Meu irmão, minha irmã!
Rt 2,1-3.8-11; 4,13-17
Rute se encontra numa situação humilhante de pobreza agravada ainda pela sua condição de imigrante estrangeira. Para conseguir comida para si e para sua sogra ela decide ir ao campo para recolher as espigas deixadas para trás pelos ceifadores. Contando com a caridade dos ceifeiros, ela pede a Noemi: “Permite que eu vá ao campo apanhar espigas, onde possa encontrar quem se mostre clemente para comigo”.
A situação de Rute e Noemi é, de fato, a humilhante pobreza de uma imigrante. Ela precisa recolher o que não foi colhido e contar com a compaixão de outros. Quando Booz se interessa por ela, Rute não se mostra orgulhosa. Pelo contrário, se prostra com o rosto por terra e diz: “como pude encontrar graça a teus olhos, e te dignaste fazer caso de mim, uma mulher estrangeira?” Ela reconhece que não tem direito algum, não merece nada, e exatamente por essa atitude humilde se põe no caminho da verdadeira glória de Deus. Ela se humilhou e por isso será exaltada, terá a honra de ser mãe de Obed que foi pai de Jessé, pai do rei Davi, de cuja descendência nascerá o Salvador.
Assim o Antigo Testamento nos orienta no caminho verdadeiro, o caminho da humildade que nos permite receber todos os dons de Deus com a pureza de coração em direção da plenitude da vida.
Peçamos a Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, a graça da humildade. Que ela nos ensine a nos alegrar também quando ocorre em nossa vida alguma humilhação. Por ela nós nos conformamos a Cristo, manso e humilde de coração.
Meu irmão, minha irmã!
Ez 43,1-7a
Para entender a visão de Ezequiel descrita hoje é preciso recordar que a glória do Senhor tinha se retirado do Templo após anos de pecados e abominações cometidos pelo povo. Sem a presença do Senhor, o Templo deixa de ser templo para se mero edifício profano.
A leitura de hoje descreve, ao contrário, o retorno da presença de Deus ao lugar de onde tinha partido. Ezequiel, aliás, faz questão de narrar a sua visão da volta de presença de Deus no Templo recordando a visão da sua partida: “A visão era idêntica à visão que tive quando ele veio destruir a cidade”. O retorna da glória de Deus ao Templo, porém, não significa mera volta ao passado, como se nada tivesse ocorrido, desde que a presença do Senhor tinha se retirado do Templo. Trata-se aqui de um novo começo que brota da experiência do pecado e da punição de Deus.
Ezequiel vê a promessa como já realizada: “A glória do Senhor entrou no Templo pela porta que dá para o nascente. Então o espírito raptou-me e me levou para dentro do pátio interno e eu vi que o Templo ficou cheio da glória do Senhor”.
Qual é o significado disso tudo? Essa visão revela que Deus quer habitar sempre em meio ao seu povo.
É preciso, porém, reconhecer que o próprio Povo de Deus nunca reconheceu o templo material como verdadeira habitação de Deus. Com efeito, a própria Bíblia nos revela: “Assim diz o Senhor: O céu é o meu trono, a terra, o estrado dos meus pés. Que casa é essa que construireis para mim? Que lugar é esse, para o meu repouso? Todas as coisas, foi a minha mão que fez; tudo isso é meu”.
É preciso ainda lembrar que o Templo de Jerusalém, depois dessa visão do retorno, foi destruído. Por isso ele não é a verdadeira habitação de Deus.
Quem realizou perfeitamente a palavra da profecia: “Este é o lugar onde habitarei para sempre”, é o próprio Jesus. O verdadeiro Templo onde Deus habita para sempre não pode ser um edifício material. O Templo do qual fala Ezequiel é, na verdade, a humanidade de Cristo.
Jesus é a verdadeira habitação de Deus entre nós, a fim de que crendo em Jesus possamos habitar em Deus e Deus habitar em nós. “Todo aquele que confessa que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus” (1Jo 4,15).
Essa é nossa maravilhosa situação. E por isso devemos agradecer.