ANOS ÍMPARES
Hb 9,2-3.11-14
Sempre que falamos de Antiga e Nova Aliança pode se insinuar em nós uma atitude de desprezo pela Antiga. Não é essa, porém, a atitude Paulo em relação Antiga Aliança. Pelo contrário, ele tem grande respeito e veneração pela Primeira Aliança. E não só isso, para descrever a grandeza e a superioridade da Nova Aliança, Paulo se apoia na Antiga. De fato, nós só poderemos compreender a grandeza e a sublimidade a Nova Aliança se entendermos em profundidade a Antiga.
A diferença fundamental entre as duas Alianças consiste em que a Antiga girava em torno de um santuário terreno; a Nova, por sua vez, se realiza no santuário celeste que não foi feito por mão humana.
Para que possamos tomar consciência da grandeza do novo templo e da nova aliança é preciso que recorramos ao antigo templo. O templo antigo era constituído de duas partes: “uma primeira tenda, chamado Santo, e, atrás da cortina, uma segunda tenda, chamada Santo dos Santos”. Tanto na primeira como na segunda tenda o acesso era restrito somente aos sacerdotes. A segunda tenda, o Santo dos Santos, era o lugar da presença de Deus, onde estava a arca da aliança, coberta com o propiciatório e com dois anjos que a cobriam com suas asas. No Santo dos Santos o acesso era ainda mais restrito: nele entrava somente o sumo-sacerdote uma vez por ano, no dia da expiação. Assim a própria configuração e organização do templo era mais um obstáculo do que um acesso do povo a Deus.
Em base a essa recordação do templo antigo, Paulo nos apresenta a redenção perfeita de Cristo. Jesus realizou aquilo que era impossível aos sacerdotes da antiga aliança. Ao ser glorificado, Jesus ressuscitado entrou no santuário celeste, atravessando a cortina que separava o “Santo” dos “Santo dos Santos”. Ele entrou no santuário celeste, não na cópia e sombra terrestre do templo antigo. Entrou uma vez para sempre e não precisa entrar todos os anos. Jesus não ofereceu sangue alheio, mas a sua própria vida, e seu sangue “purificou a nossa consciência das obras mortas para servirmos o Deus vivo”. Jesus não ofereceu coisas externas, mas a si mesmo em oblação perfeita a Deus. Ele nos mostrou a via da nova aliança: não devemos oferecer coisas externas, mas ofertas pessoais a Deus e aos outros.
O sangue de Cristo purifica a consciência para que nós possamos realmente ter comunhão verdadeira com Deus. De fato, a consciência fica purificada somente quando os pecados são perdoados. Foi o auto-oferecimento de Cristo, realizado através do Espírito eterno, que nos uniu a Deus definitivamente.
ANOS PARES
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
Leitura: 2 Samuel 1,1-4.11-12.19.23-27
Salmo responsorial 79(80) R- Resplandecei a vossa face, e nós seremos salvos!
Evangelho de Marcos 3,20-21
Naquele tempo, Jesus voltou para casa, e outra vez se ajuntou tanta gente que eles nem mesmo podiam se alimentar. 21 Quando seus familiares souberam disso, vieram para detê-lo, pois diziam: “Está ficando louco”.
Meu irmão, minha irmã!
EVANGELHO
O Evangelho de hoje nos obriga a um discernimento: afinal estamos com ele ou contra ele? Queremos seguir Jesus ou queremos que ele nos siga? Faremos a sua vontade ou desejamos que ele faça a nossa vontade?
Essa tomada de posição é decisiva para a nossa salvação. Consiste em estar com Jesus, em aceitá-lo como ele é realmente, e não como queremos nós. Depois de ter sido ameaçado pelos judeus e herodianos, Jesus não prega mais na sinagoga, mas em casa. Casa é mais do que um lugar físico. A casa se torna o lugar da decisão. Estamos dentro dela ou fora dela? Com Jesus ou contra Jesus?
A Igreja não é, de fato, um clube fechado. É uma comunidade aberta, mas que requer adesão pessoal a Jesus. Nem todos fazem essa adesão pessoal. Esse é também o caso dos parentes de Jesus. Eles acham que Jesus está fora de si, querem contê-lo. Mas a verdadeira família de Jesus é formada por aqueles que ouvem e obedecem a Jesus.
PRIMEIRA LEITURA
No episódio narrado pela leitura deste sábado, podemos observar de que maneira reage, Davi, um homem “segundo o coração de Deus” ao saber da morte de seu inimigo. Constataremos em Davi uma magnanimidade admirável, uma magnanimidade que preanuncia a magnanimidade de Jesus.
Davi recebeu a notícia da morte de Saul e de Jônatas sobre o monte Gilboé na batalha contra os filisteus. Davi está em Siceleg, ou seja, em uma região dos filisteus porque está há mais de um ano fugindo da perseguição de Saul. O ódio de Saul contra Davi era tão grande e violento que ele mandou matar o sacerdote Aquimelec e seus companheiros por terem ajudado na fuga de Davi. Ao todo foram mortos 85 sacerdotes (1Sm 25,11ss). Davi foi obrigado a fugir de um lugar a outro até se refugiar exatamente junto aos inimigos de Israel, os filisteus.
A notícia da morte de Saul para Davi era a notícia do pior inimigo e, por isso, deveria ter causado alegria ou ao menos alívio a Davi. Ele, ao contrário, demonstra dor verdadeira, rasga as vestes em sinal de luto e entoa um lamento fúnebre, no qual elogia Saul, tudo isso porque reconhecia Saul como o ungido de Deus. É uma magnanimidade extraordinária.
Davi só teve essa atitude porque esteve sempre preparado para ela. Ele nunca respondeu ao ódio de Saul com ódio, nunca retribuiu crueldade com crueldade. Sofreu e suportou injustiça, mas nunca respondeu a ele com outra injustiça. Ele teve várias ocasiões de matar de matar quem o queria matar, mas não levantou a mão contra ele, porque o considerava seu senhor e reconhecia-o como ungido de Deus.
No lamento de Davi é notável que ele una Saul com Jônatas: “Saul e Jônatas, amados e belos, nem vida nem morte os puderam separar... tombaram os valentes em plena batalha!” É um modo surpreendente se exprimir, porque Davi tinha todos os motivos para separar Saul de Jônatas. Saul era seu inimigo figadal, enquanto Jônatas era seu amigo do coração. Que generosidade, que grandeza de coração! Temos muito que aprender da conduta de Davi se quisermos nos tornar homens e mulheres “segundo o coração de Deus”.
DOM JULIO ENDI AKAMINE