Enciclopédia

Em França, a falta de um dicionário moderno levou a livraria Le Breton de André François Lebreton a ter a ideia de publicar em 1745 uma tradução da Enciclopédia Inglesa, dicionário dotado de imagens e artigos das artes mecânicas. Esta empresa é confiada a Diderot, em 1746. Entusiasmados, Denis Diderot e Jean Le Rond d´Alembert, em vez de realizarem uma simples tradução da Cyclopaedia, de L´Anglais Chambres, dictionnaire doté de planches et d´articles sur les arts mécaniques, encaram a tarefa como um trabalho em prol do progresso da civilização mediante o conceito universalista do ser humano. Consubstancia-se assim um dos projectos fundamentais do Iluminismo. Diderot e d´Alembert, bem como os seus colegas denominados Enciclopedistas, embarcaram na empresa audaciosa de realizar a primeira enciclopédia universal. A intenção era reunir, por ordem alfabética, o conhecimento humano. Diderot é o principal redactor da Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts, et des metiers, com mais de mil artigos escritos sobre filosofia, literatura, moral, religião, política, economia e artes aplicadas, iniciando o trabalho universal, que caracteriza esta obra como triunfo da razão sobre os preconceitos e a ignorância. Os Enciclopedistas pretendem levar o conhecimento a um público vasto mediante um esforço de simplificação e divulgação do conhecimento nas suas várias vertentes. O espírito é realista e prático. Dos Enciclopedistas destacamos, Voltaire e Rousseau: os seus artigos reflectem a atitude do movimento racionalista, conhecido como Iluminista. Para além de um sumário do conhecimento, a Enciclopédia apresenta-se como manifesto de uma nova visão sobre o mundo.

O primeiro volume surgiu em 1751 e o segundo em Janeiro de 1752, suscitando imediatamente reacções antagónicas da Igreja e dos conservadores. Em Fevereiro de 1752, os dois volumes foram retirados de circulação, pois continham máximas contrárias à autoridade real e religiosa. A publicação ficou suspensa durante dezoito meses. Entre 1753 a 1757 foi retomada sem interrupções. Após o sétimo volume, as forças conservadoras reavivaram os seus ataques, concretizando, uma vez mais, os seus propósitos: a interdição da publicação e a sua venda ao público. Diderot continuou em privado o trabalho dos restantes volumes, com alguns dos colaboradores que não haviam desistido. Completou desta forma o monumental trabalho de 28 volumes em 1772. Posteriormente, um suplemento de 5 volumes foi publicado entre 1776-1777, bem como o índex, em dois volumes, em 1780.

André François Lebreton, logo após Diderot ter revisto as últimas provas, cortou secretamente, partes de vários artigos, que achava demasiado radicais para a época. Assim, muitos artigos ficaram irremediavelmente mutilados, porque os originais foram queimados.

A Enciclopédia, para além de um repositório de informação, era também um arsenal de polémicas. A ideia dos editores era a de que no caso de a civilização colapsar por inteiro, a humanidade poderia, a partir da Enciclopédia, aprender a reconstruir o mundo. Este sentimento encontra eco em Denis Diderot, que escreveu em 1755: “O número de livros irá crescer continuadamente, e podemos prever um tempo em que será quase tão difícil aprender alguma coisa dos livros como do estudo directo de todo o universo. Quase tão cómodo como procurar algo de verdadeiro escondido na natureza, será descortinar a verdade numa imensa multitude de volumes.”[1]


[1] KEVIN KELLY – Out of Control: The number of books will grow continually, and one can predict that a time will come when it will be almost as difficult to learn anything from books as from the direct study of the whole universe. It will be almost as convenient to search for some bit of truth concealed in nature as it will be to find it hidden away in an immense multitude of bound volumes.