Os fariseus saíram e fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. 16 Mandaram os seus discípulos, junto com alguns partidários de Herodes, para perguntar: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus segundo a verdade. Não te deixas influenciar por ninguém, pois não olhas a aparência das pessoas. 17 Dize-nos o que pensas: é permitido, ou não, pagar imposto a César?” 18Jesus percebeu-lhes a maldade e disse: ‘Hipócritas! Por que me armais uma cilada? 19 Mostrai-me a moeda do imposto!” Apresentaram-lhe a moeda. 20 “De quem é esta figura e a inscrição?”, perguntou ele. 21“De César”, responderam. Ele então lhes disse: “Devolvei, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.
Prezados irmãos e irmãs!
Mc 10,35-45
Tiago e João se aproximam de Jesus com um pedido que revela a ambição não somente deles, mas também dos outros discípulos. Eles pedem para ocupar lugar de honra junto a Jesus.
Tiago e João não pensam em seguir Jesus, pensam em se sentar nos primeiros lugares.
Fixemos nosso olhar no comportamento de Cristo em relação aos discípulos que lhe fazem um pedido inoportuno. 1. Jesus está com os discípulos. 2. Jesus escuta o pedido deles. 3. Jesus provoca um discernimento nos discípulos.
1. Jesus está com os discípulos. Mesmo sendo um pedido inoportuno, mesmo sendo um pedido descabido, Jesus ouve com paciência e atenção o pedido de Tiago e João: “Queremos que nos faças o que vamos te pedir”. Jesus pergunta: “Que quereis que eu vos faça?”. A mesma pergunta Jesus faz para nós! Podemos pedir o que quisermos, pois ele está conosco. Devemos pedir o que o nosso coração realmente deseja. Mesmo que seja a coisa mais absurda, Jesus não perde a paciência porque quer que expressemos nossos desejos. Ele nem sempre fará o que desejamos, mas partirá de nosso desejo para nos dar o melhor para nós.
Os discípulos Tiago e João, encorajados com a pergunta de Jesus, pedem com cara de pau: “concede-nos que nos sentemos, na tua glória, um à tua direita e o outro à tua esquerda!”. Que pedido inoportuno! Jesus sempre se apresenta como aquele que serve, e os dois não tem vergonha de pedir a Jesus um lugar de honra.
2. Jesus ouve os discípulos. Não perde a paciência, ouve com atenção. O ouvir de Jesus é sinônimo do serviço. Jesus serve a todos, Jesus ouve a todos. São dois lados da mesma moeda: Jesus escuta sempre, Jesus serve sempre e a todo momento. Jesus não tem medo de escutar com o coração. Por isso, a resposta de Jesus não é uma crítica, mas um convite ao seguimento: “Não sabeis o que pedis, Podeis beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados com o batismo com o qual serei batizado?”.
Prontamente aqueles dois respondem: “Podemos”. De fato, eles não sabem o que significa beber o cálice e ser batizado com o batismo de Jesus.
Jesus confirma o desejo dos dois discípulos mas os abre para uma promessa que eles ainda não compreendem: “Sim, do cálice que eu vou beber, beberei, o com batismo com que serei batizado, sereis batizados; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não depende de mim, é para aqueles a quem foi preparado”. Entendamos bem: ser batizado e beber do cálice de Jesus é infinitamente melhor do que sentar à direita e à esquerda de Jesus; é a honra mais sublime, pois é a participação pessoal na morte e ressurreição de Jesus. Tiago e João achavam que sentar à direita e à esquerda era a coisa mais importante, mas Jesus lhes promete algo muito superior.
Privilégio para o discípulo de Jesus não é mandar, mas obedecer a Deus; não é dominar as pessoas, mas servir a todos; não é ter lugar de honra, mas seguir Jesus na morte e na ressurreição.
3. Jesus provoca discernimento nos discípulos. Quando os outros dez discípulos ficaram sabendo desse pedido, eles ficaram revoltados. A indignação deles não era motivada pelo desejo de servir, mas pelo desejo de mandar nos outros. Também eles tinham a mesma ambição, mas foram deixados para trás por aqueles dois que tinham sido mais rápidos. É por isso que Jesus os reúne e faz um discernimento. Discernimento é a ação de compreender em profundidade uma situação, de saber o que é conforme a vontade de Deus e o que não é.
Eis o discernimento que Jesus faz com os discípulos: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações, as dominam, e os grandes impõem sua autoridade. Entre vós não seja assim. Quem quiser ser o maior, no meio de vós, seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro, no meio de vós, seja o servo de todos; pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos”.
Estas três atitudes de Jesus nos inspiram três atitudes nossas: 1. estar junto com, de 2. ouvir e de 3. discernir como Jesus fez.
1. Procuremos estar na companhia dos irmãos e irmãs próximos e distantes, daqueles que amamos e daqueles que não amamos bastante.
Para quê? 2. Para ouvir com o coração. Uma vez que o Espírito Santo fala a todos, procuremos ouvir nas palavras dos irmãos e irmãs a voz do Espírito. Como faremos para ouvir o Espírito nas falas e opiniões das pessoas?
Para isso é preciso 3. discernir entre tantas vozes a voz do Espírito. É preciso ouvir os lamentos e tirar deles os apelos do Espírito. É preciso ouvir as críticas (mesmo as mais injustas) e discernir nelas as intuições dos novos caminhos do Espírito. É preciso até mesmo ouvir os palpites inconvenientes para discernir neles as provocações do Espírito. Não tenhamos medo de ouvir. Não tenhamos medo de nos expor ao que o Espírito nos fala.
O que nos garante um bom discernimento? O discernimento deve ser
1. espiritual, ou seja, deve ser precedido e acompanhado da oração. É no ambiente vital da oração que ouvimos melhor o que o Espírito nos fala. Além de ser discernimento espiritual, deve ser
2. discernimento à luz do Evangelho, por isso precisamos da Bíblia. Ler a Palavra de Deus; confrontar o que ouvimos com os Evangelhos!
Por fim o discernimento deve ser 3. eclesial.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE
2025, 2028
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: Êxodo 17,8-13
Salmo Responsorial120(121) - R- Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra.
2ª Leitura: 2 Timóteo 3,14-4,2
Evangelho Lucas 18,1-8
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 1Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre e nunca desistir, dizendo: 2“Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus e não respeitava homem algum. 3Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário!’ 4Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: ‘Eu não temo a Deus e não respeito homem algum. 5Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!’” 6E o Senhor acrescentou: “Escutai o que diz este juiz injusto. 7E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” – Palavra da salvação.
Meu irmão, minha irmã!
Lc 18,1-8
O benefício por excelência da oração não são as graças, mas o Autor de toda graça, ou seja, o próprio Deus. Com efeito, a oração é um clamor que nasce da nossa radical pobreza. Experimentamos que não somos autossuficiente e que não temos como invocar direitos a Deus. Para orar de verdade, devemos nos dar conta de nossa extrema pobreza.
Para receber Deus na oração, porém, é preciso fazer o que Jesus ensina: “orar sempre sem desanimar”. O que significa isso?
Rezar sempre e nunca desistir significa primeiramente rezar com confiança na bondade de Deus. A oração confiante é fonte energias para começarmos a fazer aquilo que pedimos. Por exemplo: orar pela paz nos leva a começar a semear a paz entre as pessoas; orar para que cessem os sofrimentos, nos leva a ajudar quem sofre; rezar pelos famintos, nos faz partilhar os próprios bens com os carentes. Se pedirmos coisas boas ao Bom Deus, a oração nos tornará mais bondosos com os outros.
Rezar sempre e nunca desanimar significa nos dirigir ao Pai com liberdade filial. O que significa isso? Cada um de nós já fez a experiência de dois tipos de conversa: a experiência de uma conversa em que nos sentimos à vontade. A pessoa com quem conversamos nos é familiar e acreditamos na sua sinceridade. Nós nos olhamos nos olhos e nos entendemos logo, às vezes, até sem palavras. Não temos necessidade de pesar as palavras porque sabemos que seremos bem compreendidos e, se erramos, seremos corrigidos com amor. Não precisamos dissimular nossos sentimentos nem nossas intenções.
Outro tipo de conversa é quando não somos livres. Não nos sentimos livres ou porque estamos mentindo ao outro, ou suspeitamos que o outro nos engane. Não confiamos no outro e, dessa forma, continuar a conversa se torna um tormento. Não vemos a hora de encerrar a conversa porque não desejamos continuar dissimulando nossas intenções, nossos sentimentos ou porque não sentimos que o outro seja confiável.
A oração livre é parecida com o primeiro tipo de conversa.
Rezar sempre sem desanimar significa também falar da abundância do coração (Mt 12,34). Oração é uma ação mais do coração do que da memória, mais do desejo do que de repetição de palavras. Mesmo que eu reze utilizando fórmulas decoradas, a oração sempre é feita mais com o coração e não tanto com os lábios. Deus não cabe nas palavras humanas. Elas devem tocar o mistério de Deus, mas não o devem aprisionar. Fazer da oração uma ação mecânica ou mágica de repetição de fórmulas acaba por contradizer o que as próprias fórmulas têm por finalidade: nos abrir ao mistério da presença e da ação de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa fazer silêncio: não o silêncio vazio, mas o silêncio habitado pela alegria de estar em companhia de Deus, dos anjos e dos santos; silêncio onde há júbilo do coração por estar na presença de Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa dialogar com Deus, ou melhor, fazer dueto com Ele. O diálogo acontece quando duas pessoas falam alternadamente; dueto é quando duas pessoas cantam em uníssono. A oração é diálogo, mas é principalmente dueto. Isso acontece quando nós nos unimos à oração que o Espírito Santo faz em nós. De fato, o Espírito foi derramado em nossos corações, e Ele reza em nós com gemidos inefáveis; Ele reza em nós clamando Abbá! São Bento cunhou um princípio prático nesse sentido: mens nostra concordet verba nostra. A nossa oração deve concordar com a Palavra! Em nossa oração devemos nos esforçar em nos sintonizar à oração do Espírito Santo e à oração da Igreja!
Rezar sempre, e nunca desistir significa carregar dentro de nós mesmos o santuário no qual está presente Deus e no qual podemos entrar sempre para rezar. Assim rezamos também quando estamos ocupados com nossas tarefas cotidianas, seja trabalhando ou estudando, cuidando das pessoas ou caminhando pela rua. Em todos os lugares e momentos trazemos a lembrança de Deus e temperamos tudo com o sal do amor de Deus. Tudo o que fazemos traz a recordação e a luz da presença de Deus.
Você já teve uma pessoa muito amada na qual você pensava a todo momento, mesmo que não estivesse junto dela? Assim é rezar sempre sem nunca desanimar. Temos Deus presente a todo momento e em todos os lugares, não importa a nossa ocupação, não importa se acordados ou dormindo. A lembrança de Deus aflora a cada pessoa que encontro, a cada compromisso que devo realizar, a cada tristeza que enfrento. O nosso coração sempre voa para Deus e se incendeia no íntimo mesmo quando estamos deitados dormindo.
Rezar sempre, e nunca desistir significa começar a rezar antes de rezar. Tendo momentos fixos de oração, começo a rezar antes desses momentos. Começo a invocar Deus, a rezar pelo desejo, a recolher meu espírito antes do momento fixado da oração. Começo a criar em mim o espírito de reverência que devo ter diante de Deus e, depois, quando chega o momento fixado de oração, me separo das ocupações e preocupações para fixar o olhar do coração e a atenção da mente unicamente em Deus.
Orar sempre e nunca desanimar significa, por fim, pedir: Senhor, ensina-me a rezar! Ficamos distraídos por mil coisas; raramente a nossa oração desce profundamente em Deus e em nós; muitas vezes sentimos que nosso coração é como terra árida e sem água. Reconhecemos humildemente que não conseguimos orar sempre sem nunca desanimar, por isso pedimos essa graça ao Senhor.
Rezemos no íntimo de nós mesmos!
Senhor, ensina-nos a rezar sempre sem nunca desanimar! Tu sabes ensinar não só com palavras, mas nos dás o teu Espírito que reza em nós sempre sem desanimar. Tu podes nos dar neste momento o que não conseguimos conquistar sozinhos! Tu podes nos dar agora com o Espírito Santo!
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE