Jr 11,18-20
A leitura de hoje nos põe diante da oração do profeta Jeremias e também de Jesus orando no Getsêmani. Jeremias pede que Deus faça justiça, e nisso ele prefigura Jesus que suplica que “venha a nós o vosso Reino”. Prestar atenção à oração interior de Jeremias significa, de alguma forma, penetrar cordialmente na agonia de Jesus no horto das oliveiras, quando ele “dirigiu ao Pai súplicas com grande clamor e lágrimas”.
A oração de Jeremias revela a sua interioridade, seus sentimentos mais profundos, suas lutas e temores íntimos, seus sofrimentos e dúvidas mais fortes. Tudo isso se dá em forma de oração audaz e corajosa. Jeremias está no seu Getsêmani: ele se vê como vítima da conspiração tramada não somente pelos seus inimigos declarados, mas pelos até por seus próprios conterrâneos e parentes. Amigos e familiares conjuram contra a sua vida. Ele descreve as armadilhas dos que se preparam para matá-lo. Com ódio mortal, eles querem não somente acabar com sua vida, mas também apagar o seu nome e a sua memória da terra. “Vamos derrubar a árvore em seu vigor, cortá-la, hoje, da terra dos vivos, para seu nome não mais ser lembrado”.
O impacto dessa experiência da maldade e da crueldade, faz com que Jeremias reflita sobre o sentido de sua vida e sobre a sua missão. Ele percebe que sua missão é semelhante à de um cordeiro levado ao matadouro. “Eu era como um cordeiro manso levado ao matadouro, sem saber o que planejavam contra mim”. Ele é como o servo sofredor: inocente não se nega a oferecer a sua vida em sacrifício pelos seus próprios assassinos.
Completamente só, Jeremias parece perguntar angustiado: “Por quê, meu Deus?” Nesse sentido o drama de Jeremias parece antecipar o clamor de Jesus na cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
Jeremias não sabe como sairá dessa perseguição, mas sabe que os que conspiram contra ele, na realidade conspiram contra o próprio Deus. E é em Deus que Jeremias deposita toda a sua confiança.
Neste tempo da quaresma somos postos diante de Jesus abandonado na cruz. Digamos com ele: Venha a nós o vosso reino!
Jo 7,40-53
O evangelho nos recorda o conflito entre Jesus e os chefes do povo. É um tempo de controvérsias, de hostilidade verbal. Alguns ouvintes de Jesus estão convencidos de que ele é de fato um profeta, outros chegam a afirmar que ele é o Cristo. Mas os inimigos de Jesus querem prendê-lo, não querem escutar, tapam os ouvidos e fecham os olhos para não reconhecer a verdade.
É este o modo de agir do mal também hoje. Cada um tem seu ponto de vista e escuta somente aquilo que corresponde às suas opiniões: o resto é ignorado.
Assim acontece conosco também: não queremos ver as coisas como elas são, mas somente segundo nossos critérios e interesses. Temos nossas ideias e nos recusamos a ver as coisas que vão no sentido contrário, escutando somente aquilo que favorece os nossos projetos. Ora, esta atitude de rejeição da verdade é rejeição do próprio Cristo, porque toda ação contrária à verdade é rejeição de Cristo.