É bom que a gente tenha consciência explícita do que buscamos, pois no evangelho vemos que a multidão foi à procura de Jesus, mas pelos motivos errados.
Jesus se decepciona com as pessoas que o procuram. Exprime a sua decepção com estas palavras: Em verdade, em verdade, eu vos digo: vós estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. As pessoas seguem Jesus, é verdade, mas esse seguimento é um seguimento ineficaz. Seguem Jesus por curiosidade, por interesse e egoísmo.
Jesus multiplicou os pães e alimentou a multidão porque desejava realizar um sinal que revelasse o seu mistério pessoal, mas a reação do povo perante a multiplicação é errada. O povo não vê o sinal revelador, vê somente o milagre extraordinário. O povo segue um milagreiro, mas não segue o enviado do Pai; segue alguém que distribui comida de graça, mas não segue aquele que quer dar-se a si mesmo como alimento de vida eterna.
O povo ficou entusiasmado com um pão recebido milagrosamente e sem trabalho, mas não percebe que está diante do dom da Vida Eterna que é Jesus. Pensa somente na própria barriga, mas não se atina para o dom maravilhoso que o Pai oferece.
A Palavra do Evangelho é para nós uma advertência: viemos à missa com motivações de amor ou estamos na igreja só por interesse pessoal? Nós procuramos Jesus por egoísmo ou o procuramos porque Jesus é o pão da vida? Nós seguimos Jesus porque estamos interessados no que Ele pode nos dar ou porque é Jesus.
Nossa Senhora Aparecida nos ensina sempre que devemos buscar Jesus por Jesus mesmo. Nossa Senhora nos ensina a buscar não o alimento que se perde, mas o pão que permanece até a vida eterna. Ela nos ajuda a desejar receber o pão que veio do céu, a querermos com todo o nosso coração o pão que desce do céu e dá a vida ao mundo.
Hoje nós pedimos a Jesus: Senhor, dá-nos sempre deste pão! E Jesus nos responde: Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede!
Jesus é o verdadeiro pão do céu que mata a nossa fome de vida. Todos nós trazemos no mais profundo de nós mesmos uma fome que não pode ser saciada com qualquer comida. Essa fome de Vida não pode ser saciada com as riquezas materiais, com a beleza física, com o poder ilimitado, com o prazer desbragado. Temos ânsia de vida sem fim, de vida em plenitude, de vida feliz.
Nossa fome é enorme! Temos fome de Jesus e somente Ele pode saciar nossa fome de Deus! E Jesus é tão bom e misericordioso que não nos deixa com essa fome. Ele se oferece a si mesmo a nós como pão. Esse é o mistério da eucaristia. A eucaristia é o modo genial que Jesus encontrou para se dar a nós como Pão de Vida Eterna.
Maria e eucaristia estão intimamente relacionadas. Nós recebemos Jesus de Maria. Nós recebemos Jesus na eucaristia. Pela fé, Maria recebeu o Verbo no coração antes de concebê-lo em seu seio. Pela fé nós vamos até Jesus para sermos saciados. Através de Maria, nós recebemos o Verbo encarnado. Através da eucaristia nós recebemos o Senhor morto e ressuscitado.
Caro irmão, querida irmã, recebamos Jesus, o Pão da vida, com a gratidão, o respeito e a admiração de Nossa Senhora! Para isso tomemos consciência de que o que é o pão para a vida natural, a eucaristia é para a nossa vida sobrenatural.
O pão alimenta. A eucaristia alimenta nossa vida sobrenatural: não é Jesus que é assimilado por nós; nós é que somos transformados nele.
O pão cura: quando estamos doentes precisamos nos alimentar bem, porque uma boa alimentação recupera a saúde física. A eucaristia, por sua vez, é remédio para não pecar. Ela perdoa os pecados veniais e nos fortalece para que não cometamos o pecado mortal.
O pão deleita. Assim a eucaristia é alegria espiritual; é a exultação do encontro entre o amante e o amado; é a felicidade do amor e do afeto espiritual que corre entre nós e Jesus.
Peçamos a Nossa Senhora Aparecida que nos ajude a procurar, a encontrar e a receber Jesus!
O livro do Eclesiastes é um livro estranho pelo seu pessimismo e pela visão que tem do mundo e da vida. E, exatamente por isso, é um livro muito atual, pois ele faz a inevitável pergunta: “a vida tem sentido?”
Atenção: o Coélet – o outro nome do Eclesiastes – não quer saber qual é o sentido da vida, mas se existe algum. Assim o Coélet revela o maior medo da modernidade, que não é tanto o medo da morte (Idade antiga), nem do pecado e do inferno (Idade média), mas o da falta de sentido. E a resposta escandalosa do Coélet sobre o sentido da vida é também moderna: nenhum sentido há! Basta ler o início e o fim do Eclesiastes para se dar conta dessa afirmação perturbadora: Vaidade das vaidades – diz o Eclesiastes – vaidade das vaidades, tudo é vaidade! (1,2; 12,8). O livro começa e termina com quase as mesmas palavras.
