DOM JÚLIO AKAMINE
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª leitura: 1Samuel 3,3b-10.19
Salmo 39(40) R- Eu disse: eis que venho Senhor, com prazer faço a vossa vontade!
2ª leitura: 1 Coríntios 6,13c-15a.17-20
Evangelho de João 1,35-42
Naquele tempo, no dia seguinte, João estava lá, de novo, com dois dos seus discípulos. 36 Vendo Jesus caminhando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”! 37 Os dois discípulos ouviram esta declaração de João e passaram a seguir Jesus. 38 Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que procurais?” Eles responderam: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?” 39 Ele respondeu: “Vinde e vede”! Foram, viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era por volta das quatro horas da tarde. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido a declaração de João e seguido Jesus. 41 Ele encontrou primeiro o próprio irmão, Simão, e lhe falou: “Encontramos o Cristo!” (que quer dizer Messias). 42 Então, conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!” (que quer dizer Pedro).
Meu irmão, minha irmã!
João Batista conta o Batismo de Jesus de maneira indireta. Ele não narra o episódio, mas faz João Batista dar testemunho de um evento decisivo para a história da salvação. E o testemunho do Batista é este: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
A palavra cordeiro, Cordeiro de Deus, tão importante para São João Batista, pode parecer para nós sem grande significado. Podemos até mesmo entender essa palavra como sinônimo de pessoa tranquila: cordeirinhos, bobinhos, inofensivos. Pode significar uma personalidade fraca, tipo “Maria vai com as outras”. Para nós, cordeiro é uma metáfora negativa. Por isso, precisamos nos purificar desse preconceito.
Se o significado nos parece negativo, não o é como título messiânico. Precisamos cair na conta que cordeiro é um título messiânico que João aplica a Jesus.
Para a cultura bíblica, o título “cordeiro” é um dos mais importantes da história da salvação e carrega uma carga existencial e emotiva muito forte.
Um dia os judeus estavam escravizados no Egito e Deus os libertou da opressão do faraó na noite em que sacrificaram o cordeiro. Essa noite, o anjo exterminador passou de casa em casa e poupou apenas os habitantes daqueles cujos umbrais estavam assinalados pelo sangue do cordeiro.
Os judeus aprenderam, com esse episódio, que há um sangue que defende da morte e salva o povo oprimido pela escravidão. Pensemos nisso quando estivermos na fila da comunhão: Jesus é o Cordeiro de Deus que nos defende da morte eterna, cujo sangue nos protege, no qual fomos lavados em nossa culpa e pecado. “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Outro rico significado do cordeiro, encontramos na própria celebração da páscoa dos judeus. Eles celebravam comendo em família um cordeiro, sacrificado sem que nenhum dos seus ossos fosse quebrado.
Quando Jesus foi sacrificado na cruz, o evangelista João dirá, especificamente, que nenhum dos seus ossos foi quebrado. Naquela época muitos dos crucificados agonizavam longamente até por dias. Por isso, para abreviar o suplício, era comum que os soldados quebrassem as pernas dos crucificados. Sem o sustento das pernas, os crucificados morriam mais rapidamente por asfixia.
Como o cordeiro pascal dos judeus, o nosso Cordeiro Pascal Jesus não teve suas pernas quebradas. Como é rica a imagem do cordeiro: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
O cordeiro pascal dos judeus era consumido na noite da passagem do anjo exterminador. Em torno dele as famílias dos judeus se reuniam para se alimentarem e para fazerem a passagem da escravidão para a liberdade.
Em torno do Cordeiro de Deus, Jesus, nós celebramos a Eucaristia, novo banquete pascal, no qual somos alimentados pelo Pão da Vida e somos saciados pelo cálice da salvação.
Em torno da mesa formamos uma unidade que nos torna o próprio Corpo de Cristo. Somos alimentados com o Corpo de Cristo, para sermos nós mesmos o que recebemos. Somos inebriados de uma bebida espiritual, que é o sangue derramado na cruz. Não o sangue da vingança, mas o sangue do sacrifício por amor.
A proximidade desta mesa nos faz cair na conta da nossa enorme indignidade. Por isso à aclamação: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, respondemos humildemente: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha morada, mas dize uma só palavra e eu serei salvo”.
Confessar que Jesus é o Cordeiro de Deus tem consequências para nós. A primeira consciência prática é a nossa entrega confiante de nossa vida a Cristo. Ele nos protege, nos livra do pecado, da morte eterna. Hoje o mundo de nossas crianças está contaminado de protetores: super-homem, mulher maravilha, batman, e assim por diante. Infelizmente são também personagens pouco heroicas, que se tornam de alguma forma modelos de identificação para nossas crianças.
Precisamos proteger nossas crianças dessa simbologia doente e insana. Precisamos ajudar nossas crianças, e a nós mesmos, a entregarem sua confiança ao verdadeiro protetor, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Assim nos tornamos os cordeiros que protegem os pequeninos.
Confessar que Jesus é o “Cordeiro de Deus” tem como consequência para os cristãos o imperativo de entrega no amor. Como ele se entrega total e cordialmente a nós em seu corpo e em seu sangue, assim o cristão se empenha em entregar sua vida por amor, entregar o seu tempo de serviço aos necessitados, entregar suas capacidades e competências, ao usá-las para a construção de uma sociedade mais fraterna, partilhar os seus bens, partilhando-os com os mais pobres. Assim nos tornamos cordeiros que alimentam os outros. “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
DOM JULIO ENDI AKAMINE
Meu irmão, minha irmã!
Jo 2,1-11
Quantas vezes a vida de um casal entre numa grave crise conjugal. Pela experiência sabemos que, por um lado, a crise conjugal se apresenta, na sua fase aguda e mais dolorosa, como uma falência, como a prova de que o sonho terminou ou se transformou num pesadelo. Nessa situação os casais dizem: “infelizmente, não dá para fazer mais nada”. Esse é o aspecto negativo da crise.
Mas existe outro aspecto da crise, que nos é muitas vezes não vemos, mas que Deus vê. Cada crise nos ensina que ela pode ser a passagem para uma nova fase de vida. Na natureza, nas criaturas inferiores, isto acontece automaticamente. No ser humano, porém, a crise interpela a sua liberdade, a sua vontade e, portanto, abre para uma “esperança maior” do que o desespero.
Nos momentos mais obscuros, os cônjuges podem perder a esperança. Nesse momento é preciso a companhia de outras pessoas, é necessária a companhia de verdadeiros amigos que, com o máximo respeito, mas também com o desejo sincero do bem, estejam prontos a compartilhar um pouco da sua esperança com quem a perdeu. Não de modo sentimental ou volúvel, mas organizado e realista. É assim que os verdadeiros amigos se tornam, no momento da ruptura, a possibilidade concreta para o casal em crise de ter uma referência positiva, na qual pode confiar na hora do desespero.
Com efeito, quando o relacionamento degenera, os cônjuges caem na solidão, tanto individual como conjugal. Perdem o horizonte da comunhão com Deus, com o próximo e com a Igreja. É nesse momento que os amigos podem servir como em guardiães de uma esperança maior para os que a perderam.
É nesta perspectiva que se pode ler a narração das bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11). A Virgem Maria se dá conta de que os esposos “não têm mais vinho”. Ela o diz a Jesus. Essa falta de vinho faz pensar no momento em que, na vida do casal, termina o amor, se esgota a alegria e diminui bruscamente o entusiasmo do matrimônio.
Depois de Jesus ter transformado a água em vinho, felicitaram o esposo porque diziam que tinha conservado até àquele momento “o vinho melhor”. Isso significa que o vinho de Jesus era melhor que o precedente. Sabemos que este “vinho melhor” é símbolo da salvação, da nova aliança nupcial que Jesus veio realizar com a humanidade.
Mas é precisamente dessa aliança melhor que o matrimônio cristão é o sacramento. Todos os casais cristãos, mesmo os mais miseráveis e vacilantes podem encontrar na humildade a coragem de pedir ajuda ao Senhor. Quando um casal em dificuldade ou já separado, se confia a Maria e se dirige Àquele que dos dois fez “uma só carne”, pode estar certo de que essa crise se tornará, com a ajuda do Senhor, uma passagem de crescimento, e que assim o amor será purificado, amadurecido e revigorado.
Isto só pode ser realizado por Deus, que deseja contar com os seus discípulos como válidos colaboradores, para se aproximar dos casais, para os ouvir e ajudar a descobrir o tesouro escondido do matrimônio, para reacender o fogo que permaneceu sepultado debaixo das cinzas. É Ele quem reaviva e volta a fazer arder a chama; sem dúvida, não da mesma forma que o namoro, mas de maneira diferente, mais intensa e profunda: porém, sempre a mesma chama.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE