente. Com isso, ao nos fixar no passado, alimentamos uma “memória mórbida, doentia, ferida”: depósito de rancores, ressentimentos, hostilidades, sentimento de culpa, desânimo, angústia..., embotando a vida, queimando energias, paralisando-nos e não abrindo futuro de sentido. Sabemos que uma pessoa doente na memória é doente no seu coração, na sua afetividade, nos seus sentimentos, nas suas relações...

Se a memória não é “evangelizada”, ela continua remoendo aquilo que aconteceu, num desgaste muito grande de energia. Não há mudança e conversão se não houver mudança e conversão da memória. Somente através da “memória redentora”, a pessoa é capaz de se colocar diante do passado, de modo livre e aberta, dando-lhe um novo significado.

A memória sadia não muda o passado, mas “recorda” (visita de novo com o coração) de modo novo e inspirador. A memória resgata referências, cura feridas, reconcilia-se com a vida e consigo mesma, com as próprias riquezas e fraquezas, com o próprio passado; ela tem sua função de lugar santo do louvor e da gratidão, pois ajuda a tomar consciência dos benefícios recebidos e possibilita ter acesso às recordações não neutras, mas aquelas que tem um significado para o presente. Ela é capaz de tirar proveito de todas as vivências pessoais (nada é descartado, tudo é integrado); abre possibilidade para rever a própria história e lê-la como História de Salvação.

A memória revela a verdade de um acontecimento. Uma memória mobilizadora, aberta ao novo e comprometida com o futuro. É através da memória sadia que somos capazes de descobrir a presença Deus na nossa história, tornando-a história da salvação. A história pessoal e a história do mundo tornam-se, portanto, o “lugar” habitual da experiência de Deus, a montanha da misteriosa sarça ardente que não se consome. Só assim a história se converte em “Epifania” (manifestação) de Deus e permite compreender-nos e aceitar-nos.

Na plenitude final em Deus, toda a história passada será para sempre realizada na eternidade. O céu é apenas esse momento eterno de revisitar tudo o que fomos, fizemos e sentimos na presença de Deus.

A história se revela, assim, como um húmus vivente, uma atmosfera de graça, uma torrente subterrânea na qual se nutre todo o processo da vida de cada um. Não é fora da História e de sua história que a pessoa pode reconhecer a Vontade de Deus e escutar Seu apelo; porque “Deus se fez e se faz História” é que a história de cada um e da humanidade inteira adquire uma nova luz e um novo sentido.

Cantar o Magnificat nos possibilita viver o “mistério” da presença e a ação do “Deus na História”. Nesse sentido, assim como Maria, cada pessoa se “contempla a si mesma”, imersa nesse acontecimento de graça que á a história, assumindo-a e fazendo-a própria.

A partir do fundamento da História contemplamos nossa própria história (pessoal e institucional): história que deve ser observada, lida, discernida. Tal experiência nos ajuda a abrir os olhos para a novidade inesgotável da vida, nos faz “aquecer o coração”, desperta em nós o desejo e mobiliza todas as nossas capacidades para um compromisso de ação transformadora na história pessoal e coletiva.

Para meditar na oração:

A História está sempre aberta, desafiando-nos, arrancando-nos de nosso imobilismo, despertando nossa criatividade para ser reescrita de uma maneira diferente.

- Diante da história pessoal e social, você se sente desafiado(a)? paralisado(a)? com medo? inquieto(a)...?

- Quanto de esperança você carrega em seu interior frente à nossa história centrada na cultura da morte?

- O que faz abrasar o seu coração diante de uma história que parece um contínuo fracasso?

Características de Maria

Jose Antonio Pagola

A visita de Maria a Isabel permite ao Evangelista Lucas pôr em contato o Batista e Jesus, antes mesmo de ter nascido. A cena está carregada de uma atmosfera muito especial. As duas vão ser mães. As duas foram chamadas a colaborar no plano de Deus. Não há homens. Zacarias ficou mudo. José está surpreendentemente ausente. As duas mulheres ocupam toda a cena.

Maria, que chegou rapidamente de Nazaré, converte-se na figura central. Tudo gira em torno dela e do seu Filho. A sua imagem brilha com uns rasgos mais genuínos do que muitos outros que lhe foram adicionados ao longo dos séculos a partir de devoções e títulos afastados dos Evangelhos.

Maria, «a mãe do meu Senhor»

Assim o proclama Isabel a gritos e cheia do Espírito Santo. É certo: para os seguidores de Jesus, Maria é acima de tudo a Mãe de nosso Senhor. Daí inicia toda a sua grandeza. Os primeiros cristãos nunca separam Maria de Jesus. São inseparáveis. «Abençoada por Deus entre todas as mulheres», ela nos oferece a Jesus, «fruto bendito do seu ventre».

