Hb 4,1-5.11
A leitura de hoje é uma exortação e uma advertência. Exortação para entrar no repouso e advertência para não sermos excluídos do repouso: “Irmãos, tenhamos cuidado, enquanto nos é oferecida a oportunidade de entrar no repouso de Deus, não aconteça que alguém de vós fique para trás”.
O fim da vida cristã não é a luta, mas o repouso. O objetivo de nossa luta é o repouso. Que repouso é esse?
Para entender bem esse repouso é preciso recordar o que narra o livro do Gênesis: “Deus repousou no sétimo dia de todas as suas obras”. Segundo o Gênesis, Deus repousou no sétimo dia não porque estivesse esgotado. Ele descansa porque concluiu a obra da criação do céu e da terra. Assim entrar no repouso de Deus é fazer a experiência da plenitude de ter concluído a boa obra. O descanso em Deus é a participação na vida de Deus. Assim, o repouso prometido por Deus aos israelitas no deserto não era meramente a posse da terra prometida, mas a comunhão de vida com Deus. Aos cristãos esse repouso é prometido sempre de novo.
Para chegar ao repouso de Deus é preciso, porém, a fé. Foi isso que faltou aos israelitas no deserto. Não basta escutar a palavra, é necessário pô-la em prática. Com efeito, “quem ouve estas minhas palavras e não as põe em prática é como um insensato, que construiu sua casa sobre a areia” (Mt 7,26).
O verdadeiro descanso é incompatível com a preguiça. O preguiçoso trabalha de má vontade para, depois, se aborrecer no tempo livre. Ele é incapaz de aproveitar a vida e de dar a si mesmo um descanso autêntico porque incapaz de realizar a boa obra.
O verdadeiro descanso está ligado ao trabalho. Para trabalhar bem é preciso descansar bem. Mas o inverso é também verdadeiro: para descansar bem é preciso ter trabalhado bem. Sem trabalhar bem, sem concluir “a boa obra” não há verdadeiro descanso. Deus descansou no sétimo dia não porque necessitasse de repor as energias gastas. Ele descansou porque completou a obra da criação do céu e da terra; porque realizou “a obra muito boa” da criação da humanidade.
ANOS PARES
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Leitura: 1 Samuel 8,4-2.10-22a
Salmo 88(89) R-Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor!
Evangelho de Marcos 2,1-12
Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. 2E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. 3Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. 4Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. 5Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: 'Filho, os teus pecados estão perdoados'. 6Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: 7'Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus'. 8Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: 'Por que pensais assim em vossos corações? 9O que é mais fácil: dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, pega a tua cama e anda'? 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, - disse ele ao paralítico: - 11eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!' 12O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: 'Nunca vimos uma coisa assim'.
Meu irmão, minha irmã!
Marcos 2,1-12
A cura do paralítico em Cafarnaum mostra a enorme diferença que há entre o socorro humano e o socorro divino. O paralítico pediu socorro aos seus amigos. O que eles poderiam fazer? Eles o colocaram no leito e o transportaram até Jesus. Não podiam fazer nada mais do que isso! E fazendo isso, fizeram ao amigo doente o que melhor podiam fazer: leva-lo até Jesus!
O socorro divino, porém, não age exteriormente, mas interiormente e transforma a pessoa. Jesus disse: “eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!” É significativo que Jesus não toma o leito; Ele ordena que o paralítico se levante e leve o leito. Jesus ordena isso porque deu ao paralítico a força necessária para isso. Essa é a característica do socorro divino. Ele não se substitui a nós, mas suscita e sustenta a nossa liberdade.
O Senhor pode entrar no fundo da nossa alma e transformá-la, pode lhe dar uma alegria imensa, pode lhe comunicar força e cancelar totalmente os pecados, corrigindo radicalmente os defeitos. É preciso que desejemos ardentemente essa transformação interior. As ações realizadas sem o socorro divino são frágeis e sem eficácia. Se, pelo contrário, Deus vier a nós com a sua graça, nós podemos realizar grandes mudanças.
Jesus cura e exige. “Eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!”. É provável que o paralítico, uma vez curado de sua doença, não tivesse planejado levar a sua cama para casa nem desejasse carregar esse peso. Talvez o seu primeiro desejo, depois da cura, fosse o de festejar e sair pulando. E, no entanto, Jesus lhe ordena que carregue a sua cama. Jesus quer dar ao paralítico uma cura completa! Ele não somente é capaz de se levantar e de se mover, mas pode carregar a cama que o carregava! De agora em diante ele não será mais carregado, mas poderá carregar pesos, poderá carregar outros, se necessário for. Muitas vezes, Jesus nos pede coisas que não prevíamos ou que não queríamos fazer. Se formos obedientes como o paralítico, nós nos abriremos para a graça da cura completa.
1 Samuel 8,4-2.10-22a
Somos responsáveis pelos nossos atos. Deus nos deu o livre-arbítrio, porém, temos que arcar com as consequências de nossos atos. Isso se dá em todos os campos da nossa vida: no religioso, no político, no econômico, etc.
Na leitura de 1Sm o povo critica Samuel, dizendo que eles muito velho e que quer ser governado por um rei como os países vizinhos. O povo só vê as coisas negativas e acha que a grama do vizinho é mais verde. Samuel se entristece com tal procedimento e recorre a Deus. Deus declara que o povo não está rejeitando Samuel mas Ele próprio. Por isso ordena que Samuel faça a vontade do povo, mas que advirta que o povo terá que arcar com as consequências de sua escolha.
Samuel enxerga o que o povo não consegue ver, mas se sente impotente em mudar a decisão das pessoas. Ele percebe como será catastrófica a escolha feita, mas a sua missão é alertar o povo.
Esse episódio serve para nós de alerta. Nossas escolhas têm consequências para nós e também para as gerações futuras. Será que não está na hora de mudar nossas escolhas para que as próximas gerações possam receber um mundo melhor e mais bem cuidado? Será que não chegou a hora de ouvir o profeta Samuel que nos alerta para a gravidade de nossas escolhas atuais e a necessidade de mudá-las?
DOM JULIO ENDI AKAMINE