Salmo Responsorial-33(34)-R- De todos os temores me livrou o Senhor Deus.
Segunda Leitura: 2 Timóteo 4,6-8.17-18
Evangelho: Mateus 16,13-19 (Tu és Pedro...)
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 13Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem?” 14Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. 17Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19Eu te darei as chaves do reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. – Palavra da salvação.
Meu irmão, minha irmã!
Celebramos hoje o martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo. Eles foram mortos na perseguição de Nero, mais ou menos no ano 64 de nossa era. Através desses dois apóstolos, a Igreja celebra hoje a Apostolicidade da Igreja. A Igreja de Cristo, a verdadeira Igreja é Una, Santa, Católica, Apostólica.
O que significa que a Igreja é Apostólica?
Dizer que a Igreja é Apostólica significa que a sua origem está relacionada aos apóstolos. A Igreja não começou no século passado. A Igreja não foi fundada por qualquer um. Apostolicidade significa que, para chegar até à comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, não há outro caminho a não ser aceitar o testemunho daqueles que desde o princípio viram o Senhor e conviveram com ele, os apóstolos.
Dizer que a Igreja é Apostólica é dizer que a Igreja Católica está fundada sobre os apóstolos e reconhecer com gratidão que tem sua origem na Igreja dos Apóstolos.
Por que os apóstolos são importantes para a Igreja?
Isso se deve à originalidade da fundação cristã. A fundação cristã não se fundamenta, em primeira instância, sobre um texto sagrado. Isso acontece, por exemplo, com o Islã, que tem uma escritura que “desceu de Deus”, que disse ao profeta: “Fizemos descer sobre ti a escritura”. No Islã é o texto, e não Maomé, o lugar próprio da palavra de Deus.
O cristianismo, pelo contrário, a revelação de Deus, não é, primeiramente, um livro, mas a pessoa, a vida histórica de Jesus de Nazaré. Jesus, porém, não escreveu nem ditou nem trouxe consigo um documento sagrado. Ele nada escreveu e também não nos entregou um livro vindo do céu. A revelação divina é realizada na pessoa e na história de Jesus. E tal revelação pode (ô) chegar até nós somente porque existiram homens que conviveram com ele, que deram para nós tudo o que ele disse e fez: como ele viveu, como ele morreu, como ele apareceu a eles depois da morte e da ressurreição.
Esses homens, os apóstolos, que receberam o evangelho diretamente de Jesus, são, exatamente, os apóstolos. A Igreja atual, a Igreja na qual vivemos, descende da Igreja dos apóstolos. Nós estamos unidos a Jesus Cristo, ao Pai e ao Espírito Santo, por essa corrente ininterrupta de testemunho que se origina nos apóstolos e chega até nós pelos sucessores dos apóstolos, que são os bispos.
Por que é tão importante essa transmissão pela sucessão apostólica?
É porque a transmissão da fé não é um processo mecânico de comunicação. A fé apostólica é uma vida que só pode ser transmitida por meios vivos e não por meios mecânicos ou virtuais.
O texto de hoje do Evangelho nos fala da confissão de Pedro em Cesareia de Filipe. Mas aí ele fala da confissão de Jesus. Pedro confessa que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e Jesus confessa que Simão Pedro é pedra, sobre a qual ele edificará sua Igreja.
A Igreja não é uma sociedade de pessoas que decidiram se associar por iniciativa própria para um determinado fim. A Igreja é fundada sobre a fé de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho de Deus”. É essa adesão a Cristo que cria entre as pessoas uma nova relação. Jesus confessa que a fé de Pedro não provém dos homens, mas de uma revelação de Deus. Assim a Igreja, fundada sobre Pedro, é uma convocação para a fé de Pedro.
A função de Pedro não é meramente honorífica. Não é a recompensa de Jesus pela sua confissão de fé. A função de Pedro é um serviço que inclui ligar e desligar. Jesus promete a Pedro que ele terá as chaves de acesso ao Reino de Deus e terá o poder de julgar, perdoar, condenar. Tudo isso será ratificado por Deus: “O que ligares na Terra será ligado no céu. O que desligares na Terra será desligado nos céus”.
Pedro e Paulo foram chamados por Jesus para levarem o Evangelho a todas as nações. Mas esse Evangelho não é primeiramente um livro, mas é Jesus vivo. E Jesus vivo só pode ser levado por pessoas vivas, que vivem a vida de Jesus. Assim é o bispo para a Igreja: ele não é um mero comunicador de mensagens bonitas. Ele leva Cristo, sendo Cristo para as pessoas. Evidentemente, ele não nunca deve ter a pretensão de se substituir a Cristo, mas não há outro meio de ser portador do Evangelho a não ser tornando Cristo presente na própria vida.
Admirável dom! Tão maravilhoso, mas ao mesmo tempo, quanta responsabilidade! Pois se o recebemos, podemos também tratar esse dom com relaxo e com desprezo. É como atirar as pérolas aos porcos ou dar coisas santas aos cães. Fazemos isso todas as vezes em que não empenhamos tempo, esforço, energia, para corresponder ao dom recebido. Não há como exercer o ministério sacerdotal, ou seja, ser Cristo para os outros, sem santidade pessoal, ou seja, ter os mesmos sentimentos de Cristo, se identificar com ele. A identidade do bispo consiste no dom de ser Jesus para os outros e no dom de se empenhar de verdade em se identificar com Cristo ao longo de toda a sua existência.