Naquele tempo, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. 22 Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” 23 Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: “Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!” 24 Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. 25Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. 26 De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida? 27 Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta.
Os discípulos são os que seguem o Mestre.
Para o cristão, ser discípulo significa tomar a cruz, pois ele segue alguém que morreu na cruz. O discípulo não pode ser mais do que o Mestre, por isso deve estar disposto a seguir o caminho da cruz para a ressurreição.
Jesus, uma vez, falou de si mesmo e do mistério de sua morte e ressurreição com uma comparação muito simples e profunda. Ele é o grão de trigo que, para dar fruto, tem que cair na terra e morrer para assim germinar. A glorificação de Jesus acontece através da paixão. Como o grão morre e deve ser enterrado para germinar, assim Jesus é sepultado para do sepulcro ressuscitar e produzir nova vida.
E isso é válido não somente para Jesus, mas também para os discípulos de Jesus.
Por isso Jesus fala em paradoxo: quem se apega à sua vida, vai perder a vida. Quem despreza a própria vida vai ter a vida eterna. Paradoxo é uma contradição aparente. É um recurso de linguagem que Jesus usa para explicar que a lei do grão de trigo vale também para o discípulo de Jesus.
A nossa vida é mortal, ou seja, ela termina. Nós não somos imortais: por mais que tentemos esticar o tempo de nossa vida, ela irá terminar. Por isso é insensatez tentar conservar a vida a todo o custo. Isso destrói o próprio sentido da vida.
Quem dá para esta vida mortal um valor absoluto, acaba por perder o sentido de viver. Se queremos uma vida nova, uma vida plena, uma vida eterna, é preciso saber perder a vida mortal por algo que valha a pena. Perder a vida, ou seja, gastar a vida, consumir a vida por Jesus é morrer como o grão de trigo: a vida mortal dará muito fruto.
Seguimos Jesus para onde Ele vai, ou seja, para a cruz e para a glória. Com ele, morremos para, com ele, ressuscitar. O exemplo de Jesus define as condições para alguém ser discípulo de Jesus. Como Jesus renunciou a si mesmo para nos salvar e para salvar o mundo, como Jesus não se apegou à sua dignidade divina para nos reconciliar com o Pai, assim também o discípulo deve aprender a renunciar a si mesmo, deve aprender a vencer o egoísmo para seguir Jesus.
É preciso perder a vida por algo que valha mais do que a própria vida terrena.
O discípulo de Jesus não pertence mais a si mesmo. Ele renunciou a si mesmo para se entregar ao Senhor. Assim a vida mortal que entregamos a Jesus adquire nEle um valor eterno.
O discípulo aprendeu do Mestre Jesus que só se possui aquilo que se entrega: porque entrega a vida, ele tem a vida. Jesus entregou toda a vida, por isso Ele possui a Vida; Ele é a Vida.
Meu irmão, minha irmã!
Mc 7,1-8.14-15.21-23
As coisas criadas por Deus são boas porque são criadas por Ele para o ser humano. Cada criatura é uma palavra de amor do Criado. Se houvesse algo mau na criação, Deus não o teria criado.
O mal, portanto, não está nas coisas criadas, mas no abuso da liberdade. Dito nas palavras de Jesus: o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.
É do coração do homem, ou seja, do exercício errado da liberdade que vêm as impurezas e os pecados. Por isso não basta lavar as mãos, os copos e as vasilhas de cobre para se manter livre da impureza. É preciso cuidar da pureza do coração, da pureza da consciência.
Assim não há moralidade das coisas criadas. O que há é moralidade dos atos humanos. As coisas criadas em si mesmas não são morais, mas o que o ser humano faz com elas pode ser qualificado de moral ou imoral.
A moralidade não qualifica as coisas criadas: elas são boas porque criadas por Deus para o ser humano (Deus viu que era bom...). A moralidade qualifica os atos humanos: eles podem ser bons ou maus.
Como faço para saber se uma ação que faço é boa ou má? Todos nós possuímos a razão e a consciência moral que nos permitem julgar com clareza sobre a bondade ou maldade de uma ação. Há algumas diretrizes que nos ajudam a distinguir as boas das más ações.
A ação que eu escolho fazer. Por isso aquilo que faço deve ser bom. Há muitas ações que são boas: caridade, paz, paciência, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, clemência, castidade. Existem ações que são más e devem ser evitadas. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más (impuras) saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem.
A intenção com que faço algo. A intenção é a finalidade com que faço. A intenção não torna bom um ato em si mau. Roubar bancos é sempre mau, mesmo que eu tenha a intenção de distribuir o dinheiro aos pobres e necessitados. Por outro lado, uma má intenção pode tornar má uma ação que em si mesma é boa. Posso ajudar uma pessoa a levar suas compras dentro de casa com a intenção de preparar um assalto. Posso prestar um serviço com a intenção de me exibir e de me vangloriar.
As circunstâncias e as consequências dos atos. São elementos secundários da ação moral. Podem atenuar ou aumentar a responsabilidade da pessoa. Por exemplo: o montante de um furto; a montante de uma doação; agir por medo de morrer. As circunstâncias não podem modificar a qualidade moral dos próprios atos; não tornam boa ou má uma ação.
Dom Júlio Endi Akamine
1ª Leitura: Eclesiástico 3,19-21.30-31
Salmo Responsorial 67(68) R- Com carinho preparastes uma mesa para o pobre
2ª Leitura: Hebreus 12,18-19.22-24a
Evangelho de Lucas 14,1.7-14
Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: 8“Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. 10 Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor!’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. 11 Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”.12 e disse também ao chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isso já seria a tua recompensa. 13Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. – Palavra da salvação.
Meu irmão, minha irmã!
Lc 14,1.7-14
Quando Jesus entrou na casa do fariseu, Lucas diz que as pessoas estavam observando com atenção o seu comportamento. Na realidade é Jesus que observa atentamente as pessoas e escruta os seus corações.
Jesus é o “convidado” mais importante do mundo. Ele “desceu do céu”, esvaziou-se de sua igualdade com Deus e nasceu da Virgem Maria num estábulo de animais porque não havia lugar para ele na hospedaria. Depois de pregar o Reino, foi morto na cruz, abandonado pelos seus. Terminou seus dias aqui na terra como um amaldiçoado por Deus. Jesus foi exaltado na ressurreição. Assim Deus faz do último o primeiro. De fato, Jesus ocupou o último lugar aqui na terra: ele serviu e não foi servido, entregou a sua vida aos mais pobres, sacrificou a sua vida pela nossa salvação. Porque ocupou o último lugar, Jesus foi exaltado e se tornou o primeiro de muitos irmãos.
Jesus nos ensina que ocupar o último lugar é ser humilde diante de Deus; nele confiar a vida, nele ter o tesouro, nele confiar o presente e o futuro.
Ocupar o último lugar significa também viver a fraternidade, não ser indiferente aos seus sofrimentos, intuir as suas necessidades e cuidar dos mais necessitados. Ocupar o último lugar consiste em gastar a vida ao serviço dos outros.
Jesus observou como os convidados disputam os primeiros lugares no banquete. Ele aproveita para propor a nós um outro comportamento. Trata-se de um comportamento de vida e não um comportamento de boas maneiras ou de cálculo.
Jesus, depois, se dirige ao dono da casa. Agora ele não fala mais a partir do ponto de vista de quem é convidado, mas de quem convida. De novo ele propõe um novo comportamento fundado no comportamento de Deus. Há um comportamento interesseiro: convidar quem pode retribuir. Há um comportamento generoso como o de Deus: convidar os pobres que não podem retribuir. A conclusão é surpreendente: aquele que não busca recompensa é o que receberá a maior recompensa. De novo, não se trata de cálculo, mas de se comportar como Deus, de amar gratuitamente.
Se desejamos que o nosso amor seja semelhante ao de Deus, seja realmente cristão, devemos verificar se amamos os pobres e os inimigos. É o amor aos pobres – que não podem retribuir – e aos inimigos – que não querem retribuir – que certificam a autenticidade cristã do amor.
Dom Júlio Endi Akamine