Pedro dirigiu-se a Jesus perguntando: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” 22 Jesus respondeu: “Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. 23 O Reino dos Céus é, portanto, como um rei que resolveu ajustar contas com seus servos. 24 Quando começou o ajuste, trouxeram-lhe um que lhe devia uma fortuna inimaginável. 25 Como o servo não tivesse com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher, os filhos e tudo o que possuía, para pagar a dívida. 26 O servo, porém, prostrou-se diante dele pedindo: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. 27 Diante disso, o senhor teve compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida. 28 Ao sair dali, aquele servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia irrisória. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’. 29 O companheiro, caindo aos pés dele, suplicava: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei’. 30 Mas o servo não quis saber. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que pagasse o que estava devendo. 31 Quando viram o que havia acontecido, os outros servos ficaram muito sentidos, procuraram o senhor e lhe contaram tudo. 32 Então o senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: ‘Servo malvado, eu te perdoei toda a tua dívida, porque me suplicaste. 33 Não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? 34 O senhor se irritou e mandou entregar aquele servo aos carrascos, até que pagasse toda a sua dívida. 35 É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.
Meu irmão, minha irmã!
Mc 8,27-35
A confissão de Pedro não deve ser atribuída somente a Simão Pedro. Ele confessa em nome do grupo dos discípulos; ele é o porta voz de todos, exprime o que é a fé de todos. Mesmo que seja uma fé ainda imperfeita, Pedro exprime uma fé genuína em Jesus.
Os discípulos já estão convivendo com Jesus há um bom tempo e, por isso, chegou o momento em que precisam se decidir com clareza e de maneira pessoal. A quem eles estão seguindo? O que é que eles reconhecem em Jesus? O que eles recebem de Jesus?
É muito provável que os discípulos tenham se perguntado sobre a identidade de Jesus desde o início. Eles se surpreendem com a autoridade com que fala, com que cura os doentes, com que expulsa demônios e perdoa os pecadores. Quem é afinal esse homem?
Entre as pessoas correm diversos boatos sobre Jesus: um dizem que é João Batista, outros que é Elias, outras que é um dos profetas. Mas o que interessa a Jesus é saber o que os discípulos reconhecem em Jesus? “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Essa questão é vital para os discípulos. Não é possível continuar seguindo Jesus de maneira inconsciente e superficial. Jesus tem clareza de que o caminho futuro a ser percorrido exigirá dos discípulos uma decisão consciente e responsável.
A resposta de Pedro é ainda limitada. Os discípulos ainda não passaram pela experiência da cruz e da ressurreição. Não podem suspeitar ainda a profundidade do mistério do Messias Jesus. Para penetrar fundo no mistério pessoal de Jesus e de sua missão de Messias, os discípulos precisam continuar seguindo Jesus. É somente no seguimento, que eles chegarão à fé plena em Jesus.
Para nós também é vital conhecer quem é Jesus. Mas para conhecê-lo de verdade não bastam títulos e nomes aprendidos teoricamente. É preciso seguir Jesus, dia a dia, até o fim.
De acordo com o relato de Marcos, Jesus insiste três vezes, enquanto caminhavam para Jerusalém, sobre a sua paixão e morte. Ele manifesta abertamente aos discípulos a consciência que tem de sua morte violenta e, com firmeza admirável, anuncia que está indo ao encontro desse desenlace. Assim explica, sem meios tons, que o final de sua vida não será o triunfo que os discípulos esperavam e imaginavam, mas será o da entrega total de si, o que inclui sua morte na cruz.
Os discípulos mostram que não entendem Jesus. Tanto que têm até medo de perguntar a Jesus. Parece até que eles preferiam não mexer em algo que eles intuíam muito perturbador e que exigia uma conversão. Com efeito, eles se demonstram apegados aos sonhos de glória e de honra; esperam ainda receber de Jesus privilégios e vantagens. Por isso, eles, mesmo que Jesus tenha anunciado sua paixão e morte, continuam discutindo quem é o maior entre eles. Ficam calados quando Jesus lhes pergunta: o que discutíeis pelo caminho? A discussão deve ter sido muito animada e acalorada!
Os discípulos guardam silêncio envergonhados. A pergunta de Jesus parece ter feito os discípulos caírem na conta do absurdo daquela discussão. Bastou a pergunta daquele que se fez o último de todos, daquele que serve a todos, daquele que se fez pequeno como a criança para fazer aflorar a consciência da mesquinhez da luta pelo poder e da disputa pelo primeiro lugar.
Jesus responde ao silêncio dos discípulos, chamando-os e sentando-se: o gesto de se sentar é o gesto de quem ensina. Jesus tem algo importante para ensinar. Jesus quer ser ouvido; é o mestre que ensina! Quem quiser ser o primeiro, seja o último de todos e aquele que serve a todos!
Para ser de Jesus é preciso ser como Ele, servir como Ele, colocar-se no último lugar como Ele.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
"1.Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo. " "2.Os fariseus e os escribas murmuravam: “Este homem recebe e come com pessoas de má vida!”. 3.Então, lhes propôs a seguinte parábola: 4.“Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? 5.E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo" "6.e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido. 7.Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”.* 8.“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende a lâmpada, varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la? 9.E tendo-a encontrado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, achei a dracma que tinha perdido. 10.Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.” 11.Disse também: “Um homem tinha dois filhos. 12.O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres. 13.Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente. 14.Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria. 15.Foi pôr-se a serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos. 16.Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17.Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância... e eu, aqui, estou a morrer de fome! 18.Vou me levantar e irei a meu pai, e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; 19.já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados. 20.Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, o abraçou e o beijou. 21.O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. 22.Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. 23.Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa. 24.Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa. 25.O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. 26.Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia. 27.Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo. 28.Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. 29.Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. 30.E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo! 31.Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. 32.Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado”."