Maria, a crente

Isabel declara-a ditosa porque «acreditou». Maria é grande não simplesmente pela sua maternidade biológica, mas por ter acolhido com fé o chamado de Deus para ser Mãe do Salvador. Soube escutar a Deus; guardou a sua Palavra dentro do seu coração; meditou-a; pô-la em prática cumprindo fielmente a sua vocação. Maria é Mãe crente.

Maria, a evangelizadora

Maria oferece a todos a salvação de Deus, que acolheu no seu próprio Filho. Essa é a sua grande missão e o seu serviço. Segundo o relato, Maria evangeliza não só com os seus gestos e palavras, mas porque aonde vai leva consigo a pessoa de Jesus e o seu Espírito. Isto é o essencial do ato evangelizador.

Maria, portadora da alegria

A saudação de Maria comunica a alegria que brota do seu Filho Jesus. Ela foi a primeira a escutar o convite de Deus: «Alegra-te… o Senhor está contigo». Agora, a partir de uma atitude de serviço e de ajuda a quem necessita, Maria irradia a Boa Nova de Jesus, o Cristo, a quem ela sempre leva consigo. Ela é para a Igreja o melhor modelo de evangelização com alegria.

A visita de Maria a Isabel – Alegria no Espírito!

Carlos Mesters e Mercedes Lopes

A. O ASSUNTO DA VIDA: PARA COMEÇO DE CONVERSA

O texto de hoje nos fala da visita de Maria a sua prima Isabel. As duas eram conhecidas uma da outra. E, no entanto, neste encontro elas descobrem, uma na outra, o mistério que ainda não conheciam e que as encheu de muita alegria. Hoje também encontramos pessoas que nos surpreendem com a sabedoria que possuem e com o testemunho de fé que nos dão.

B. CHAVE DE LEITURA

Na leitura que vamos refletir, sobretudo no Cântico de Maria, percebemos que ela descobriu o mistério de Deus não só na pessoa de Isabel, mas também na história do seu povo. Durante a reflexão vamos prestar atenção no seguinte: ”Com que palavras e comparações Maria expressou a descoberta de que Deus está presente em sua vida e na vida do seu povo?”

C. SITUANDO

Quando Lucas fala de Maria, ele pensa nas comunidades do seu tempo que viviam espalhadas pelas cidades do império romano. Maria é, para ele, o modelo da comunidade fiel. Descrevendo a visita de Maria a Isabel, ele ensina como aquelas comunidades devem fazer para transformar a visita de Deus em serviço aos irmãos e irmãs.

O episódio da visita de Maria a Isabel mostra ainda outro aspecto bem próprio de Lucas. Todas as palavras e atitudes, sobretudo o Cântico de Maria, formam uma grande celebração de louvor. Parece a descrição de uma solene liturgia. Assim, Lucas evoca o ambiente litúrgico e celebrativo, em que as comunidades devem viver a sua fé.


D. COMENTANDO

1. Lucas 1,39-40: Maria sai para visitar Isabel

Lucas acentua a prontidão de Maria em atender as exigências da Palavra de Deus. O anjo lhe falou da gravidez de Isabel e, imediatamente, Maria se levanta para verificar o que o anjo lhe tinha anunciado, e sai de casa para ir ajudar a uma pessoa necessitada. De Nazaré até as montanhas de Judá são mais de 100 quilômetros! Não havia ônibus nem trem.

2. Lucas 1,41-44: Saudação de Isabel

Isabel representa o Antigo Testamento que termina. Maria, o Novo que começa. O AT acolhe o NT com gratidão e confiança, reconhecendo nele o dom gratuito de Deus que vem realizar e completar toda a expectativa do povo. No encontro entre as duas mulheres manifesta-se o dom do Espírito que faz a criança estremecer de alegria no seio de Isabel. A Boa Nova de Deus revela a sua presença numa das coisas mais comuns da vida humana: duas donas de casa se visitando para se ajudar. Visita, alegria, gravidez, criança, ajuda mútua, casa, família: É nisto que Lucas quer que as comunidades (e nós todos) percebamos e descubramos a presença do Reino. As palavras de Isabel, até hoje, fazem parte do salmo mais conhecido e mais rezado da América Latina, que é a Ave Maria.

