(2026)
Primeira Leitura: Isaías 42,1-4.6-7
Salmo Responsorial 28(29) R- Que o
Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!
Segunda Leitura: Atos 10, 34-38
"13.Da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele. 14.João recusava-se: “Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!”. 15.Mas Jesus lhe respondeu: “Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa”. Então, João cedeu.* 16.Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. 17.E do céu baixou uma voz: “Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição”."
Meu irmão, minha irmã!
Mt 3,13-17
O batismo de Jesus no Jordão levanta espontaneamente uma pergunta: pode o Filho de Deus se submeter a um rito de purificação? Como é possível que Aquele que veio salvar o povo do pecado possa descer às águas junto com a multidão dos pecadores? Pode Jesus confessar os pecados? Essas questões não são meramente teóricas: refletem de algum modo o significado salvífico do batismo de Jesus para nós.
Jesus se faz batizar em solidariedade aos pecadores. Ele se apresenta humilde, como servo que se confunde com a massa dos pecadores, mas que tem com o Pai uma relação particularíssima. No batismo, Jesus carrega sobre si o peso da culpa de toda humanidade para mergulhá-la nas águas do Jordão. Ele começa a sua vida pública tomando o lugar dos pecadores. Ao fazer assim antecipa a sua Cruz na qual se cumprirá toda a justiça.
A “justiça cumprida” será assim revelada não mais como aplicação fria da lei e imposição de penas, mas como a vitória definitiva sobre o mal. A voz do céu “Este é o meu Filho amado” é já um anúncio da ressurreição.
No batismo, Jesus revela que é o servo que assume sobre si os pecados da humanidade. Ele é o Filho que vive o seu ser filial ao dar a vida. A justiça que Ele comunica é a libertação definitiva do poder do maligno; o Seu batismo é o início dessa libertação, e a Páscoa será o seu cumprimento.
No Catecismo da igreja Católica encontramos uma síntese profunda dos principais conteúdos do “mistério de fé” do batismo do Senhor.
535. A vida pública de Jesus tem início com seu Batismo por João no rio Jordão. João Batista proclamava “um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 3,3). Uma multidão de pecadores, de publicanos e soldados, fariseus e saduceus e prostitutas vem fazer-se batizar por ele. Jesus aparece, o Batista hesita, mas Jesus insiste. E Ele recebe o Batismo. Então o Espírito Santo, sob forma de pomba, vem sobre Jesus, e a voz do céu proclama: “Este é o meu Filho bem-amado” (Mt 3,13-17). É a manifestação (“Epifania”) de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus.
536. O Batismo de Jesus é, da parte dele, a aceitação e a inauguração de sua missão de Servo sofredor. Deixa-se contar entre os pecadores; é, já, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), antecipa já o “Batismo” de sua morte sangrenta. Vem, já, “cumprir toda a justiça” (Mt 3,15), ou seja, submete-se por inteiro à vontade de seu Pai: aceita por amor este batismo de morte para a remissão de nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai, que coloca toda a sua complacência em seu Filho. O Espírito que Jesus possui em plenitude desde a sua concepção vem “repousar” sobre Ele. Jesus ser a fonte do Espírito para toda a humanidade. No Batismo de Jesus, “abriram-se os Céus” (Mt 3,16) que o pecado de Adão havia fechado; e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação.
537. Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus, que antecipa em seu Batismo a sua Morte e a sua Ressurreição; deve entrar neste mistério de rebaixamento humilde e de arrependimento, descer à água com Jesus para subir novamente com ele, renascer da água e do Espírito para tornar-se, no Filho, filho bem-amado do Pai e “viver em uma vida nova” (Rm 6,4).
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
15.Ora, como o povo estivesse na expectativa, e como todos perguntassem em seus corações se talvez João fosse o Cristo, 16.ele tomou a palavra, dizendo a todos: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo."
"21.Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu 22.e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: “Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição”.
Meu irmão, minha irmã!
Lc 3,15-16.21-22
O Evangelho de hoje fala de dois batismos: o batismo que Jesus recebe e o batismo que Jesus promete. Com efeito, um é o batismo que Jesus recebe, outro é o batismo que nós recebemos. Do primeiro fala-se como um evento histórico: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia; Herodes, tetrarca da Galileia; seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da Traconítide; e Lisâneas, tetrarca de Abilene; sob o sumo sacerdócio de Anás e Caifás” (Lc 3,1-2). Do segundo, se fala do futuro, como uma promessa: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
O batismo que Jesus recebe é ainda o batismo velho, com água, de João Batista, mas o fato de que desceu sobre Ele o Espírito Santo em forma de pomba fez daquele batismo um batismo novo, o primeiro batismo no Espírito Santo! E não só o primeiro, mas o modelo e a fonte de todo batismo posterior.
No Jordão não foi a água que purificou e santificou Jesus. Foi Jesus que purificou e santificou a água, todas as águas! Cada batismo cristão só prolonga o mistério daquele dia: o Espírito Santo desce sobre uma criatura humana e a torna filho predileto no qual o Pai se compraz. Também para nós aconteceu da mesma forma como aconteceu com Jesus.
Mas o que sabemos desse grandioso evento que é o batismo? O batismo continua sendo para muitos de nós como um presente que foi recebido, mas permanece embrulhado no papel. Temos o pacote, mas não o abrimos nem conhecemos o presente que está dentro dele. Por não conhecer o conteúdo do pacote, desconhecemos a sua riqueza e preciosidade. Nós somos ricos e não sabemos disso! E por isso não agradecemos a Deus pelo grande presente que nos foi dado.
Somos filhos amados de Deus e não o sabemos. Vivemos como se fôssemos escravos ou empregados na casa do Pai (nunca me destes sequer um cabrito!). Somos filhos, mas não conseguimos ouvir a voz dulcíssima do Pai que nos fala: “Tu és o meu filho amado, em ti eu me agrado”.
Na festa de hoje, devemos abrir decididamente o pacote do nosso presente e contemplar o que está dentro. Hoje é dia propício para agradecer e louvar ao Pai por tão grande dom do batismo. Tomando consciência do nosso tesouro e o acolhendo na fé, todos os dons de Deus se tornam operantes e nós somos iluminados pelo Espírito Santo!
O batismo que recebemos não é batismo com água, mas batismo com o Espírito Santo. Ora, o Espírito não escorre e desaparece como a água, mas permanece em nós e em nós habita como num templo. Reavivando a consciência desse dom, o Espírito como que reaviva a chama do amor que estava recoberta pela cinza.
O nosso batismo é novo nascimento. O nascimento natural é somente um dado recebido passivamente de outros. ninguém de nós escolheu nascer: nós fomos gerados e trazido para esta vida sem nosso consentimento. Mas para renascer no batismo é preciso escolher. O próprio renascimento é uma escolha. É por isso que hoje é um dia oportuno para fazer a renovação das promessas do batismo.
O batismo não é um ato fechado, aprisionado naquele dia distante de nossa infância. O batismo é, pelo contrário, uma inauguração de um novo ser e de um mundo novo. Ele é o primeiro momento de um processo que dura a vida toda até o momento final em que nós acabaremos de nascer para Deus. Jesus chamou a sua morte de “seu batismo”. Em comunhão com Ele, a nossa morte será o momento vocacional por excelência, será o momento em aparecerá claramente e sem véus o que agora somos de modo escondido, isto é, filhos de Deus.
Nós não somos filhos de Deus já formados, mas o batismo iniciou esse processo de nos tornar filhos de Deus. Nesta vida, estamos como que em gestação. Ainda não nascemos plenamente, mas o batismo já iniciou nossa gestação para Deus. O batismo deu início a esse dinamismo maravilhoso de nossa filiação divina. Por isso é preciso que nos esforcemos em ser o que já somos em mistério e o que seremos um dia na plenitude da luz. Não podemos nos contentar em permanecer no estado infantil, como raquíticos espirituais, como não nascidos.
Nós só nos tornaremos filhos de Deus maduros se todos os dias nós aceitarmos Jesus e nos esforçarmos seriamente em crescer na vida cristã. Só nos tornaremos filhos de Deus plenamente formados se fizermos a fé nosso elemento vital, o critério de julgamento, o motivo das nossas escolhas. Assim fazendo seremos semelhantes ao Filho Jesus e viremos a luz.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE