Jr 20,10-13
A leitura nos ajuda a entrar nos sentimentos de Jesus e a entender a vitória que Ele obteve pela sua paixão.
Ouvimos um trecho que nos faz conhecer os sentimentos de Jeremias. Ele sente pesar sobre si toda a hostilidade da multidão contra ele. Ninguém está ao seu lado, nem mesmo os amigos, depois que anunciou o castigo de Deus: “Todos os amigos observam minhas falhas: ‘Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele’”. Jeremias faz um grande esforço pessoal e renuncia buscar se salvar com os próprios meios: “Ó Senhor, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração. Eu te declarei a minha causa”. É verdadeiramente uma vitória difícil e exigente confiar a sua causa a Deus e deixar a decisão nas mãos de Deus.
Todavia, Jeremias não renuncia à vingança, ainda que ela seja deixada nas mãos de Deus: “rogo-te que me faças ver a tua vingança sobre eles”. Segundo a compreensão do Antigo Testamento, Deus é justo e deve restabelecer a justiça, por isso o justo deixa nas mãos de Deus a vingança sobre os inimigos.
Mesmo que peça a vingança, é belo o que faz Jeremias: abandona nas mãos de Deus uma possível vingança. Esse é um primeiro passo em direção daquilo que Jesus realizará na cruz.
O primeiro passo quando sentimos o desejo de vingança é o que fez Jeremias: deixou-a nas mãos de Deus.
O segundo passo, o mais importante, só é possível pela graça de Cristo. Jesus foi além do que fez Jeremias. Na paixão não escutamos de Jesus nenhuma palavra que mencione, nem mesmo de longe, a vingança. Jesus sabe que Deus é justo e fará justiça, que Deus punirá o povo por causa de seus pecados. E isso ele disse várias vezes nos evangelhos. Mas ao fazer isso, o faz com coração apertado, entre lágrimas. Ele, por exemplo anuncia a destruição de Jerusalém não como alguém que deseja a vingança, mas sofrendo e chorando pela cidade pecadora que não soube reconhecer o tempo em que foi visitada. Ele anuncia o castigo com grande sofrimento, uma vez que sempre desejou recolher os seus habitantes como a galinha acolhe os seus filhotes.
No momento da crucifixão, Jesus não pede ao Pai que se vingue dos seus assassinos. Pelo contrário ele reza: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. Esse é o coração de Jesus, um coração que obteve a vitória completa sobre o mal se servindo de todas as ofensas para exprimir um amor ainda maior: “Deus, contudo, prova o seu amor para conosco, pelo fato de que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8).
Jo 10,31-42
Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais acreditar em mim, acreditai nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai.
Jesus revela o Pai não somente através de palavras, mas também com suas obras e sua vida. Como seria belo se também nós fizéssemos o mesmo! Ou seja, mostrar a nossa união com Deus não somente com palavras, mas também com o nosso comportamento e com a nossa vida!
Devemos manifestar a nossa união com Deus em nossas atividades, em nosso modo de reagir diante das circunstâncias difíceis da vida! Como Jesus, devemos mostrar as nossas obras ao mundo, depois de ter recebido essas obras do Pai. Apresentar o que recebemos do Pai como uma luz que ilumina e faz ver o amor que Cristo quer difundir no mundo.
As obras devem fazer os outros reconhecer uma recíproca imanência: o Pai está em mim e eu estou no Pai! Que nesta quaresma, possamos estar mais em Deus, permitindo que Ele esteja em nós!