Pinturas Rupestres

A surpresa das pinturas, essa assombração, faz-nos penetrar num segredo. A caverna suspensa e a luz que a penetra representam sombras de um mundo aparente. Na caverna, esse labirinto de galerias, as pinturas rupestres criam ritos miméticos de tempos imemoriais, provocando e tentando controlar o sobrenatural. As pinturas constituem pontos de referência que contêm forças mágicas. Cavidades dramáticas, negrumes do ventre da montanha, zonas rochosas escavadas pela humanidade, expressas nas suas construções até às soturnas entranhas da terra. É aqui que o homem deixa a sua marca, a sombra, a pintura, os seus traços, os seus contornos. A explicação mais provável para essas pinturas rupestres passa por considerá-las as mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido pelas imagens. Os caçadores primitivos imaginavam que se fizessem uma imagem da sua presa – e até a atingissem com as suas lanças e machados de pedra os animais verdadeiros sucumbiriam ao seu poder.

A caverna é um santuário. Simboliza o lugar de interiorização e de identificação, a partir do qual o indivíduo se torna ele mesmo e consegue chegar à maturidade. Precisa para isso de assimilar todo o mundo colectivo que nele se imprime, correndo o risco de o perturbar, e integrar essas contribuições nas suas próprias forças, de maneira a constituir a sua personalidade, adaptada ao mundo ambiente em vias de organização.

A degradação das Grutas Pré-históricas decorrente do excesso de visitantes (caso das grutas de Altamira (Espanha), Lascaux e Niaux (França)) levou à realização de um projecto ambicioso por parte do Deutsches Museum: a produção de cópias exactas destas grutas. Os métodos envolvidos foram extremamente complexos, dada a impossibilidade da realização de moldes das grutas devido ao desgaste. O modelo tridimensional é moldado através de silicone e encontra-se no Deutsches Museum. Nele se podem observar cópias fiéis das pinturas das cavernas da Pré-história. As imagens elaboradas e misteriosas de bisontes, de homens a correr, de cavalos, de homens a nadar, da montanha, pinturas negras e vermelhas, de mãos e de outras figuras de uma estranha beleza plástica, vislumbres de todas as dimensões da vida, constituem representações do prazer de imitar a vida existente outrora. O homem criou a cópia da cópia da vida e imergiu na sua própria existência em meras reproduções.