O Artista na Prisão

“Jonas, ou o artista no trabalho” é uma curta história de Albert Camus, do seu livro “O Exílio e o Reino” (1957).“Gilbert Jonas, o pintor, acreditou sempre na sua estrela.” Aos trinta e quatro anos é descoberto pelos críticos, arranja um dealer e expõem nas mais reputadas galerias. É considerado como “the next big scene”. “Que sorte!” diz Jonas, acabando por deixar o seu antigo trabalho numa editora de livros. Finalmente ganhou o reconhecimento merecido. Quando acabou os estudos também tinha tido a sorte de encontrar logo emprego, tal como encontrou a sua mulher Louise Poulin que se vai sacrificar por ele e pela família ao longo da sua vida. Jonas só pintava. Com o sucesso surgiu os fãs, os amantes da arte, discípulos, mais críticos, novos amigos, bem como conselhos sobre como devia prosseguir a sua carreira. Sitiado no seu atelier é abordado por tudo e todos, primeiro fez o atelier na maior divisão da casa, mas conforme a família aumentou, mudou o atelier para divisões menores, até um pequeno quarto. Conforme menos trabalhava, mais sucesso tinha, o dealer fez um novo contrato exclusivo. Quanto mais falavam nele, mais solicitado ele era. Certo dia deixou de ter tempo para atender todos os compromissos. Consequentemente a reputação sofreu e começaram a maldizer da sua pessoa. Era difícil pintar o mundo e os homens, e, ao mesmo tempo, viver nele. Estava acabado, disseram alguns, as vendas baixaram e todos os seus hilariantes amigos começaram a visitá-lo cada vez menos. Jonas já não pintava, bebia todos os dias, e mudou uma vez mais o atelier para um pequeno sótão sem luz. Esperava que a sua estrela voltasse a brilhar, na escuridão trabalhava numa pintura. Ninguém aparecia, estava magro e parecia um fantasma dele próprio. Repentinamente o candeeiro iluminou-se no sótão e durante vários dias assim ficou, até que um dia ao amanhecer disse para si próprio que tinha terminado a sua obra, estava feliz. Ao sair do sótão, reparou que o mundo ainda existia, os seus filhos, Louise sua mulher, afinal a estrela ainda brilhava. O seu trabalho final era uma tela em branco com uma palavra que não se percebia se dizia: solitário ou solidário.

Em maio de 1895, Oscar Wilde (1854-1900) foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por "cometer actos imorais". Foi durante a sua prisão que o autor assistiu ao enforcamento do soldado Charles Wooldridge, condenado por ter matado a sua mulher Laura Ellen. Esta história teve um profundo impacto sobre Oscar Wilde, revendo-se nela. Em ”The Ballad of Reading Gaol” (1898), escreve: "Yet each man kills the thing he loves". Em “De Profundis “ (1905) escreveu uma epístola, para o seu amante Lorde Alfred Douglas, que o renegou. “

L'Artiste en prison” (1952) é o prefácio de Albert Camus (1913-1960) sobre “De Profundis” e “The Ballad of Reading Gaol” de Oscar Wilde. Este curto texto retracta o volte-face do autor nos seus tempos de prisão. Se o seu grande intuito era transformar a sua vida num trabalho artístico e viver de acordo com as leis da harmonia e de sensibilidade estética, o seu vício supremo foi a sua superficialidade. Agora ao encontrar-se preso e só na cela, o mundo para o qual ele vivia mostrou a sua verdadeira face, um rosto compatível com a sua mediocridade. Os aristocratas tinham-no condenado. Sentiu-se envergonhado por ter sido um cúmplice daquele mundo, que o julgou e condenou indecentemente. Oscar Wilde assume que se ludibriou a ele próprio, não só em relação à vida como a arte, na qual tentou fazer a sua existência exclusiva. Ao tentar divorciar a arte do sofrimento tinha-se excluído da realidade. Afirma que só vale a pena criar se dermos sentido ao sofrimento, pois o fim supremo da arte é confundir os juízes, revogar a sentença e justificar tudo, a vida como o homem. O verdadeiro criador é no fundo, o reconciliador.