A Última Exposição

“E, porque não me é possível destruir a natureza, destruo-me apenas a mim mesmo, cansado de suportar uma tirania da qual ninguém é culpado.”

Fiódor Dostoiévski

“A paixão pela destruição é também uma paixão criativa”

Mikhail Bakunine

“Desaparecendo, pouco a pouco, sob a enorme quantidade de pedras, o antigo monarca sucumbe lentamente…enquanto os seus soldados gritam o seu ódio ainda por muito tempo. Finalmente, Iorix lança um enorme grito…e o silêncio cai sobre a terra.”

"Alix - Iorix, O Grande" - Jacques Martin

A caverna é um santuário. Espaço sagrado onde o homem de algum modo encontra o seu significado último. É o atelier, são as grutas de Altamira, como as capelas tumulares egípcias, ou as capelas da Idade Média, ou ainda a “Capela Sistina”, nas quais se podem observar narrativas dos mais variados domínios, que asseguram uma relação entre vida e morte.

“Pintura-Mundo” realizada por um “Deus-Pictor”, em que o espectador fica fisicamente envolvido. A caverna é galeria de intervenções e experiências estéticas, laboratório artístico, onde convergem as belas-artes e a cultura popular, e onde se esbatem dissemelhanças. Espaço alternativo onde se desenha um labirinto de aparência e realidade. Espaço irracional onde as acções do criador, ao longo do tempo, asseguram a utilidade da sua própria existência.

A definição de Caverna diz-nos: (do latim cavus, buraco), gruna ou gruta (do latim vulgar grupta, corruptela de crypta).

A cripta é uma construção subterrânea e, encontra-se na parte inferior das igrejas ou catedrais. A cripta é o local onde os homens supostamente importantes passam a eternidade, ou o local onde se descobrem relíquias e tesouros.

Mario Perniola em “A Arte e a sua sombra” (2006) refere-se ao tempo do luto em que se vive: “A cultura ocidental continua, sem o saber, a manter-se dominada pelo passado e faz recair sobre si a culpa do seu desaparecimento, uma vez que se identifica com tal passado”. Apresentando três distintos caminhos para o luto. Para além da dor profunda – introjecção – e da melancolia, um terceiro rumo: o criptóforo, o guardião de túmulos. Este é aquele que já perdeu algo e que esconde o melhor que pode. Está isolado num “enclave” e vigia o “tesouro escondido que apenas brilha na obscuridade.”

É necessária uma linguagem artística que permita à imaginação abarcar um mal du monde. Esta é uma linguagem de luto.