Mt 11,2-11
O Evangelho de hoje é o início da convergência de duas pessoas (João Batista e Jesus). Os dois convergem nas suas missões (a do precursor e a do Messias) e no destino no qual consumam a missão.
João Batista está na prisão. Foi encarcerado porque ele ousou denunciar Herodes Antipas de cometer adultério com a cunhada. Sabemos que, por causa do ódio de Herodíades e a venalidade de Herodes, João Batista será decapitado e sua cabeça será entregue num prato a Herodíades.
João tinha anunciado a vinda do Messias esperado. Mas o que ele ouve falar a respeito de Jesus é muito diferente do que imaginava sobre o Messias. Sabemos que João Batista era um homem austero e que pregava no deserto a conversão urgente e exigente. Ele mesmo tinha avisado: “o machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto, será cortada e lançada ao fogo”. No entanto o modo de agir de Jesus não corresponde à figura de Messias que o Batista imaginava. É por isso que ele envia alguns discípulos para perguntar: “é tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”
A pergunta do Batista é importante para nós. Pois também nós podemos cair na ilusão de ter de Jesus uma imagem que não corresponde ao que Jesus é realmente. É uma tentação muito perigosa, aquela de nos considerarmos conhecedores de Jesus. João Batista teve a humildade de perguntar a Jesus: é tu? Se sim, sou eu que tenho que mudar de mentalidade? Sou eu que tenho que me converter?
Jesus não responde com palavras, mas descrevendo o que ele faz: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados”. É surpreendente! O que Jesus faz é o cumprimento de Is 35,5-6; 61,1. João Batista conhecia bem esta passagem profética: Jesus é realmente aquele que devia vir!
Jesus, porém, acrescenta: Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim! Muitos se escandalizam com a pregação e a vida de Jesus; escandalizam-se da humildade de Jesus. Gostariam de um Messias mais espetacular e midiático. Ser crucificado e morrer abandonado é um escândalo para os que nutrem sonhos de poder e de dominação.
Depois de se revelar a João, Jesus revela a identidade de João Batista. Ele não é um caniço agitado pelo vento. Era um homem íntegro que não cedeu às ameaças e se mostrou inflexível perante o pecado. Era um homem austero e pobre, porque não lhe importava o conforto, mas somente Deus. Por isso não se vestia com roupas fina, não era um “colarinho branco”. Ele é mais do que um profeta; é o maior de todos os nascidos neste mundo.
A grandeza de João Batista corresponde à sua pequenez: o menor no Reino dos Céus é maior do que ele! Para ser do Reino de Deus é absolutamente necessária uma intervenção de Deus, pois para entrar no Reino são necessários o novo nascimento e o novo ser. E isso ninguém, nem mesmo João Batista é capaz de alcançar somente com suas forças. A afirmação de que João Batista é menor, não tem a finalidade de rebaixá-lo, mas de mostrar a necessidade que todos temos do dom de Deus!
Jo 1,6-8.19-28
O evangelho de hoje nos fala do testemunho de João Batista. João Batista atraiu muitos discípulos, converteu muitos pecadores, batizava para preparar as pessoas para a vinda do Messias. O evangelho chama a atenção para a importância do testemunho para a vinda do Messias.
Deus prepara a vinda de Jesus através do testemunho de João Batista. Hoje muitos lamentam a crise da fé e da Igreja: os católicos abandonam a Igreja e muitas pessoas não querem saber da fé cristã. Qual é a causa dessa crise? Faltam mais testemunhas como João Batista! Dito de modo mais pessoal: falta que nós testemunhemos mais Jesus como João Batista!
No evangelho João nega que seja o Messias. Ele também nega ser Elias e o Profeta. João Batista rejeita esses três títulos (Messias, Elias e o Profeta) porque não lhe são devidos. Muitos esperavam o retorno de Elias que não tinha morrido, pois tinha subido ao céu num carro de fogo. Outros esperavam o Profeta anunciado por Malaquias: “Eis que envio o meu mensageiro; ele preparará o caminho diante de mim. E subitamente virá ao seu templo o Senhor que vós buscais e o mensageiro da aliança que vós esperais. Eis que ele vem” (Ml 3,1).
Naquela época, o clima de expectativa pela vinda do Messias era muito intenso e explosivo. Como hoje, naquela época apareceram também os exaltados e os aproveitadores.
Ao recusar esses três títulos, João Batista confessa também que o seu batismo não tem o poder de salvar as pessoas que vêm até ele. Se é assim: por que ele batiza? Essa é a pergunta que a embaixada de sacerdotes e de levitas faz, logo que João se nega a se identificar com o Messias, Elias e o Profeta. Tratava-se de uma pergunta legítima: se João não tem o poder do Messias, então para quê batizar?
É nesse momento que João apresenta a sua verdadeira identidade e missão: “Eu sou a voz de quem clama no deserto: Endireitai o caminho para o Senhor!” João é somente uma voz que grita a grande libertação que o Cristo vem trazer. Sem deixar a humildade de lado, João revela que ele é o testemunho do Antigo Testamento em pessoa. Em João Batista, todo o Antigo Testamento está presente como preparação e anúncio daquele que vem: o Messias. Por isso, ele batiza. Mesmo que não tenha o poder de salvar, o seu batismo, assim como suas palavras tem o objetivo de levar as pessoas a Cristo. O batismo de João aponta para o batismo de Jesus, que é o batismo do Espírito.
