A Doutrina de Choque

"A Doutrina do Choque" (2011) de Naomi Klein, relata-nos a história das políticas de "mercado livre", do domínio económico e da exploração dos povos. É a partir do aproveitamento da desorientação pública, no seguimento de enormes choques colectivos, como: guerra, vírus, ataques terroristas ou desastres naturais, que se impõe uma terapia de choque económico, ganhando desta forma controlo sobre o povo. É o capitalismo selvagem no seu melhor.

Há cinquenta anos, na Universidade de Chicago sob o controlo de Milton Friedman (1912-2006), produziram-se os actuais pensadores neoconservadores e neoliberais cuja influência nos nossos dias, é sentida globalmente. Milton Friedman acreditava que a terapia de choque económico era a única via para dar alento às sociedades para aceitar a forma mais pura de capitalismo desregulado. Milton Friedman foi membro da Sociedade Mont Pelerin, que é uma organização internacional fundada em 1947, composta por notáveis de diversos países, reunidos em torno da promoção do liberalismo e dos seus valores e princípios: o livre mercado e a sociedade aberta. Dirigida pelo economista austríaco Friedrich von Hayer (1899-1992). A sociedade acreditava que os governos deviam deixar de prestar serviços e de regular os mercados, pois a economia corrigia-se a si própria. Após a II Guerra Mundial esta doutrina foi-se converter no modelo económico dominante. Esta é uma tese de política radical que está a varrer o mundo e não é em prol da democracia e da liberdade. São necessários choques, crises, pois só um estado de emergência produz uma mudança radical.

Foi no Chile que os discípulos de Milton Friedman aplicaram pela primeira vez a doutrina da “Escola de Chicago”. Em 1970 o governo de Unidade Popular de Salvador Allende (1908-1973) ganhou as eleições com um programa de nacionalizações generalizadas, pondo em perigo os interesses norte-americanos. Em 11 Setembro de 1973 o general Pinochet atacou o Palácio presidencial e o governo foi derrubado. O choque da guerra fez avançar a tese da “Escola de Chicago”: venda das empresas estatais, importações sem taxas, eliminação dos controles do estado. A realidade demonstrou que as políticas económicas beneficiavam os mais ricos à custa dos mais pobres. O novo projecto económico não funcionou, um ano depois a inflação tinha chegado a 375% ao ano, a mais alta em todo o mundo. A 24 de Março de 1976 um golpe militar deitou abaixo o governo de Isabelita Perón, na Argentina. Uma junta de generais tomou as rédeas do país encabeçado por Jorge Videla (1925-2013). Mais uma vez aplicaram a política da “Escola de Chicago”. Após um ano, os salários perderam 40% do seu valor, as fábricas fecharam e uma espiral de pobreza esmagou a população. As pessoas aterrorizadas aceitaram as políticas de mercado livre. Este capitalismo selvagem foi posteriormente introduzido no Brasil, Uruguai e os resultados foram equivalentes. Milton Friedman defendia que “O Tratamento de Choque” cria, sociedades livres, argumentou que a sua tese de mercado desregulado anda de mão dada com a liberdade e a democracia, mas tanto no Chile, Argentina, Uruguai e Brasil as suas ideias foram aplicadas à força e dentro de ditaduras militares.

Em 1979, Margaret Thatcher (1925-2013) foi eleita primeira-ministra da Grã-Bretanha. Em 1980, foi a vez de Ronald Reagan (1911-2004) ser eleito presidente dos Estados Unidos da América. Ambos os países implementaram as políticas da "Escola de Chicago". Agora chegou a vez da Europa.