Mona Lisa

Em 1913, Duchamp constrói o seu primeiro ready-made.

“Thierry de Duve prolongou em particular as teses do seu livro Au nom de l´art: desde a operação do urinol chamado Fontaine oferecido a Richard Mutt por Marcel Duchamp aquando da exposição dos artistas independentes em Nova Iorque, em 1917, a frase “isto é arte” substitui juízos como “isto é belo (não é belo) enquanto pintura (enquanto escultura), etc.” Tendo os readymades de Duchamp sido legitimados pela história é, daí em diante, a arte em geral que reina. É certo que nem tudo é arte, mas qualquer coisa é susceptivel de vir a sê-lo. “A enorme dificuldade que resulta deste estado de coisas”, comentava Thierry de Duve no colóquio de Rennes, “é que actualmente é necessário julgar consoante as circunstâncias, sem nenhum critério de julgamento”. Daí, a sua teoria segundo a qual o juízo estético não passa de um baptismo: “A arte é um nome próprio” “[1]

Duchamp escolhe como veículo para mais um ready-made a obra-prima da pintura ocidental Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. A partir de uma reprodução de um postal barato, desenhou um bigode e uma barbicha na Mona Lisa, acrescentando as iniciais L.H.O.O.Q. letras que, soletradas em francês, soam como “Elle a chaud au cul”. O graffiti de Duchamp sobre o postal da “Mona Lisa” remove a pintura do seu pedestal, mas também aponta numa outra direcção, já que eleva um simples postal comercial à categoria de trabalho com a marca do artista. O artista estabelece uma mediação entre a High Art e a Low Art. Neste sentido, a Mona Lisa de Duchamp antecede a Mona Lisa de Andy Warhol. Algumas diferenças separam estes dois trabalhos: o de Duchamp é efémero enquanto o de Warhol é comercializável. Duchamp utiliza a imagem inócua dos mass – media para a recriar com um significado estético sem valor económico à partida, enquanto que Warhol trabalha sobre a imagem, não duvidando do seu valor iconográfico, económico e comercial.


[1] JEAN LUC CHALUMEAU – As Teorias da Arte, Filosofia, crítica e história da arte de Platão aos nossos dias.