Linguagem

“Ora na terra não havia senão uma mesma língua e um mesmo modo de falar.”, mas a soberba leva os homens a quererem medir-se com Deus e a levarem acabo uma obra utópica, a edificação de uma torre que chegasse ao céu. Deus para punir os homens e impedir a construção, diz:”Vinde, pois, desçamos e ponhamos nas suas línguas tal confusão que eles se não entendam uns aos outros. (...) E por esta razão é que lhe foi posto o nome Babel, porque nela é que sucedeu à confusão de todas as línguas do mundo. E dali os espalhou o Senhor por todas as regiões.”

A utopia de uma linguagem perfeita descrita na Bíblia sempre foi o sonho dos homens, pois a linguagem é considerada como uma ferida que é preciso curar mediante a descoberta de uma linguagem perfeita.

Na origem do passado linguístico, encontramos os traços mais antigos por volta de 35 000 antes da nossa era, e consistem em entalhes na pedra ou no osso, sem nenhuma figuração, mais tarde no ano 20 000, surge a figuração gráfica que evolui tecnicamente com o tempo. Os animais representados nas grutas de Lascaux apresentam uma forma realista. A linguagem e a arte figurativa confundem-se. Estas representações gráficas apresentam um sistema mítico de uma sociedade ancestral. Estes grafismos realizados por “artistas” ou mágicos são denominados mitogramas. Podemos encontrar este tipo de representação em numerosas escritas não-alfabéticas, como no Egipto, entre os Aztecas e os Maias. Os elementos destas escritas são considerados como pictografias, de raiz picto, em latim equivale a traço, desenho, depois surge instintivamente o valor das coisas, ideias, palavras.

Umberto Eco refere-se a um relatório elaborado em 1984 por Thomas A. Sebeok para o Office of Nuclear Waste Isolation. A questão levantada pelo governo americano era que iria enterrar detritos nucleares no deserto e queria proteger a zona não só actualmente como daqui a dez mil anos, pois os detritos ainda estariam radioactivos, e aí qual seria a linguagem a utilizar para afastar intrusões imprudentes. Sabemos que daqui a dez mil anos o planeta terra como é hoje estaria totalmente diferente, novas ordens políticas e económicas dominariam o planeta, este até podia estar devastado e ter regressado a um estado pré-histórico. Como informar? Após diversos estudos levados acabo, conclui-se que a solução seria instituir uma espécie de casta sacerdotal formada por sapientes homens em todas as áreas de estudo que perpetuariam ao longo dos séculos a mensagem, mantendo viva a consciência do perigo, criando mitos e lendas. Entre várias línguas universais possíveis, a última solução foi a do tipo “narrativo”. Tal como os egípcios desaparecidos, detentores de uma língua primordial, perfeita e sagrada, o mito desta última perpetuou-se, texto sem código, ou cujo código se perdeu, mas capaz de manter desperto o nosso esforço de decifração.