Sistema Artístico

Durante as duas grandes guerras mundiais do século XX, os interesses corporativos começaram a legitimar o seu poder aliando-se às democracias e às formas de arte modernas. O sistema artístico foi sendo organizado por um conjunto de regras mais ou menos transparentes no qual se rege e é aceite pela opinião pública. Este é um corpo de instituições erguidas ao longo do século XX que servem para salvaguardar as vanguardas, os ditos “ismos” da arte moderna. Se a arte era provocadora e escandalosa, as instituições que a albergavam eram conservadoras e aceites pelo público. Este foi o antagonismo e a lógica mundial da arte internacional. O modernismo sempre foi acarinhado pelo capitalismo tout court. Celebrando a arte e os artistas consagrados, os jovens famosos, a vida boémia, as galerias, os bares e as discotecas, e todos os ambientes mundanos, que dão glamour aos amantes da arte.

O colapso do bloco de leste e da URSS parece ter confirmado o triunfo final do mercado à escala global. A economia selvagem, o sector financeiro liberado, a privatização e a eliminação do estado social, levam ao acerto do capitalismo sobre o trabalho, esta é uma sociedade de risco. Perante a relação entre a arte e o capital foi fulcral para a narrativa moderna se fundamentar. A austeridade conceptual e minimal da arte dos anos 60 e 70, perante o mercado desregulado, forçou o surgimento de novas tendências artísticas. A vanguarda terminou, assiste-se ao retorno à figuração e ao neo-expressionismo, nos anos 80, a banalidade como mote parece ter sido o sentido último da arte. Neste período, assistiu-se a vendas com preços astronómicos de trabalhos de jovens emergentes, especialmente pintores. Estes são já artistas imersos no empreendimento. Nos anos 90 descobrimos um retorno ao engajamento político quase antropológico. Este revelou-se como meramente um pastiche pós-moderno, sem significado cultural. Os filtros estéticos do mundo artístico colapsaram. O surgimento de cada vez mais jovens artistas vindos dos mais diversos backgrounds, um gosto artístico do vale tudo, a capitalização global do mercado de arte e a cultura do empresário, aliado à diminuição do peso dos críticos e teóricos, definem este novo mundo.