Como voz que grita, João procura dar a conhecer o Desconhecido que já está presente. As pessoas não o conhecem, mas ele se torna conhecido exatamente pela voz que grita. Também João Batista não o conhecia, mas ao receber a missão de batizar com água, lhe foi concedido a graça de conhecer o Desconhecido e de o dar a conhecer aos outros.
Aquilo que João disse não ser, ele testemunha ser Jesus: ele é o Messias, Elias e o Profeta esperado. Em Jesus a salvação, há tanto esperada e preparada, finalmente irrompe neste mundo. Jesus é o Grande Desconhecido dos tempos atuais. Ele só se tornará Conhecido, Amado e Esperado se formos também nós “voz que grita no deserto”.
Evangelho: Lucas 3, 10-18 (Testemunho de João Batista).
"10.Perguntava-lhe a multidão: “Que devemos fazer?”. 11.Ele respondia: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo”. 12.Também publicanos vieram para ser batizados, e perguntaram-lhe: “Mestre, que devemos fazer?”.* 13.Ele lhes respondeu: “Não exijais mais do que vos foi ordenado”. 14.Do mesmo modo, os soldados lhe perguntavam: “E nós, que devemos fazer?”. Respondeu-lhes: “Não pratiqueis violência nem defraudeis a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo”. 15.Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo, 16.ele tomou a palavra, dizendo a todos: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17.Ele tem a pá na mão e limpará a sua eira, e recolherá o trigo ao seu celeiro, mas queimará as palhas num fogo inextinguível”. 18.É assim que ele anunciava ao povo a Boa-Nova, e dirigia-lhe ainda muitas outras exortações."
Meu irmão, minha irmã!
Lc 3,10-18 - Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos! (Fl 4,4).
A proximidade de Deus torna o cristão preocupado com a ação. Que devemos fazer?
João impõe a três categorias de pessoas (multidão, publicanos e soldados) um comportamento preciso em sinal de conversão.
“Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo”. A túnica, em contraposição do manto, era a peça de baixo do vestuário e por isso menos necessária. Assim, sendo, devemos nos preocupar até com as necessidades menos urgentes das pessoas, tanto como com as necessidades maiores.
Aos publicanos: “Não deveis exigir nada além do que vos foi prescrito”. Aos soldados: “A ninguém molesteis com extorsões; não denuncieis falsamente e contentai-vos com o vosso soldo”. Os indivíduos encarregados dos fundos públicos são tentados ao abuso do ofício e à injustiça, aumentando a taxa de seus proventos. Era fato conhecido que os publicanos não só cobravam taxas injustas e excessivamente altas, mas também costumavam apresentar relatórios falsos, furtando o erário público. Os soldados aqui mencionados se utilizavam de ameaças, da própria violência e das punições legais, para extorquir e roubar dinheiro público. Utilizavam também da chantagem, especialmente contra os ricos.
“Não seria ele o Messias?”. João responde a esta expectativa mostrando a sua dupla inferioridade (em relação à pessoa e ao batismo).
“Não sou digno de digno de desatar a correia das sandálias”. Era costume da época que este serviço fosse reservado aos escravos mais ordinários. João diz, portanto, que, em comparação com Jesus, ele não pode ser comparado nem mesmo a um escravo ordinário.
“Eu vos batizo com água, mas vem aquele que vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”. Trata-se de fazer a comparação entre os dois batismos e os dois ministérios. O batismo de João era símbolo do arrependimento, e não o próprio arrependimento. Era um sinal para atrair a atenção do povo, preparando-o e orientando-o para o batismo real, o batismo de Jesus. O batismo com fogo indica o caráter do batismo com o Espírito Santo: sua vinda em Pentecostes, os efeitos de purificação (purgar o bem e destruir o mal).
“A pá está em sua mão; limpará a eira e recolherá o trigo em seu celeiro; a palha, porém, ele a queimará num fogo inextinguível”. A pá de madeira é um instrumento usado para separar o trigo da palha. A eira é um lugar plano e firme para malhar o trigo. Qualquer pessoa, ouvindo isso, poderia sentir a força da ilustração. O fogo já está aceso para queimar a palha; os celeiros já estão preparados para recolher o trigo. A vinda do Cristo já aconteceu. Ele tem a pá em sua mão. A ideia apresenta a urgência da conversão.
A conversão tem como finalidade a salvação. Por isso a alegria.
Madre Teresa de Calcutá: “A alegria é oração, a alegria é fortaleza, a alegria é o amor, a alegria é uma rede de amor com a qual podeis chegar às almas. Deus ama quem dá com alegria. Dá mais quem dá com alegria. O melhor caminho para mostrar nossa gratidão a Deus e às pessoas é aceitar tudo com alegria. Um coração contente é o resultado normal de um coração que arde de amor. Não deixeis entrar em vós nada de triste que possa fazer-vos esquecer a alegria do Cristo ressuscitado. todos desejamos o céu, onde Deus habita, mas depende de nós o estarmos no céu já agora, o sermos felizes com ele neste momento. Mas sermos felizes com ele agora significa: amar como ele ama, ajudar como ele ajuda, dar como ele dá, servir como ele serve, salvar como ele salva, ficar vinte quatro horas com ele, encontrá-lo em suas tristes aparências”.