2ª FEIRA DA 29ª SEMANA COMUM. -
1ª Leitura: Efésio 2,1-10
Salmo Responsorial 99(100)R-O Senhor mesmo nos fez, e somos seus.
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 13alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. 14Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” 15E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. 16E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. 18Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ 20Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ 21Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”. – Palavra da salvação.
Paulo escreve aos pagãos convertidos ao cristianismo e se alegra com a união que Deus realizou entre judeus e pagãos. Ele afirma sobre os efésios: “vós estáveis mortos por causa de vossas faltas e pecados”. Paulo não maquia a realidade e diz explicitamente que os efésios estavam no pecado.
Paulo é judeu e membro do povo eleito. Ele poderia ter se vangloriado de que em comparação com os pagãos que seguiam “o deus deste mundo”, os judeus estavam em uma posição muito superior à miséria vivida pelos pagãos. São Paulo poderia dizer que o seu povo vivia em uma situação religiosa superior à dos pagãos, mas não fez isso. Pelo contrário, ele se inclui entre os que estavam “mortos por causa das faltas e dos pecados”. Com efeito Paulo acrescenta: “nós éramos deste número, todos nós”.
Paulo se coloca no mesmo nível dos pagãos a fim de receber também com eles a graça de Deus: “mas Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo e nos fez sentar nos céus em virtude de nossa união com Jesus Cristo. É por graça que sois salvos”. Deus é rico em misericórdia, e diante dele todos estamos na mesma condição. Não superior ou inferior: todos dependemos da graça de Cristo para sermos salvos.
É muito comum que, diante dos outros, nos sintamos superiores: nós não somos como eles! A caridade de Paulo, porém, o faz se colocar no mesmo nível dos pagãos que estavam mortos no pecado. Mesmo que tenhamos consciência de termos cometido pecados como os outros, isso não é motivo de orgulho e soberba, pois o fato de não ter cometido tais pecados não se deve aos nossos méritos, mas unicamente pela força da graça que nos preserva dos pecados.
Peçamos ao Senhor a mesma humidade e a mesma caridade que São Paulo demonstra em relação aos cristãos de Éfeso.
O Reino de Deus é um tesouro que preenche nossa vida e nos leva a um comportamento de desapego e de desprendimento dos bens materiais. Os bens deste mundo se tornam relativos, ou seja, valem somente na medida em que nos garantem o bem absoluto que é o Reino.
A vida não é uma mercadoria que possa ser comprada ou vendida. Ela não pode ser assegurada com dinheiro. Por isso, quem alicerça a existência neste mundo numa base material, está vazio, e a morte lhe revelará a vaidade de uma vida assim gasta. A vida não é um bem material que pode ser possuído, adquirido ou vendido.
Como podemos garantir a vida? Haverá um “seguro de vida” que nos garanta uma vida em abundância e não somente uma compensação pecuniária que não tem validade alguma para si, mas somente para os descendentes?
Para responder a essa pergunta, Jesus narra uma parábola. Tendo tido um ano de colheita abundante, o homem rico ficou ainda mais rico e se sentiu seguro para desfrutar dos bens sem ter que se preocupar com o futuro. Ele pensava ser dono do futuro e da vida! Insensato! Aquele homem era rico para si, mas diante de Deus encontrou-se vazio!
A insensatez censurada por Jesus no Evangelho de hoje consiste precisamente nisto: esquecer que a vida é um dom. A vida não é um bem de consumo para ser explorado em proveito próprio, mas é uma graça para partilhar. É, portanto, insensatez e pecado transformar o dom de Deus em uma mercadoria de compra e venda, nos apoderando dele e pretendendo ter controle total sobre ele. O rico é um insensato porque se move esquecendo por completo que a sua vida é um dom, que lhe pode ser pedido a qualquer momento (cf. Sb 15,8).
A riqueza acumulada de forma compulsiva cega o homem, que, por isso, é qualificado como “insensato”, pois ele não percebe que ao morrer não levará nada consigo. As Escrituras põem o homem de sobreaviso: “O homem não é mais do que um sopro! Ele passa como simples sombra! É em vão que se agita: amontoa riquezas e não sabe para quem ficam” (Sl 39,6c-7). Existe uma riqueza que fecha o homem em si mesmo e o converte num egoísta e indiferente aos outros. Não devemos nos trancar na gaiola do próprio egoísmo.
Há, porém, outra riqueza: a riqueza diante de Deus que é aquela que se abre para a vida dos outros, para além da fronteira da morte. O discípulo missionário do Reino é aquele que partilha o dom da vida que foi recebido de Deus.