Noção de Autor

A noção de autor desenvolveu-se muito lentamente, até se fixar na que hoje nos é familiar. Na antiga Grécia, não se atribui grande relevância ao Autor, pois a autoridade emanava dos Deuses. A inspiração era a noção pertinente. Na época arcaica e homérica, o autor entende-se mais como um artesão competente e menos como criador individual: na Ilíada e na Odisseia, o poeta épico recebia a sua palavra da Musa. Homero dirige-se à Musa, no primeiro verso da Ilíada, para que ela “cante a cólera de Aquiles”, o herói do poema. É ela e não ele quem canta. De notar, por outro lado, nos primórdios da civilização, a ideia de “poeta genérico” que enforma o trabalho dos primeiros criadores: a obra é realizada por um conjunto de poetas anónimos, compondo dentro da mesma tradição. Na ausência do autor, segundo Platão, a escrita está votada à incompreensão. Platão teme a circulação da escrita, pois pensa que esta, sem o autor, é mal lida. No entanto, deixou escritos confiados à Academia, fundada por ele próprio, que tinha por fim preservar fielmente o autor e o sentido do autor. É talvez no Fedro de Platão que surge uma primeira reflexão sobre o autor.

Na Idade Média, os textos circulavam anonimamente, pois os nomes dos autores eram dispensáveis à autoridade dos textos do conhecimento. O texto medieval é, de algum modo, uma escrita colectiva e continuada, com diversos comentários e citações e, muitas vezes, plágios, em que os autores permaneciam anónimos, confundindo-se, recitadores e copistas. A lenta emergência da noção de autor surge na Idade Média, quando o sentido espiritual sobressai detrás do sentido literal, na qual a alegoria procura uma outra significação do texto. O conceito de autor remonta a auctor e auctoritas que representa um escrivão autorizado na interpretação dos textos, sagrados e profanos. A autoridade funda-se na autenticidade e no valor.

A noção de autor emerge desde o século XII, primeiro com a noção do escrivão, que é aquele que detém a autoridade e, mais tarde, a partir da causa eficiente, que obriga a rever as relações do autor divino e do autor humano nos textos sagrados e nos textos profanos. Os autores tornam-se homens e a barreira cai entre autores profanos e sagrados, entre antigos e modernos. Os autores tornam-se mais familiares aos leitores e mais conhecidos entre si. Os prólogos dos comentários sagrados e profanos dos autores permitem fazer uma ideia precisa da noção medieval de auctor. Primeiro é a argumentação do autor sobre o texto no seu conjunto para, posteriormente, entrar no detalhe. Com o tempo, o prólogo dos comentários vai evoluindo, e um novo prólogo surge a partir da Física de Aristóteles, que corresponde a quatro causas principais: causa material, a matéria do texto; causa formal, o estilo e a estrutura que são impostas pelo texto; causa eficiente, a motivação, e a causa final, a finalidade ou a intenção última. Neste novo prólogo, o auctor é definido como causa eficiente, que faz nascer o texto. É independente, o que permite uma relação entre autor humano e autor divino, na inspiração dos textos sagrados.

A partir da influência aristotélica, no século XIII, desloca-se o autor divino para o autor humano, com um interesse para a causa eficiente e a causa formal. A primeira causa eficiente é Deus, fonte última de autoridade da escrita, que se manifesta no autor, instrui e incita a escrever. A causa eficiente mais próxima ou do exterior é o autor que adquiriu os segredos do verbo através de Deus. Inspirado e instrumental, o autor é aquele que se exprime, e as variedades de estilo e de estrutura dos diferentes livros da Bíblia estão assim relacionados com os seus diversos autores humanos.

A noção de autor abarca sentidos e realidades diversas. O nome do autor é o nome próprio de uma pessoa, uma referência para qualquer classificação bibliográfica. Também pode designar uma obra. A história literária, iniciada com objectivos de atribuição e autentificação, constitui a memória das produções mais notáveis de cada autor.