3. Lucas 1,45: O elogio que Isabel faz a Maria

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor vai acontecer”. É o recado de Lucas às comunidades: crer na Palavra de Deus, pois ela tem força para realizar aquilo que nos diz. É Palavra criadora. Gera vida nova no seio de uma virgem, o seio do povo pobre e abandonado que a acolhe com fé.

4. Lucas 1,46-56: O Cântico de Maria

Muito provavelmente, este cântico já era conhecido e cantado nas comunidades. Ele ensina como se deve orar e cantar.

Lucas 1,46-50

Maria começa proclamando a mudança que aconteceu na sua própria vida sob o olhar amoroso de Deus, cheio de misericórdia. Por isso, ela canta feliz: “Exulto de alegria em Deus, meu Salvador”.

Lucas 1,51-53

Em seguida, canta a fidelidade de Javé para com seu povo e proclama a mudança que o braço de Javé estava realizando a favor dos pobres e famintos. A expressão “braço de Deus” lembra a libertação do Êxodo. É esta força salvadora de Javé que faz acontecer a mudança: dispersa os orgulhosos (1,51), destrona os poderosos e eleva os humildes (1,52), manda os ricos embora sem nada e aos famintos enche de bens (1,53).

Lucas 1,54-55

No fim, ela lembra que tudo isto é expressão da misericórdia de Deus para com o seu povo e expressão de sua fidelidade às promessas feitas a Abraão. A Boa Nova veio não como recompensa pela observância da Lei, mas como expressão da bondade e da fidelidade de Deus às promessas. É o que Paulo ensinava nas cartas aos Gálatas e aos Romanos.

D. ALARGANDO

O Segundo Livro de Samuel conta a história da Arca da Aliança. Davi quis colocá-la em sua casa, mas ficou com medo e disse: “Como virá a Arca de Javé para ficar na minha casa?” (2 Samuel 6,9) Davi mandou que a Arca fosse para a casa de Obed-Edom. “E a Arca de Javé ficou três meses na casa de Obed-Edom, e Javé abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família” (2 Samuel 6,11). Maria, grávida de Jesus, é como a Arca da Aliança que, no AT, visitava as casas das pessoas trazendo benefícios. Ela vai para a casa de Isabel e fica lá três meses. E enquanto está na casa de Isabel, ela e toda a sua família são abençoadas por Deus. A comunidade deve ser como a Nova Aliança. Visitando a casa das pessoas, deve trazer benefícios e graça de Deus para o povo.

A atitude de Maria frente à Palavra expressa o ideal que Lucas quer comunicar às comunidades: não fechar-se sobre si mesmas, mas sair de si, sair de casa, e estar atentas às necessidades bem concretas das pessoas e procurar ajuda na medida das necessidades.

Texto extraído do livro O AVESSO É O LADO CERTO. Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Lucas de autoria de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.

Aprofunde a reflexão sobre o Magnificat com o livro O cântico da Bem-Aventurada, de Maria das Graças Vieira. O livro é um exercício de interpretação do cântico de Maria em Lucas 1,46-55 na perspectiva da libertação, que se atualiza cada vez que o pão é partilhado, a justiça se realiza e a pessoa empobrecida encontra-se com o deus-libertador.

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Um caminho a percorrer

Ana Maria Casarotti

A Igreja celebra hoje a Solenidade de Virgem Maria, Assunta aos Céus. Uma data que recebe uma tradição importante pelo amor a Maria de todos os discípulos e discípulas ao longo de toda a história cristã.

O texto que foi lido do Evangelho de Lucas apresenta Maria, logo após o início de sua gravidez, que parte às pressas para a região montanhosa para visitar Isabel, sua parenta, que também estava grávida, apesar da sua idade.

A narrativa oferece-nos os inícios deste peregrinar que é a vida toda de Maria, em diferentes circunstâncias. Com José, seu esposo, eles seguiam caminho para registrar-se em Belém, cidade de Davi, quando “completaram-se os dias para o parto”. À procura de um lugar onde Jesus possa nascer, o único que lhes é oferecido é um presépio, no meio dos animais. Jesus nasce, assim, num espaço simples, fora da cidade, onde já não havia mais espaço, que reflete sua vida ao lado dos pobres, os excluídos, os que estão fora do sistema sociocultural e religioso.

Bonito peregrinar inicia Maria, que será permanente durante toda sua vida. Acompanha seu filho nos diferentes momentos de sua proclamação do Reino no meio de nós. Fica aos pés da Cruz, onde Jesus sofre a condenação dos que eram incomodados pelas suas palavras e ações.