Diferente dos outros livros da Bíblia, o Coélet não observa a realidade e a vida com a luz sobrenatural da fé que nos dá a visão de profundidade. Sua câmera não tem acoplada o flash da fé. Ele observa a vida neste mundo unicamente com a luz disponível “debaixo do sol”. É a observação da razão natural. Assim a superfície da vida aparece com evidência total e com honestidade brutal. O livro do Coélet é a observação mais nua e crua da superfície da vida.
Por isso, para o Eclesiastes, o mundo e a vida humana não têm razão nem finalidade (um para quê e um porquê), há somente o fim, ou seja, a morte e o retorno ao caos. Aquilo de mais precisamos – uma razão para viver e morrer – simplesmente não existe. O inferno não é sofrimento; é nada, a falta de sentido, o gelo do vazio. Em uma palavra certeira: vaidade (névoa efêmera, nuvem passageira, vazio).
O resultado prático desse nada (niilismo) é o hedonismo. Uma das investigações do Coélet se volta para o “princípio do prazer” (vida simples e prazeres simples): a vida precisa ser vivida como um divertimento no Titanic da existência. E tal princípio é examinado com a implacável honestidade de reconhecer que isso é também vaidade, que acaba no nada.
Você acha isso exagerado? Então pense: uma pessoa se mata de cansaço o dia todo, perde o sono e os anos, enfrenta riscos, para aumentar seus bens, depois, antes que perceba, chega o momento em que deve deixar tudo. Quem vai se aproveitar de tudo o que acumulou? Quem vai receber de mão beijada o fruto suado de toda a sua fadiga? Alguém que talvez nem seja o seu filho! Se é assim, melhor fazer como aconselha o Eclesiastes: desfrutar enquanto vivo das próprias riquezas. Isso, no entanto, não evita que nossa vida acabe na morte e no nada (Eclo 1,2; 2,21-23; Lc12,13-21).
Não há outro modo de viver? Outro modo de enfrentar às canseiras desta vida? Vivemos só para desfrutar de alegrias pequenas e provisórias que qualquer doença ou acidente destrói? E se, por muita sorte ou cuidado, formos poupados desses incidentes, deveremos enfrentar uma longa e penosa decadência rumo à morte?
Esse estranho livro inspirado do AT preparou paradoxalmente o Evangelho, pois Jesus não raciocina como o Eclesiastes. A parábola do rico insensato (Lc 12,13-21) retoma a revelação perturbadora do Coelet e a supera.
Na parábola, o rico é chamado de insensato não porque não aproveitou em vida de sua riqueza, mas porque só “ajuntou tesouro para si mesmo”, não foi “rico diante de Deus” e porque, por fim, “a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. Dito de maneira positiva: a vida autêntica consiste em “ajuntar tesouro no céu”, em ser “rico para Deus”.
A insensatez do rico não se mede pelos bens que perde nesta vida, mas por aquilo que perde da outra vida. Estamos em continuidade com as bem-aventuranças: o pobre é bem-aventurado porque tem o tesouro do Reino do Céus; porque quem trabalha e partilha os bens não tem tempo para acumular tesouros na terra.
A leitura de Colossenses afirma com todas as letras: “a ganância é idolatria” (Cl 3,5; cf. 1Cor 10,6; 1Tm 6,9-10; Pr 30,8-9). Sim, idolatria, porque o dinheiro deve ser nosso escravo e não nosso senhor; nós devemos nos servir do dinheiro, não servir ao dinheiro. O ídolo exige sacrifício: ao ídolo se sacrificam a vida, a saúde, o sono, os amigos, a família, os afetos, a honestidade, os pobres. Por isso, é preciso “tomar cuidado contra todo tipo de ganância” (Lc 12,15)!
“Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 5,21). Vivemos em uma sociedade que põe a busca da felicidade no dinheiro, nas posses e no prazer. Pior do que isso: vivemos em um mundo que não tem coragem de pôr Deus no centro da existência: “Vaidade das vaidades” (Ecl 1,2).
São Paulo nos dá um conselho precioso: “aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus” (Cl 3,2). O que são essas coisas celestes? É uma vida que se afasta dos vícios da “imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça que é idolatria” (3,5). Quem age assim já encontrou o tesouro que não cabe em celeiros, mas que só pode ser guardado no coração.
Quem tem o olhar fixo nas coisas celestes, isto é, em Jesus ressuscitado e a nossa vida com Ele, poderá ganhar o pão de cada dia e também todo o resto com mais serenidade, com esperança de imortalidade no coração, sem egoísmo e agitação. Olhar para Jesus não prejudica o exercício de nossa responsabilidade neste mundo. Ao contrário, faz com que tratemos as coisas deste mundo com maior responsabilidade e de maneira muito melhor dos que só vivem insensatamente para acumular tesouros para si.