Primeira Leitura: Atos 1,1-11
Salmo Responsorial 46(47) R- Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta!
Segunda Leitura: Efésios 1,17-23
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Primeira Leitura: Atos 1,1-11
Salmo Responsorial 46(47) R- Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta!
Segunda Leitura: Efésios 1,17-23 (ou Ef. 4,1-13)
Evangelho: Marcos 16,15-20
15 E disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Eis os sinais que acompanharão aqueles que crerem: expulsarão demônios em meu nome; falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes e beberem veneno mortal, não lhes fará mal algum; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados”.19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus.
Meu irmão, minha irmã!
Os textos da liturgia da Ascensão estão carregados de uma forte tensão espiritual. De fato, o evento da subida aos céus provoca reações de saudades, de tristeza e de temor nos discípulos. Os amigos de Jesus experimentam a ascensão como um distanciamento, quase como se estivessem sendo abandonados.
Ainda era forte neles a impressão das aparições do ressuscitado. Ainda desejavam eles sentir de maneira quase física a proximidade do mestre. A subida de Jesus ao céu parece interromper essa experiência de proximidade e de presença.
Por isso, eles se sentiam um pouco decepcionados. Depois de tanta alegria provocada pela ressurreição, as aparições, vivem a ascensão como uma nova separação.
Por que os discípulos têm tanta dificuldade com a ascensão de Jesus?
A dificuldade deles consiste na resistência deles em aceitar que as relações com Jesus sejam transformadas. É a dificuldade de permitir que um vínculo com Jesus amadureça de maneira totalmente nova, em relação à condição terrena anterior.
É como que os discípulos quisessem ainda uma relação com o Jesus da tumba. Ascender ao céu significa, de fato, desaparecer da vista, mas não é desaparecer dos olhos da fé. Não é o mesmo que se ausentar do coração que ama e deseja na esperança.
O evangelista Lucas faz uma afirmação importante para viver a ascensão dessa forma: ele diz que os olhos deles, ou seja, dos discípulos de Emaús, abriram e eles o reconheceram, mas ele desapareceu da vista deles.
Esse momento em que Jesus desaparece da vista dos discípulos de Emaús é, já a ascensão do Senhor. Jesus desaparece da vista dos discípulos porque agora, com os olhos do coração e os olhos da fé abertos, a visão física de Jesus não é mais necessária. Ele desaparece da vista deles porque a relação do ressuscitado foi transformada totalmente.
A partir da ressurreição, a relação com Jesus é uma relação espiritual: participa da liberdade, da profundidade, da plenitude do espírito. A Ascensão inaugura, assim, o novo tempo da presença glorificada de Jesus entre os discípulos e na Igreja. Inaugura o famoso tempo dos sinais, isto é, o tempo em que a presença de Jesus ressuscitado se dá de modo real nos mistérios da salvação.
No que consiste essa presença de Jesus nos mistérios?
É a presença real de Jesus nos sinais que ele próprio deixou: a Igreja, os sacerdotes, os sacramentos, o amor fraterno, a palavra, o pobre... Todas essas são formas de presença real de Cristo neste novo tempo, tempo que começa com a Ascensão e se concluirá com a segunda vinda de Cristo na glória. Nesse tempo serão os sinais que trarão a presença do ressuscitado entre nós. Ou melhor: o ressuscitado permanecerá mais presente do que nunca através dos sinais visíveis que ele mesmo deixou para nós até à sua segunda vinda.
A Ascensão inaugura, também, o tempo da missão da Igreja. Jesus mandou batizar. Ele nos deixou o sacramento essencial para a salvação. O sacramento para ser recebido na Igreja e para se vincular definitivamente a Jesus.
O mandato de Jesus é universal. É universal como a salvação que ele trouxe. A missão se estende a todas as nações não por motivos proselitistas, mas porque, se a salvação não fosse universal, não seria salvação que mereça tal nome. A salvação que Deus deseja para todos, consiste na ascensão de todos para além da condição terrena, na qual todos nós nascemos.
Deus deseja que participemos de sua natureza divina. Deus deseja que sejamos Deus com ele e em comunhão com ele. Mesmo tendo origem da terra e permanecendo terrestres, o desígnio de Deus consiste em que todos nós sejamos mais do que pó e barro da terra. Ele que que estejamos sempre com ele. Por isso mandou o Filho, e também, pelo mesmo motivo, glorificou a humanidade promovida pelo Filho na encarnação.
A missão da Igreja consiste em levar a todos essa boa notícia. Mais do que isso: Na força do Espírito, a Igreja leva a todos o poder de se tornar filho de Deus. Não é um poder próprio. Esse poder foi confiado por Jesus ao mandar batizar todos os povos.
Evangelizar é, portanto, anunciar e transmitir a todos esse poder de subir ao céu não por si mesmo, mas por causa de Cristo. Este poder de subir aos céus onde está Jesus sentado à direita do Pai.
