Terra Queimada

Durante a 2ª Guerra Mundial, no verão de 1941, Estaline ordenou a política de terra queimada aos soviéticos que estavam em retirada. Tudo o que tinha valor e que não podia ser evacuado devia ser destruído. As próprias áreas que seriam ocupadas pelos nazis, deviam ser incendiadas. Esta política de destruição tinha o intuito de atrasar o avanço das tropas nazis. Ironicamente também em finais de 1941, Hitler dava a mesma ordem de política de terra queimada a todos os seus comandantes: " Cada área a ser abandonada para o inimigo deve ficar completamente inadequada para seu uso. Sem respeito pelos seus habitantes, cada localidade deve ser queimada e destruída para privar o inimigo de acomodação... as localidades deixadas intactas têm que ser subsequentemente arruinadas pela força aérea."[1] O que os soviéticos não puderam destruir em 1941 os alemães foram completando ao longo da sua campanha. Himmler em 7 de Setembro de 1943 ordenou aos SS-Obergruppenfuehrer Prutzmann: " ... não deixar para trás nenhuma só pessoa, gado, nenhuma tonelada de grão, nenhum trilho da estrada de ferro na Ucrânia... O inimigo deve encontrar um país totalmente queimado e destruído." [2]

Esta política de terra queimada ainda hoje é visível em muitas outras guerras. Paradoxalmente terra queimada é o nome dado também à política extremamente agressiva adoptada pelas grandes companhias de marcas. Estas marcas, para acabar com a concorrência dos pequenos comerciantes, utilizam a estratégia da “canibalização”.

“A ideia é saturar uma área com lojas até a concorrência entre cafés ser tão forte que as vendas baixam, mesmo nas lojas individuais da Starbucks. Em 1993, por exemplo, quando a Starbucks tinha apenas 275 lojas concentradas em alguns estados americanos, as vendas por loja aumentaram 19 por cento em relação ao ano anterior. Em 1994, o crescimento das vendas nas lojas foi apenas 9 por cento, em 1996 desceu para 7 por cento e em 1997 a Starbucks teve um crescimento nas vendas de apenas 5 por cento; nas novas lojas chegou a um mínimo de 3 por cento. Compreensivelmente, quanto mais perto as lojas estão umas das outras, mais começam a roubar ou “canibalizar” a clientela umas das outras – mesmo em cidades híper cafeinadas como Seattle e Vancouver as pessoas só conseguem absorver um certo número de cafés por dia. O relatório anual da Starbucks para 1995 explica: “Como parte da sua estratégia expansionista de agrupar lojas em mercados já existentes, a Starbucks constatou um certo grau de canibalização das lojas existentes, pelas novas lojas, à medida que a concentração aumenta, mas a administração acredita que tal canibalização foi justificada pelo incremento nas vendas e pelo retorno do investimento em novas lojas.” Isto significa que, embora as vendas totais das lojas da cadeia combinadas continuavam a aumentar – a duplicar, na realidade entre 1995 e 1997. Dito de outra forma, a companhia Starbucks estava a expandir o seu mercado enquanto as lojas individuais estavam a perder quota de mercado, em boa medida para outras lojas Starbucks.”[3]

Este tipo de práticas não é utilizado unicamente pela cadeia Starbucks. A Gap e a McDonald´s adoptaram a mesma política de terra queimada: saturar uma determinada zona e de seguida avançar para outra, utilizando as mesmas técnicas das pragas dos gafanhotos. Quem não se lembra do grau de destruição que as pragas deixam após a sua passagem. De área em área estes insectos vão avançando.


[1] KONDUFO – History Teaches a Lesson, [2] DALLIN – FORUM Ukrainian Review,[3] NAOMI KLEIN – No Logo