(2026)
1ª Leitura: Sofonias 2,3;3,12-13
Salmo 145 (146) R- Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
2ª leitura:- 1 Coríntios 1, 26-31
Evangelho de Mateus 5,1-12a
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 1vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los: 3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. 4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”. – Palavra da salvação
Minha irmã, meu irmão!
Mt 5,1-10: As Bem-aventuranças
Todos nós desejamos a felicidade e nesta busca da felicidade podemos seguir vários caminhos. Alguns podem seguir os caminhos do mundo, procurando a felicidade na força e na riqueza. Não demora muito, esses descobrem que se trata de um beco sem saída: a felicidade tão desejada se distancia cada vez mais.
Jesus proclamou as bem-aventuranças como um programa de uma felicidade que se expande de maneira poderosa. Trata-se de um programa de existência feliz.
Devemos notar que este programa não é pura teoria, pois o próprio Jesus viveu as bem-aventuranças de modo perfeito. Por isso, se quisermos entender bem as bem-aventuranças, é preciso olhar para Jesus.
Mais. Os cristãos, que escutaram o grande anúncio da felicidade, são também os pregoeiros e as testemunhas da felicidade. Esta é a norma de vida da igreja.
Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos Céus (5,3)
Os pobres são os que padecem miséria no mundo, são os pobres materiais, os perdidos da terra, os famintos, os que padecem, no mundo da opressão, o desamparo, a impotência. O Reino de Deus é graça.
Todavia Mateus explicitou esta palavra quando diz os pobres em espírito. Ao acrescentar “de espírito” quis referir-se aos que assumem voluntariamente a pobreza dentro da Igreja; poderiam realizar-se como ricos, cultivar seu próprio bem, buscando suas vantagens; contudo à luz do Evangelho preferiram a pobreza. São pobres por seu espírito, isto é, por decisão consciente, programada.
A riqueza deste mundo é destruidora, pois divide as pessoas e os leva a se dominarem uns aos outros. Por isso são felizes os pobres materiais, aqueles que são marginalizados e explorados da vida: Deus está do lado deles. Mas também são bem-aventurados os que optaram pelo caminho da pobreza.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados (5,4)
A maior parte das pessoas quer se libertar, eliminando o sofrimento; por isso o evitamos, esquecendo os males que nos cercam, caminhando como cegos, como surdos, no meio de uma terra em que milhões de pessoas choram. Ficamos presos em nossa gaiola de ouro de nossa auto-suficiência. Drogamo-nos e nos alienamos.
Pois bem, o Evangelho sabe que não existe felicidade verdadeira no esquecimento e na indiferença. Temos que assumir nosso próprio sofrimento, como um tipo de pobreza radical, com simplicidade e coragem e aceitando o dom do Reino como nosso consolo. São felizes aqueles que assumem interiormente o sofrimento com maturidade e alegria.
Também aqui poderíamos falar de pessoas que choram “em espírito”, isto é, assumem a dor dos outros para solidarizar-se, para acompanhar e ajudar os aflitos.
Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra (5,5)
Mansos são aqueles que não impõem um jugo dominante aos outros; acolhem e ajudam os outros sem colocar fardos sobre seus ombros (vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei, porque sou manso e humilde de coração e o meu jugo é suave e meu peso leve).
Os mansos herdarão a terra. Não a herdam os que tentam conquistá-la com exército e riqueza, com astúcia e com guerra. Em vez de libertá-la, eles a destroem. Contra eles, Jesus pronuncia sua bem-aventurança: quem pretende receber a herança da terra tem que vir de forma humilde, mansamente, sem violência.
O manso não é um fraco. Pelo contrário é criativo e tenaz. Está empenhado em libertar a terra e vive em gesto de confiança para com os outros. Escolhe a pobreza, assume o sofrimento.
Este é o paradoxo que Jesus veio trazer à terra: os que tentam impor sua força dominando os outros destroem a vida das pessoas e aniquilam a terra; só os que buscam mansamente e colaboram com os outros, cheios de esperança, constróem a cidade de amor para os homens.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão saciados (5,6)
Os mansos não são indiferentes. Estão cheios de zelo pela casa de Deus e por isso têm fome e sede de justiça.
Fome e sede indicam um desejo originário da vida: são a força que mantém os homens em ação e os leva à busca e conquista dos bens materiais. Pois bem, o Evangelho quer que despertemos uma forma diferente de inquietação e de desejo: fome e sede de justiça.
Justiça significa a plenitude do Evangelho, o dom de Deus aberto aos pobres, aos perdidos e humilhados da terra. Não é justiça a atitude daquele que pretende respeitar a ordem existente, de modo que cada um se feche no que lhe é próprio. Segundo a tradição bíblica, justiça significa amor que age: é compaixão, ajuda aos pobres, solidariedade comprometida.
A justiça tende a fartura, a injustiça é divisão, carestia, opressão.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (5,7)
Alcançarão misericórdia de quem? De Deus. Os misericordiosos serão tratados misericordiosamente por Deus. Quem é misericordioso terá misericórdia de Deus.
Conforme os princípios deste mundo, a gente só adquire aquilo que é capaz de conquistar por meio da violência; devo negar ou escravizar os outros a fim de realizar minha vida.