A orientação definitiva e última de nossa vida é Jesus glorificado. Sabemos que viemos do pó da terra, mas a Ascensão nos põe diante deste mistério da glorificação da humanidade de Jesus que é antecipação e sinal da nossa glorificação.
DOM JULIO ENDI AKAMINE
Primeira Leitura: Atos 1,1-11
Salmo Responsorial 46(47) R- Por entre aclamações Deus se elevou, / o Senhor subiu ao toque da trombeta!
Segunda Leitura: Efésios 1,17-23
Evangelho: Lucas 24, 46-53
"46.“Assim é que está escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. 47.E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48.Vós sois as testemunhas de tudo isso. 49.Eu vos mandarei o Prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.* 50.Depois os levou para Betânia e, levantando as mãos, os abençoou. 51.Enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado ao céu. 52.Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo. 53.E permaneciam no templo, louvando e bendizendo a Deus."
Meu irmão, minha irmã!
Lc 24,46-53
A solenidade da ascensão que hoje celebramos está permeada por uma grande alegria. Mais do que isso: pedimos a Deus que nos faça exultar de alegria: “Fazei-nos, ó Pai, exultar de alegria e fervorosa ação de graças” (oração da coleta). A celebração de hoje não é, portanto, uma saudosa liturgia de adeus a Jesus, que vai embora tranquilo para o paraíso e nos deixa sozinhos. Pelo contrário, celebramos a ascensão do Senhor com um grande sentido de alegria e de exultação. Descobrir os motivos desta alegria e exultação significa celebrar com verdade o mistério da ascensão.
A oração da coleta expressa o sentido salvífico da ascensão para nós: ó Pai, a ascensão de vosso Filho já é nossa vitória! Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Jesus não sobe ao céu sozinho. Ele nos leva com Ele, porque, ao ser glorificado, não se separa da humanidade assumida na encarnação. A subida ao céu é a glorificação da humanidade de Jesus. Enquanto Deus, Jesus não precisava ser glorificado; é a humanidade feita sua na encarnação que é glorificada no céu. Por isso podemos afirmar que a ascensão do Filho é também a nossa ascensão ao céu.
Esses pensamentos, por si só, bastam para acender em nós o entusiasmo pois a nossa certeza e a nossa esperança, a nossa vocação e o nosso futuro estão todos apontados para o céu.
Tudo isso é muito bonito, mas não é tudo. A ascensão do Senhor esconde ainda um outro segredo. A ascensão marca também a sua presença no nosso mundo. Não só subimos ao céu com Jesus, mas o mundo, por causa da glorificação de Jesus, se tornou a habitação de Jesus e, portanto, se tornou também céu. Não se trata evidentemente de justificar o pecado e o mal presentes no mundo. O nosso mundo se tornou céu porque o lugar onde está Jesus é o céu. Com a ascensão de Jesus toda a nossa realidade, por causa da presença de Jesus, se torna de certa forma transparência dele.
A ascensão não é o movimento contrário do Natal. Pensamos erroneamente que no Natal Deus se aproxima e se torna presente neste mundo e que na Ascensão, Jesus abandona o nosso mundo à própria sorte. Essa representação é errada e a solenidade de hoje nos revela que agora Jesus está mais presente e mais ativo do que nunca em nosso mundo.
A presença de Cristo, no entanto, tem um ponto de maior densidade e de concentração. Ele está presente sobretudo na pessoa humana e de modo ainda mais concentrado nos pobres e sofredores deste mundo. Se há algo que coloca uma pessoa como maior transparência de Jesus, como lugar de maior densidade da presença de Jesus, essa intensidade consiste no grau de sua pobreza, de seu sofrimento e de sua humilhação. Com estas pessoas a presença de Cristo é máxima: “foi a mim que o fizestes... foi a mim que não o fizestes...”.
As pessoas sempre perguntam: como será a vinda de Jesus e quais serão os sinais que acompanham tal vinda? Com a ascensão do Senhor nós devemos reconhecer que Jesus não virá somente do céu, mas virá também e contemporaneamente da “terra”. A segunda vinda de Cristo revelará com clareza que Cristo não está somente no céu, mas que Ele está também presente na terra. Ao subir ao céu, Jesus está mais presente na terra do que podemos imaginar e a sua segunda vinda mostrará o quanto a nossa realidade está prenhe e carregada da sua presença. Com a vinda de Cristo, nós reconheceremos com toda a verdade como Jesus está mais presente do que nunca em nossa vida e em nosso mundo.
Hoje apresentamos a Deus um fragmento de nosso mundo, o pão e o vinho, como oferta humilde e pobre. Deus acolhe nosso pão e vinho, algo tão nosso, e os devolve para nós como presença misteriosa do seu Filho, o seu corpo e sangue. Ele toma posse de uma partícula de nosso mundo para consagrá-lo por inteiro na transparência do Filho Jesus. Bendito seja Deus pelo pão, pelo vinho, pelo corpo e sangue de vosso Filho! Transforme Jesus, presente na eucaristia, a nossa vida e o nosso mundo em presença de Cristo!
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE