3ª FEIRA DA 27ª SEMANA COMUM. -
1ª Leitura: Gálatas 1,13-24
Salmo Responsorial 138(139) - R- Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 38Jesus entrou num povoado e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. 40Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42Porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. – Palavra da salvação.
Paulo fala de sua vocação. Ele explica como o fariseu perseguidor se transformou em cristão. Seu chamado foi repentino e radical. Como o profeta Jeremias, Paulo foi escolhido por Deus antes de nascer, embora tenha sido chamado tarde. Mesmo que a vocação de Paulo tenha ocorrido tarde, é ela que dá sentido a toda a etapa anterior. Tudo o que aconteceu antes da conversão é englobado pelo chamado de Deus.
A vocação assinalou para Paulo uma mudança profunda e radical de sua vida. Tal transformação da vida foi realizada por uma revelação de Jesus Cristo. Assim é a manifestação de Cristo a Paulo que transformou a sua vida.
Paulo diz que Deus o chamou com a sua graça: “Quando, porém, aquele que me separou desde do ventre materno e me chamou por sua graça se dignou revelar-me o seu Filho, para que eu o pregasse entre os pagãos”. Essa passagem causa problemas aos tradutores, pois no original grego o texto é “Deus que me chamou por sua graça se dignou revelar em mim o seu Filho”. Essa forma de se exprimir mostra que a vocação divina é um evento interior, não superficial, não exterior, mas uma atração divina que atinge a profundidade da alma.
Assim é toda vocação: uma revelação que acontece no íntimo e não um chamado exterior, mesmo que os acontecimentos externos possam contribuir.
Tenhamos o coração aberto e atento ao chamado de Deus.
O episódio de Marta e Maria vem logo em seguida da parábola do Bom Samaritano. Essa sucessão não é casual. Precisamos prestar atenção nessa ordem, pois a parábola do bom Samaritano poderia nos levar a pensar que só é necessário amar o próximo. Alguns justificam que para se salvar não é preciso amar a Deus, não é preciso vida de oração, frequentar os sacramentos, pois o importante é fazer o bem ao próximo. Será que essa atitude é correta?
A resposta a essa pergunta nos é dada no evangelho de hoje. Marta está ocupadíssima com os afazeres e reclama com Jesus para pedir que Maria a ajude.
As palavras de Jesus devem ser bem entendidas. Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Uma só coisa, porém, é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.
Maria é aquela que presta atenção à Palavra. Ela escuta com atenção, mas não poderá permanecer somente na escuta. A escuta de Maria deverá se transformar em prática. A melhor parte de Maria não consiste em simplesmente escutar e ficar só no deleite da escuta. Pelo contrário, a alegria de receber a Palavra deve se traduzir em atos concretos, em gestos de amor ao próximo. Nisso consiste a melhor parte.
Marta é advertida por Jesus não porque ela se ocupa de tantos afazeres, mas porque a sua inquietude e sua agitação a impedem de ouvir o Senhor. Marta representa a gente quando nos deixamos tomar pelo trabalho repetitivo e esgotante e, por isso, ficamos culpavelmente sem tempo e sem disposição de nos colocar a escuta o mistério de Deus. Marta representa a gente quando caímos no erro de cumprir tarefas somente para termos uma desculpa para evitar a oração.
Não podemos confundir a melhor parte de Maria com uma falsa mística que procura se desligar do mundo para se preocupar somente com o divino. Encontrar Deus não nos afasta da responsabilidade por este mundo. Conhecer Deus significa escutar a palavra e colocá-la em prática. A melhor parte de Maria consiste em se abrir ao mistério da Palavra para colocá-la em prática no amor ao próximo.
Maria presta atenção a Jesus. A atitude de Maria não é a do místico que se eleva a Deus para fugir dos irmãos. Ela é a pessoa de fé que está atenta à Palavra de Deus e a traduz na vida prática, no amor ao próximo.
Marta, agitada e inquieta pelas suas coisas, não consegue se abrir ao Outro. Ela é bem-intencionada, mas está fechada ao Outro. Ela só se preocupa com suas coisas, está concentrada unicamente em si mesma (suas tarefas, seus preparativos, sua vontade de receber bem Jesus), mas esquece-se de receber o Outro.
Para que nosso compromisso social, para que nosso amor ao próximo, para que os nossos esforços sejam autênticos, precisamos ouvir a Palavra, precisamos nos abrir ao Outro = Deus. Na aceitação do mistério do Outro, na aceitação o amor de Deus, totalmente Outro, posso me converter em fonte de amor aos outros. A melhor parte de Maria significa que devemos nos encontrar com Deus Amor, devemos nos deixar amar por Ele, nos deixar instruir por Ele. Somente depois disso, somente a partir desse fundamento, poderemos nos tornar em fonte de amor ao próximo.
As vocações de Maria e de Marta são duas vocações diferentes e complementares, movidas por uma mesma intenção: receber Jesus que bate à porta. Assim o serviço e a escuta não são ações opostas na missão que Jesus confiou à Igreja.
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba
Créditos do áudio: Rádio Uniso