Nas origens deste caminhar, Maria “parte para a região montanhosa, dirigindo-se às pressas a uma cidade da Judeia” ao encontro de sua prima Isabel. Ela sai para cumprimentar e estar ao lado desta querida mulher, já anciã que também está grávida. Percorre um caminho pelas montanhas, por lugares inóspitos e até perigosos, mas o Dom recebido deve ser compartilhado, não é para ficar escondido na sua casa de Nazaré, sua alegria deve ser comunicada e partilhada num espírito de serviço e amor. No trajeto deve ter mergulhado e louvado Deus pelo Mistério da sua presença muitas vezes incompreensível ao nosso entendimento, mas que na sua disponibilidade impregnou-a de júbilo. E assim Maria compreende a grandeza do Senhor, que serão suas primeiras palavras no encontro com sua prima Isabel.

Como disse o Papa Francisco na Vigília em Cracóvia no ano passado: “Segundo o Evangelho de Lucas, Maria, depois de ter acolhido o anúncio do anjo respondendo «sim» à vocação de Se tornar mãe do Salvador, levanta-Se e vai, apressadamente, visitar a prima Isabel, que está no sexto mês de gravidez (cf. 1, 36.39). Maria é muito jovem; aquilo que Lhe foi anunciado é um dom imenso, mas inclui também desafios muito grandes; o Senhor garantiu-Lhe a sua presença e o seu apoio, mas há ainda muitas coisas obscuras na sua mente e no seu coração. No entanto, Maria não Se fecha em casa, não Se deixa paralisar pelo medo ou o orgulho. Maria não é daquelas pessoas que, para estar bem, precisam dum bom sofá onde ficar cômodas e seguras. Não é uma jovem-sofá! (cf. Discurso na Vigília, Cracóvia, 30/VII/2016). Vendo que servia uma mão à sua prima idosa, Ela não perde tempo e põe-Se imediatamente a caminho”.

Na sua saudação ela comunica a alegria da Vida que leva no seu interior. Elas se conhecem, mas neste momento há uma realidade diferente! Ficam unidas pela vida que as habita. Descobrem uma na outra um mistério que as enche de alegria.

Proclama a grandeza do Senhor sua alegria em “Deus seu salvador porque olhou para a humilhação de sua serva”. Manifesta também “sua misericórdia que chega aos que o temem de geração em geração”. No seu hino apreciamos uma profunda compreensão do atuar de Deus em favor de seu povo conforme sua promessa” desde “Abraão para sempre”. Suas palavras são uma síntese de um delicado reconhecer a presença de amor e misericórdia de Deus em favor de seu povo escolhido apesar das suas infidelidades, dificuldades, e momentos em que parecia que os tinha abandonado.

Hoje somos convidados a descobrir na vida pessoal e das comunidades a presença de um Deus misericordioso que nos conduz por verdes caminhos e nunca nos abandona.

Peçamos a Maria que, de uma forma especial, nos ajude pessoal e comunitariamente a abrir nossos olhos para proclamar junto com ela a grandeza de Deus que continua fazendo maravilhas na nossa vida e na nossa história.

Rezemos junto a ela o Magnificat

«Minha alma proclama a grandeza do Senhor,

meu espírito se alegra em Deus, meu salvador,

porque olhou para a humilhação de sua serva.

Doravante todas as gerações me felicitarão,

porque o Todo-poderoso

realizou grandes obras em meu favor:

seu nome é santo,

e sua misericórdia chega aos que o temem,

de geração em geração.

Ele realiza proezas com seu braço:

dispersa os soberbos de coração,

derruba do trono os poderosos e eleva os humildes;

aos famintos enche de bens,

e despede os ricos de mãos vazias.

Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia,

conforme prometera aos nossos pais,

em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre.»

Assunção da Virgem Maria

Johan Konings

A presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.

Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas “humildes” no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas, oprimidas (a “humildade” não como aplaudida virtude, mas como baixo estado social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de humildes, o “pequeno rebanho” tão característico do evangelho de Lc (cf. 12,32, peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).

Pois bem, a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.

A “arte” litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.

Em Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida. É o jeito…


Magnificat: a mãe gloriosa e a grandeza dos pobres

Em 1950, o Papa Pio XII definiu a Assunção de Maria como dogma, ou seja, como ponto referencial de sua fé. Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu “com corpo e alma”, ou seja, coroada plena e definitivamente com a

glória que Deus preparou para os seus santos. Assim como ela foi a primeira a servir Cristo na fé, ela é a primeira a participar na plenitude de sua glória, a “perfeitissimamente redimida”. Maria foi acolhida completamente no céu porque ela acolheu o Céu nela – inseparavelmente.

O evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – nem tinha sequer o status de mulher casada -, ela foi “exaltada” por Deus, para ser mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus opera nela. Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o “sim” de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus, responde o grande “sim” de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto estes oprimem, ele salva de verdade.

Essa maravilha, só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e seu status. Ela é serva, está a serviço – como costumam fazer os pobres – e, por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se àquilo que é maior que sua própria pessoa. A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Mas, para que seu serviço seja grandeza, tem que saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, o pobre realizará coisas que os ricos, presos na sua auto-suficiência, não realizam: a radical doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus.

A vida de Maria, a “serva”, assemelha-se à do “servo”, Jesus, “exaltado” por Deus por causa de sua fidelidade até a morte (Fl 2,6-11). O amor torna semelhantes as pessoas. Também a glória. Em Maria realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na 2ª leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa do pai, uma vez que o Filho venceu a morte.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

A mãe gloriosa e a grandeza dos humildes


Thomas McGrath

Ap 12, 1.3-6a.10 – Reflexão


Aparece no céu a Mulher que gera o Messias. As doze estrelas indicam quem ela é: o povo das doze tribos, Israel – não só o Israel antigo, do qual nasce Jesus, mas também o novo Israel, a Igreja, que, no primeiro século depois de Cristo, quando o livro foi escrito, precisava esconder-se da perseguição, até que, no fim glorioso, o Cristo se possa revelar em plenitude.

O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre o povo das Comunidades - ainda tão frágeis.

As visões revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. O São João, usando a sua linguagem apocalíptica, numa linguagem codificada, os animais aterrorizantes simbolizam os perseguidores.

A Mulher representa a Igreja.

O seu nascimento é o batismo que deve dar à terra uma nova humanidade.

O Dragão é o perseguidor, que põe tudo em ação para destruir este recém-nascido.

O destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em ação para proteger o seu Filho.

Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.

Ao usar esse texto hoje – 15 de Agosto - a liturgia pensa em Maria. Maria assunta ao céu sintetiza em si, por assim dizer, todas as qualidades desse povo prenhe de Deus, aguardando a revelação de sua glória.

No momento em que vivemos – de pandemia, fome, desemprego e medo, contemplar Maria no dia da sua Assunção, a “serva gloriosa”, pode trazer para as nossas comunidades uma luz preciosa, e uma nova esperança. Maria nos ensina o modo divino de viver. Compartilhar com quem não tem, participar da cozinha comunitária ou da distribuição da sopa, fazendo o serviço humilde revela a vontade e a glória de Deus.

A exaltação de Maria é sinal de esperança para os pobres, e também joga luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, “duplamente oprimida” – por ser pobre, e por ser mulher. Maria é “a mãe da libertação”.

TEXTO EM ESPANHOL

Dom Damián Nannini, Argentina

SOLEMNIDAD DE LA ASUNCIÓN DE LA VIRGEN MARÍA

Primera lectura (Ap 11,19; 12,1-6.10):

Teniendo en cuenta el contexto dinámico del libro del Apocalipsis importa notar que la comunidad eclesial se encuentra ante un momento delicado pues le ha sido revelada la fuerte presencia del mal en la historia con la consecuente lucha con el bien y la transitoria victoria del mal. Entonces el séptimo ángel toca su trompeta y se aclama el advenimiento del Reino de Dios a través de su Cristo, de Jesús crucificado y resucitado (cf. Ap 11,15-17). Es decir, se anuncia la victoria final de Dios sobre las fuerzas del mal. En este contexto aparece una "gran señal" en el cielo, o sea de parte de Dios; es la señal de la victoria definitiva de Dios que la comunidad eclesial deberá descifrar, tanto ayer como hoy.

En primer lugar, se nos dice que se trata de una mujer. A la luz del Antiguo Testamento, opina U. Vanni[1], hay que pensar en una esposa y madre, en la alianza nupcial de Dios con su pueblo. Esta mujer está "revestida del sol, con la luna bajo sus pies y una corona de doce estrellas en su cabeza"(12,1). El sol indica que esta mujer es querida por Dios quien la llena de sus regalos, de su "sol". La luna, que en el Antiguo Testamento tiene la función de regular el curso del tiempo, está bajos sus pies, indicando que la mujer está por encima del tiempo y de sus vicisitudes, que tiene ya su eternidad. La corona sobre su cabeza es signo de su victoria, pues es reina; y el número doce expresa la unidad del Antiguo (doce tribus de Israel) y del Nuevo (doce apóstoles) pueblo de Dios. Por fin, se nos dice que esta mujer está embarazada y por dar a luz. Un poco más adelante se nos dirá que tuvo un hijo varón que es elevado hasta Dios y su trono, por tanto, se trata de Cristo en su gloria.

Según todos estos datos, para U. Vanni se trata en primer lugar de un símbolo del pueblo de Dios, de la Iglesia Madre que da a luz a Cristo y, de este modo, la asamblea identificándose con la Iglesia y con la mujer se renueva en la confianza para seguir dando a luz dolorosamente a Cristo al mundo hasta la consumación final.

Pero "no podemos ignorar que el Apocalipsis es parte de la tradición de la comunidad de Juan; y en el evangelio de Juan aparece María siempre designada con este título de «mujer», siendo al mismo tiempo «madre»; en Jn 2,4, donde gracias a la intervención de María, Jesús «manifestó su gloria y creyeron en Él sus discípulos» (2,11). Pero allí Jesús traslada la función de María a otro momento mucho más importante: la «hora» (2,4). Y la «hora» es la muerte redentora en la cruz (19,27: «Aquella hora»). Allí es cuando Jesús vuelve a llamarla «mujer», y la declara «madre» de su discípulo (19,26). Y sólo después de hacer esto, Jesús sabe que «todo está cumplido» (19,18). Todo esto significa que el Evangelio de Juan ve en María a la que cumple plenamente el anuncio de una Mujer enemiga de la serpiente. La descendencia de María, que es Cristo, pisa la serpiente y la vence […] En Apocalipsis 12, al igual que en Jn 19, María es la madre de Cristo, pero también la mujer enemiga del demonio y la madre de los discípulos […] Esta mujer reúne en un mismo simbolismo al pueblo del Antiguo Testamento, a la Iglesia perseguida del Nuevo Testamento, y a María"[2].

Segunda Lectura (1Cor 15,20-27)

Estos versículos pertenecen a la subsección de la carta (15,12-34) donde Pablo busca demostrar la intrínseca unidad que existe entre la resurrección de Cristo, afirmada como núcleo del kerigma, y la resurrección de los muertos, situación que es posible iluminar a partir de la fe recibida.

Aquí Pablo comienza afirmando claramente la verdad de la resurrección de Cristo y cómo la misma es la garantía de la resurrección futura de los cristianos. Para demostrar esta relación entre la resurrección de Cristo y la de los cristianos, que negaban algunos corintios, recurre a la comparación antitética entre Adán y Cristo (tema que desarrollará en Rom 5). Por Adán vino la muerte para todo hombre, por Cristo viene la vida, también para todos los hombres. Pero con un orden progresivo: primero Cristo, ya resucitado, luego, en la parusía, los que son de Cristo; y la conclusión con el sometimiento de todo a Dios Padre. La muerte es presentada como el último enemigo al cual Cristo derrotará al final de los tiempos, para que reine la vida.

EVANGELIO (Lc 1,39-56)

Como sabemos, la Asunción de María no se encuentra narrada en el Nuevo Testamento, por ello no hay que buscar en este texto una referencia explícita a este dogma mariano. Sin embargo, es sugestiva la relación que encuentra el Card. Vanhoye[3] entre el evangelio de hoy y la Asunción de María: el Magnificat expresa muy bien los sentimientos de María con ocasión de su Asunción. Según este autor, el Magnificat es un canto profético que anuncia la exaltación de María en el acontecimiento de la Asunción.

ALGUNAS REFLEXIONES

Pienso que es fundamental comenzar precisando el sentido de este dogma de fe mariano, su contenido y su alcance; para luego ver cómo ilumina nuestra vida. Por ello veamos lo que sobre este dogma mariano nos dice el Catecismo de la Iglesia Católica (CIC):

Nº 966: La Asunción de la Santísima Virgen constituye una participación singular en la Resurrección de su Hijo y una anticipación de la resurrección de los demás cristianos: En tu parto has conservado la virginidad, en tu dormición no has abandonado el mundo, oh Madre de Dios: tú te has reunido con la fuente de la Vida, tú que concebiste al Dios vivo y que, con tus oraciones, librarás nuestras almas de la muerte (Liturgia bizantina, Tropario de la fiesta de la Dormición [15 de agosto]).

Nº 972: La Madre de Jesús, glorificada ya en los cielos en cuerpo y alma, es la imagen y comienzo de la Iglesia que llegará a su plenitud en el siglo futuro. También en este mundo, hasta que llegue el día del Señor, brilla ante el Pueblo de Dios en marcha, como señal de esperanza cierta y de consuelo (LG 68).

Puntualmente el Catecismo nos señala el principal fundamento de esta gracia o privilegio especial que recibió María: su estrecha vinculación al misterio pascual de su Hijo Jesús. Ella participó de modo singular en la resurrección de su Hijo y así Dios anticipó en ella la suerte final de todos los cristianos. Y esta Gracia especial de María tiene su repercusión para la Iglesia quien ve en Ella su futuro ya realizado por cuanto la Asunción es una anticipación de la resurrección de los demás cristianos. Por esto es señal de esperanza y consuelo.

Hoy se nos invita a contemplar a María en la gloria de Dios y reconocer que Ella es la imagen y la garantía de lo que llegaremos a ser un día los creyentes como miembros de la Iglesia. Ella está llena de gozo y su vida es una permanente alabanza de la Gloria de la Trinidad. Pero al mismo tiempo, gracias a su estado glorioso, puede estar pendiente de todos y cada uno de sus hijos, de nosotros. Como bien dice R. Cantalamessa[4], cuando Sta. Teresita del Niño Jesús expresó su misión eterna diciendo: “quiero pasar mi cielo haciendo el bien en la tierra”; estaba haciendo suya, sin saberlo, la vocación de María, quien pasa su cielo haciendo el bien en la tierra. ¿Y cómo lo hace? Mediante su poderosa intercesión. En las bodas de Caná vemos a María intercediendo ante su Hijo Jesús porque se terminó el vino de la fiesta. Y le hizo anticipar su hora. Pues bien, ahora que María está asociada a la glorificación de su Hijo, su poder de intercesión desde el cielo es infinitamente mayor. Por eso con tanta fe y confianza le dirigen sus súplicas los cristianos de todos los tiempos. Un claro testimonio es la oración “Acordaos”, atribuida a san Bernardo, pero cuyos textos más antiguos son del siglo XV y se desconoce su verdadero autor: «Acordaos, oh piadosísima Virgen María, que jamás se ha oído decir que ninguno de los que han acudido a tu protección, implorando tu asistencia y reclamando tu socorro, haya sido abandonado de ti. Animado con esta confianza, a ti también acudo, oh Madre, Virgen de las vírgenes».

Ahora bien, en este contexto de pandemia es bueno también experimentar a la Virgen Asunta a los cielos como ejemplo y signo de Esperanza para nuestras vidas. El objeto esencial de nuestra Esperanza cristiana es la salvación como “posesión” de Dios, la comunión plena con Él. Y María ha alcanzado esta Gracia en su Asunción y nos enseña a pedirla y esperarla justamente como tal, como una GRACIA.

En su vida terrena María vivió la Esperanza mediante el ejercicio de la memoria, tal como lo prueba el Magnificat. María hace memoria de las grandes maravillas obradas por Dios en favor de su pueblo, en el pasado; y en favor de ella en el presente, a pesar de su pequeñez. María guardaba todas las cosas vividas con Jesús y las meditaba en su corazón. Así, haciendo memoria, mantuvo siempre viva la Esperanza.

Pero de modo especial María vivió “la esperanza contra toda esperanza” junto a la cruz de Jesús y participando como nadie del misterio pascual de su Hijo. Y nos enseña a vivirla también a nosotros, particularmente en los momentos límites, cuando parece que ya nada más podemos hacer. En esos momentos María, como una estrella brillante en la noche, nos invita a seguir mirando al cielo y continuar esperando en Dios. En efecto, “cuando incluso no hubiera nada más que hacer por parte nuestra, para cambiar una cierta situación difícil, quedaría siempre una gran tarea por cumplir, la de mantenerse comprometido y mantener lejana la desesperación: soportar con paciencia hasta el fin. Ésta fue la gran “tarea” que María llevó a cumplimiento, esperando, al pie de la cruz, y en esto ella está lista para ayudarnos también a nosotros”[5].

María enseña a la Iglesia a vivir y ofrecer la verdadera esperanza, como lo explica muy bien R. Cantalamessa[6]: “María que en el misterio de la Encarnación fue maestra de fe, en el Misterio Pascual es, por tanto, maestra de la esperanza. Como María estuvo junto al Hijo crucificado, así la Iglesia está llamada a estar junto a los crucificados de hoy: los pobres, los que sufren, los humillados y los heridos. ¿Y cómo estará la Iglesia junto a ellos? Con esperanza, como María. No basta compadecerse de sus penas o incluso buscar aliviarlas. Es demasiado poco. Esto lo pueden hacer todos, incluso los que no conocen la resurrección. La Iglesia debe dar esperanza, proclamando que el sufrimiento no es absurdo, sino que tiene un sentido, porque habrá resurrección de la muerte […] Los hombres tienen necesidad de esperanza para vivir, como del oxígeno para respirar”.

Por su parte el Papa Francisco, nos decía en el Ángelus del 15 de agosto de 2019:

“Hoy María nos invita a levantar la mirada a las «grandes cosas» que el Señor ha cumplido en ella. También en nosotros, en cada uno de nosotros, el Señor hace tantas cosas grandes. Debemos reconocerlas y exultar, engrandecer a Dios, por estas grandes cosas.

Son las «grandes cosas» que celebramos hoy. María es asunta al cielo: pequeña y humilde, es la primera en recibir la gloria más alta. Ella, que es una criatura humana, una de nosotros, llega a la eternidad en cuerpo y alma. Y allí nos espera, como una madre espera que sus hijos vuelvan a casa. En efecto, el pueblo de Dios la invoca como "puerta del cielo". Nosotros estamos en camino, peregrinos a la casa de allá arriba. Hoy miramos a María y vemos la meta. Vemos que una criatura ha sido asunta a la gloria de Jesucristo resucitado, y esa criatura sólo podía ser ella, la Madre del Redentor. Vemos que en el paraíso, junto con Cristo, el nuevo Adán, está también ella, María, la nueva Eva, y esto nos da consuelo y esperanza en nuestra peregrinación aquí abajo.

La fiesta de la Asunción de María es una llamada para todos nosotros, especialmente para los que están afligidos por las dudas y la tristeza, y miran hacia abajo, no pueden levantar la mirada. Miremos hacia arriba, el cielo está abierto; no infunde miedo, ya no está distante, porque en el umbral del cielo hay una madre que nos espera y es nuestra madre. Nos ama, nos sonríe y nos socorre con delicadeza. Como toda madre, quiere lo mejor para sus hijos y nos dice: “Sois preciosos a los ojos de Dios; no estáis hechos para las pequeñas satisfacciones del mundo, sino para las grandes alegrías del cielo”. Sí, porque Dios es alegría, no aburrimiento. Dios es alegría. Dejémonos llevar por la mano de la Virgen. Cada vez que tomamos el Rosario en nuestras manos y le rezamos, damos un paso adelante hacia la gran meta de la vida.

Dejémonos atraer por la verdadera belleza, y no absorber por las pequeñeces de la vida, escojamos, en cambio, la grandeza del cielo. ¡Qué la Santísima Virgen, Puerta al Cielo, nos ayude a mirar con confianza y alegría cada día al lugar donde está nuestro verdadero hogar, donde está Ella, que como madre nos espera!”

PARA LA ORACIÓN (RESONANCIAS DEL EVANGELIO EN UNA ORANTE):

María, Reina y Señora

Sin demora, Señora mía

Acudes en mi auxilio

Para elevarlo todo contigo

Refugio de tu niño.

La Gloria se acurrucó en tus brazos

Y se alimentó de tu pecho

Dejaste atrás tus planes

Para abrazar su Proyecto.

De tu ruego exigente

Tu fe viva, impulso y valentía

A tu paso, diligente,

Al Rey del universo, complacías.

Elevada por humilde

De los pobres, abogada

Eres la Puerta del cielo:

Nunca estará cerrada.

Tus ojos de madre perfecta

Miran al cielo el Rostro conocido

Se te hace visible y cercano…

Eres socorro del desvalido.

Sin ti la orfandad triunfa implacable

Y nos damos por vencidos

Pero tú te acercas, amorosa

A nadie das por perdido

Hundidos en el presente

Cegados por la ansiedad

Nada tenemos, falta nos hace

Tu Santa serenidad

Y porque nos ves confundidos

En este mar tenebroso

Vienes a hacerte mensaje

Santuario de tus devotos

Alegría del alma mía

Bendición de Dios para mi hogar

Encuentro en tu regazo

El mejor lugar.

Ven a cuidar de tus pequeños

Señora de lo alto, sabedora de lo eterno

Contigo nos unimos en un canto

Como lo hiciste en aquellos tiempos

Maestra y alumna del Salvador

Cátedra para el que te quiera

Hazme feliz por creer como Tú

Se cumplirán en mi sus Promesas. Amén.



[1] Cf. Apocalipsis (Verbo Divino; Estella 1994) 109-115.

[2] V. M. Fernández, El Apocalipsis y el tercer milenio (San Pablo; Buenos Aires 1998) 49-50.

[3] Cf. Lecturas bíblicas de los domingos y fiestas (Mensajero; Bilbao 2009) 377.

[4] María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 308.

[5] R. Cantalamessa, María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 174.

[6] María, espejo de la Iglesia (Ágape: Buenos Aires 2013) 168-169.