Realismos

A fundamentação da pintura tem como base a questão ocidental da ilusão da arte – mimesis. Desde Platão até Hegel, esta concepção vai perdurar ao longo do tempo, sendo a pedra basilar de toda a pintura europeia até ao século XIX.

O Renascimento vai ser influenciado por Aristóteles e a sua ideia de mimesis como princípio fundamental da teoria clássica de pintura. Leon Battista Alberti (1404-1472) afirma que tudo deve ser oriundo da razão, do método, da imitação, da medida e da proporção. O artista completo é o que imita a natureza. Para Leonardo da Vinci (1452-1519) a pintura deve andar a par com o racionalismo e o método científico. A teoria pictórica, desenvolverá estas noções do Renascimento, com os dados existentes e na sua interpretação, perpetuará as regras principais do que virá a constituir o corpo doutrinário da pintura, institucionalizada e divulgada com base nas academias. A linguagem académica até ao século XIX dita a lição aprendida.

É a partir da exposição outsider de Gustave Courbet (1819-1877) intitulada “Le Réalisme” (1855) que o Realismo, como corrente artística tomou forma e conteúdo. Se o movimento Realista é usualmente definido como um olhar atento à realidade. O próprio termo acaba por ser dúbio, pois tende a abranger praticamente todos os grupos e movimentos artísticos modernos. Mediante o paradoxo da modernidade, o sentido da palavra “Realismo” acaba por ser complexo tal como a sua história. Se o realismo pode ser ligado numa primeira fase ao modernismo, também pode um realismo académico, persistente e revivalista. O Realismo está associado a uma linha de arte social, muitas das vezes politicamente comprometida. O realismo do século XX vive em termos de figuras isoladas como períodos em que o realismo foi preponderante, especialmente após as duas guerras mundiais. É impossível também ignorar a relação da fotografia com a tradição realista na pintura e na arte contemporânea em geral. A fotografia obrigou os pintores a tornarem-se menos realistas, a distanciá-los desde rival, dando-lhes simultaneamente os meios necessários para se tornarem mais realistas. A fotografia reflecte esta predisposição cultural. O paradoxo do realismo é a abordagem pelos artistas que se auto-intitulam “realistas” durante o século XX. O realismo do século XX traduz uma abordagem estilística e ideológica que se manifesta sob diversas formas. É necessário, termos presente a ideia de “Realismo”, o movimento estava determinado a fazer que as “coisas tal como elas são” passasse a ser o objectivo da pintura. O desafio de Courbet aos seus contemporâneos foram que as regras deveriam corresponder a situações transitórias e não permanentes. “A noção consensual é que o realismo é estilo ou estilo transparente, um mero simulacro ou reflexo do espelho da realidade visual, é outra barreira à sua compreensão ser visto como um fenómeno histórico e estilístico."

Constatamos que o princípio central da arte ocidental é o realismo, sendo o seu status normativo, pois desde o século XV que tende a perseguir o real. Se o século XX foi uma era de “Realismos”, no início do século XXI observamos o domínio da fotografia, do cinema e da nova média que estranhamente estimulam um renovado interesse pela pintura mimética, apropriando-se das convenções da fotografia e da pintura foto-realista, isto é, um renovado interesse pelo Realismo pictórico.


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