Jesus voltou a falar em parábolas aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo, 2 dizendo: “O Reino dos Céus é como um rei que preparou a festa de casamento do seu filho. 3 Mandou seus servos chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram vir. 4 Mandou então outros servos, com esta ordem: ‘Dizei aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Vinde para a festa!’ 5 Mas os convidados não deram a menor atenção: um foi para seu campo, outro para seus negócios, 6 outros agarraram os servos, bateram neles e os mataram. 7 O rei ficou irritado e mandou suas tropas matar aqueles assassinos e incendiar a cidade deles. 8 Em seguida, disse aos servos: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. 9 Portanto, ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’. 10 Os servos saíram pelos caminhos e reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala da festa ficou cheia de convidados. 11 Quando o rei entrou para ver os convidados, observou um homem que não estava em traje de festa 12 e perguntou-lhe: ‘Meu caro, como entraste aqui sem o traje de festa?’ Mas o homem ficou sem responder. 13 Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e lançai-o fora, nas trevas! Ali haverá choro e ranger de dentes’. 14 Pois muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”.
Meu irmão, minha irmã!
Existe, no judaísmo, toda uma tradição que considera a sabedoria como o maior bem que se possa alcançar na terra. Seu valor supera outras coisas consideradas valiosas: pedras preciosas, ouro, etc. Mesmo a saúde não vale tanto quanto ela. Ora, se uma coisa vale mais do que outra, e se impuser uma opção entre duas, a gente tem que abandonar a que menos vale.
É o que acontece com o Reino de Deus. Encontramos no evangelho de hoje um homem que combinava riqueza e vida decente. Ele está à procura da “vida eterna”. Poderíamos dizer: procura a verdadeira sabedoria, o rumo ideal de viver. Pedagogicamente, Jesus recorda-lhe, primeiro, o caminho comum: observar os mandamentos. O homem responde que já está fazendo isso. Então, Jesus o conscientiza de que isso não é o suficiente. Coloca-o à prova. Se realmente quer o que está procurando, terá de sacrificar até sua riqueza (não vale a sabedoria do A.T. mais do que ouro?). O homem desiste, e vai embora. E Jesus fica triste, pois simpatizou com ele.
O homem rico quis entrar no Reino de Deus na base de suas conquistas: a vida decente, a observância dos mandamentos, a sabedoria dos mestres famosos, entre os quais Jesus de Nazaré (10,17).
Jesus rompe essa estrutura mental da vida eterna como conquista, insinuando que por trás do título “bom mestre”, que o homem lhe atribui, se esconde a exigência de uma obediência total, pois só Deus é bom.
O que Jesus lhe pede é, exatamente, superar este modo autossuficiente de proceder. Jesus quer que ele se entregue nas mãos de Deus, desistindo da vida decente cuidadosamente construída na base do trabalho, do comércio, do bom comportamento. Vender tudo e dar aos pobres, e depois, vir a seguir Jesus, fazer parte do grupo dos discípulos que Jesus reuniu em redor de si. Humanamente impossível, isso só é possível para quem se entrega a Deus. É este o teste que Jesus aplicou. E foi exatamente essa graça da entrega que o homem rico não recebeu de Jesus.
Pedro, entusiasta, comparando-se com o rico, exclama que eles, os Doze, abandonaram tudo e seguiram a Jesus: que receberão agora? Jesus não confirma que Pedro realmente abandonou tudo, embora no momento da vocação parecesse que sim (1,16-20). Mas repete a exigência de colocar realmente tudo o que não for o Reino no segundo plano; e então a recompensa será o cêntuplo de tudo que se abandonou.
Podemos verificar isso na realidade: sendo o Reino, desde já, a comunhão no amor de Deus, já recebemos irmãos e irmãs e pais, tudo ao cêntuplo, neste tempo; e ainda “a vida eterna”.
Jesus não exige árido ascetismo, fuga do mundo, e sim, correr o risco de ir ao mundo em sua companhia, abandonando tudo o que nos possa impedir de fazer do Reino valor absoluto, o sentido pleno e critério supremo da vida. Já o próprio modo de abandonar faz parte do Reino. Dar aos pobres é a forma concreta de entregar tudo a Deus: sempre há pessoas para quem nossos bens são mais vitais do que para nós mesmos.
