ANOS ÍMPARES
Hb 7,1-3.15-17
Quando os discípulos confessam que Jesus é rei, nada havia na tradição nem no AT que pudesse se opor a isso. Com efeito, Jesus é da descendência de Davi.
No entanto, quando se afirma que Jesus é Sumo Sacerdote, surge espontânea a objeção: Jesus é da tribo de Judá, não da de Levi! Por isso não podemos afirmar que Jesus seja sacerdote.
No AT, o sacerdócio dependia da pertença a uma família sacerdotal. Assim a genealogia era decisiva. Os sacerdotes do AT eram descendentes de Aarão, de Finéias, de Sadoc. Ora Jesus não tinha em sua genealogia nenhum desses ancestrais.
Com São Paulo responde a essa objeção?
Para afirmar que Jesus é o sumo Sacerdote, São Paulo não recorre ao sacerdócio pagão, mas busca no próprio AT um sacerdócio de uma outra ordem, distinta da ordem de Aarão. Encontra assim a figura sacerdotal de Melquisedec. Ele se apresenta sem genealogia israelita. É também apresentado superior aos descendentes de Abraão, uma vez que este lhe entregou o dízimo de tudo.
Assim é Jesus: não é da ordem de Aarão, mas sacerdote segundo a ordem de Melquisedec; é superior ao sacerdócio aaronita.
Lendo a Carta aos Hebreus surge com frequência uma pergunta: Jesus é sacerdote à semelhança de Melquisedec, ou é Melquisedec que é semelhante a Jesus. Quem é o modelo de quem: é Jesus o modelo do sacerdócio, inclusive o de Melquisedec? ou é Melquisedec que é o modelo, inclusive o de Jesus?
Na verdade, no texto de Hebreu estão presentes as duas perspectivas. De um lado, se diz que um outro sacerdote, que é Jesus, surgiu à semelhança de Melquisedec. O Salmo citado também afirma isso: “tu és sacerdote para sempre na ordem de Melquisedec”.
Por outro lado, na leitura de hoje, São Paulo afirma que Melquisedec foi feito à imagem de Jesus: “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem início de dias, nem fim de vida, ele (Melquisedec) se assemelha ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre”. Nesse sentido, São Paulo reconhece que Cristo foi prefigurado no AT pela figura de Melquisedec. No sacerdote eminente e misterioso Melquisedec, São Paulo vê a imagem de Cristo ressuscitado.
ANOS PARES
Leitura: 1 Samuel 17,32-33.37.40-51
Salmo 143 (144) R- Bendito seja o Senhor, meu rochedo!
Evangelho de Marcos 3,1-6
Naquele tempo: 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: 'Levanta-te e fica aqui no meio!' 4E perguntou-lhes: 'É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?' Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: 'Estende a mão.' Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo. Palavra da Salvação
Meu irmão, minha irmã!
MARCOS 3,1-6
O episódio da cura da mão seca durante o encontro sinagogal no dia de sábado, mostra o ponto alto da tensão entre Jesus e seus inimigos. Essa tensão chega até mesmo à ruptura provocada pela denúncia de Jesus. É permitido no sábado fazer o bem, ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?
Os rivais observam e espiam Jesus. Eles não estão interessados em resolver uma questão religiosa. A intenção deles é de desacreditar Jesus. Devem ter um pretexto para acusá-lo.
Jesus percebe a má intenção dos seus adversários, mas mesmo assim tenta, uma vez mais, fazer com que eles reflitam e façam uma opção ética.
A decisão que Jesus põe diante dos adversários consiste em fazer o bem ou fazer o mal, inclusive o mal por omissão do bem. Essa pergunta de Jesus atinge em cheio os seus rivais, pois eles, com seu legalismo, acabam proibindo o bem da cura e se permitindo o mal da intenção perversa de expiar Jesus.
Os inimigos de Jesus escolheram sacrificar a saúde de um infeliz, com a má intenção de acusarem Jesus de uma desobediência à lei. Jesus, por sua vez, faz a sua escolha. A sua decisão ética é a de ajudar o doente e, com isso, considerar as instituições religiosas e humanas relativas ao bem da pessoa.
Os rivais de Jesus pensam que se deva sacrificar a pessoa à instituição. Jesus não aceita isso, e coloca a instituição a serviço da pessoa humana.
