Salmo Responsorial 41(42)R- Minh'alma tem sede de Deus, do Deus vivo: e quando verei a face de Deus?
Evangelho: Lucas 4,24-30
Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo na sinagoga: 24'Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 26No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio.' 28Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 30Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho. Palavra da Salvação.
Meu irmão, minha irmã!
Lc 4,24-30
Jesus afirmou na Sinagoga de Nazaré: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Qual é a passagem da Escritura a qual Jesus se refere?
O Espírito do Senhor está sobre mim,
pois ele me ungiu para anunciar o evangelho aos pobres:
enviou-me para proclamar a liberdade aos presos
e, aos cegos, a visão;
para pôr em liberdade os oprimidos
e proclamar um ano do agrado do Senhor (cf. Is 61,1-2).
Com Jesus, finalmente, o texto é proclamado com o seu verdadeiro “eu”. A profecia não é só lida, mas realizada porque chegou aquele que cumpre o texto. Jesus não somente lê um texto da Escritura. Ele lê o seu texto, é ele que dá sentido ao texto. Ele é o Ungido pelo Espírito e por isso pode afirmar: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”.
Algumas pessoas reagem a isso com admiração. Serão eles que irão formar a primeira base da Igreja que será fundada sobre os apóstolos.
Infelizmente há outros que reagem mal à pretensão de Jesus. Alguns se escandalizam por causa da pessoa de Jesus. Não é este o filho de José? Eles supunham que o Messias de Deus deveria se mostrar de uma forma exterior maravilhosa e poderosa. E, no entanto, estão diante do filho do carpinteiro, daquele que tinha sido amigo de infância e de juventude. Jesus se apresenta como homem no meio dos homens e, mesmo assim, afirma ser ele o próprio Messias esperado.
A pregação de Jesus é atraente e, ao mesmo tempo, desconcertante. Jesus reivindica para si o “eu” da profecia de Isaías, mas isso não combina com o que eles conhecem de Jesus e da história que partilharam por trinta anos com ele.
Há outra razão para a rejeição: eles querem que Jesus faça milagres; pretendem que Jesus se apresente como um “guru milagreiro”, um “curandeiro” espetacular que se imponha pela força dos milagres que realiza. Na verdade essa imposição dos conterrâneos de Jesus repete a terceira tentação de satanás (4,9): “se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito para que te guardem’, e, ‘nas mãos te carregarão, para que não firas o teu pé em alguma pedra’”. Eles exigem de Jesus milagres inúteis e sem justificativa. Ora exigir de Deus (e de Jesus que é Deus) milagres para que Ele prove ser Deus é tentar a Deus. Essa exigência de milagres é ainda maior em relação a Jesus, uma vez que ele se apresenta como aquele que cumpre a profecia de Isaías. Eles, porém, estão diante de Jesus pobre e humilde, que se recusa a fazer milagre inúteis.
Celebrar a eucaristia é se colocar diante de Jesus e ter que decidir. Todos nós precisamos ouvir de novo: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. todos nós precisamos avaliar com seriedade o escândalo que implica a fé em Jesus Cristo.
Temos consciência de que Deus veio ao nosso encontro na pessoa de Jesus de Nazaré: morte, crucificado e ressuscitado? Não temos nós também a mesma atitude de alguns conterrâneos de Jesus: exigimos milagres? Exigimos privilégios? Buscamos a Jesus ou os seus milagres?
2Rs 5,1-15
A história de Naaman, Deus se revela a um estrangeiro. Antes, porém, de realizar a cura, Deus leva o estrangeiro a abandonar o seu modo de conceber as coisas. Naaman, um pagão, não pensava que tivesse algum direito sobre o Deus de Israel, mas já tinha decidido como deveria se realizar o seu encontro com o homem de Deus.
É necessário reconhecer que ele não foi acolhido de modo muito afetuoso: o profeta nem se dá ao trabalho de recebê-lo pessoalmente. Simplesmente manda que um outro fale a Naaman que se lave sete vezes no Jordão. Não é um exemplo a ser seguido pela pastoral da acolhida: receber assim um doente que veio de tão longe!
A reação de Naaman é a mesma reação dos compatriotas de Jesus. Naman esperava uma outra coisa: um profeta de verdade teria saído ao seu encontro, teria parado e feito uma oração ao Senhor, teria colocado sua mão sobre as chagas e tê-lo-ia curado. Enfim, Naaman esperava um pouco mais de solenidade e de gestos pomposos; pensava que o profeta iria fazer uma cerimônia um pouco mais grandiosa, proferido um sortilégio ou palavras mágicas para chegar a uma cura milagrosa. Ao invés disso, manda que se lave no Jordão! Mas isto não poderia ter sido feito em Damasco?
Foi necessário que morresse o homem velho de Naaman para que renascesse uma pessoa nova; Naaman precisou abandonar todas as certezas precedentes, precisou submeter-se à iniciativa divina, aceitando docilmente a maneira simplíssima de Deus agir. Deus realiza coisas grandiosas com meios simples.
A cura de Naaman nos faz pensar no batismo que é uma ação muito simples. Como é possível que um pouco de água na cabeça da criancinha possa recriar uma nova pessoa, um filho de Deus? Deus age deste modo: usa meios muito simples para dar seus maravilhosos dons.
Muitas outras realidades são simples: a missa é algo muito simples. Pão e vinho são simples. Também nossa vida cotidiana é simples, e ela pode se tornar instrumento da graça de Deus desde que a vivamos com amor.
A vida de Jesus em Nazaré foi muito simples. E foi exatamente esta simplicidade que foi a pedra de tropeço para os compatriotas de Jesus. Na sua terra Jesus é conhecido: é um homem como os outros, por isso não pode ser um profeta, não pode ser instrumento de Deus; dele não se pode esperar nada de extraordinário.
Aprendamos a reconhecer que no simples se realiza o dom extraordinário, no humilde se revela o sublime, no singelo se esconde o extraordinário.