5ª FEIRA DA 3ª SEMANA DA QUARESMA
Primeira Leitura: Jeremias 7,23-28
Salmo Responsorial: 94(95)R-Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor: / Não fecheis os vossos corações.
Evangelho: Lucas 11,14-23
Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15Alguns, porém, disseram: “É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. 16 Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17 Mas, conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: “Todo reino dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. 18 Ora, se até Satanás está dividido internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios. 19 Se é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos discípulos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20 Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós. 21 Quando um homem forte e bem armado guarda o próprio terreno, seus bens estão seguros. 22 Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura em que confiava e distribui os despojos. 23 Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha.
Lc 11,14-23
Jesus expulsou um demônio que era mudo. Esse exorcismo provoca a admiração de alguns e a rejeição de outros. A admiração é a reação frequente provocada pelos milagres que Jesus realiza. A admiração, porém, nem sempre é fé em Cristo.
Por outro lado, alguns reagem tentando desacreditar Jesus e justificar a própria incredulidade. Por isso, eles atribuem o exorcismo de Jesus a um pacto com o “chefe dos demônios”. O poder de Jesus sobre os demônios seria um poder delegado pelo “chefe dos demônios”.
Causa estranheza que outros, “para tentarem Jesus, pediam-lhe um sinal do céu”. Para estes, um exorcismo não é um sinal do céu. O que poderia ser esse sinal do céu? Trata-se de um sinal nos astros celestes ou nos meteoros.
Neste evangelho encontramos motivo de desolação e também de consolo. De desolação porque constatamos como os homens procuram pretextos para não escutar a palavra de Jesus, deformando as coisas, acusando-o de expulsar os demônios com o poder do demônio. De consolação porque Jesus proclama com clareza que Ele é o mais forte.
Um homem bem armado que guarda sua morada é figura do demônio, seguro de ter derrotado o homem e de tê-lo escravizado para a perdição. Mas chega um outro mais forte do que ele: este mais forte é Jesus que vence o demônio, tira-lhe a armadura e distribui os seus despojos. Por isso ele, o vencedor, pode dizer: “Quem não está comigo está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa”.
A luta contra Satanás é travada desde o princípio (Gn 3,15). Com suas armas Satanás domina os homens e está seguro. Mas vem aquele que é mais forte e tira-lhe as armas em que confiava e lhe rouba o seu domínio. Os despojos desta guerra entre Satanás e Cristo, somos nós. Nós fomos libertados desse poder por Cristo. É claro que devemos nos manter vigilantes, pois mesmo que a guerra tenha sido vencida, a hostilidade continua e o inimigo pode retomar com mais força e maior prejuízo do que antes.
Saber que Jesus é o mais forte que vence o forte, mais forte que o mundo, mais forte do que qualquer tentação, de qualquer prova e dificuldade é uma grande consolação. Ele está em nós, e nós o recebemos na comunhão.
As nossas impressões têm pouca importância: Ele é o mais forte e a vitória será dele e daqueles que estiverem com ele.
A leitura é um convite insistente e urgente para que ouçamos a voz do Senhor. “O que ordenei foi isto: Escutai a minha voz, e eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo”.
Escutar (=obedecer) é o que sela a relação mútua entre o Senhor e o povo: “eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo”. Deus não exige do povo tributos, impostos, pagamento, sacrifícios de animais, oferendas materiais. A única coisa que ele exige é a obediência: “Escutai a minha voz”. Tudo o que podemos oferecer a Deus é a nossa obediência=ouvir. Tudo o que oferecemos a Deus brota da obediência ou exprime a obediência.
O profeta Jeremias recorda que o povo recebeu de Deus leis e ensinamentos que o conduziram à posse da terra prometida. Colocando em prática esses mesmos ensinamentos, o povo não só permaneceria na posse da terra quanto teria a vida plena e feliz. Infelizmente, ao longo de sua história, o povo andou por outros caminhos, seguiu as suas más inclinações e não ouviu a voz do Senhor: “Eles não quiseram ouvir, não me deram atenção, mas seguiram os seus projetos, na teimosia de seu coração perverso”.
Por isso a vida retrocede, e o povo recai na escravidão: “Ficaram atrás, não foram para frente”.
Jeremias percebe o mal não somente como uma ação pecaminosa concreta, mas como uma situação de maldade, como um estado pecaminoso, como um caminhar fora da via. As ações pecaminosas são um testemunho dessa situação de pecado e uma sua confirmação. Essa situação de pecado é muito pior do que as ações concretas de pecado. “Eles endureceram a cerviz e agiram pior do que seus pais. A fidelidade acabou, desapareceu de sua boca”.
Nesta quaresma somos convidados não somente a deixarmos a ações pecaminosas, mas a abandonar nosso estado pecaminoso através da conversão pessoal e da vivência da fraternidade.