Espelho

A superfície da água é o primeiro espelho do homem. Speculum, (espelho) deu nome à especulação, superfície reflectora que outrora servia para observar o céu e as suas estrelas. A especulação é inspiradora do autoconhecimento, procura a revelação da verdade divina e investiga a sabedoria universal. Representa o face a face, a introspecção, a tentativa de compreender uma situação ou vê-la de um outro modo. As imagens do espelho são similares ao sonho dentro de outro sonho. O espelho também é mediador, é prótese visiva que permite a passagem de informação, simbolizando a imaginação, uma porta entre o mundo consciente e o mundo inconsciente. Nos contos de fadas, o espelho mágico está relacionado com forças opostas que dominam o humano (o belo e o horrível, o bem e o mal, a verdade e a mentira, a vida e a morte). A duplicação do “outro” é sinal de reflexão do homem sobre a morte e a perda da individualidade. É na época romântica que surge a reflexão sobre a morte através do duplo, a ligação entre o auto-retrato e a revelação romântica do génio na sua tentativa de decifrar a impressão da alma. O espelho permite uma visão directa do “outro”, mas esta reflexão não corresponde à realidade: é invertida.