Work in Progress

O work in progress impõe-se como ruptura. A abordagem utilizada questiona o estatuto tradicional da arte e esta ruptura aponta para um possível fim da arte.

Nos nossos tempos, o artista cria um mundo próprio para satisfazer a urgência de reaprender o conhecimento, para compreender a sua necessidade de ordem. Esse outro mundo não é uma imagem deste mundo, nem é uma imagem de um pensamento particular. Os trabalhos Merzbau (1923-1943) de Schwitters, Media Scrap Book (1933) de Hannah Hoch, Mnemosyne Atlas, (1925 ) Aby Warburg, Most Wanted (1995) de Kolmar e Melamid, Atlas (1964- …) de Gerhard Richter, Index 01, (1972- …) Art & Language, no contexto da arte contemporânea, enquadram-se como situações de ruptura, nas quais a permanente interrogação da arte define percursos de vida.

A Documenta V (1972) estabeleceu um novo modo de ver as artes visuais; recusando o cariz provinciano das típicas exposições anteriores, apostou num director artístico, Szeemann, que caracterizou a tendência desta época como um cosmos cultural idiossincrático de artistas individuais. Tendo por título: “Questioning reality – pictorial worlds today”, o conceito enciclopédico da exposição, em que eram mostradas várias formas e práticas de arte, bem como posições e estilos artísticos diferentes, estabelecia um percurso que relacionava as imagens e a realidade. O público, pela primeira vez, pôde confrontar diversas categorias de arte que se interligavam.

Robert Smithson, um dos artistas participantes, questionava a “reclusão cultural”:

“ (...) se o artista não conseguisse ver para lá das instituições de cultura existentes, então o artista de avant-garde, à semelhança do conservador modernista existente, converter-se-ia num rato de laboratório que “efectuava os seus truquezinhos” no lugar que lhe fora atribuído para os fazer. Conforme Smithson declarou, numa frase que chega ao âmago do vínculo crítico-conceptual: “Em vez de alimentar, ilusões de liberdade, melhor será pôr a descoberto a reclusão.”

É possível destacar a valorização do processo de criação – work in progress – em relação com a forma acabada da obra.

Os procedimentos tecnológicos, caso das redes de comunicação como a internet, a fusão entre áreas diversas, trocas de conhecimentos e experiências, vão configurar um novo realismo, inter e transdisciplinar, fazendo com que a própria linguagem possa incluir e mobilizar sentidos que antes eram estanques em áreas autónomas. Afinal, esse tipo de "vanguarda artística" quer ocupar todo o lugar que lhe é devido, fazendo com que a própria linguagem virulenta, também seja provocada no sentido de fundir, incluir e mobilizar sentidos que antes se faziam estanques em áreas autónomas. Pois, como nos ensinam os mestres desta tradição, toda a forma revolucionária exige um conteúdo que seja revolucionário.

O artista deve pôr em dúvida todas as noções que lhe foram induzidas acerca da maneira de fazer arte, e actuar como se o mundo começasse com ele ou, como se todos os que o precederam fossem mistificadores que é preciso denunciar e pôr em causa.