(ANO ÍMPAR)
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Gn 1,1-19
Iniciamos a leitura do livro de Gênesis. A perícope de hoje corresponde à narrativa dos quatro primeiros dias da criação.
Ouvindo Sempre surge a pergunta: quem tem razão a ciência ou a Bíblia? Será que se trata de escolher entre a ciência e a Bíblia?
As ciências procuram responder às perguntas sobre quando e como surgiu materialmente o cosmos e o ser humano.
A Bíblia por sua vez, sem negar as descobertas da ciência, procura responder a questões mais profundas que escapam ao alcance da ciência: o cosmos tem origem de uma causalidade cega ou de Deus? Se o mundo provém da bondade e sabedoria de Deus porque existe o mal? De onde vem o mal? Quem é responsável por ele?
O relato do Gênesis responde a essas questões.
A primeira lição da Bíblia é esta: o mundo não tem origem no caos nem no acaso. Crer na Bíblia, significa afirmar que o mundo é fruto de uma decisão de amor. Há, portanto, uma opção livre que se expressa na palavra divina criadora. O universo assim não apareceu como resultado de uma onipotência arbitrária, de uma demonstração de força ou de um desejo de autoafirmação. A criação pertence à ordem do amor.
É preciso estar atendo à repetição de uma expressão que, à primeira vista, pode passar desapercebida: cada criatura é chamada à existência por Deus pela sua palavra: “Deus disse, faça-se... e se fez”!
Na Bíblia, o termo hebraico “criar” é “bará”. Esse verbo exclusivamente aplicado a Deus, exprime a ação extraordinária e potente cujo único sujeito é Deus. Criar é, nesse sentido, a ação própria e exclusiva de Deus. Criar significa: fazer a partir do nada, chamar à existência, formar um ser do nada, produzir algo não de coisas preexistentes.
Enquanto criador, Deus está de certo modo “fora” da criação (ou seja, é transcendente a ela), e a criação está “fora” de Deus (porque não é Deus e não se confunde com Ele).
Criou porque quis comunicar à criação a sua bondade, a sua verdade, a sua beleza e a sua felicidade. Criando todos os seres do nada os chamou a participar de Suas perfeições divinas em medida diversa e conforme o lugar que os diversos seres ocupam na hierarquia dos seres. Em uma palavra: Deus criou o mundo por amor.
Crer que Deus criou o mundo é ter uma visão positiva da realidade material. Com efeito, é notável o otimismo do relato do Gênesis: Deus cria todas as coisas porque as ama e as ordenou em uma graduação que vai do mais ínfimo até o mais elevado dos bens.
Não existe nada que não participe, em seu modo e grau, do Sumo Bem que é Deus. Por isso a cada criatura lhe compete um lugar correspondente na hierarquia dos seres e, consequentemente, em tudo há um grau de bondade que varia de acordo com o lugar que o Criador assinalou em tal hierarquia.
O amor de Deus é a razão fundamental de toda a criação. Cada criatura é objeto da ternura do Pai que lhe atribui um lugar no mundo. Até a vida mais efêmera é objeto do amor de Deus. Mesmo nos poucos segundos de existência dessa vida limitada, Deus o envolve com o seu carinho (Laudato sì, 77). A criação está cheia de palavras de amor do Criador.
“Deus disse, faça-se... e se fez”!
(ANO PAR)
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
A inauguração do templo de Jerusalém é o ponto alto de toda a história do povo eleito. É o seu centro: toda a história de Israel acontece em torno da presença de Deus que tem seu sinal concreto no templo de Jerusalém. De fato, Salomão disse: “Sim, eu construí para ti uma Casa sobranceira, um lugar onde possas morar pelos séculos”.
A nuvem que enche o templo é sinal da presença de Deus: “Os sacerdotes não puderam ficar ali para ministrar, por causa da nuvem, pois a glória do Senhor encheu a Casa do Senhor”. A nuvem que enche a Casa de Deus mostra como ela é majestosa e como a adoração lhe é devida. Devemos compreender a profundidade do sentido religioso do templo de Jerusalém.
Por outro lado, sabemos que o templo era somente um símbolo do verdadeiro Templo, que é o próprio corpo de Jesus. Com efeito, o próprio Jesus declarou: “Destruí este santuário, e eu o levantarei em três dias... Ele, porém, se referia ao santuário que é o seu corpo” (Jo 2,19.21). Jesus em pessoa é a presença de Deus estabelecida para sempre entre os homens. Em Cristo, Deus está presente pessoalmente e não somente através de um templo edificado por mão humanas. Em Cristo, Deus é definitivamente “Deus conosco – Emanuel”.
Mais do que isso! Em Cristo, Deus cheio de bondade, está entre nós acessível pessoalmente.
O nosso Templo, Cristo, foi inaugurado também. Não com festas de triunfo, não com a imolação incalculável de ovelhas e bois. Nosso templo-Jesus foi inaugurado com o sacrifício da cruz. Com esse sacrifício de si mesmo sobre a cruz, Cristo nos abriu as portas da sua intimidade com Deus. O Santo dos Santos do templo de Jerusalém era inacessível ao povo, que devia se contentar em estar do lado de fora dele. Em Cristo, ao contrário, nós somos admitidos em Deus e somo unidos a Ele como os ramos à videira.
Rendamos graças a Deus pela celebração da Eucaristia, pela sua presença pessoal e por nos aceitar na sua intimidade.