Der Waldgang

“Der Waldgang” (1951), “O Passo da Floresta”, ou o “Tratado do Rebelde”, Ernst Jünger escreve: «Duas qualidades são indispensáveis ao rebelde. Ele recusa aceitar por sua, a lei dos poderes instituídos, quer eles usem a propaganda ou a violência. E ele está decidido a defender-se». O rebelde é aquele que não cede. Ele é a própria liberdade. O rebelde recusa a ordem do mundo. É um estrangeiro no mundo em que vive. Ele «recorre à floresta» não para se refugiar – ainda que seja um proscrito –, mas para aí reaver forças vivas. «A floresta está presente por todo o lado. Existem florestas no deserto, como nas cidades. Existem florestas na sua pátria como sobre qualquer outro solo onde se possa desenvolver a sua resistência. Existem sobretudo florestas na própria retaguarda do inimigo.»

No tempo das sagas islandesas, concedia-se ao homem condenado e banido a liberdade de ir para a floresta e nessa altura levar uma vida solitária, mas independente. Ir pelo trilho da floresta talvez não seja a via de um rebelde, mas sim a de um refugiado, exilado ou mesmo desterrado. O desterrado não é um proscrito, mas um homem que voluntariamente toma o destino nas suas mãos. É um homem amargurado, mas que receia o fatalismo e se compromete com a liberdade. Foge ao seu tempo, prefere a identidade à comunidade, porque a comunidade está pervertida. É um homem que sobreviveu à catástrofe. Procura um caminho, é uma figura de resistência. O exílio como fuga e isolamento, significa ostracismo e expulsão. Num mundo cada vez mais homogéneo, ele é a própria singularidade. Ele é um ponto opaco num mundo votado à transparência totalitária, um sujeito que permanece real num mundo de objectos virtuais, um insurrecto por excelência num mundo de vigilância. Na época do totalitarismo do capital, não será o único modo de viver: ser um estrangeiro na própria Pátria. É por isso que, de um certo modo, o futuro pertence ao pensamento rebelde, a esse pensamento que desenha clivagens inéditas, esboça uma topografia nova, prefigura outro mundo. Porque a história permanece sempre aberta ...

«Quando todo um povo prepara o seu recurso às florestas, torna-se uma potência temível.»