O caminho da vida não é tanto o resultado de cálculo e esforço humano, mas de entusiasmo divino – ao qual nos entregamos com a lucidez que só a luz de Cristo nos dá.
Não devemos pensar que vamos conseguir a herança eterna com base nas posses, poder, capacidade intelectual ou coisa semelhante. É preciso pedir a vida eterna a Deus, como graça. Peçamos a Deus a graça do desapego para participar desse Reino, que já começou no mundo daqueles que seguem Jesus. Que encontremos na alegria do servir a garantia da “herança eterna”.
2025, 2028
AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO
1ª Leitura: 2 Reis 5,14-17
Salmo Responsorial 97(98) - R- O Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça.
2ª Leitura: 2 Timóteo 2,8-13
Evangelho Lucas 17,11-19
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 11Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. 12Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a distância 13e gritaram: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!” 14Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados. 15Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; 16atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano. 17Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove onde estão? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” 19E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”. – Palavra da salvação.
Meu irmão, minha irmã!
Lc 17,11-19
Jesus está indo ao encontro da sua Paixão e Morte, que acontecerá em Jerusalém. Enquanto faz a sua viagem pascal, Jesus se encontra com um grupo de leprosos. A lepra era considerada castigo de Deus para os pecadores, tornava as pessoas impura para o culto e determinava o afastamento da comunidade de quem a contraísse, obrigando-os a vier fora do convívio humano.
Os leprosos eram, portanto, homens e mulheres excluídos da sociedade, forçados a vagar na solidão, a conviver apenas com outros leprosos e a anunciar sempre a sua chegada quando passavam nas proximidades dos centros habitados. Além disso, sofriam a humilhação de serem obrigados a usar vestes esfarrapadas e a cabeça descoberta.
Um grupo de dez leprosos vai ao encontro de Jesus. Pedem-Lhe ajuda, da forma como lhes é permitido: à distância. Gritam o mais alto possível para pedir ajuda: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!” (Lc 17,13). Jesus os vê e pede-lhes que realizem um gesto muito preciso: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes” (Lc 17,14).
Qual é o significado disso? Por que Jesus não os curou imediatamente como já tinha feito em outras ocasiões: bastava impor as mãos ou somente ordenar: Eu quero! Ficai purificados!
Em vez disso, Jesus pede aos leprosos um gesto de fé: que eles partam dali para se apresentar aos sacerdotes. Os leprosos obedecem e acreditam em Jesus. Enquanto eles estão a caminho, se veem curados. Nove leprosos curados correm ainda mais rapidamente para se apresentar aos sacerdotes: assim os sacerdotes poderão constatar logo a cura da doença e serem reintegrados à comunidade. Eles são curados do mal físico porque acreditaram e obedeceram à ordem de Jesus. Foram curados do mal físico, mas não se converteram a Jesus; eles receberam o dom da cura, mas não acolheram o dom que é Jesus. Contentaram com o menor e perderam a oportunidade de receber o Maior.
Somente um samaritano, ao se ver curado, deixa o seu projeto pessoal para depois para retornar a Jesus. Ele é o único que não só alcançou o dom da cura, mas decidiu abraçar o dom da fé em Jesus. Ele volta até Jesus, se prostra aos seus pés e lhe agradece. Esse agradecimento do samaritano não é somente uma reação de cortesia, mas um acolhimento de uma vida nova possibilitada e gerada por Jesus. O samaritano é profundamente transformado pela fé em Jesus, por isso é enviado em missão: “Levanta-te e vai”.
Nesta eucaristia recebemos não somente as graças de que tanto necessitamos, mas nos é dado o próprio autor da graça que é Jesus. Pela Palavra proclamada e pela eucaristia oferecida, somos profundamente transformados por Cristo e por isso somos também enviados.
Não sejamos como os 9 leprosos que só se interessaram pela própria cura, que receberam o milagre, mas não receberam Jesus, que se limitaram a receber uma graça, mas não acolheram o autor de toda a graça. Sejamos como o samaritano: recebamos de Jesus a vida nova, para sermos enviados como missionários aos outros.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE