14º DOMINGO DO TEMPO COMUM – B
1ªLeitura: Ezequiel 2,2-5
Salmo responsorial 122 (123 -R- Os nossos olhos estão fitos no Senhor: tende piedade, ó Senhor, tende piedade!
2ª Leitura: 2 Coríntios 12, 7-10
Evangelho: Marcos 6,1-6
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 1Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. 2Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? 3Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa dele. 4Jesus lhes dizia: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. 5E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. 6E admirou-se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando. – Palavra da salvação.
Jesus foi a Nazaré, sua terra. Nazaré é o lugar onde ele passou a maior parte da sua vida, onde ele se criou e onde ele era conhecido de todos.
No sábado, começou a ensinar na Sinagoga. Como ele deve ter feito sempre na sua adolescência e na sua juventude, até os 30 anos, ele foi à Sinagoga. Foi nela que Jesus conheceu as Escrituras até o ponto de sabê-la citar de memória, de rezar salmos memorizados durante os cultos sinagogais. Foi na Sinagoga que Jesus, como os outros meninos, foi iniciado na religião judaica. Agora ele está de volta à Sinagoga e à sua cidade. Ele ensina com Mestre e é exatamente isso que provoca nas pessoas reações de admiração e depois de escândalo.
De onde ele recebeu tudo isso? Os conterrâneos de Jesus, gente conhecida e amada por ele, primeiramente reagem com admiração. Com efeito conhecem muito bem Jesus, cresceram com ele e nunca viram nada de extraordinário nele... o extraordinário acontece agora, com o ensinamento e com os milagres de Jesus. de fato, não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Judas e de Simão? É significativo como os nazarenos identificam Jesus: pela profissão, pela mãe e pelos irmãos. Ele é identificado com carpinteiro: trabalhou com suas mãos, ganhou o pão com o suor do rosto, dedicou a maior parte da vida num trabalho manual e não em estudo ou em atividades religiosas de cura. Ele é identificado como filho de Maria: o pai não é mencionado porque provavelmente já estava morto, mas todos conheciam bem a mãe Maria. Ele é, por fim, identificado pelos irmãos que vivem entre eles: Tiago, Judas e Simão. São os parentes próximos, provavelmente primos de Jesus.
E ficaram escandalizados por causa dele. Qual é o motivo do escândalo? Jesus não fez nada de mal, não realizou ato criminoso ou imoral... Mas ele ensinava e se comportava como profeta, como alguém que faz as vezes de Deus. É evidente que Jesus prega com autoridade, que realiza milagres. Essa sabedoria de Jesus vem de Deus? Os milagres que realiza vêm de Deus ou do diabo? Eles tropeçam na humildade e simplicidade de alguém que conheciam bem, que trabalhou com as mãos e que não estudou...
Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares. É significativa a reação de Jesus. Ele se decepciona com os seus conterrâneos. Certamente Jesus deveria alimentar a expectativa de fazer muito mais pelos seus amigos e conhecidos do que em outros lugares: afinal cresceram juntos, se alegraram e se entristeceram juntos. Mas onde ele mais desejava fazer, foi aí que ele mais se decepcionou. E Ele se deixa decepcionar. Exprime essa decepção nas palavras: Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares.
Jesus experimenta a sensação dolorosa e amarga de perceber que as pessoas mais próximas dele não o acolhem e se escandalizam por causa dele. De fato, nesse episódio já se preanuncia o cálice da paixão. Jesus terá que beber até o fim o cálice da incompreensão e da rejeição. Jesus sofre com o fechamento do coração e com os motivos mesquinhos da rejeição.
Jesus não nega a realidade dos fatos e toma consciência de que não é aceito pela sua gente. Ele não se revolta; ele se decepciona e se deixa decepcionar. Podemos dizer que ele se resigna. Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares.
Mas ele não fica somente na resignação. Ele supera a rejeição dos seus. Como? Ele curou alguns doentes impondo-lhes as mãos.
A consequência da incredulidade é que Jesus não pôde fazer milagre algum. O milagre está intimamente relacionado com a fé: faz surgir a fé, pressupõe a fé e reforça a fé. Mas o fato de não poder fazer o que desejava, não foi desculpa para não fazer o que foi possível. Ele curou alguns... Quando nos decepcionamos com as pessoas, com a falta de colaboração dos outros, com a rejeição das pessoas mais próximas de nós, reagimos nos fechando na amargura e evitando o diálogo e a colaboração. Às vezes, reagimos pior: nos vingamos dos outros pagando com a mesma moeda e acrescentamos ainda juros de 100% de maledicência e ofensas.
Jesus reage à incredulidade superando a decepção. Mesmo que não tenha podido fazer o ótimo não deixou de fazer o bom. Esperava fazer muito mais, mas a incredulidade impediu-o de realizar milagres. Mesmo assim fez o que foi possível: impôs as mãos e curou algumas pessoas.
Além disso, o evangelho narra que Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando. Apesar de toda decepção, Jesus não deixa a missão por causa desse fracasso. Outros fracassos ele terá de enfrentar, mas a missão continua. Ele continua todo dedicado à missão evangelizadora, continua gastando todas e as suas melhores energias para pregar o evangelho do Reino. Ele não permite que a decepção bloqueie a missão. Ele não fica se lamentando e chorando porque não é bem acolhido: a sua alegria está no fato de anunciar e de realizar o Reino. Não é o sucesso que o move, é o Reino. Não são os aplausos a razão de sua felicidade, é o tesouro do Reino. Não é a gratificação imediata que motiva Jesus, é fazer tudo o que agrada ao Pai.
Você já se decepcionou com as pessoas? Já colheu fracassos na ação evangelizadora? Já sofreu a incompreensão?
Não nos esqueçamos que mesmo que não tenham inicialmente acreditado em Jesus, os parentes e amigos de Jesus podem ter finalmente chegado à fé. Foi o caso de “Tiago, irmão do Senhor”. Jesus ressuscitado apareceu a ele (1Cor 15,7). Depois que Pedro fugiu de Jerusalém (Gl 1,19), Tiago assumiu o governo da comunidade cristã de Jerusalém. Ele teve um papel importante no concílio apostólico de Jerusalém. Por fim ele é o autor da Epístola que tem o seu nome. Mesmo que Jesus não tenha convertido na primeira vez os seus conterrâneos, temos a certeza de que, ao menos um, se converteu e se tornou muito estimado pela igreja.
O evangelho de hoje menciona Maria. Ela é a mãe de Jesus. sobre isso não há dúvida alguma. Podemos imaginar a dor que a rejeição dos habitantes de Nazaré causou em Maria. Ela melhor do que todos conhecia o mistério daquele filho tão humilde e excelso. Melhor do que todos sabia que sob as vestes da simplicidade de Jesus estava a glória de Deus. Ele que o gerou e o educou, que conviveu intimamente uma relação de fé no seu Filho, deve ter sofrido com Jesus a decepção da rejeição. Mas em comunhão com o Filho não perdeu a coragem nem o ânimo na missão evangelizadora. Nossa Senhora, estrela da evangelização! Rogai por nós!