Pois bem, o Evangelho inverte o princípio dizendo: “Dai e vos será dado” (Lc 6,38). A vida é graça e só ali onde se exprime gratuitamente surge a felicidade verdadeira. Tenho o que ofereço, conservo o que dou. Dessa forma, sou misericordioso: entro na lógica de Deus que oferece a vida a todos os viventes.
Bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus (5,8)
Os doutores da Lei procuravam ter mãos limpas, ou seja, estavam somente preocupados em seguir as leis e suas tradições. A pureza deles era pureza de sangue, de raça, de costumes sócio-religiosos, de conhecimentos e de normas. É a pureza de um grupinho separado do conjunto dos outros. Cristo pelo contrário busca a limpeza de coração.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque eles serão chamados filhos de Deus (5,9)
Paz não é resultado da força, não se consegue com violência. A paz é sempre graça. Só aparece ali onde as pessoas quebram a lógica do interesse, do domínio de uns sobre os outros.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus (5,10)
Não podemos ser cristãos sem riscos e perigos. Os bem-aventurados de Jesus não buscam abrigo de um lugar seguro, não fogem para o intimismo. Eles apresentam o programa de vida e de alegria de Jesus nas praças e nas ruas onde estão as pessoas. Sua mensagem é de inversão dos valores e princípios deste mundo.
Esta mensagem não se impõe pela violência e nisto reside o risco. Este risco pertence ao núcleo radical do Evangelho.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
1ª Leitura: Jeremias 1, 4-5.17-19
Salmo 70 (71) R- Minha boca anunciará todos os dias vossas graças incontáveis, ó Senhor!
2ª leitura:- 1 Coríntios 12,31-13,13
Evangelho de Lucas 4,21-30
"21.Ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir”. 22.Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: “Não é este o filho de José?”. 23.Então, lhes disse: “Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-as também aqui na tua pátria”. 24.E acrescentou: “Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria. 25.Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 26.mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27.Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã”. 28.A essas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. 29.Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 30.Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se"
Meu irmão, minha irmã!
Jesus afirma na Sinagoga de Nazaré: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Qual é a passagem da Escritura a qual Jesus se refere?
O Espírito do Senhor está sobre mim,
pois ele me ungiu para anunciar o evangelho aos pobres:
enviou-me para proclamar a liberdade aos presos
e, aos cegos, a visão;
para pôr em liberdade os oprimidos
e proclamar um ano do agrado do Senhor (cf. Is 61,1-2).
A boa notícia consiste na libertação de todas as opressões: Opressão física (cegos), econômica (pobres), política (os encarcerados).
A extensão e a profundidade do texto do profeta Isaías dependem do “eu” que o pronuncia. Até agora as pessoas liam o texto somente como arautos ou comunicadores, mas não como realizadores do que a profecia anuncia.
Com Jesus, finalmente, o texto é proclamado com o seu verdadeiro “eu”. A profecia não é só lida, mas realizada porque chegou aquele que cumpre o texto. Jesus não somente lê um texto da Escritura. Ele lê o seu texto, é ele que dá sentido ao texto. Ele é o Ungido pelo Espírito e por isso pode afirmar: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”.
Algumas pessoas reagem a isso com admiração. Serão eles que irão formar a primeira base da Igreja que será fundada sobre os apóstolos.
Infelizmente há outros que reagem mal à pretensão de Jesus. Alguns se escandalizam por causa da pessoa de Jesus. Não é este o filho de José? Eles supunham que o Messias de Deus deveria se mostrar de uma forma exterior maravilhosa e poderosa. E, no entanto, estão diante do filho do carpinteiro, daquele que tinha sido amigo de infância e de juventude. Jesus se apresenta como homem no meio dos homens e, mesmo assim, afirma ser ele o próprio Messias esperado.
A pregação de Jesus é atraente e, ao mesmo tempo, desconcertante. Jesus reivindica para si o “eu” da profecia de Isaías, mas isso não combina com o que eles conhecem de Jesus e da história que partilharam por trinta anos com ele.
Há outra razão para a rejeição: eles querem que Jesus faça milagres; pretendem que Jesus se apresente como um “guru milagreiro”, um “curandeiro” espetacular que se imponha pela força dos milagres que realiza. Na verdade essa imposição dos conterrâneos de Jesus repete a terceira tentação de satanás (4,9): “se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus anjos a teu respeito para que te guardem’, e, ‘nas mãos te carregarão, para que não firas o teu pé em alguma pedra’”. Eles exigem de Jesus milagres inúteis e sem justificativa. Ora exigir de Deus (e de Jesus que é Deus) milagres para que Ele prove ser Deus é tentar a Deus. Essa exigência de milagres é ainda maior em relação a Jesus, uma vez que ele se apresenta como aquele que cumpre a profecia de Isaías. Eles, porém, estão diante de Jesus pobre e humilde, que se recusa a fazer milagre inúteis.
Celebrar a eucaristia é se colocar diante de Jesus e ter que decidir. Todos nós precisamos ouvir de novo: “hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. todos nós precisamos avaliar com seriedade o escândalo que implica a fé em Jesus Cristo.
Temos consciência de que Deus veio ao nosso encontro na pessoa de Jesus de Nazaré: morte, crucificado e ressuscitado? Não temos nós também a mesma atitude de alguns conterrâneos de Jesus: exigimos milagres? Exigimos privilégios? Buscamos a Jesus ou os seus milagres?