Logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. 23 Depois de despedi-las, subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho. 24 O barco, entretanto, já longe da terra, era atormentado pelas ondas, pois o vento era contrário. 25 Nas últimas horas da noite, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. 26 Quando os discípulos o viram andando sobre o mar, ficaram apavorados e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. 27 Mas Jesus logo lhes falou: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” 28 Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água.” 29 Ele respondeu: “Vem!” Pedro desceu do barco e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. 30 Mas, sentindo o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” 31 Jesus logo estendeu a mão, segurou-o e lhe disse: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?” 32 Assim que subiram no barco, o vento cessou. 33 Os que estavam no barco ajoelharam-se diante dele, dizendo: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus!” 34 Após a travessia, aportaram em Genesaré. 35 Os habitantes daquele lugar reconheceram Jesus e espalharam a notícia por toda a região. Então levaram a ele todos os doentes; 36 suplicavam que pudessem ao menos tocar a franja de seu manto. E todos os que tocaram ficaram curados.
Jo 6,41-51
“Eu sou o pão que desceu do céu”. Essa afirmação de Jesus soa como um absurdo total. As pessoas que ouviam Jesus sabiam muito bem quem Ele era: “Este não é Jesus, o filho de José? Não conhecemos nós seu pai e sua mãe? Como pode, agora, dizer: Eu desci do céu?”.
Eles pensavam que conheciam Jesus. Tendo um conhecimento inicial correto julgam conhecer plenamente Jesus. Conhecem sua mãe e seu pai, ou seja, conhecem sua origem humana e, por isso, não conseguem aceitar a afirmação de Jesus: eu sou o pão que desceu do céu.
Jesus nunca responde à questão de sua origem limitando-se somente à sua origem humana. Ele é o enviado do Pai, está em Deus e dele desceu como pão do céu para a vida do homem. Assim, a verdadeira origem de Jesus, sem contradizer a sua origem humana, é o Pai.
Conciliar a origem humana com a verdadeira origem de Jesus só é possível com o dom da fé que Deus concede. Por isso, ninguém pode ir a Jesus se não for conduzido pelo Pai: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”.
O Pai não coage nem força as pessoas a ir até Jesus. A força de atração do Pai é um convite à decisão, é uma interpelação à liberdade das pessoas para ouvir a sua voz por meio da Escritura. Atração significa, portanto, que Deus se revela na Escritura e, em consequência disso, é preciso se deixar ensinar por Ele: “Está escrito nos profetas: todos serão ensinados por Deus. Ora, todo aquele que ouviu o Pai e dele aprendeu, vem a mim”.
Os adversários de Jesus não ouvem a Deus nas Escrituras, por isso eles murmuram. Nesse sentido, murmurar é o indício mais claro de não querer acreditar em Jesus. Só quando há uma verdadeira abertura à ação atrativa do Pai, uma pessoa deixa de murmurar e pode ser conduzida até Cristo. Assim o ensino do Pai se dá em dois níveis: um externo que é feito por Jesus e outro interior, que consiste na ação do Pai no coração dos ouvintes.
Corresponde a esses dois tipos de ensino a nossa atitude em relação a Jesus. Para receber a vida é preciso ir até Jesus e crer no que Ele ensina, e é preciso se alimentar do pão da vida. Fé e comunhão, crer e comer, aderir ao ensino de Jesus e se alimentar do Pão que é Jesus são os dois atos que nos fazem viver da vida de Deus.
O Pão que desce do céu dá a vida eterna. Isso o maná não pode dar. É Jesus e não Moisés quem dá o pão do céu, pois o pão do céu não é o que alimenta para esta vida terrena, mas o que dá a vida eterna. É comendo do Pão do céu, que podemos assimilar a vida plena de Jesus.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
"32.Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino. 33.Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. 34.Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”. (= Mt 24,42-51 = Mc 13,33-37) 35.“Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas.* 36.Sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37.Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: ele há de cingir-se, dar-lhes à mesa e os servirá. 38.Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos! 39.Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa. 40.Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem.” 41.Disse-lhe Pedro: “Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?”. 42.O Senhor replicou: “Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo? 43.Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! 44.Em verdade vos digo: lhe confiará todos os seus bens. 45.Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e as servas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46.o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao destino dos infiéis. 47.O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. 48.Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis, será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de exigir”. "
Meu irmão, minha irmã!
Lc 12,32-48
Jesus nos convida hoje a concentrar nosso esforço, a gastar nossas energias e a consumir o tempo em algo que ultrapasse os limites da nossa vida mortal. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
É preciso estarmos atentos porque a qualquer momento chegará o Senhor e assim pode escapar a melhor oportunidade de nossa vida. É aquilo que nós chamamos virtude da vigilância.
Vigilância não é espera passiva; é mobilização de nossa atenção e de nossas energias para a oportunidade em que o Senhor vem ao encontro. Nesse sentido, Jesus conta três breves parábolas: a dos servos que esperam acordados o patrão que volta da festa de casamento, para abrir a porta logo que ele bater; a parábola do ladrão que tenta arrombar a casa em hora não esperada; e a parábola do administrador que deve cuidar dos outros empregados enquanto o patrão está fora.
Os servos devem estar com os rins cingidos, ou seja, devem estar de prontidão para o serviço. Nessa parábola chama a atenção o que Jesus promete: se encontrar os servos acordados e de prontidão, o próprio patrão os fará sentar à mesa e os servirá. É uma reação inesperada e exagerada desse patrão generoso. E exatamente nisso está a graça: esse é o banquete do céu que só algo muito exagerado pode esboçar. Na verdade, já temos uma antecipação desse mistério no sacramento da eucaristia. Hoje, na missa, Jesus nos faz sentar à sua mesa e nos serve; ele nos dá seu corpo e seu sangue; oferece-se a si mesmo como nossa comida e bebida de vida eterna!
A parábola do ladrão nos faz cair na conta de que a sua principal arma é a surpresa. Assim Jesus nos exorta a não perder a oportunidade da graça. Deus passa em nossa vida e, da mesma forma como quem não quer ser pego de surpresa por um ladrão, os cristãos sabem que não podem se desligar: é preciso estar vigilante sempre, por toda a vida.
Nós não vemos o Senhor chegar de longe e se aproximando devagar. Não! Ele chega de repente. De repente Ele está dentro de nossa casa, diante de nós. Para a vinda do Senhor, para a oportunidade da graça não existe um radar ou um sensor de movimento e de proximidade. Nós é que devemos estar atentos.
A terceira parábola nos mostra que nós somos administradores não de coisas mas de outros empregados. Assim nossa principal atividade, nossa principal ocupação nesta vida não é com as coisas, mas com as pessoas. O Senhor nos confiou o cuidado de outras pessoas. Vigilância tem a ver com isso: não é a espera angustiada da hora da morte, mas é o exercício fiel e responsável de um cuidado que nos foi confiado pelo Senhor. Podemos dizer que o melhor treinamento para estar em forma para quando o Senhor chegar é ter zelo, é cuidar dos irmãos e irmãs. Mais concretamente ainda é socorrer os mais pobres em suas necessidades:
Vendei vossos bens e dai esmola... Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Servir os irmãos, cuidar do bem deles como Jesus cuidou e cuida de nós é o nosso tesouro que não precisa ser vigiado ou guardado em cofres. É o tesouro que não acaba, que ladrão algum rouba, que não é corroído pela traça. Este é o nosso tesouro verdadeiro: a nossa semelhança de filhos com o Pai: como o Pai cuida dos filhos, assim, nós, que somos como o Pai (sendo filhos), cuidamos dos irmãos.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE