1ª Leitura: Romanos 11,29-36
Salmo Responsorial 68(69)-R- Respondei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
Meu irmão, minha irmã!
Rm 11,29-36
“Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. Que dons e vocação são estes? Paulo se refere ao privilégio que Deus deu ao povo judeu. Trata-se da eleição: dentre tantos povos da terra, Deus escolheu um para ser o seu predileto. Tal privilégio foi dado através da promessa feita aos patriarcas, sobretudo a Abraão. Essa escolha que Deus fez por Israel não sofreu mudança alguma, apesar da desobediência ao Evangelho.
A falta de fé no Evangelho constitui a desobediência a Deus. Mas também essa desobediência, Deus a utilizou em nosso favor. A desobediência dos judeus foi o fator determinante na manifestação da misericórdia divina em relação aos pagãos. Por isso, também a misericórdia mostrada a nós, pagãos, será benéfica para os judeus. “Assim são eles agora os desobedientes, para que, em consequência da misericórdia usada convosco, alcancem eles finalmente a misericórdia”. Todos os homens, judeus ou pagãos, foram na sua totalidade desobedientes a Deus. Deus, porém, não foi vencido pela desobediência de uns e de outros. Pelo contrário, Deus usou a desobediência de todos para manifestar a todos a sua bondade e misericórdia, revelando assim que tipo de Deus ele é.
Dessa conclusão, Paulo não tem outra reação a não ser cantar a misericórdia e a sabedoria de Deus. Assim o hino da misericórdia e da sabedoria de Deus é uma exclamação que brota da admiração e da gratidão pela obra infinitamente prodigiosa da providência de Deus que tudo conduz para o bem tanto dos judeus quanto dos pagãos.
“Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos!”
1ª Leitura: Filipenses 2,1-4
Salmo Responsorial 130(131)-R- Guardai-me, em paz, junto a vós, Senhor!
Meu irmão, minha irmã!
Fl 2,1-4
Paulo exorta os dirigentes da comunidade cristã de Filipos à humildade e à caridade. Os dirigentes da comunidade começaram sentir a tentação de mandar, por isso a exortação de Paulo se desenrola em forma de hino.
Paulo pede aos chefes da comunidade que não façam nada por competição ou por desejo de receber elogios. Sabemos que não é fácil agir com humildade, pois todos nós desejamos que nossos trabalhos sejam reconhecidos e elogiados. Ao fazer o bem, sem nos apercebermos começamos esperar algo em troca.
Nisto consiste o comportamento cristão: de fazer o bem porque é o bem e não para receber a recompensa. Buscamos não os nossos interesses, mas o dos outros.
Quando fizermos o bem hoje, repitamos muitas vezes a exortação de Paulo: “nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro”.
Lc 14,12-14
Jesus nos ensina a não convidar os parentes nem os vizinhos para um almoço ou um jantar! É um conselho estranho, porque quando oferecemos uma refeição normalmente convidamos parentes e vizinhos. Mais estranho ainda é o que Jesus nos prescreve: convidar os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Por que isso?
Não nos esqueçamos do contexto desse ensinamento. Jesus tinha percebido como os convidados a uma refeição escolhiam os primeiros lugares. E, por isso contou-lhes a parábola: “quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Ao contrário, ocupa o último lugar”.
Jesus é claro: A vida verdadeira não se ganha quando conquistamos honra e privilégio. Uma pessoa não é grande quando busca estar acima dos outros. A vida verdadeira se ganha ao serviço dos outros. A verdadeira grandeza do discípulo de Cristo consiste no dom que se oferece aos outros.
Para continuar nesse ensinamento Jesus ainda acrescenta: “quando ofereceres um almoço ou uma ceia, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos, para que não te convidem por sua vez e isso te sirva de retribuição”.
Os convites mútuos que fazemos são um costume social que ajudam a garantir um círculo de bem-estar tanto material quanto afetivo. Convido pessoas do meu círculo de amigos e sou também convidado por eles: refeições, viagens, trabalhos, projetos, etc. Isso assegura ao grupo de amigos não só uma agradável convivência, mas também que as atividades feitas em comum se realizem bem. O problema disso tudo é quando desse círculo começam a ser excluídos os outros, de modo especial os pobres e os indesejados.
O amor que Jesus prega e pratica rompe o círculo de amizades exclusivas em favor e em proveito dos indigentes. O que estava reservado somente para o círculo de amizades, agora se abre para favorecer quem não era favorecido.
Jesus deseja nos ensinar que a verdadeira alegria não está em receber dos outros, mas em perder e em dar gratuitamente sem esperar recompensa. Jesus nos põe no caminho da gratuidade e do amor desinteressado. Se estamos interessados em receber de volta, estamos distantes de Jesus. Se, ao contrário, amamos quem não tem condições de nos retribuir, entramos na lógica divina de amor que não pode ser comprado nem vendido.
A vida verdadeira não se funda na lei da retribuição: “Dou-te para que me dês! Convido-te porque espero que me convides. Ajudo-te porque sei que, no futuro, tu viras em meu socorro”. Essa atitude converte a vida neste mundo em um negócio de compra e venda. O mundo de Jesus, pelo contrário, está centrado não na barganha, mas no amor que dá gratuitamente.
O convite interesseiro tem seu pagamento limitado a este mundo passageiro. O amor desinteressado e gratuito tem seu pagamento na vida eterna: “Então serás bem-aventurado, pois esses não têm como te retribuir! Receberás a retribuição na ressurreição dos justos”. Ou como diz o ditado: “Quem dá aos pobres, empresta a Deus”. De fato, como Cristo recupera gloriosamente o que perdeu na morte, assim os cristãos recuperam, transfigurado em glória, o que soube dar gratuitamente aos outros.
Tudo isso fazemos porque é assim que Deus age em relação a nós: Ele não ganha nada ao nos amar; Ele não está interessado em algo nosso, mas está interessado unicamente em nós mesmos. Assim o ensinamento de Jesus tem como objetivo que sejamos perfeitos como o Pai Celeste é perfeito no amor.