1ª LEITURA
A leitura que acabamos de ouvir é uma verdadeira lição de esperança e de confiança em Deus. Davi age apoiando-se unicamente em Deus, mas isso não o impediu de usar dos recursos que tinha para vencer o gigante Golias. Davi declarou ao Golias: “Eu vou a ti em nome do Senhor”.
Se analisarmos a luta que Davi deve enfrentar, temos que reconhecer que a situação é dificilíssima para Davi. Todos são tomados de medo, pois não é possível enfrentar o gigante Golias que é guerreiro desde a juventude. Todos se escondem e somente Davi se dispõe a lutar contra Golias.
Mas essa é uma batalha desigual: é o gigante, o guerreiro experiente contra o pastor de ovelhas. Um está armado do que há de melhor, o outros mesmo que tenha recebido as armas de Saul não consegue sequer se movimentar com armadura e escuto. Um marcha com as melhores e mais pesadas armas. O outro vai armado do cajado, da funda e com cinco pedra lisas escolhidas no riacho.
Diante dessa desigualdade há duas atitudes: ou a fuga e o medo, ou uma confiança falsa e ilusória em Deus, esperando que tudo se resolvesse com uma oração recitada de forma mágica, assim como tinha acontecido aos israelitas na batalha em que perderam a arca da aliança. Eles esperaram uma proteção mágica da arca e foram derrotados.
Davi não tem nenhuma dessas atitudes. Ele não tem ilusões, mas a sua confiança em Deus é verdadeira porque não se desespera diante da dificuldade instransponível e porque procura os meios disponíveis a ele para o combate contra Golias. Saul tentou exteriormente tornar Davi um guerreiro dando-lhe sua couraça, seu capacete, sua espada e seu escudo, mas Davi não conseguia sequer caminhar com todo esse peso. Davi continuava a ser somente um pastor de ovelhas.
Por isso ele desceu ao riacho e escolhe cinco pedras lisas e, como pastor que cuida das suas ovelhas, caminhou contra o gigante munido somente de cajado e de funda. Golias ao ver isso, o desprezou e escarneceu: “Sou por acaso um cão, para vires a mim com um cajado?”
Davi sabe que seus recursos são limitados e pobres, e por isso não se ilude com o seu poder. Ele confia em Deus e não nas suas armas inadequadas. Mas ele não vai para a batalha com as mãos vazias, como se Deus pudesse fazer vencer o gigante com um passe de mágica. As armas de Davi são insuficientes e ridículas e até o gigante Golias percebe isso. Mas são esses meios humildes que Davi usa para vencer. A sua esperança está posta unicamente em Deus, mas ele não deixa de fazer uso dos seus pobres recursos para receber a vitória de Deus sobre o gigante Golias.
Quando temos todos os meios necessários e aptos para realizar nossos projetos é normal pormos neles a nossa confiança: “tenho tudo o que preciso e por isso o sucesso está garantido”. Mas quando nos sentimos pobres, quando não temos os meios necessários e suficientes, é nesse momento que podemos caminhar porque é isso o que Deus nos pede e nos pede que usemos de nossos pobres meios.
Essa foi a atitude de Davi. Ele conta com a ajuda de Deus, mas ele não deixa de usar o que está em seu poder, mesmo que sejam meios humildes.
Essa é uma lição importante para nós. É preciso aceitar nossos pobres recursos sempre insuficientes para o que Deus nos pede e não ficar esperando ter todos os meios para começar a fazer o bem. Se ficarmos esperando as condições ideais para fazer o bem nunca iremos começar. São os nossos pobres meios que nos obrigam a confiar e a esperar em Deus.
A segunda lição é valiosa. É preciso lançar mãos de nossos pobres recursos, não devemos negar a nossa cooperação humilde à ação de Deus com o pretexto de que Deus fará tudo por nós e de que nós não podemos fazer nada. Deus age poderosamente, mas não dispensa nem torna inútil a nossa pobre colaboração. Exatamente o contrário, Deus age para que nos ajamos responsável e humildemente. A nossa ação de fazer o bem é o ponto de partida para a ação salvadora de Deus. Deus deseja a nossa ação responsável.
Peçamos ao Senhor que aceitemos essa condição paradoxal da esperança cristã: a esperança que nos impulsiona a fazer tudo o que podemos como se tudo dependesse só de nós, mas confiando em Deus porque tudo, de fato, depende só Dele.
DOM JULIO ENDI AKAMINE